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Comparação do estado atual do arvoredo com os resultados de

CONSEQUÊNCIAS DA RUTURA

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.4. Comparação do estado atual do arvoredo com os resultados de

O conjunto de lódãos que foi objeto de estudo no presente trabalho já havia sido estudado no decurso de 2006 e 2007 por Ramos et al. (2008), visando caracterizar o seu estado fitossanitário. Na altura o estudo contemplou 381 C. australis, e nos arruamentos encontravam-se ainda

três Acer negundo L., quatro C. occidentalis, 14 F. angustifolia, um exemplar de Koelreuteria paniculata Laxmann e 14 R. pseudoacacia.

Comparando a evolução da composição florística do arvoredo foi possível verificar que de 2007 a 2015 aumentou a diversidade de espécies. Após 2007, cinco lódãos foram abatidos e nunca substituídos (caldeiras #1 a 5) e uma árvore e respetiva caldeira foram eliminados, na R. Luís de Camões (#224). Entre os anos de 2007 e 2015 ocorreram substituições de algumas das árvores (tanto por exemplares da mesma espécie como por outras espécies) e ainda abertura de novas caldeiras, o que explica a diferença tanto no número total de árvores como nas espécies identificadas.

Já no que diz respeito à presença de podridão causada por I. rickii, de 2007 para 2015 constatou-se um aumento da incidência da doença em cerca de 10% (Quadro 6), ainda que no decurso de 2015 se tenham observado menor número de frutificações. Com efeito, nas observações conduzidas no decurso de 2015 foi possível constatar que de uma forma geral todo o conjunto exibe menor vitalidade, copas menos frondosas do que o documentado em 2007 e maior número de árvores com podridões.

Quadro 6 – Presença de árvores com e sem sintomas e sinais de podridão causada por Inonotus

rickii em Celtis australis da zona de estudo (dados de 2007, segundo Ramos et al., 2008)

2007 2015 frutificações de Inonotus rickii frutificações de Inonotus rickii Nº. Árvores % Árvores % relativa Nº. Árvores % Árvores % relativa Árvores sem sintomas 126 33,0 0 0,0 95 25,3 0 0,0 Árvores com sintomas 240 63,0 71 29,6 279 74,4 57 20,4 Árvores mortas 9 2,4 0 0,0 0 0,0 0 0,0 Toiças 6 1,6 2 33,3 1 0,3 0 0,0 Total 381 73 19,2 375 57 15,2

São sobretudo as árvores com DAP acima de 20 cm que se encontram afetadas por podridão causada por I. rickii. Em 2007, na classe de diâmetro 40-60 cm 84% das árvores apresentavam sintomas da doença mas em 2015 este valor já havia aumentado para 92%. A diferenciação de anamorfos e teleomorfos de I. rickii ocorreu sobretudo em exemplares mais velhos, com DAP superior a 40 cm, situação já verificada por Ramos et al. (2008) (Quadro 7). Contudo, nesta classe 40-60 cm, em 2015, registou-se um decréscimo de presença de frutificações do fungo, quando comparado com 2007.

No período 2007-2015 (oito anos) o DAP das árvores estudadas aumentou seguindo uma distribuição linear (Fig. 21), registando-se incrementos de DAP entre 0 cm e 12 cm. Sendo a espécie C. australis referida como uma espécie de crescimento lento, e depois de analisar os dados recolhidos, considerou-se para este estudo que o incremento anual em diâmetro considerado normal seria entre 0,5 cm e 1 cm; deste modo, para o período de 8 anos, todos os incrementos em diâmetro inferiores a 4 cm ou superiores a 8 cm foram considerados “anormais”. No período em análise as

árvores nas classes de DAP entre 40 e 60 cm cresceram em média 1 a 4 cm, mas nas restantes classes de DAP não se encontrou um padrão quanto aos incrementos, nem razão aparente que justifique o observado.

Quadro 7 – Número de árvores com e sem sintomas e sinais de podridão causada por Inonotus rickii,

segundo as classes de diâmetro, em 2007 (Ramos et al., 2008) e em 2015

Classes de diâmetro

≤20 cm >20 a ≤40 cm >40 a ≤60 cm >60 cm

2007 2015 2007 2015 2007 2015 2007 2015

Árvores com sintomas 9 12 80 93 112 124 41 50

Árvores sem sintomas 62 62 37 22 21 10 10 1

Árvores com sinais 0 2 12 5 42 28 17 22

Árvores sem sinais 86 72 115 110 73 106 30 29

Figura 21 – Distribuição dos diâmetros à altura do peito (DAP): lineariedade dos diâmetros de 2007

em relação a 2015 (a); distribuição dos crescimentos segundo os valores de DAP em 2007 (b) e 2015 (c).

Como já referido anteriormente, as árvores mais altas, são também as que apresentam maiores diâmetros e situam-se na zona 2 (a zonas onde as árvores são mais antigas). As árvores que apresentam os maiores crescimentos em diâmetro são aquelas que se localizam nas esquinas das ruas, ou em zonas sem competição de copas, por exemplo, árvores que se localizam imediatamente

(a)

antes e depois de garagens ou árvores junto de caldeiras vazias. Estas árvores são, no geral, bem conformadas, com um tronco direito e uma copa densa e redonda.

A partir da observação dos gráficos abaixo (Fig. 22) podemos verificar que, aparentemente, o crescimento em diâmetros e o grau de risco não são variáveis que se relacionem. Já quando se compara a distribuição do grau de risco em função dos diâmetros, às árvores com maior DAP foi atribuído um grau de risco mais elevado (10 a 12), o que é sustentado pelo facto de nestas árvores se terem registado maior número de defeitos e defeitos mais graves. É nestas árvores que se observam as pernadas de maiores dimensões, geralmente muito pesadas na extremidade (efeito “cauda de leão”) que estão em conflito com outras árvores ou edificações. Esta relação já não se observa quando se tenta relacionar o grau de risco com a altura total das árvores. Aparentemente, no arvoredo estudado, o grau de risco não parece estar relacionado diretamente com nenhuma destas variáveis, estando dependente, na maior parte das vezes, das condições a que a árvore está sujeita.

Figura 22 - Grau de risco das árvores estudadas em função das variáveis diâmetro e altura:

distribuição dos diferentes graus de risco em função do crescimento em diâmetro (cm) (a), do diâmetro (cm) em 2015 (b) e da altura (cm) em 2015 (c).

(a)

4. CONCLUSÕES

As árvores na cidade têm um papel fundamental na qualidade de vida dos cidadãos e mesmo que os seus benefícios sejam impercetíveis e muitas vezes negligenciados, a sua falta seria seriamente sentida. O ambiente urbano, no entanto, constitui um problema para as árvores. As pressões ambientais a que as árvores urbanas estão sujeitas provocam um decréscimo na vitalidade de muitos exemplares e aumentam a sua suscetibilidade a doenças e pragas. As árvores que crescem e se desenvolvem em cidades sofrem os efeitos de fatores ecológicos negativos, como solo compactado, pouca disponibilidade em humidade e nutrientes, atmosfera poluída e ainda vandalismo.

O lódão-bastardo é uma das árvores de arruamento de eleição na cidade de Lisboa, representando cerca de 20% das árvores de alinhamento. Assim, a presença de um número cada vez maior de lódãos infetados por I. rickii, um fungo basidiomiceta causador de podridão branca do lenho, é uma ameaça à continuidade destas árvores nas nossas cidades. Aquele fungo, identificado pela primeira vez em Portugal em 2000, causa podridão no cerne de troncos e ramos, tanto em lódãos jovens como adultos, afetando a estabilidade mecânica das árvores, colocando em perigo pessoas e bens.

O presente trabalho consistiu no levantamento de um conjunto de C. australis na zona de Alcântara, em 2015, partindo de um trabalho prévio realizado em 2007. Assim, neste estudo, 374 lódãos foram analisados segundo o método VTA (Visual Tree Assessment) e foram recolhidos dados dendrométricos (diâmetro à altura do peito e alturas), com o objetivo de calcular o grau de risco de rutura para cada exemplar, e avaliar a incidência da doença no conjunto arbóreo. Recorreu-se ainda a um resistógrafo (modelo IML F-400S) para analisar 21 exemplares (aproximadamente 5% das árvores), este aparelho permitiu uma análise mais aprofundada dos lódãos e forneceu uma prova para o que já havia sido descrito aquando da avaliação segundo o método VTA. O resistógrafo é um auxiliar no apoio à decisão ajudando o técnico a suportar as razões das suas recomendações.

Assim foi possível concluir que a incidência da doença provocada pelo fungo I. rickii aumentou em cerca de 10% entre os anos de 2007 e 2015. Apesar de terem sido observados menos frutificações do fungo, o número de árvores doentes aumentou substancialmente. Quanto à análise dos dados dendrométricos, foi observado que as árvores mais altas são também aquelas com um maior diâmetro. Estas árvores localizam-se na zona do Jardim do Alto de Santo Amaro sendo as mais antigas de todo o conjunto. Para o período de 8 anos em estudo, os maiores incrementos em diâmetro verificaram-se nos exemplares localizados em zonas de cruzamento, ou junto a caldeiras vazias há já algum tempo, facto que se deve à inexistência de competição de copas.

A cada exemplar do conjunto em estudo foi atribuído um Grau de risco de rutura baseado na gravidade dos defeitos encontrados e consequentemente foi sugerida uma recomendação de intervenção, que incluiu desde a simples retirada de tutores até ao abate da árvore.

A presença de I. rickii em árvores em Lisboa é preocupante sob o ponto de vista da gestão do arvoredo, uma vez que 42% das árvores de alinhamento da cidade pertencem apenas a três espécies, C. australis, Platanus sp. Tilia spp., todas suscetíveis à doença. Esta situação coloca em risco o arvoredo existente e ainda a gestão dos espaços verdes.

Face ao Grau de risco atribuído aos exemplares estudados no presente trabalho, e a forma como o espaço envolvente é usufruído, é aconselhável que se implemente um programa de monitorização regular, com cadência semestral, que permita agendar atempadamente intervenções como podas, que diminuam a ocorrência de acidentes (quebra e queda e ramos).

Futuramente, todas as intervenções no arvoredo da zona de Alcântara devem ter em atenção a presença do fungo basidomiceta lenhícola I. rickii, em especial as operações de poda. As podas deverão ser executadas de preferência com tempo seco, de forma a evitar os períodos de maior risco de dispersão do fungo, e incidindo sobre ramos de pequena dimensão, segundo as normas da arboricultura. Da mesma forma, todos os instrumentos de corte deverão ser desinfetados após a utilização em cada árvore, evitando assim a disseminação da doença para outros exemplares.