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6. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

6.1. Análise dos aspectos institucionais e culturais

6.1.3. Aspectos Institucionais

6.1.1.2. Atribuição do mérito

As políticas e as formas de atribuição do mérito aos pesquisadores na universidade foram apontadas na literatura internacional como questões relevantes a serem discutidas no contexto da capitalização do conhecimento. De fato, esse tema foi bastante mencionado pelos atores entrevistados, apresentando alguns impactos na realização das práticas empreendedoras na Universidade.

existem departamentos na UFMG que já atribuem pontuação por patente na avaliação das atividades desenvolvidas pelos docentes. Assim, o professor passa a ter um novo estímulo para buscar formas de proteger o conhecimento gerado nas pesquisas que desenvolve, uma vez que isso passa a ter repercussão em sua carreira. As patentes geradas podem então ser licenciadas por uma empresa já consolidada, havendo a possibilidade ainda de se criar uma EBT para explorá-las. Em ambos os casos, vislumbram-se a geração de novas tecnologias e sua transposição da universidade para o mercado, contribuindo para o desenvolvimento econômico e social da região. Na percepção de grande parte dos entrevistados, esse processo representa um ciclo virtuoso uma vez que há um retorno financeiro para a universidade na forma de pagamento de royalties, podendo ser reinvestido no desenvolvimento de novas pesquisas. Observa-se, então, que a atribuição do mérito por patente gerada é um fator que impacta positivamente a dinâmica da capitalização do conhecimento, conforme argumentado por um ex-reitor da UFMG.

Se você atribui mérito à proteção do conhecimento, o professor passa a ter interesse naquela proteção, inclusive porque ela tem repercussão curricular pra ele. Além disso, a universidade poderá negociar aquilo, e o professor poderá inclusive ser beneficiado financeiramente, criando uma corrente positiva, um ciclo virtuoso. Então, na medida em que se valoriza a propriedade intelectual politicamente na universidade, valoriza em termos do currículo do professor e valoriza a ponto de proporcionar ganhos financeiros para o professor, este passa a se interessar pela proteção do conhecimento e isto é de interesse nacional. Assim, mais produtos vão surgindo, empresas vão tendo contato com o conhecimento gerado na universidade e vão eventualmente desenvolver novos produtos com aquilo e isto tudo é positivo para a economia. (Ex-dirigente)

Apesar dessa afirmação, o processo de valorização das atividades relacionadas à incorporação da terceira missão da universidade em sua forma avançada ainda está se iniciando na UFMG. Grande parte dos pesquisadores e dirigentes acredita que ainda são poucos os departamentos que incorporaram a pontuação por patente na avaliação do docente, sendo que seu valor é normalmente inferior ao de um artigo publicado. A mesma situação ocorre na avaliação dos programas de pós-graduação realizada pela CAPES, em que, dentro do quesito de produção intelectual dos cursos de engenharia, por exemplo, atribui-se peso de 50% às publicações qualificadas do programa por corpo docente permanente, enquanto produção de patentes tem peso de 20% (CAPES, 2007). Assim, na percepção dos atores entrevistados, encontra-se na Universidade o imperativo clássico do publish or

universidade são focados na publicação de artigos científicos (NDONZUAU; PIRNAY; SURLEMONT, 2002).

A crítica realizada pelos entrevistados a esse imperativo reside no fato de se valorizar o número de artigos científicos publicados, direcionando as ações do corpo docente para atividades que tenham esse fim. Como consequência, os pesquisadores, de uma forma geral, não têm motivação para se engajarem em atividades relacionadas à proteção intelectual, licenciamento e transferência de tecnologia, formação de uma empresa de base tecnológica ou projetos em parceria com o setor produtivo. Logo, a evolução da missão de apoio ao desenvolvimento econômico e social fica comprometida na Universidade, já que o conhecimento gerado por meio das pesquisas acadêmicas chega à sociedade na forma de publicações e, não, por meio de novos produtos, processos ou serviços. Isto é agravado pelo fato de se avaliar a quantidade de artigos e, não, sua qualidade no sentido de geração de valor para a sociedade. Esta visão pode ser observada no relato a seguir de um pesquisador na área de empreendedorismo de base tecnológica e inovação.

O mérito na Universidade ainda é focado na publicação de artigos científicos, não valorizando as atividades relacionadas à capitalização do conhecimento. A forma de cobrança do pesquisador ainda é por número de artigos. Então, se a cobrança está na direção errada, as pessoas vão em direção a algo que está sendo exigido. O pesquisador não vai fazer atividades relacionadas a empreendedorismo acadêmico, patente, licenciamento ou parceria com a indústria local. Só aqueles mais desobedientes, que acham que não tá correto dessa forma, é que vão fazer uma coisa diferente. Faltam normas e políticas que valorizem atividades relacionadas ao empreendedorismo acadêmico, proteção intelectual e transferência de tecnologia. Por exemplo, não está previsto no regulamento da pós o quanto vale uma patente depositada, concedida, e parece que os departamentos não estão nem aí para isso. Com relação ao spin-off, isso é visto como um bicho novo, a Universidade não sabe como valorizar isso. Na minha percepção, na carreira de pesquisador, do professor, só se tem privilégio e reputação quando se é grande publicador de artigos. Ele ser um bom educador ou empreendedor não é valorizado ainda. (Pesquisador na área de empreendedorismo e inovação tecnológica)

Conforme exposto pelo pesquisador, observa-se que além da produção tecnológica e do empreendedorismo acadêmico, outras práticas na universidade podem ser prejudicadas pela adoção de um sistema de avaliação orientado a publicação. Atividades de extensão universitária, como consultoria a empresas, organização e participação em mostras de tecnologia também são pouco valorizadas, limitando o

do ambiente acadêmico. Conforme visto anteriormente, porém, esta vivência de mercado é um fator de grande relevância nas áreas de ciência aplicada para que se tenham aulas de qualidade enriquecidas com exemplos práticos. Nesse sentido, a missão de ensino também fica comprometida pelo fato de os professores não serem avaliados formalmente pela qualidade das aulas lecionadas, priorizando as atividades de pesquisa que podem resultar em novas publicações. Em outras palavras, no atual sistema de avaliação do docente, a atuação deste como educador não se reveste do mesmo valor que sua atuação como pesquisador.

Ainda com relação à política de atribuição do mérito na Universidade, outra questão abordada se refere à diferenciação de critérios de avaliação. Parte dos dirigentes e pesquisadores/inventores entrevistados acredita que os critérios de avaliação dos docentes deve ser diferenciado por área de conhecimento. Assim, em cursos relacionados à área tecnológica, o depósito de patente teria valor correspondente ou até superior a uma publicação de artigo científico. Contudo, em áreas de ciência básica, cujo enfoque não está na aplicação do conhecimento para geração de novas tecnologias, a avaliação por patente depositada não teria tanto valor. Nessa abordagem, é defendida também a diversidade de critérios dentro de cada curso, a fim de evitar a priorização de uma determinada missão da universidade em detrimento das demais. É importante ressaltar que essa diversificação se faz necessária, tanto na avaliação do docente, como na avaliação dos programas de pós-graduação realizada pela CAPES. O discurso de um ex-reitor da universidade demonstra os argumentos explicitados.

As formas de avaliação devem ser diferenciadas. Na verdade, o plano nacional de pós-graduação, neste período, a partir de 2011/20, tem um capítulo dedicado à avaliação. Este capítulo chama a atenção de que a avaliação tem que sofrer algumas mudanças através de instrumentos legais, como regulamentos. Aí você tem vários produtos: as patentes, trabalho publicado, trabalho em congresso, trabalho comunicado, residência, capa de livro, livro, participação em conferência, orientação de estudante etc. Uma das características que caracteriza a geração de conhecimento é a diversidade. E diversidade não é só em termos de áreas de conhecimento. Esta questão da avaliação vai passar por uma revisão, que vai contemplar não só a diversidade das áreas, as diversidades das atividades dentro de uma mesma área, mas este aspecto da interdisciplinaridade que cada vez mais se faz necessária. (Ex-dirigente)

aqueles que limitam a evolução do processo de capitalização do conhecimento na UFMG, no que tange às políticas de atribuição do mérito.

Quadro 8– Fatores que impactam no do conhecimento’ na UFMG – Atribuição do Mérito Aspectos Institucionais – Atribuição do Mérito na Universidade

Fatores que impulsionam Fatores que restringem Atribuição de pontos por depósito de patente na

avaliação dos docentes em alguns departamentos da UFMG

Sistema de avaliação dos professores orientado à publicação de artigos científicos – imperativo do publish or perish

- Ausência de critérios que valorizem atividades relacionadas ao empreendedorismo tecnológico - Necessidade de maior diferenciação e

diversificação dos critérios de avaliação do docente e da universidade por área do conhecimento

Fonte: elaborado pela autora da dissertação