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6. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

6.2. Análise das configurações organizacionais

6.2.4. Qualidade e natureza da pesquisa

A qualidade das pesquisas desenvolvidas na Universidade foi mencionada pela maior parte dos atores entrevistados como um fator essencial na dinâmica da capitalização do conhecimento, ou seja, para a geração de resultados com potencial de serem aplicados no desenvolvimento de novas tecnologias, contribuindo para a solução de problemas presentes na sociedade. Nesse sentido, o aumento de recursos públicos disponibilizados para o desenvolvimento de pesquisas científicas em meados da 1990, associado à existência de um corpo docente de alta qualificação, contribuiu para o desenvolvimento de pesquisas de excelência na UFMG. Assim, atualmente, esta última se destaca pelos elevados índices de produção intelectual, ocupando a 5ª posição entre as instituições universitárias brasileiras que mais publicam artigos científicos de impacto e uma das 400 melhores universidades no mundo segundo o ranking da Shanghai Jiao Tong University (UFMG, 2008).

Essa excelência em pesquisa pode contribuir ainda para a formação de um ambiente favorável à inovação tecnológica. Segundo membros do parque tecnológico, o fato de a UFMG ser reconhecida pela qualidade de suas pesquisas é um elemento essencial na atração de empresas de base tecnológica para o BH- TEC, já que a proximidade com uma fonte de conhecimento de alto nível pode representar uma vantagem competitiva significativa para estas empresas. Além disso, a UFMG apresenta pesquisas de qualidade desenvolvidas em diversas áreas do conhecimento, contando com 645 grupos formalmente cadastrados no Diretório Nacional de Grupos de Pesquisa do CNPq, sendo que essa diversidade pode contribuir para o desenvolvimento de novas tecnologias que tangenciam diferentes áreas do saber (UFMG, 2008). Esse fato se reflete positivamente na formação de spin-offs acadêmicos, conforme revelado por um dirigente da INOVA.

Quanto à natureza e qualidade da pesquisa desenvolvida, nós temos na UFMG um leque muito amplo de pesquisa em várias áreas, que vai desde a pesquisa básica à pesquisa aplicada. Isso é muito bom, pois favorece a formação de um ambiente voltado para a inovação na Universidade. Muitos

estimulando a geração de um empreendimento, de uma empresa. Então, os laboratórios e grupos de pesquisa são grandes fornecedores de candidatos à formação de empresas. (Dirigente de estrutura de apoio à inovação)

Ainda com relação à qualidade da pesquisa, segundo membros da CT&IT o aumento do número de registro de patentes realizado pela UFMG nos últimos anos também é reflexo desse fator. O trecho extraído de entrevista concedida ao Boletim UFMG por Rubén Dario Sinisterra, ex-dirigente da CT&IT, demonstra claramente essa visão.

As melhores e mais competitivas patentes que temos são dos grupos de pesquisa mais sólidos. Para avaliar o potencial das patentes como instrumento acadêmico, basta dizer que, no quadro geral de inventores da UFMG, entre o grupo de alunos, 51% são de doutorado, 24% de iniciação científica e 25% de mestrado. Temos a responsabilidade de formá-los, prepará-los e torná-los capazes de encarar os desafios do mercado de trabalho e de lidar com a economia do conhecimento (BOLETIM UFMG, 2010a).

Apesar dos argumentos apresentados, destaca-se que a excelência da pesquisa é percebida pela maior parte dos entrevistados como um elemento necessário, mas não suficiente para que o conhecimento gerado na universidade seja transferido para o mercado, gerando novas tecnologias. Assim, apesar de a UFMG ter se destacado em 2009 como a segunda maior instituição brasileira responsável pelo registro de patentes no mercado internacional, a transferência de tecnologia não acompanhou esse resultado, ainda que tenha apresentado certa evolução ao passar de quatro transferências, em 2004, para 19, em 2009. Isso ocorre em parte porque, para que o conhecimento gerado se converta no desenvolvimento de novos produtos e processos, é necessário que haja pesquisas desenvolvidas com um enfoque nessa aplicação, sendo que a cultura da universidade, conforme visto anteriormente, conduz a um foco na publicação de artigos científicos.

Outro fator citado na literatura internacional como impactante no processo de capitalização do conhecimento se refere à natureza das pesquisas acadêmicas. Segundo O‟Shea et al. (2005), as pesquisas na área de engenharia, ciências biológicas, ciências da computação e química tendem a ter um efeito positivo no índice de spin-offs gerados. Em concordância com a literatura internacional, em torno de 90% dos projetos e empresas de base tecnológica que passaram pelo processo de incubação e pré-incubação na INOVA, até o ano de 2010, são provenientes das áreas de engenharia, ciência da computação, farmácia e ciências biológicas, conforme dados fornecidos pela incubadora. Os outros 10% se dividem

pesquisas de alta qualidade em áreas que estão mais próximas do desenvolvimento tecnológico por se proporem à aplicação de um conhecimento impacta positivamente a geração de spin-offs acadêmicos na UFMG. É importante destacar que, apesar de a área de ciências biológicas não ser de natureza aplicada em sua essência, como ocorre com a engenharia, encontram-se inúmeras oportunidades para o desenvolvimento de novas tecnologias, sendo que 53% dos depósitos de patentes da UFMG são de biotecnologia, e o primeiro spin-off acadêmico da UFMG é proveniente do Instituto de Ciências Biológicas. Nas demais áreas de conhecimento que são voltadas ao desenvolvimento da ciência básica, ainda que se produza pesquisa de qualidade, o impacto em termos de patentes e formação de spin-offs acadêmicos tende a ser inferior ao das áreas que já desenvolvem pesquisas com o cunho aplicado. Tal fato se aplica também aos projetos em parceria com empresas e prestação de serviços, de forma que a Escola de Engenharia foi uma das primeiras unidades a regulamentar essa questão e a apresentar tais práticas, devido a sua natureza de buscar a aplicação do conhecimento produzido na geração de soluções para problemas presentes na sociedade.

Diante do exposto, vale ressaltar que a natureza da pesquisa, na percepção dos entrevistados, impacta as práticas de capitalização do conhecimento, mas, para estimular de fato o desenvolvimento delas, deve estar associada a outros fatores como a qualidade da pesquisa, a cultura do departamento de curso e da Universidade, a forma de pensar e a visão do pesquisador, a presença de estruturas de apoio à inovação e a existência de normas e políticas que legitimem essas práticas. Assim, apesar da natureza de aplicação da engenharia e sua maior proximidade com o desenvolvimento de novas tecnologias, o envolvimento de docentes na formação de empresas de base tecnológica, por exemplo, ainda encontra barreiras culturais e de valores nos departamentos da Escola de Engenharia, limitando o desenvolvimento dos spin-offs acadêmicos nessa área. Por outro lado, no Departamento de Ciências da Computação da UFMG, encontra-se uma cultura mais favorável ao empreendedorismo, o que, unida à natureza aplicada da pesquisa desenvolvida, pode favorecer a formação de spin-offs.

pesquisa desenvolvida na UFMG, que impactam no processo de capitalização do conhecimento.

Quadro 12– Fatores que impactam no processo de capitalização do conhecimento na UFMG – Qualidade e natureza da pesquisa

Configurações Organizacionais – Qualidade e Natureza da Pesquisa Fatores que impulsionam Fatores que restringem Alta qualidade das pesquisas desenvolvidas na

UFMG e reconhecimento dessa excelência

Dificuldade em transformar o conhecimento gerado em novas tecnologias, produtos ou processos

Grande diversidade das linhas de pesquisa desenvolvidas

Dificuldade em transpor o conhecimento gerado na UFMG para o mercado – apenas uma pequena parcela do conhecimento protegido é transferido para empresas

Desenvolvimento de pesquisa de qualidade em áreas mais propensas à geração de novas tecnologias. Ex: Engenharias, Farmácia, Ciência da Computação

Cultura voltada para produção de artigos científicos mesmo em áreas de conhecimento cuja essência é a aplicação. Ex: Engenharias

Fonte: elaborado pela autora da dissertação