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POLITICOS INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS ORGANIZAÇÕES VOLUNTÁRIAS PESQUISADORES E INTELECTUAIS

Quadro 3: A categoria Atores e suas subcategorias

Fonte: Adaptado de Saebo, Rose e Flak (2008) e Medaglia (2011)

Sobre esses stakeholders, a literatura atual em participação digital discute amplamente a relação entre cidadãos e políticos, mas há foco também em outras categorias (SAEBO; ROSE; FLAK, 2008). Com relação às instituições governamentais enquanto Atores, por exemplo, considera-se que as iniciativas podem ser vistas como instrumentos para novos modos de governança e para a integração de grupos da sociedade civil com a burocracia.

Mas além da simples identificação de quem são os atores envolvidos em uma iniciativa, uma grande preocupação dos pesquisadores tem sido a de ir além, investigando qual o papel ocupado por eles no processo. Assim, tem sido importante identificar aspectos como, por exemplo, quem patrocina, quem promove e quem é a força propulsora (―driving force behind‖) das iniciativas investigadas. Nesse sentido, Macintosh (2004) propõe investigar ainda a questão do engajamento, identificando ―quem engaja‖ e ―quem é engajado‖.

As iniciativas de participação digital patrocinadas pelo governo são consideradas abordagens top-down, enquanto aquelas iniciativas iniciadas por cidadãos são tidas como abordagens bottom-up (ROSE; SANFORD, 2007). Na participação top-down, os governos buscam encorajar a participação a fim de melhorar a eficiência, aceitação e legitimidade dos processos políticos. Já na participação bottom-up, cidadãos, ONGs, empresas, lobistas e grupos de pressão demandam participação a fim de atender seus próprios interesses, seja de dentro do sistema político ou de fora dele, através de ativismo e desobediência civil. Nesse sentido, é possível observar uma relação entre o driving force e o tipo de Atividade promovida: enquanto instituições governamentais tendem a promover atividades como inclusão digital, petição e consulta digitais, atividades como ativismo e campanha digital estão mais relacionadas ao papel indutor da sociedade civil (ROSE; SANFORD, 2007).

Atualmente, a maior parte da pesquisa ainda foca-se sobre iniciativas que tem as instituições governamentais e não os cidadãos como os atores principais. Mas, recentemente, tem havido aumento do foco sobre estes últimos como os atores que dão início às iniciativas (MEDAGLIA, 2011). Essa mudança tem sido atribuída à emergência da web 2.0 nos últimos cinco anos, que popularizou redes sociais, blogs e plataformas colaborativas no suporte à participação digital. Esse processo idealmente facilitaria que cidadãos comunicassem, coordenassem, e compartilhassem informações políticas, de forma que, teoricamente, eles têm o potencial de se tornarem os principais Atores das atividades de participação digital. A emergência da web 2.0 também se reflete no papel das organizações voluntárias: os movimentos sociais podem agora organizar-se mais facilmente e construir redes, possibilitando o ativismo digital, e levando à importância crescente da atuação dessas organizações como intermediárias no fornecimento (―delivery‖) de iniciativas de participação digital (TAYLOR; BURT, 2005).

Entretanto, ainda que a pesquisa desses novos tipos de participação de base tenha aumentado nos últimos anos, ainda está aquém das iniciativas e práticas que estão ocorrendo. Além dessa lacuna, Medaglia (2011) defende que esse deslocamento do foco das iniciativas top-down conduzidas pelas instituições governamentais para as conduzidas por cidadãos, precisa ser acompanhado por uma extensão na gama de atores participantes do processo. O autor propõe então uma agenda de pesquisa sobre os atores civis na participação digital - um deslocamento do foco de instituições governamentais para cidadãos e outros stakeholders.

Nesse contexto, além de instituições governamentais, políticos e cidadãos, organizações voluntárias, os pesquisadores e intelectuais, por exemplo, também são parte importante nas iniciativas de participação digital. Por esse motivo, Medaglia (2011) propôs que a categoria Atores fosse ampliada em relação ao modelo original de Saebo, Rose e Flak (2008), passando incluir também a subcategoria Pesquisadores e Intelectuais. Sob a perspectiva da Teoria Crítica da Tecnologia, essa discussão sobre a necessidade de ampliar a gama de atores para incluir novos stakeholders é fundamental, de forma que será retomada posteriormente neste capítulo, quando da proposição de novas alterações ao Modelo Panorâmico.

Atividades

As atividades de participação digital referem-se a práticas sociais ou padrões de comportamento estabelecidos em uma forma política, facilitados ou mediados pela tecnologia. Um exemplo desse processo é como o ―voto‖, enquanto forma política, é facilitado ou mediado pela tecnologia para se transformar na atividade eparticipativa ―voto eletrônico‖. Nesse sentido, as atividades de participação digital podem ser pensadas como uma modernização de um comportamento social conhecido que seria estendido pela tecnologia, frequentemente significando que mais pessoas ou pessoas diferentes podem participar (ROSE; SANFORD, 2007).

Algumas das opções que constituem a categoria Atividades, bem como suas definições, podem ser observadas no Quadro 4.

ATIVIDADES

VOTO ELETRÔNICO - participação através de votação por Internet ou outros meios

eletrônicos

ATIVISMO DIGITAL - atividade política ou agitação espontâneas mediadas pelas TICs (ou

seja, não organizadas pelo governo).

CAMPANHA DIGITAL - campanha política na rede

CONSULTA DIGITAL - consulta das partes interessadas com o governo (por exemplo, na

elaboração de políticas) parcial ou totalmente realizadas através da Internet

TOMADA DE DECISOES ONLINE - uso de ferramentas de tomada de decisão para facilitar

a participação no processo de tomada de decisão política

PETIÇÃO DIGITAL - forma especializada de participação em apoio a uma proposição

particular

DELIBERAÇÃO DIGITAL – consideração participativa de um tópico político através de

discussão online fundamentada

COMUNIDADE DIGITAL – como aplicações das TICs moldam a instanciação de

comunidades com um enfoque político, tais como fóruns locais de discussão política. Quadro 4: A categoria Atividades e suas opções

Fonte: Adaptado de Saebo, Rose e Flak (2008) e Medaglia (2011)

Sobre essa categoria, duas mudanças relevantes têm sido observadas nos últimos anos. A primeira diz respeito ao fato de que vem diminuindo a quantidade de trabalhos que enfocam as atividades de participação digital. Rose e Sanford (2007) observaram que muitas discussões sobre as atividades eparticipativas progressivamente migraram para outras categorias do modelo, como Tecnologias de Apoio ou Atividades e Efeitos, por exemplo. Assim, consequentemente, as discussões sobre as atividades acabam sendo discutidas ultimamente em outras categorias do modelo. A segunda mudança relevante na categoria diz respeito à distribuição de trabalhos em relação aos tipos de atividades existentes. Medaglia (2011) observou que as pesquisas tem se concentrado fortemente sobre a atividade voto eletrônico: por um lado, tradicionalmente já poucos estudos enfocavam atividades como ativismo, campanha e petição digitais e, por outro, o interesse sobre atividades como discurso político online e tomada de decisões digital, que já era reduzido, vem caindo ainda mais nos últimos anos. O interessante nessa dinâmica, segundo o autor, é que, enquanto as demais atividades vêm perdendo seu já reduzido foco, o voto eletrônico é a única atividade que tem aumentado seu apelo ao longo dos anos. Uma revisão da literatura realizada em 2007 já havia detectado-o

como um dos temas mais pesquisados (ROSE; SANFORD, 2007) e Medaglia (2011) identificou que vem recebendo atenção crescente desde então.

Fatores Contextuais

A categoria Fatores Contextuais refere-se ao fato de que as atividades de participação digital são desenvolvidas em contextos específicos, e esse contexto influenciará os efeitos das atividades.

Com relação à distribuição da pesquisa entre esses fatores, uma transformação geral que tem sido observada ao longo do tempo é a concentração do foco de quase todos os trabalhos que investigaram fatores nas subcategorias Tecnologias de Apoio e Organização Governamental à custa dos demais fatores contextuais. Medaglia (2011) destaca que, enquanto no período anterior a pesquisa era mais distribuída entre os diversos fatores, é surpreendente observar como ao longo do tempo outras variáveis contextuais foram perdendo foco na agenda de pesquisa e deixando espaço somente para o foco na tecnologia e nas organizações governamentais como fatores que afetam os processos de participação digital. As subcategorias que compõem esta categoria podem ser visualizadas no Quadro 5.

FATORES CONTEXTUAIS