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3 ESPECIFICIDADES DO PROGRAMA MAIS CULTURA NAS ESCOLAS NOS

3.1 O atrelamento programático e financeiro do Programa Mais Cultura nas Escolas

Desde sua criação, o Programa Mais Cultura nas Escolas esteve articulado aos Programas Mais Educação25 e Ensino Médio Inovador26 e ao Programa Dinheiro Direto para a Escola (PDDE)27 (BRASIL, 2012a; 2014a). Isso indicou não só a clara intencionalidade de que o PMCE potencializasse importantes ações da política educacional, mas também a disposição para a efetiva implementação do programa, assegurando uma fonte específica de recursos.

No que tange à relação do PMCE com a política educacional, vale ressaltar a finalidade expressa no Manual do programa:

25 O Programa Mais Educação foi aprovado por meio da Portaria Normativa Interministerial nº 17, de 24 de abril de 2007, no intuito de “fomentar a educação integral de crianças, adolescentes e jovens, por meio do apoio a atividades socioeducativas no contraturno escolar” (BRASIL, 2007c). Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/mais_educacao.pdf>. Acesso em: 08 nov. 2017.

26 O Programa Ensino Médio Inovador foi sancionado pela Portaria nº 971, de 9 de outubro de 2009. Este programa visa “apoiar e fortalecer o desenvolvimento de propostas curriculares inovadoras nas escolas do ensino médio não profissional” (BRASIL, 2009, p. 52). Disponível em: <http://educacaointegral.mec.gov.br/images/pdf/port_971_09102009.pdf>. Acesso em 08 nov. 2017.

27

O Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) destina recursos financeiros, em caráter suplementar, a escolas públicas da educação básica. O financiamento se destina às chamadas Ações Agregadas, agrupadas em três tipos de contas correntes, da seguinte forma: PDDE Integral, que contempla as ações dos programas Mais Educação e Novo Mais Educação; PDDE Estrutura, para o financiamento dos programas Escola Acessível, Água na Escola, Escola do Campo e Escolas Sustentáveis; PDDE Qualidade, que destina recursos para os programas Ensino Médio Inovador, Atleta na Escola, Mais Alfabetização e Mais Cultura nas Escolas (FNDE, [2018?]). Informações disponíveis em <http://hmg.fnde.gov.br/programas/pdde>. Acesso em 29 de julho de 2018.

Fomentar ações que promovam o encontro entre o projeto pedagógico das escolas públicas contempladas nos Programas Mais Educação e Ensino Médio Inovador e experiências culturais em curso nas comunidades locais e nos múltiplos territórios (BRASIL, 2015a, p. 3).

Isto é, só poderiam participar do programa escolas municipais e estaduais previamente contempladas pelo Programa Mais Educação e/ou pelo Programa Ensino Médio Inovador, respectivamente. O vínculo entre os programas específicos do MEC – Mais Educação e o Ensino Médio Inovador – e o Programa Mais Cultura nas Escolas indica que o sentido das atividades culturais dependeria de sua capacidade de suplementar as atividades dos outros programas, o que demonstra que o PMCE possuiu um caráter reprodutor da relação de subordinação da cultura perante a educação. Essa problemática será aprofundada no quinto capítulo desta dissertação.

Outro indicativo da subordinação da cultura às prerrogativas do MEC foi o atrelamento do PMCE ao PDDE, o que obrigou a revogação da resolução CD/FNDE nº 30/2012 pela resolução CD/FNDE n° 4, de 31 de março de 2014, ambas referentes ao financiamento, objetivos, responsabilidades dos agentes públicos e privados, além de procedimentos técnicos e operacionais para a execução das ações do programa.

No que diz respeito ao financiamento, a resolução de 2012, referente ao PMCE, indicava a necessidade de observância da Resolução nº 7, de 12 de abril de 2012, que dispunha, na ocasião, sobre a organização e sistematização do PDDE. Esta, revogada pela resolução CD/FNDE nº 10, de 18 de abril de 2013, acabou por obrigar a readequação da normativa legal do PMCE, o que ocorreu com a resolução CD/FNDE n° 4/2014.

Diante disso, identificam-se modificações na resolução de 2012, que foi revogada pela resolução de 2014, principalmente, no que diz respeito ao financiamento do programa. Para exemplificar essa realidade, foram escolhidas cinco principais alterações entre as referidas resoluções.

A primeira se refere à correspondência explícita ou não entre o PMCE e o PDDE. Ou seja, na resolução de 2012, o artigo 1º, ao se referir à destinação do recurso do programa, afirmava que se deveria:

[...] destinar, nos moldes e sob a égide da Resolução nº 7, de 12 de abril de 2012, recursos financeiros de custeio e capital, por intermédio de suas Unidades Executoras Próprias (UEx), às escolas públicas das redes municipais, estaduais e do Distrito Federal (BRASIL, 2012a, p. 2).

Por sua vez, a resolução de 2014 indicou, no artigo 1º, referente aos recursos do programa, que se iria “[...] destinar, nos moldes operacionais e regulamentares do Programa

Dinheiro Direto na Escola, recursos financeiros de custeio e capital a escolas públicas das redes municipais, estaduais e do Distrito Federal” (BRASIL, 2014a). Observa-se, então, que na resolução de 2014 existiu uma omissão da lei específica do PDDE, bem como da destinação do recurso financeiro do programa para a Unidade Executora Própria. Apesar de a resolução 2014 ter sido orientada pela resolução CD/FNDE nº 10/2013, a qual dispõe sobre o PDDE, em nenhum momento a resolução do PDDE aparece no corpo da resolução de 2014.

A segunda diferença está relacionada à definição de serviços culturais nas resoluções. O ponto principal da mudança foi a limitação da contratação dos serviços culturais das Iniciativas Culturais Parceiras (ICP) apresentada na resolução de 2014, diferente da resolução de 2012, na qual não há definição de qual instituição deve ser contratada para a prestação de serviços. Nesse sentido, percebe-se que a resolução de 2014 dedica mais atenção às Iniciativas Culturais Parceiras do que a resolução de 2012. Exemplo disso é o acréscimo, no artigo 5° da resolução de 2014, da definição de serviço cultural e de critérios para seleção das Iniciativas Culturais Parceiras sob a égide da resolução nº 9, de 2 de março de 2011, que estabelece os procedimentos a serem adotados para aquisição de materiais e bens e contratação de serviços, com os repasses efetuados à custa do Programa Dinheiro Direto na Escola (BRASIL, 2014a). Além disso, no mesmo parágrafo, a resolução de 2014 apresentou as condições obrigatórias para as Iniciativas Culturais Parceiras serem contratadas, bem como, ainda, acrescentou o § 5º ao artigo 5°, indicando a garantia da participação efetiva e sistemática da comunidade escolar na seleção da Iniciativa Cultural Parceira, na escolha do eixo temático das atividades que seriam desenvolvidas com os estudantes e no desenvolvimento do projeto.

A terceira alteração diz respeito à identificação do recurso financeiro do PMCE. No intuito de ter uma melhor operacionalização e monitoramento dos repasses pelo FNDE, a resolução de 2014 atrelou os recursos do PMCE a uma nova ação denominada PDDE Qualidade. Outra diferença sobre o repasse é que a resolução de 2012 determinava que os recursos devessem ser utilizados exclusivamente para o programa, sendo vedada a sua utilização para outros fins. Esse trecho foi retirado da resolução de 2014. Essa situação nos remete à quarta diferença entre as resoluções, a qual se refere aos saldos dos recursos do programa. A resolução de 2012 orientava, claramente, que o saldo deveria ser utilizado na aquisição de itens necessários para a realização do PMCE. Por sua vez, a resolução de 2014 possibilitou à Unidade Executora Própria (UEx) reprogramar a utilização do saldo do recurso do PMCE para as demais ações voltadas ao PDDE Qualidade porventura desenvolvidas pelas escolas, além do programa, ou seja, Ensino Médio Inovador, Atleta na Escola e Mais Alfabetização.

Por fim, a quinta e última diferença entre a resolução de 2012 e a resolução de 2014 diz respeito à quantidade de eixos temáticos aos quais os projetos a serem financiados no âmbito do PMCE deveriam se articular, a fim de que o Plano de Atividade Cultural da Escola se adequasse à realidade sociocultural das escolas participantes (BRASIL, 2013a). A resolução de 2014 acrescentou um eixo aos nove inicialmente apresentados na resolução de 2012 e no manual do PMCE (BRASIL, 2013a), de modo que, na prática, os projetos puderam se articular a pelo menos um dos dez eixos temáticos28, assim definidos na resolução CD/FNDE n° 4, de 31 de março de 2014: 1) Residência de artistas para pesquisa e experimentação nas escolas; 2) Criação, circulação e difusão da produção artística; 3) Promoção cultural e pedagógica em espaços culturais; 4) Educação patrimonial (patrimônio material e imaterial), Memória, identidade e vínculo social; 5) Cultura digital e comunicação; 6) Cultura afro-brasileira; 7) Culturas indígenas; 8) Tradição oral; 9) Educação Museal e, por fim, 10) Formação literária e difusão da cultura, o eixo então acrescido (BRASIL, 2014a).

Ao analisar as diferenças entre as resoluções a respeito do financiamento, constata-se que a resolução de 2014, ao mesmo tempo em que flexibilizou a destinação do recurso financeiro do PMCE, atribuiu autonomia à Unidade Executora Própria para gerenciar esta flexibilidade, incluindo a possibilidade de destinação de recursos para a Iniciativa Cultural Parceira, abrindo espaço para a gestão gerencial privada do fundo público. Essa dinâmica se tornou condição para a atuação conjunta das UEx e ICP.

3.2 Características básicas dos planos de atividade cultural do Programa Mais Cultura