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CONSEQUÊNCIAS DA RUTURA

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.3. Atribuição do Grau de risco

Para atribuição do grau de risco a cada lodão procedeu-se de acordo com Matheny & Clark (1994) e Pokorny (2003), tal como já referido (capítulo 2.4.).

Assim, após o levantamento e caracterização dos defeitos que cada árvore apresentava, atribui-se uma probabilidade de risco, consoante o tipo de defeitos e a sua gravidade (valor 1 a 4) e em função da dimensão da parte da árvore com maior probabilidade de entrar em rutura (peça) atribui-se da mesma forma um valor que variou entre 1 e 4. Por fim, somou-se aos dois valores anteriores o valor atribuído ao “alvo” isto é, caracterizou-se o espaço envolvente à árvore em função da frequência e tipo de utilização. O somatório resultou no Grau de Risco da Árvore.

Dadas as características da área de estudo constatou-se que quando se pretendeu classificar o alvo, este tinha sempre valor 3 ou 4. Com efeito, toda esta zona é muito utilizada pelos moradores, nela existe muita atividade comercial, e ainda diversos estabelecimentos de ensino e um Hotel, para além da área do Jardim que é muito frequentada durante o dia. Assim, quando se calculou o Grau de Risco das árvores, este variava entre 5 e 12, dando a ideia de que não haveria no conjunto exemplares que pudessem ser descritos como árvores de baixo risco.

Tendo em conta que os lódãos-bastardos são árvores que preferencialmente entram em rutura ao nível das pernadas e dos ramos, sentiu-se a necessidade de avaliar o risco associado a este arvoredo olhando para os exemplares que de alguma forma apresentassem dimensões semelhantes

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e que se encontrassem em locais com utilização semelhante em termos de frequência. Deste modo, foram definidas três zonas de trabalho onde se procedeu a uma análise pormenorizada do arvoredo.

A zona 1 inclui 52 árvores (#1 a 57) (Fig. 20a), e compreende a parte NO da Rua Jau, uma área bastante movimentada devido à presença do Hotel Pestana Palace e de duas escolas, a Escola Secundária com 3º ciclo de ensino básico Rainha Dona Amélia e a Escola Secundária de Fonseca Benevides. A zona 2, com 62 árvores (#58 a #73, #88 a #109, #268 a #288 e #317 a #320) (Fig. 20b), inclui o Jardim do Alto de Santo Amaro, muito frequentado ao longo do dia, e algumas árvores nas ruas circundantes. A zona 3 inclui as árvores #144 a #267, num total de 117 exemplares (Fig. 20c) e cobre toda a extensão da Rua Luís de Camões.

Na zona 1 as árvores caracterizam-se por apresentarem DAP médio de 41 cm, altura média 10 m e profundidade de copa de cerca de 4 m. Estas árvores estão bastante espaçadas entre si (sem competição de copas), no entanto na generalidade apresentam muito baixo vigor, as folhas são mais pequenas que o normal e cloróticas, o que se traduz em copas muito transparentes. Em toda esta zona o solo aparenta elevada compactação e durante os meses de outono-inverno assistiu-se à permanência de água nas caldeiras vários dias após a ocorrência de dias mais chuvosos.

Figura 20 – Zonas de trabalho definidas para efeito de atribuição do Grau de risco aos Celtis

australis estudados. Os círculos representam C. australis e os triângulos outras espécies. A branco estão assinaladas caldeiras vazias ou eliminadas e toiças. Grau de risco: amarelo – Risco moderado (valores 5 a 7); laranja – Risco Elevado (valores 8 a 10) e vermelho – Risco Muito Elevado (valores 11 e 12).

Zona 3 Zona 1

A zona 2 inclui os exemplares que se estima serem as árvores mais velhas de todo o conjunto; o DAP médio neste conjunto é de cerca de 64 cm e altura média de 16 m; as copas são frondosas, com uma profundidade média de 7 m, em competição umas com as outras e com os edifícios circundantes.

A zona 3 é um conjunto mais heterogéneo do que os anteriores, compreendendo quer árvores velhas quer árvores jovens, plantadas no decorrer de 2014 e 2015. Neste conjunto o DAP médio é de 32 cm, a altura média 12 m e a profundidade de copa 5 m. As árvores de maior dimensão, na sua maioria apresentam copas de diâmetro bastante grande, geralmente tocando as copas das árvores que se encontram do lado oposto da rua. A condução levada a cabo nestas árvores parece ter tido como objetivo primordial manter as copas afastadas das fachadas dos edifícios (cf. Fig. 15). Ao longo dos alinhamentos nesta zona encontram-se exemplares de outras espécies, denotando, da parte dos serviços responsáveis pela gestão do arvoredo, uma tentativa de aumentar a diversidade florística do conjunto.

Considerando o Grau de Risco atribuído aos exemplares nestas três zonas, de notar que nas Zonas 1 e 2 encontra-se maior número de árvores com grau de risco elevado ou muito elevado. Na Zona 1 os exemplares estão muito debilitados, apresentam inúmeras cavidades associadas a podridão, quer no tronco quer nas pernadas e a presença de I. rickii é de cerca de 88%.

Já na Zona 2, 87% das árvores apresentam sintomas de podridão devido a I. rickii e é também neste conjunto que se encontrou o maior número de defeitos por árvore. Quase todos indivíduos apresentavam podridões ao nível do tronco, cavidades associadas a podridão na inserção das pernadas, copas desequilibradas e ramos compridos e pesados na extremidade. Frequentemente, observaram-se ramos mortos que em dias um pouco mais ventosos caíam com facilidade. De relembrar que a maioria destes exemplares se situa em torno do Jardim Avelar Brotero, e na projeção da sua copa encontram-se desde paragens de autocarro, a estruturas de apoio do jardim (mesas e bancos) e inclusive, áreas de estacionamento automóvel.

Não se atribuiu Grau de Risco muito elevado a nenhum dos exemplares na Zona 3. Neste conjunto a 53% das árvores foi atribuído Grau de Risco entre 8 e 10 (elevado) e às restantes árvores, incluindo as mais jovens, grau de risco moderado. De notar que, a maioria das árvores recém- plantadas apresentava já defeitos como lesões não compartimentadas ao nível do tronco, ausência de flecha e até mesmo indícios de podridão branca ao nível dos cortes feitos no decurso de 2015, pelo que lhes foi atribuído grau de risco moderado. Apesar deste resultado, de frisar que nesta zona apenas 65% das árvores está afetada por I. rickii e que tem havido da parte dos serviços responsáveis uma maior intervenção em termos de podas, o que pode explicar a presença de menos defeitos, e de defeitos menos graves nas árvores.