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2 O CONTROLE INSTITUCIONAL DO AUTOLICENCIAMENTO AMBIENTAL

2.1 MINISTÉRIO PÚBLICO

2.1.1 ATRIBUIÇÕES E CONCEITUAÇÕES

De acordo com o artigo 127 da CF/1988, “o Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis” (Constituição Federal de 1988, art. 127) e apresenta, ainda, o importante papel de fiscal da lei. Desfruta de autonomia funcional e administrativa, já que não está vinculado a nenhum dos Poderes.

Assim, o MP se trata de um dos mais importantes órgãos de controle das ações do poder público, apresentando papel fundamental no controle do autolicenciamento ambiental, seja acompanhando os procedimentos licenciatórios, seja instigando o poder público a elaborar leis e normas mais efetivas ou, ainda, o compelindo a aparelhar os órgãos ambientais, para serem mais eficientes.

Com o advento da Lei nº 7.347/1985, que dispõe sobre a Ação Civil Pública (ACP), foi atribuída ao MP a função de tutelador dos interesses difusos73 e coletivos74. Antes da Lei da

ACP, o Ministério Público desempenhava basicamente funções na área criminal. Na área cível, o MP tinha apenas uma atuação interveniente, como fiscal da lei em ações individuais (MPU, 2012).

Assim, segundo Cappelli (2009) o Ministério Público tem papel de suma importância no cenário jurídico brasileiro, sendo responsável pelo ajuizamento de 97,6%75 das ações

civis públicas em defesa do meio ambiente.

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Difusos são os interesses de uma coletividade indeterminada de sujeitos.

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Coletivos são os interesses de um grupo determinado de pessoas.

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Documento O Ministério Público e a Defesa do Meio Ambiente, Confederación Nacional del Ministerio Público (Conamp), evento paralelo a RIO-92, 1992, p. 9 (CONAMP, 1992 apud CAPPELLI, 2009, p. 143).

73 Essa atribuição, de autor da investigação e da ação civil pública, a par da tradicional atribuição penal, mudou o perfil desse Parquet76 que, de coadjuvante do processo civil na

posição de fiscal da Lei ou custus legis77, recebeu a incumbência legal (Lei nº 7.347/1985,

art. 5º.) e, depois, constitucional78 de realizar a tutela coletiva da sociedade em seu direito

constitucional por um meio ambiente saudável e ecologicamente equilibrado.

A partir da atribuição expressa na Constituição Federal de 1988 (CF/88), para defesa do meio ambiente, nas esferas civil e penal, o Ministério Público desenvolveu estrutura e capacitação para fazer frente à tutela de interesses difusos e coletivos. Em razão da ampliação das suas funções, o Ministério Público criou promotorias especializadas, Centros de Apoio Operacional79, Câmara de Coordenação e Revisão80 e assessorias ambientais,

entre outros órgãos, com o objetivo de garantir uma atuação mais eficaz e assegurar um contato mais amplo com a sociedade civil, na consecução de atividades destinadas à proteção do meio ambiente. Assim, passa a constituir um dos principais agentes sociais no âmbito jurídico a atuar com a questão ambiental.

No entendimento de McAllister (2008) o MP tornou-se um importante fórum de resolução de conflitos ambientais, tornando as leis ambientais mais efetivas que no passado. Para o autor, o MP contribui para reduzir a impunidade e aumentar a transparência das instituições governamentais, além de ser uma via de acesso legal dos cidadãos para fazer suas representações. Assim, o MP brasileiro pode ser reconhecido como um modelo muito promissor, para fortalecer a democracia e o cumprimento da lei.

A Carta Magna de 1988 inseriu o MP no capítulo das Funções Essenciais à Justiça, sem ligação a qualquer dos poderes. Dessa forma, a CF/1988 elevou sobremaneira a instituição, garantindo-lhe independência e atribuindo-lhe a defesa de preciosos valores sociais, incluindo o meio ambiente. Na compreensão de McAllister (2008), no contexto

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A expressão Parquet, na compreensão de Mazzili (1989): “muito usada com referência ao Ministério Público, provém da tradição francesa, assim como ‘magistratura de pé’ e les gens du roi. Os procuradores do rei (daí les

gens du roi), antes de adquirirem a condição de magistrados e de terem assento ao lado dos juízes, tiveram

inicialmente assento sobre o assoalho (parquet) da sala de audiências, em vez de terem assento sobre o estrado, lado a lado à ‘magistratura sentada’”. A doutrina e a prática nos tribunais têm utilizado correntemente a expressão Parquet para se referir ao Ministério Público. Na atualidade, o assento dos seus membros se dá no mesmo plano e imediatamente à direita dos juízes singulares e presidentes dos órgãos judiciários perante os quais oficiem. Isso demonstra a equiparação e significância dessas instituições na prestação da justiça.

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O Ministério Público possui várias funções, entre elas fiscalizar a aplicação correta da lei.

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Art. 129, III, da Constituição Federal – “São funções institucionais do Ministério Público: [...] III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos”.

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Centro de Apoio Operacional – órgão auxiliar da Administração do Ministério Público. Tem como função orientar, auxiliar e facilitar a atuação dos promotores de justiça, prestando-lhes informações técnico-jurídicas, apoio no relacionamento e realização de reuniões entre membros do Ministério Público e órgãos de gestão, além de buscar a estruturação das políticas institucionais do Ministério Público na área ambiental e centralizar as informações da atuação Ministerial.

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Trata-se da 4ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal. Criada pelo art. 58 da Lei Complementar 75/1993 e formada por três membros titulares e três suplentes, com sede em Brasília. Essa Câmara tem atribuição para o meio ambiente e patrimônio cultural, competindo a ela auxiliar no trabalho dos Procuradores da República, especialmente revisando os compromissos de ajustamento e conferindo a eles apoio técnico pericial.

74 brasileiro em que existe uma legislação ambiental forte com instituições ambientais fracas, o MP exerce importante papel. Enquanto a corrupção é sempre uma possibilidade, os promotores de justiça podem ser mais resistentes, devido às suas condições de trabalho e status favoráveis.

Devido à condição do Brasil de República Federativa, o Ministério Público brasileiro se divide em Ministério Público da União (MPU) e Ministérios Públicos dos Estados. O MPU está subdividido em Ministério Público Federal (MPF), Ministério Público do Trabalho (MPT), Ministério Público Militar (MPM) e Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), como mostra a Figura 1.

Figura 1 - Organograma simplificado do Ministério Público brasileiro.

No âmbito do Distrito Federal a atuação do Ministério Público se dá por meio do Ministério Público Federal (MPF), quando as ações envolvem instituições, recursos ou assuntos de interesse federal, e por meio do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), quando as ações envolvem instituições, recursos ou assuntos de interesse exclusivo desta unidade da federação.

O MPDFT tem uma ampla atuação na área ambiental, contando para tanto com diversas promotorias de justiça especializadas. A atuação das Prodema e das Prourb, por serem as mais atuantes em relação aos processos de licenciamento ambiental no DF, serão enfatizadas a seguir.

As Prodema têm como função institucional promover e acompanhar medidas judiciais, extrajudiciais e administrativas em defesa do meio ambiente e do patrimônio cultural. Sua atuação visa tornar efetivas as normas legais de proteção aos bens ambientais e culturais. Entre as suas inúmeras atribuições, estão a instauração de inquéritos civis públicos e de procedimentos de investigação preliminar, visando a apurar a prática de atos lesivos ao meio ambiente e ao patrimônio cultural e os seus responsáveis, bem como a propositura de

MP

MPF

MPU

MPT

MPM

MPDFT

75 ação civil pública e realização de termo de ajustamento. Cabe também às Promotorias de Defesa do Meio Ambiente e do Patrimônio Cultural receber e processar representações e notícias criminais. Compete-lhes ainda propor a elaboração ou alteração das normas ambientais, subsidiar os órgãos superiores do MPDFT na definição de políticas e programas ligados à defesa do meio ambiente e do patrimônio cultural, bem como exercer o controle externo da atividade policial da Delegacia Especial do Meio Ambiente (Dema), em conjunto com as Promotorias de Justiça de Defesa da Ordem Urbanística (MPDFT, 2011).

Já as Prourb apresentam as mesmas funções das Prodema, mas em relação aos assuntos de defesa da ordem urbanística do DF, com ênfase na observância do que consta do Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT), dos Planos Diretores Locais (PDL), das Normas de Edificação, Uso e Gabarito (NGB), do Código de Obras e Edificações do Distrito Federal (COE), demais normas edílicas, de zoneamento urbanístico, de posturas e da Lei federal nº 6.766/1979; na correta utilização dos bens de uso comum do povo, bem como no cumprimento das normas e procedimentos relativos à desafetação de áreas públicas81.

Essas Promotorias, devido às suas especialidades, são as mais atuantes nas questões ambientais do Distrito Federal e, portanto, são as que mais têm atuado em relação aos procedimentos de licenciamento ambiental no DF.

2.1.2 PRINCIPAIS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS UTILIZADOS PELO MPDFT NO