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Atribuições constitucionais do Tribunal de Contas

PARTE I – O CONTROLE DE CONTAS NO CONTEXTO DO

4 CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: ORIGEM,

4.3 TRIBUNAL DE CONTAS NO BRASIL

4.3.6 Atribuições constitucionais do Tribunal de Contas

Nessa esteira, o art. 71 da Constituição de 1988 arrola as atribuições constitucionalmente outorgadas ao Tribunal de Contas da União em onze incisos442.

438 BARBOSA, Os tribunais de contas e a moralidade administrativa, cit., p. 118. 439 DINIZ, Roteiro do protagonista do SRP, cit., p. 56.

440 SALGADO, O estado ético e o estado poiético, cit.

441 Neste trabalho, não serão apresentadas as atribuições infraconstitucionais do Tribunal de Contas, por

razões de recorte.

442 Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio do Tribunal

de Contas da União, ao qual compete: I - apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da República, mediante parecer prévio que deverá ser elaborado em sessenta dias a contar de seu recebimento; II - julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos da administração direta e indireta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo Poder Público federal, e as contas daqueles que derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao erário público; III - apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de admissão de pessoal, a qualquer título, na administração direta e indireta, incluídas as fundações instituídas

Essas competências são próprias, porque peculiares aos procedimentos de controle; exclusivas, porquanto se referem a atribuições outorgadas somente ao Tribunal de Contas; e indelegáveis, uma vez que, por serem próprias e exclusivas, somente o Tribunal de Contas pode exercê-las nos termos estabelecidos na Constituição443.

As competências constitucionais cometidas ao Tribunal de Contas são classificadas pela doutrina pátria em diferentes áreas ou naturezas.

Carlos Ayres Britto444 assinala que função e competência são coisas distintas. A função é unicamente a de controle externo e tudo o mais já se traduz em competências, a saber: competência opinativa, competência judicante, competência consultiva e informativa, competência sancionadora, competência corretiva.

Frederico Pardini445 agrupa essas atribuições em quatro categorias: 1) opinativa e informativa (parecer prévio sobre as contas do chefe do Executivo e resposta a consultas formuladas ao Tribunal); 2) fiscalizadora (por exemplo, auditoria e inspeção); 3)

e mantidas pelo Poder Público, excetuadas as nomeações para cargo de provimento em comissão, bem como a das concessões de aposentadorias, reformas e pensões, ressalvadas as melhorias posteriores que não alterem o fundamento legal do ato concessório; IV - realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de Comissão técnica ou de inquérito, inspeções e auditorias de natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial, nas unidades administrativas dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, e demais entidades referidas no inciso II; V - fiscalizar as contas nacionais das empresas supranacionais de cujo capital social a União participe, de forma direta ou indireta, nos termos do tratado constitutivo; VI - fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repassados pela União mediante convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos congêneres, a Estado, ao Distrito Federal ou a Município; VII - prestar as informações solicitadas pelo Congresso Nacional, por qualquer de suas Casas, ou por qualquer das respectivas Comissões, sobre a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial e sobre resultados de auditorias e inspeções realizadas; VIII - aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa ou irregularidade de contas, as sanções previstas em lei, que estabelecerá, entre outras cominações, multa proporcional ao dano causado ao erário; IX - assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as providências necessárias ao exato cumprimento da lei, se verificada ilegalidade; X - sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado, comunicando a decisão à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal; XI - representar ao Poder competente sobre irregularidades ou abusos apurados. § 1º - No caso de contrato, o ato de sustação será adotado diretamente pelo Congresso Nacional, que solicitará, de imediato, ao Poder Executivo as medidas cabíveis. § 2º - Se o Congresso Nacional ou o Poder Executivo, no prazo de noventa dias, não efetivar as medidas previstas no parágrafo anterior, o Tribunal decidirá a respeito. § 3º - As decisões do Tribunal de que resulte imputação de débito ou multa terão eficácia de título executivo. § 4º - O Tribunal encaminhará ao Congresso Nacional, trimestral e anualmente, relatório de suas atividades.

443 MILESKI, O controle da gestão pública, cit., p. 299.

444 BRITTO, O Regime Constitucional dos Tribunais de Contas, cit., p. 6. ―Primeiro, lógico, vem a função,

que é a atividade típica de um órgão. Atividade que põe o órgão em movimento e que é a própria justificativa imediata desse órgão (atividade-fim, portanto). Depois é que vêm as competências, que são poderes instrumentais àquela função. Meios para o alcance de uma específica finalidade‖.

corretiva (assinar prazo para correção de irregularidades); e 4) jurisdicional especial (julgamento das contas a que se refere o inciso II do art. 71 da Constituição).

Para Hely Lopes Meirelles446, o Tribunal de Contas tem atribuições: 1) opinativas (emitir parecer prévio sobre as contas prestadas anualmente pelo chefe do Poder Executivo); 2) verificadoras (por exemplo, realizar auditoria financeira e orçamentária nas unidades administrativas dos três poderes); 3) assessoradoras (por exemplo, representar ao Executivo e ao Legislativo sobre irregularidades e abusos verificados nas contas examinadas); 4) jurisdicionais administrativas (por exemplo, julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por bens e valores públicos).

Raíssa Maria Rezende de Deus Barbosa447 registra que as atribuições do Tribunal de Contas podem ser: investigativas (pelas quais os Tribunais de Contas exercem a fiscalização e acompanhamento dos atos de administração e das despesas resultantes destes atos); corretivas (conforme as quais as Cortes de Contas podem corrigir os atos e ações irregulares); cautelares (que podem ser adotadas em casos extremos, na forma prevista em lei); jurisdicionais (relacionadas com a competência para julgar as contas públicas); punitivas (possibilitam a aplicação de multas e outras sanções previstas em lei aos responsáveis em caso de ilegalidades e irregularidades).

É bem mais ampla que as anteriores, a classificação apresentada por Paulo Soares Bugarin448 em oito categorias: judicante ou jurisdicional, fiscalizadora, consultiva, informativa, sancionadora, corretiva, normativa ou regulamentar e de ouvidoria.

Entre as atribuições de natureza consultiva, o autor considera a emissão de parecer prévio sobre as contas anuais do chefe do Executivo (art. 71, I); informativa, ao prestar as informações solicitadas pelo Congresso Nacional, por qualquer de suas Casas, ou por qualquer das respectivas Comissões, sobre a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial e sobre resultados de auditorias e inspeções realizadas (art. 71, VII); sancionadora, para aplicar as sanções previstas em lei; corretiva, ao assinar prazo para que órgão ou entidade adote as providências necessárias ao exato

446 MEIRELLES, Direito administrativo brasileiro, cit., p. 686-687.

447 BARBOSA, Os tribunais de contas e a moralidade administrativa, cit., p. 121.

448 BUGARIN, O princípio constitucional da economicidade na jurisprudência do tribunal de contas da união, cit., p. 83-

cumprimento da lei, se verificada ilegalidade, e sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado, comunicando a decisão à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal (art. 71, IX e X); normativa ou regulamentar, para a expedição de instruções e atos normativos, nos termos da lei orgânica do TCU; e de ouvidoria, ao apreciar as denúncias a que alude o § 2º do art. 74 da Constituição de 1988.

Paulo Soares Bugarin449 lembra que a função fiscalizadora do Tribunal de Contas foi ampliada com a Constituição de 1988. Entre as inovações, destaca as atribuições de fiscalizar as contas nacionais das empresas supranacionais de cujo capital social a União participe (art. 71, V) e a aplicação de quaisquer recursos repassados pela União mediante convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos congêneres (art. 71, VI), bem como a de apreciar, para fim de registro, a legalidade dos atos de admissão de pessoal e de aposentadoria, reforma e pensão (art. 71, III). Quanto a essas últimas atribuições, diz que as constituições anteriores restringiam o registro às concessões iniciais e que a apreciação do amplo conjunto de atos de admissão praticados na Administração tem por finalidade garantir o cumprimento do democrático e republicano princípio do concurso público.

Como visto, as atribuições constitucionais do Tribunal de Contas, até mesmo pelo amplo alcance do controle externo que lhe compete, como também pelo vasto rol de pessoas e matérias sujeitas à sua jurisdição, são de variadas naturezas, não encontrando consenso entre os doutrinadores na classificação delas.