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2. MARCO TEÓRICO

2.4 Considerações sobre o marco teórico

Com bastante frequência, o termo redes tem sido utilizado para se referir à coordenação entre empresas que se caracterizam por sistemas sociais orgânicos ou informais, em contraste com as estruturas burocráticas das empresas ou com as relações contratuais, formais e processuais,

56 realizadas entre elas. Essa forma de coordenação da relação interfirma é chamada de “governança da rede” e constitui uma "forma distinta de coordenar a atividade econômica" (POWELL, 1990, p. 301), o que contrasta (e compete) com os mercados e a hierarquia (JONES, HESTERLY e BORGATTI, 1997, p. 914).

Para uma compreensão na perspectiva sociológica, abordagens institucionais, em particular, têm centrado suas ações no comportamento organizacional, mais especificamente aquele relativo aos custos de oportunidade ou aos custos de transação das empresas. Os limites da teoria da firma foram estendidos, mas as questões a que elas se dirigem permanecem, em grande parte, nos limites internos da empresa, ignorando as formas não contratuais de relações sociais ou de interação, com base no poder, na autoridade, na coordenação e na cooperação. Empresas unidas em rede oferecem um autosserviço para aqueles atores envolvidos numa relação comercial. Cada um tenta lidar com seus próprios problemas mediante a interação entre as atividades e os recursos. Porém, a tentativa de cada participante de lidar com seus próprios problemas mediante a interação com outras empresas também se envolverá, de forma sequencial ou simultânea, recíproca ou conjunta, com os problemas dos outros atores. Trabalho em rede envolve trade-offs de contrapartidas entre o curto e o longo prazo e os custos e o comprometimento de recursos humanos e físicos e de adaptação dos parceiros (FORD e MOUZAS, 2010). Sendo essa influência reflexiva, a rede precisa ser percebida pela interação, influenciando a cooperação.

A análise de redes pode oferecer indicações das estruturas coletivas, como a identificação de subconjuntos densos, ou medidas de centralidade, indicando relações de dependência e/ou de poder na configuração da rede. Nesse contexto, a estrutura de poder apresenta uma ideia de autonomia relativa dos campos sociais em relação ao campo de poder, não considerando a determinação da estrutura sobre os agentes. De outro lado, a luta entre os agentes é que faz a história no interior desses campos, e isso possibilita estudar as estratégias e os interesses desses agentes que compõem o campo, utilizando, para entrar nessa disputa, diferentes tipos de capital ou recursos de poder (BOURDIEU, 2009). Neste caso, as relações entre simetria de poder e grau de formalidade das relações nas redes de cooperação empresarial se conformam a partir dos acordos entre os atores sociais, promovendo soluções coletivas em forma de redes (BALESTRIN e VERSCHOORE, 2008).

A intenção, até o momento, foi de envidar esforços para identificar o papel da Análise de Redes Sociais, de modo a compreender as escolhas estratégicas feitas pelos atores sociais

envolvidos na estrutura de governança de redes. Variados conceitos e nominações de redes foram apresentados ao longo do trabalho, demonstrando a diversidade de esforços efetuados na tentativa de designar diferentes tipificações para essas ações. De toda forma, procurou-se concentrar a discussão nas relações em redes, considerando uma estrutura social geradora de condições para a interação de transações entre um grupo de agentes (GULATI e GARGIULO, 1999). Assim, buscou-se compreender o conceito de rede social (separando-o do de sociograma) e suas implicações estruturais, cujas relações estão em jogo. O interesse concentrou-se na compreensão das relações dinâmicas do ambiente social. Entende-se que a abordagem em rede pode ser utilizada para compreender, de forma dinâmica, as relações que ultrapassam os limites da empresa, enquanto a análise de rede social deve ser considerada como um método de análise estático, um recorte no tempo, buscando “mapear” relacionamentos constituídos no campo a partir das interações entre as empresas.

Pela sua perspectiva sociológica, a abordagem em rede não traz contribuições relevantes para a compreensão, por exemplo, dos resultados obtidos em custos de transação. Entretanto, suas contribuições para a compreensão do aprendizado e das relações de poder, ao estruturar as conexões, dão suporte a possíveis análises dinâmicas dessa estrutura. Contudo, se percebidas como uma entidade supraempresarial, as redes podem ser consideradas um processo de integração, em que a dinâmica das relações entre as organizações implicam efeitos sistêmicos de amplificação da capacidade competitiva do próprio sistema e de seus componentes (TURETA e LIMA, 2011).

Nessa direção, considera-se a compreensão das relações de troca nas redes necessária para elucidar o jogo das escolhas no campo social, para sinalizar a importância do uso da Análise das Redes Sociais (e aqui se fala em sociograma) como mecanismo de mensuração do papel do ator com maior centralidade, prestígio e legitimação no grupo. Machado-da-Silva, Fonseca e Crubelatte (2005) apontam essa questão ao afirmarem que é com o uso do potencial analítico e crítico das perspectivas explicativas que se podem superar as limitações que impedem o avanço do conhecimento no campo da estratégia empresarial. A estratégia, considerada um processo em que se analisa a recorrência entre estrutura e ação estratégica, mediadas pela interpretação dos atores sociais, pode se constituir em campo de investigação profícuo. Ao se abordar a interpretação dos atores sociais, há a necessidade de se aprofundar na dimensão cultural-cognitiva, em especial no que se refere a estruturas cognitivas. Analisar como a área de Estratégia Empresarial se constitui a partir de referências cognitivas

58 estruturadas no meio empresarial pode servir de base para a construção de novas referências na prática e no pensamento empresarial. Pode também demonstrar que o estabelecimento da estratégia empresarial segue a lógica estruturacionista, em que estrutura, agência e interpretação estão relacionadas segundo um esquema de circularidade recursiva (MACHADO-DA-SILVA, FONSECA e CRUBELLATE, 2005; MACHADO-DA-SILVA e VIZEU, 2007).

Ao realizar o levantamento bibliográfico relativo ao tema em discussão, foram separadas as perspectivas de pesquisa qualitativa e quantitativa. Ou seja, considerou-se uma perspectiva estática, para o mapeamento da rede; e uma perspectiva dinâmica, buscando conceitos na Sociologia Estrutural, para uma abordagem relacional no campo social, assumindo que estes influenciam as escolhas estratégicas dos grupos empresariais. Diante do rigor exigido para tal esforço, há limitações relativas à diversidade de conceitos relacionados às alianças, às redes, grupos ou aos parceiros estratégicos; à reduzida produção científica de análise estratégica de governança de redes empresariais, com uma perspectiva orientada para as relações de troca; e à falta de uma teoria de redes que apresentasse uma base sólida, consistente. Nesse tema em especial, Foss (2001) apresenta algumas considerações importantes: a) a abordagem de “redes” tem se tornado confusa, especialmente pelo uso indiscriminado de explicações para o fenômeno, tornando-se complexa a identificação das diferentes disciplinas que contribuíram para essa abordagem; b) as redes são vistas como uma forma de organização das relações de troca, estruturadas hierarquicamente e distribuídas no mercado, permitindo uma análise científica; c) a confiança é vista mais como uma descrição de uma percepção sobre a interação entre as empresas, prevalecendo sobre oportunidades individuais; d) os contatos informais realizados pelos atores na rede, a partir de relações interpessoais, são o tipo de interação entre empresas na rede que desperta maior interesse; e) na perspectiva da dependência de recursos, as relações de poder e sua distribuição entre os atores da rede são consideradas importantes; e f) numa estrutura em rede, as relações de longo prazo, baseadas na confiança, são vistas como suporte para os processos de acumulação de recursos e capacidades das empresas. É a partir de algumas dessas considerações que se define a metodologia para analisar as relações da estrutura de governança do projeto “A Cor da Cultura”, a qual será apresentada no capítulo 4.

Entretanto, considerando a necessidade de conhecer o projeto utilizado como unidade de análise, antes de partir para o detalhamento da metodologia, descreve-se no capítulo 3 sua estrutura de governança.