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Utilização de instrumentos para avaliação de defeitos internos

Nem todos os defeitos das árvores podem ser detetados, corrigidos ou eliminados. Para começar, o conhecimento sobre as árvores (especialmente as urbanas) é bastante incompleto. Apesar de podermos facilmente identificar a maioria dos defeitos, existem problemas radiculares e alguns defeitos internos que são difíceis de detetar, identificar e avaliar. As árvores com podridão, especialmente se esta se encontrar ao nível do cerne, podem viver inúmeros anos sem apresentarem quaisquer sintomas externos. Estas árvores representam um maior risco em ambiente urbano uma

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vez que a deteção da podridão pode passar despercebida até ao arboricultor mais especializado. Contudo, tais árvores podem entrar em rutura, a qualquer momento, sem aviso, assim que as condições para tal estejam reunidas (Leong et al., 2012). Para que os defeitos sejam devidamente analisados, de forma a estimar a probabilidade de rutura associada, frequentemente torna-se necessário o recurso a instrumentos de diagnóstico, uns mais especializados do que outros (Mattheck & Breloer, 1994b; Pokorny, 2003).

As inspeções de árvores urbanas com vista à avaliação de risco de rutura, devem ser conduzidas, como já referido, de forma sistemática examinando o local onde se encontra a árvore, o vigor da árvore e os defeitos que apresenta. Esta observação da árvore, incidindo em todas as suas partes, raiz, colo, tronco, pernadas, ramos e copa é, na maior parte dos casos, segundo Mattheck & Breloer (1994a), suficiente para detetar a maioria dos defeitos e avaliar a probabilidade da árvore entrar em rutura. Alguns defeitos, contudo, não apresentam sinais e/ou sintomas externos e a sua deteção requere inspeções em profundidade e a utilização de ferramentas especializadas para o diagnóstico.

Os dispositivos de deteção de podridões devem ser usados com o devido discernimento uma vez que a maioria é invasiva no seu modo de aplicação, causando danos de extensão variável na árvore. As lesões criadas quando as sondas (agulhas ou sensores) são inseridas na árvore e ainda quando é necessário a remoção de parte do ritidoma podem servir de porta de entrada para organismos causadores de podridões. Estes dispositivos podem ainda servir para ajudar a espalhar a podridão internamente, ao interferirem com a capacidade da árvore de compartimentar a própria podridão (Pokorny, 2003). Muitos investigadores provaram que podridões internas preexistentes são capazes de se propagar radialmente ao longo do canal de perfuração de determinado tipo de instrumentos (Leong et al., 2012). Apesar de ainda não se saber muito acerca de como estas lesões de pequeno diâmetro poderão influenciar o desenvolvimento de podridões nas árvores não devem, de todo, ser ignoradas. Segundo Pokorny (2003) é aconselhável restringir o uso de aparelhos de deteção invasivos em situações onde a informação adicional sobre a localização e extensão da podridão interna seja vital para a avaliação da probabilidade de rutura da árvore, particularmente se a árvore se encontrar em zonas com grande frequência e pressão de utilização.

Diversos autores têm dedicado a sua atenção a descrever os diversos instrumentos de avaliação de defeitos internos de árvores, apontando as vantagens e desvantagens associadas a cada um. A título de exemplo, vejam-se os trabalhos de Londsdale (1999), Harris et al. (2004), Johnstone et al. (2010) e Leong et al. (2012). De uma forma geral, os instrumentos são divididos em quatro tipos, segundo a forma como as leituras são efetuadas e a natureza dos dados obtidos. Assim, podemos encontrar: (1) penetrómetros, (2) medidores de condutividade elétrica, (3) detetores sónicos e ultrassónicos, e (4) tomografia computorizada (Johnstone et al., 2010).

O resistógrafo é um aparelho da classe dos penetrómetros, de utilização bastante simples, que funciona com um motor que alimentado por uma bateria faz com que uma broca em aço de alta qualidade, com 1 a 3 mm de diâmetro, também chamada agulha, penetre na madeira a uma velocidade constante (as velocidades de avanço e de rotação da agulha, o seu comprimento e diâmetro variam conforme os modelos) (Harris et al., 2004). A agulha avança por perfuração ao longo

da madeira em estudo, com uma velocidade de rotação (P) e energia de perfuração (V) pré- determinadas, dependendo da espécie. O resistógrafo medirá deste modo a resistência à perfuração da madeira, isto é, ao avanço da broca ao longo da estrutura em causa.

A resistência à perfuração da agulha é transferida para um ponteiro, visível na parte superior do aparelho, que a regista num gráfico desenhado numa fita de papel de cera à prova de água (já existem modelos digitais). À medida que a agulha perfura a madeira, a resistência vai sendo registada, e o padrão de alterações na resistência é usado para determinar a presença ou ausência de podridão (Mattheck et al., 1997). Assim, um padrão de resistência relativamente elevada indica madeira saudável, enquanto um padrão de resistência baixa sugere podridão ou outros defeitos (por exemplo, cavidades ou fissuras internas). A medição da resistência é baseada na energia usada para ativar a broca ao longo da madeira, dependo assim da densidade desta. O resistograma (gráfico resultante) é calibrado em centímetros de perfuração ao longo do eixo das abcissas, enquanto o eixo das ordenadas, sem unidades quantitativas, é uma medida da densidade relativa no período de uma leitura. Deste modo, após a utilização do resistógrafo numa árvore ou estrutura de madeira, obtém-se um perfil imediato e um registo permanente das condições dessa mesma madeira (Martinho, 2006).

A madeira sã tem uma estrutura com paredes celulares intactas mas, à medida que os organismos responsáveis pelas podridões a invadem, ocorrem mudanças físicas, químicas e estruturais no interior e nas paredes de cada célula. Uma podridão inicial, marca o início das alterações na densidade da madeira, que diminui. Avançado o processo de podridão, assiste-se à destruição da estrutura da madeira e a densidade decresce drasticamente. As mudanças de madeira sã para estados sucessivos de podridão, desde um estado inicial até uma podridão maia avançada, são detetadas em toda a sua extensão pelo resistógrafo, dependendo das espécies e dos padrões de crescimento de cada uma (Martinho, 2006). A existência de fissuras numa árvore pode, por vezes, ser difícil de interpretar nos resultados apresentados pelo resistógrafo, por haver relativa facilidade em confundi-las com podridões. Da mesma forma, características da madeira como lenho de reação, lenho juvenil e maduro, lenho de transição, lenho de Primavera e Outono, assim como o teor em humidade da madeira, bolsas de resina e nós são potenciais fatores que afetam as relações entre a densidade da madeira e as leituras do resistógrafo. À medida que a broca perfura a madeira, deparam-se vários níveis de resistência, que refletem (1) a condição estrutural das paredes celulares, (2) as variações entre lenho de início e de fim de estação no anel de crescimento anual, (3) os tipos de madeira e a disposição típica das suas células (porosidade), (4) o modo como cada árvore se desenvolveu em resposta a condições ambientais (Martinho, 2006).

A utilização do resistógrafo tem diversas vantagens, com destaque para o facto de ser (1) um método não destrutivo e pouco dispendioso, (2) rápido, prático e fiável (até aos estudos mais recentes), (3) portátil e apropriado tanto para trabalhos de campo como laboratoriais, (4) medindo potencialmente toda a extensão da madeira, (5) não impondo a necessidade de retirar a casca das árvores para a sua análise, (6) permitindo estimar o diâmetro no interior da casca, e (7) produzindo um furo pouco visível, devido ao pequeno diâmetro da broca. Em consequência desta última característica, os danos provocados nas árvores são mínimos, em comparação com os que podem resultar da utilização de outros equipamentos disponíveis para os mesmos fins. Este último ponto tem

sido muito debatido e alvo de variadíssimos estudos. Os autores põem inúmeras questões como por exemplo: (1) serão as técnicas de perfuração perigosas para a vitalidade das árvores testadas, (2) será favorável a entrada de fungos através dos furos, (3) como reagirá uma árvore com podridão interna a repetidas perfurações. Segundo Kersten & Schwarze (2004) a árvore tem capacidade para compartimentar a lesão com sucesso, impedindo a colonização dos tecidos por fungos lenhícolas (Fig. 3).

Figura 3 – Secções longitudinais de Platanus sp. (a) e Fraxinus sp. (b) mostrando a

compartimentação das lesões resultantes de leituras com Resistógrafo IML-M300 (a) e com verruma de Pressler (b). O resistógrafo utilizado tem agulha com 3 mm de diâmetro e a verruma de Pressler deixa um orifício com cerca de 9 mm de diâmetro (Kersten & Schwarze, 2004).

Como qualquer aparelho, o resistógrafo tem alguns inconvenientes e requer alguns cuidados. Enquanto trabalha, despende-se algum tempo a furar e a retirar a broca da madeira, dependendo do diâmetro da espécie em estudo. Um dos principais cuidados a ter com o resistógrafo é mantê-lo firme durante a perfuração, para não haver distorções nos resultados ou estragos na broca. Outro cuidado a ter, é evitar quaisquer obstruções metálicas que possam encontrar-se na orientação do furo. No entanto, modelos mais recentes deste aparelho apresentam colmatadas parte destas desvantagens (Leong et al., 2012).