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6. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

6.2. Análise das configurações organizacionais

6.2.6. Estruturas de apoio à inovação

6.2.6.3. INOVA UFMG

A origem das incubadoras de empresa na UFMG está relacionada a algumas iniciativas isoladas de seus professores, sendo que a primeira experiência nesse sentido surgiu no Departamento de Física com a criação, em 1996, do CIM. A partir disso, outras iniciativas desta natureza começaram a aparecer no ambiente acadêmico, como o Centro Inovatec, originado no Departamento de Ciência da Computação que, em 2003, se uniu ao CIM gerando a incubadora INOVA-UFMG. Esta união, conforme abordado anteriormente, foi resultado de uma política

UFMG, que, mais tarde, resultou também na fusão da INOVA com a AGE, incubadora de empresas até então existente na Faculdade de Ciências Econômica. Atualmente, a INOVA se caracteriza como uma incubadora de empresas de base tecnológica de natureza multidisciplinar, ou seja, abrigando projetos de diversas áreas do conhecimento. Apesar de não se restringir a atender demandas da comunidade acadêmica, sendo que o processo seletivo é realizado por meio de editais públicos aberto à sociedade, 99% de seus projetos são provenientes de pesquisas realizadas por professores e alunos da UFMG em virtude de sua proximidade com a UFMG, estando instalada no Campus Pampulha. Desde seu embrião em 1996, a incubadora veio apresentando um amadurecimento em sua estrutura e serviços, tendo graduado 60 empresas e projetos, que resultaram na geração de 1.500 empregos, segundo dados fornecidos por membros da incubadora nas entrevistas realizadas. Esses resultados evidenciam o alinhamento das ações da incubadora com a missão de apoio ao desenvolvimento econômico e social da região, sendo seu papel incentivar a inovação na universidade por meio do apoio a empreendimentos de base tecnológica.

Para tanto, a INOVA apresenta os programas de pré-incubação e incubação. O processo de pré-incubação envolve a orientação do projeto na realização de um Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica (EVTE), na avaliação das possibilidades do mercado, no desenvolvimento de um protótipo e no amadurecimento do negócio por meio de um Plano de Negócios Estendido, adicionando um plano tecnológico ao plano de negócios tradicional. A figura 6 representa o processo de pré-incubação adotado na INOVA.

Figura 6 – Etapas do processo de pré-incubação adotado na INOVA-UFMG

Fonte: INOVA-UFMG, 201049

A fase de pré-incubação é acompanhada pelo Núcleo de Planejamento Tecnológico (NPT) da incubadora, composto por alunos da graduação, sob orientação de professores do Departamento de Engenharia de Produção. Esse núcleo realiza um diagnóstico das principais dificuldades encontradas em cada projeto de pré- incubação e orientam na sua superação. Além desse apoio, o NPT contribui para a missão de ensino na Universidade, sendo visto como um laboratório onde os alunos podem aplicar na prática os conhecimentos adquiridos em sala de aula. Desde sua formação, já passaram 60 alunos pelo núcleo.

A totalidade dos pesquisadores/inventores entrevistados que tiveram empresas incubadas na INOVA mencionou que o suporte dado pela incubadora nessa fase inicial da formação de uma EBT foi crucial para o nascimento da empresa. Nesse sentido, o apoio da incubadora é visto de forma positiva na modelagem do negócio por meio da elaboração de um Plano de Negócios Estendido e na captação de recursos não reembolsáveis junto às fontes de fomento que financiam projetos de inovação tecnológica, como FINEP, FAPEMIG e BNDES. Esse apoio é complementado por cursos oferecidos pela incubadora que ajudam na concepção da empresa, conforme abordado por um pesquisador/inventor no trecho a seguir.

49 Informações retiradas do

site da INOVA-UFMG. Disponível em: <http://www.inova.ufmg.br/portal/modules/wfchannel/index.php?pagenum=267>. Último acesso em: 15 dez. 2010.

pessoas de investimento, davam cursos, ajudavam no plano de negócios. Mas nesta época tudo estava bem no início, estávamos mais modelando o negócio. Acredito que o principal apoio foram os cursos que a incubadora forneceu sobre o que deve ter em uma proposta para conseguir fonte de financiamento. (Pesquisador/Inventor)

Apesar dessa percepção, pesquisadores na área de empreendedorismo acadêmico e um ex-dirigente da própria incubadora acreditam que o processo de pré-incubação ainda requer um amadurecimento, representando um gargalo para o sistema de inovação na Universidade. Isso porque, segundo estes atores, é necessário um apoio maior a projetos em fase muito embrionária para que cheguem projetos mais robustos na etapa de incubação e, consequentemente, sejam geradas empresas mais maduras que possam, por exemplo, alimentar o parque tecnológico.

Passando para análise da fase de incubação, esta consiste no crescimento e maturação das EBT‟s, partindo da comercialização de seus produtos e concluindo no momento em que elas estão fortalecidas para atuar no mercado (DRUMMOND, 2005). Para tanto, a incubadora disponibiliza uma infraestrutura física para instalação das empresas, bem como serviços de acompanhamento do negócio e treinamentos no sentido de promover uma orientação gerencial às EBT‟s. Ao final do período de incubação, a empresa pode graduar-se, tendo a opção de associar-se à incubadora, indo, em ambos os casos, para o mercado.

Com relação à infraestrutura, pesquisadores/inventores que possuíam empresas na área de engenharia e tecnologia da informação mencionaram que ela atendia bem, pois tinham acesso a sala individual e de reuniões, equipamentos de áudio e vídeo, internet, serviços de segurança e limpeza entre outros recursos necessários ao funcionamento da empresa a um custo baixo. Além disso, a proximidade com a UFMG foi um fator crucial para a instalação de algumas empresas na INOVA pelas facilidades em termos de logística, sendo a Universidade o local de trabalho de pesquisadores/inventores associados a essas EBT‟s.

Apesar dos itens mencionados, a INOVA possui uma infraestrutura aquém de sua necessidade, tendo apenas cinco salas disponíveis para incubação. Um elemento crítico nesse sentido consiste na ausência de estrutura compatível com a incubação de empresas de biotecnologia, cujos produtos são voltados à saúde humana. Isso porque as instalações da INOVA não são aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), sendo essa aprovação necessária para produção e comercialização de produtos gerados por empresas dessa natureza.

incubação, de forma que a incubadora perde a oportunidade de abrigar empresas de biotecnologia que apresentam alto potencial de mercado e caráter inovador. Apesar dos esforços de ex-dirigentes da Universidade na captação de recursos para construção de novas instalações para a INOVA, a fim de superar essas limitações, tal fato não fora concretizado, sendo que a infraestrutura da incubadora permanece incipiente.

Outro gargalo identificado no processo de incubação está relacionado ao apoio na parte de gestão e operação da empresa, logo após seu nascimento. Nesse sentido, grande parte dos pesquisadores/inventores destacou que o suporte e orientação dados pela INOVA no que tange às partes administrativa, comercial e financeira não atende satisfatoriamente as necessidades de EBT‟s de origem acadêmica. Isso porque essas empresas, em sua maioria, envolvem pesquisadores com um conhecimento técnico sólido, mas que não têm formação e experiência na parte de gestão de empresas, sendo esperado que a incubadora auxilie na superação das dificuldades encontradas nessa área. O relato a seguir de um pesquisador/inventor demonstra esta percepção.

No meu ponto de vista, os pesquisadores não têm o perfil empreendedor, muito menos administrativo e financeiro. Então, uma incubadora dentro da universidade, deveria ser aquela que permite te dar um respaldo para aquilo que está faltando. A propaganda é: transforme sua pesquisa em produto. A pesquisa nós já temos, falta um meio de campo administrativo, financeiro e comercial para pegar aquela pesquisa e transformar em produto. A gente enxergou que a INOVA, como incubadora, iria ajudar a empresa nesse sentido. Então seria algo do tipo: temos aqui esta pessoa da incubadora que tem este know how que vocês estão precisando. Neste ponto eu acho que faltou apoio por parte da incubadora. (Pesquisador/Inventor)

Assim, apesar de a incubadora oferecer um acompanhamento do negócio, além de treinamentos em marketing, recursos humanos, administração, gestão de desenvolvimento de novos produtos, finanças e propriedade intelectual, há uma demanda por cursos de capacitação mais específicos e uma orientação mais clara na gestão e operação da empresa.

No que tange à relação da INOVA com outros agentes de inovação, sabe-se que a incubadora está formalmente vinculada à CT&IT. Essa ligação favorece a interação entre esses dois agentes, sendo crucial para a formação de uma cadeia de inovação mais coesa na Universidade. Isso porque a maior parte das empresas incubadas na INOVA foram fundadas no intuito de explorar uma tecnologia desenvolvida na

da tecnologia antes que essa caia em domínio público por meio da publicação de um artigo científico, sendo essas questões tratadas junto à CT&IT.

Com relação ao BH-TEC, apesar de ele ter uma proposta importante no sentido de abrigar EBT‟s, é necessário uma maior integração entre o parque e a incubadora. Nesse sentido, pesquisadores/inventores e ex-dirigentes da INOVA acreditam que uma ligação formal entre essas estruturas favoreceria a ida de empresas graduadas na INOVA para o BH-TEC, fortalecendo a cadeia de inovação na universidade.

Por fim, um último ponto a ser melhorado, conforme destacado por um ex-dirigente da INOVA, seria a relação dela com as unidades acadêmicas e departamentos de curso. Isso porque, muitas vezes, as empresas incubadas precisam fazer uso da infraestrutura laboratorial da Universidade, sendo essa possibilidade uma das principais vantagens vislumbradas pelas empresas ao se instalarem na incubadora. Entretanto, para que isso ocorra, é necessário obter aprovação das unidades acadêmicas e departamentos, sendo que alguns dirigentes ainda não estão cientes do papel da incubadora e do empreendedorismo acadêmico, o que representa um entrave nesse processo de aprovação. Além disso, conforme abordado anteriormente, não há normas claras na Universidade que regulamentem o uso da infraestrutura dos laboratórios da Universidade por seus spin-offs, tornando mais difícil essa relação.

Para concluir, o quadro 16 resume os fatores apresentados que impactam no processo de capitalização do conhecimento, diante da atuação e estrutura da INOVA-UFMG.

Quadro 16– Fatores que impactam no processo de capitalização do conhecimento na UFMG – INOVA-UFMG

Configurações Organizacionais – INOVA-UFMG

Fatores que impulsionam Fatores que restringem Grande esforço dos últimos dirigentes da

incubadora no sentido de fortalecer as ações e serviços desempenhados por esta na

universidade

Falta de conscientização de dirigentes das unidades acadêmicas e departamentos com relação ao empreendedorismo acadêmico – dificuldade na interface entre empresas incubadas e laboratórios da UFMG Ligação formal da INOVA com a CT&IT

favorecendo as ações desempenhadas por ambas na universidade

Falta de integração entre o BH-TEC e a INOVA

Localização da incubadora dentro da UFMG – atração de alunos e professores da universidade para formação de empreendimentos de base tecnológica

Falta de projetos e empresas maduras que ao saírem da INOVA tenham condições de se instalar no BH-TEC – necessidade de melhorar os processos de pré-incubação e a incubação Envolvimento de alunos sob orientação de um

professor no apoio aos processos de pré- incubação e incubação, contribuindo para o ensino em empreendedorismo – NPT

Falta de equipe capacitada na INOVA para orientar na parte financeira, comercial e administrativa do negócio

Grande apoio da INOVA aos projetos na fase de pré-incubação – elaboração do plano de

negócios estendido, adequação do produto ao mercado e captação de recursos

Necessidade de treinamentos mais focados na parte de gestão e operação de uma empresa

Baixo custo para instalação da empresa na incubadora – infraestrutura atende bem

empresas de engenharia e TI, que não envolvem aplicações na área de saúde

Infraestrutura aquém do necessário para atender toda a demanda existente na universidade para incubação – falta de recursos

Ausência de infraestrutura para incubar

empresas na área de biotecnologia – instalações sem aprovação da ANVISA

Fonte: elaborado pela autora da dissertação