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2. MARCO TEÓRICO

2.2 Sociologia Estrutural e Análise de Redes Sociais

2.2.2 Atores, relações, conexões e interação

As conexões entre os atores podem ser analisadas por meio da densidade da rede – medida pelo número total de conexões diretas existentes, dividido pelo número de conexões possíveis. Já as relações se referem aos buracos estruturais, relativos aos espaços onde há falta de conexões na rede completa. Este último se baseia no conceito da força dos laços fracos, proposto por Granovetter (1973), o qual propõe que a circulação de informações novas ou, mesmo de inovações é recorrente entre pessoas que possuem contatos menos frequentes. Como os laços fracos facilitam o fluxo de informações que se encontram em partes distantes da rede, os indivíduos com poucos laços fracos serão privados de informações das regiões mais distantes no sistema social em que ele se insere – no caso, a rede – e terão poucas informações fora do seu grupo. Por isso, os laços fracos ajudam a integrar os sistemas sociais, apresentando-se como canais importantes para o fluxo de novas ideias. Onde há carência de laços fracos haverá um sistema social fragmentado e incoerente, o fluxo de ideias será lento, os esforços científicos serão prejudicados e os subgrupos terão dificuldade para encontrar uma forma de convivência.

As trocas acontecem a partir das diferentes formas de interação e de relação existentes nesse ambiente. Degenne (2009, p. 83) utiliza o termo interação para "descrever uma troca básica, de curta duração e que representa uma unidade de ação" e o termo relação para "designar um conjunto de interações entre as mesmas pessoas, num determinado período de tempo". O autor categoriza "quatro tipos de interação de acordo com as suas formas de regulação, o preestabelecimento de papéis, o local onde ocorre a conexão (e suas características) e o grau de independência da relação quanto ao contexto que a criou", podendo ser: a) autônomas,

46 quando independem do contexto em que ocorrem ou da qualidade dos atores, mas obedecem a regras que resultam da história do relacionamento e não se definem nessa interação (mão de direção no trânsito, por exemplo); b) por meio de confrontos, quando ocorrem num embate ou negociação, e as regras de troca são definidas no momento dessa interação; c) organizacionais, quando as formas de interação são definidas no contexto interno da organização; e d) correlativas, quando ocorrem porque os agentes possuem qualidades diferentes, remetendo a papéis sociais, e devido aos regulamentos que as definem. Segundo Degenne (2009, p. 84), usualmente, quando as interações se transformam em um relacionamento fixo, existe grande possibilidade de assumir uma das três formas que não seja a interação autônoma. Entretanto, esses são critérios abstratos, considerados tipos ideais úteis para a definição do tipo de interação.

Há que se considerar, contudo, as posições de intermediação e de centralidade, pois estas desempenham papéis importantes na circulação de capital numa rede. Primeiramente, quando se tratar de laços fracos ou buracos estruturais, haverá a possibilidade de um ator assumir o papel de “broker”, desempenhando a intermediação entre laços ou posições e, por consequência, ocupando esse espaço livre na estrutura da rede. Indivíduos com maior centralidade têm maior possibilidade de ocupar esses “espaços vazios”. A medida de centralidade identifica aqueles atores que possuem maior nominação de indegrees; isto é, outros atores direcionam sua escolha para ele, nomeando-o como fonte de informação, status, prestígio, confiança, liderança, etc. Assim, uma rede com muitos atores centrais pode ter uma estrutura diferente daquela com poucos atores centrais. Seria dizer, de forma genérica, que redes horizontais teriam vários atores centrais, enquanto as redes verticalizadas concentrariam a centralidade dos nós. Em outras palavras, o grau de centralidade pode demonstrar onde há uma estrutura formal de liderança, composta por funcionários de instituições responsáveis, por exemplo, pelo financiamento e condução do projeto, e, ao mesmo tempo, explicitar onde pode haver lideranças informais, impactando o desenvolvimento das atividades diárias do grupo.

Além dos tipos de interação, conexão ou interação, a intensidade dos relacionamentos pode ser considerada. Neste caso, uma análise multiplex permite qualificar uma relação entre duas pessoas, se há uma relação em que se pode transferir e trocar vários tipos de recursos (WASSERMAN e FAUST, 1994). Por exemplo, dois parceiros têm uma relação multiplex porque são colegas de trabalho, buscam conselho um ao outro em situações profissionais

complexas ou executam atividades sociais juntos fora do ambiente de trabalho. Analiticamente, isso significa que subestruturas específicas e localizadas reunindo vários tipos de laços sociais se consolidam de forma a fazer com que as pessoas possam cooperar continuamente em um contexto mais amplo de atores coletivos, como as organizações (LAZEGA, 2001, p. 6). Muito embora a multiplexidade possa ser descrita de forma qualitativa ou discursiva, possibilitando compreender de maneira intuitiva as múltiplas relações envolvidas nessa variedade de papéis e conexões, a caracterização de causas e consequências de diferentes trocas entre os atores tem sido uma tarefa difícil, havendo duas possibilidades de ocorrência (KADUSHIN, 2012, p. 37): a) um fluxo múltiplo entre conexões e posições simultâneas múltiplas podem gerar relações de confiança, por exemplo, amizade entre um coordenador e um assistente, ou entre líderes políticos; e b) a mesma amizade pode criar conflitos ou possibilitar fraudes. Entretanto, tudo depende do contexto. De toda forma, ressalta Kadushin (2012), testar hipóteses com base quantitativa acerca de multiplexidade apresenta suas limitações teóricas, apesar de ser um tema extremamente interessante.

Esse olhar se fundamenta na teoria da estrutura social de Blau (1977, p. 29), pois a macroestrutura está relacionada com os padrões de relações entre diferentes posições sociais ocupadas pelas pessoas. Isto é, com base na ideia de homofilia de que o agrupamento social entre atores da mesma posição social (ou próxima) será mais prevalente do que com aqueles com posições diferentes ou distantes é que são definidos os grupos. Enquanto características nominais definem papéis, conformando subgrupos (sexo, religião, raça) e determinando diferenciação e heterogeneidade, atributos contínuos (renda, educação, poder) determinam status e explicitam desigualdades. A integração social ocorre entre pessoas de diferentes grupos e estratos. As relações dentro dos grupos sociais integram os indivíduos em seu grupo, mas se forem muito densas tendem a fragmentar a estrutura social, a qual depende das relações intergrupais para se organizar.

Na Análise de Redes Sociais, a conformação de grupos é tratada a partir da análise multiplex, que reflete a tendência de duas ou mais relações ocorrerem de forma simultânea entre atores. Seria como “ser amigo de” e “gastar tempo com” ocorrendo para ambos. A multiplexidade pode ser evidenciada numa análise blockmodel se duas ou mais matrizes de imagem são idênticas (ou quase idênticas) (WASSERMAN e FAUST, 1994, p. 422). Lazega (2001, p. 28) ressalta que a detecção de grupos exige a combinação de atributos e laços como evidência empírica. Os atributos que tornam-se critérios de identidade formais e por serem endógenos,

48 são definidos e reconhecidos pela organização como capazes de influenciar o processo de trabalho.

Essa identificação estrutural e a análise de atributos e a identidade dos atores fornecem características específicas dos subgrupos existentes. Por isso, quando se trata de identificar relações multiplex, é necessário identificar os papéis sociais e as posições dos atores na rede. O entrelaçamento desses papéis suscita padrões de relacionamentos, acumulando conexões que geram papéis compostos. É o caso, por exemplo, de empresas familiares, em que os laços profissionais se confundem com os de parentesco, ou de outros tipos de organizações em rede onde o indivíduo possui relações pessoais, como sendo amigo do coordenador da outra empresa parceira da rede, pelo fato de ali já ter trabalhado. Assim, as posições e os papéis desempenhados pelos atores evocam “como” os nós se relacionam na rede e serão conceitos centrais para a compreensão das trocas e relações existentes na rede.

Nessa direção, a próxima seção apresenta o conceito de seleção de blocos (blockmodeling) adotada no contexto da análise de redes sociais para constituir subgrupos na rede. Este método permite reconhecer não só os grupos, como também a identidade dos agentes que os integram, seus recursos internos e aqueles trocados entre grupos, constituindo, assim, um grupo social com características próprias.