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ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NO SOCIOJURÍDICO:

No documento LÍLIAN MARIA OLIVEIRA VIEIRA (páginas 26-43)

PARTICULARIDADES NO ÂMBITO DOS MINISTÉRIOS PÚBLICOS

A expressão - “sociojurídico” - é relativamente nova na história do Serviço Social brasileiro e, de acordo com Borgianni (2012), refere-se aos espaços de

intervenção dos assistentes sociais com relação direta com o universo “jurídico, dos direitos, dos direitos humanos, direitos reclamáveis, acesso a direitos via Judiciário e Penitenciário”.

Contudo, importa esclarecer que a inserção profissional no Judiciário e no sistema penitenciário no Brasil, data da origem da profissão. Segundo Iamamoto e Carvalho (2006), o Juizado de Menores do Rio de Janeiro foi um dos primeiros campos de trabalho de assistentes sociais.

A inclusão de profissionais de Serviço Social nessa instituição aparece como uma das estratégias do Estado para tentar manter o controle frente ao agravamento dos problemas relacionados à infância “delinquente, abandonada e pobre” que se intensificava no espaço urbano da época.

A elaboração do Código de Menores, em 1979, e do Estatuto da Criança e do Adolescente, em 1990, provocaram uma expansão nos campos de atuação dos Assistentes Sociais, fazendo com que a profissão passasse a estabelecer relação e ocupar espaço nas instituições que se relacionam diretamente com o universo do “jurídico”. (FÁVERO, 2003). Ao longo do tempo, o Serviço Social firmou-se e expandiu sua atuação por meio da inserção profissional nos tribunais, nas instituições de acolhimento institucional, e de cumprimento de medidas socioeducativas, entre outras.

Mais recentemente, a partir da promulgação da Constituição Federal, de 1988, principalmente após os anos 2000, evidenciaram-se outros espaços de atuação para o Serviço Social no sociojurídico. Esses profissionais são chamados a atuar em instituições que, após a Carta Magna, assumem novas funções na defesa de direitos difusos8 e coletivos9 e/ou individuais10, como o Ministério Público e a Defensoria Pública.

8 De acordo com Mazzilli (2009. p. 53) os direitos difusos “são interesses ou direitos transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato. Os interesses difusos compreendem grupos menos determinados de pessoas (melhor do que pessoas indetermináveis), entre as quais inexiste vínculo jurídico [...] São como um feixe ou conjunto de direitos individuais, de objeto indivisível, compartilhados por pessoas indeterminadas, que se encontram unidas por circunstâncias de fato conexas”. Como, por exemplo, o direito a um meio ambiente sadio e equilibrado.

9 Mazzilli (2009. p. 55) diz que em sentido mais abrangente, “refere-se a interesses transindividuais, de grupos, classes ou categoria de pessoas [...] determinadas ou determináveis, ligadas pela mesma relação jurídica básica”. Por exemplo: Os direitos de determinadas categorias sindicais.

De acordo com Borgianni (2012), a expressão sociojurídico indica o lugar que o Serviço Social brasileiro desempenha neste espaço sócio ocupacional, propenso a analisar a realidade social em uma perspectiva de totalidade e em meio a contradições sociais profundas. Assim, de acordo com a autora, é essencial situar qual o significado sócio histórico e político do aspecto ‘jurídico’ para a sociedade, e ainda, entender que o “social” ou esse termo “sócio” configura-se como uma expressão condensada da questão social, ensejando a intervenção de juristas, agentes políticos e especialistas do Direito.

Nesse sentido, conforme exposto pelo CFESS (2014, p. 15) há de se considerar que,

Se o direito que encorpa o ‘jurídico’ se constitui pelos “operadores do direito [que] concorrem pelo monopólio do direito de dizer o direito” (BOURDIEU apud SHIRAISHI, 2008, p. 83), para os/as assistentes sociais, outra dimensão é necessária: a de contribuir para trazer, para a esfera do império das leis, a historicidade ontológica do ser social, pela via das diversas possibilidades de intervenção profissional, balizadas pelo projeto ético-político profissional.

Fazer essa mediação é essencial, para perceber que direito e “jurídico” não são sinônimos. O direito, quando transformado em lei é o direito positivado, porém, é mais amplo do que as leis, é produto das necessidades humanas, que se estabelecem nas relações sociais contraditórias e dialéticas. Logo, entendemos que a positivação do direito em forma de lei depende dos interesses que se encontram em disputa, das correlações de forças entre as classes sociais.

O direito, ao ser positivado em forma de lei, ganha status de norma a ser seguida pelos cidadãos e protegida pelo Estado. Portanto, de acordo com Borgianni (2012, p. 14), o “jurídico é antes de tudo, o lócus de resolução dos conflitos pela impositividade do Estado”.

Ao analisar as demandas postas ao Serviço Social, Fávero (1999), defende que embora apareçam como “jurídicas”, elas, na verdade, são essencialmente

10 Os direitos individuais são aqueles inerentes a cada cidadão brasileiro e estão diretamente relacionados com os direitos fundamentais, estabelecidos e assegurados no Art 5ª da Constituição Federal de 1988, qual seja: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.

sociais. A autora afirma que essas demandas se transformam em “jurídicas” pelo desejo de controle, visando a manutenção da “ordem social”, de disciplinamento de condutas sociais consideradas impróprias, segundo os interesses dominantes do período histórico específico.

Para exercer o controle das práticas sociais consideradas ‘impróprias’ para a ordem social vigente, aciona-se os mecanismos coercitivos do Estado, com o intuito de restringir os direitos de determinadas classes e segmentos populacionais.

A criminalização dos pobres se torna uma das principais formas de controle da ‘questão social’ na contemporaneidade. Intensificar e criminalizar as práticas consideradas punitivas, como por exemplo, as verificações, inquéritos, entre outros, pressupõe acionar as instituições que compõem o campo sociojurídico, que são o modelo do máximo poder impositivo estatal.

De acordo com o CFESS (2014),

A dimensão coercitiva do Estado, marca dessas instituições, constrói estruturas e culturas organizacionais fortemente hierarquizadas, e que encerram práticas com significativo cunho autoritário. ‘Arbitrariedades’ fazem parte da dimensão do ‘árbitro’, de quem dispõe de poder legitimado para exercê-lo ‘em nome de ‘bens maiores’: a ordem e a justiça. O poder de interferir e decidir sobre a vida das pessoas, de outras instituições, de populações ou até mesmo de países, a partir do uso da força física ou da lei, confere a tais instituições características extremamente violadoras de direitos – mesmo quando o discurso que as legitima é o da garantia dos direitos. (p. 16).

Para tanto, os(as) profissionais de Serviço Social precisam ter clareza que o Direito positivado em forma de lei, por ter um caráter de classe, expressa a lógica da defesa da classe dominante. Além disso, devemos compreender que atribuir ao direito uma universalidade, ignora a desigualdade e as contradições da realidade concreta, estabelecidas pelas lutas de classe e pelas várias formas de exploração, opressão, dominação e discriminação.

Dito isso, percebemos que o direito é um espaço de disputas contínuas – seja visando a sua positivação em forma de lei, seja pela sua concretização na vida social. Por este motivo, as instituições sociojurídicas são permeadas por mediações contraditórias.

Essas mediações trazem, para o(a) assistente social, uma contradição essencial para pensar o exercício profissional nas instituições que compõem o sociojurídico, que atuam constantemente tensionados por duas principais requisições, quais sejam: manter a ordem social11 (por meio das funções que essas instituições possuem) e garantir direitos.

Sobre isso, Fávero (2018, p. 67) convida a reflexão:

A direção social que o assistente social imprime ao seu trabalho [...] alinha-se a um projeto profissional conectado com a ética, a democracia, a justiça social? Ou aos interesses dessa instituição estatal, que detém o poder de decisão e de garantia de direitos — e pode ser acionada pela população trabalhadora para acessá-los —, mas, e sobretudo, detém o poder de coerção, de julgamento, de responsabilização penal? Ele tem clareza — nos atendimentos e avaliações que realiza, na opinião profissional que emite verbalmente ou em relatórios, laudos, pareceres — dos processos ideológicos e culturais que formam e conformam a postura profissional, bem como das relações de forças e de saber/poder que permeiam o cotidiano de trabalho nesse espaço sócio ocupacional?

A criminalização dos pobres, citada anteriormente, motivada pelo capitalismo e sua necessária desigualdade estrutural, aponta para os/as assistentes sociais um forte paradoxo: para garantir os direitos de alguns, é preciso violar os direitos de outros. Essa contradição fere diretamente os princípios éticos-políticos do Serviço Social que defende a universalidade dos direitos humanos.

Logo, percebemos que a ideia da universalidade dos direitos é, “incompatível com a busca de culpados/as, de criminosos/as, de indivíduos com condutas moralmente reprováveis, e que, por isso, são menos credores de direitos; ou pior, objeto de violações de seus direitos”. (CFESS, 2014. p. 22 e 23).

As condutas punitivas, com perspectiva disciplinadora e moralizante, fazem parte da trajetória histórica do Serviço Social. E, muitas vezes, das demandas postas pelas instituições sociojurídicas aos assistentes sociais.

Contudo, assim como em qualquer outro espaço sócio ocupacional, os profissionais de Serviço Social inseridos nas instituições que integram o campo

11 Cabe o registro de que essas funções que, muitas vezes, envolvem a manutenção da ordem social, por vezes se apresentam através de requisições conservadoras que já foram superadas no âmbito profissional e comumente demonstram as contradições com as quais o(a) assistente social deve lidar, vez que requisita-se também a garantia dos direitos.

sociojurídico, possuem uma autonomia relativa12, pautada nos compromissos assumidos no projeto ético político profissional, no saber teórico-metodológico, nas escolhas ético-políticas e nas habilidades técnico-operativas desenvolvidas.

Ao desenvolver o saber teórico-metodológico, o profissional deve ter domínio da teoria crítica, possibilitando uma aproximação consciente da realidade. Sobre a dimensão ético-política, o assistente social precisa ter conhecimento político, pois lida diariamente com relações de poder e com forças sociais antagônicas presentes na sociedade. Já as habilidades técnico-operativas, desenvolvidas durante o processo de formação deve proporcionar uma série de conhecimentos e competências com o objetivo de efetivar a ação. Além disso, é preciso desenvolver habilidades (técnico-operativas) capazes de assegurar uma atuação crítica e eficiente na intervenção profissional junto à população usuária e as instituições contratantes.

Dito isto, compete ao profissional de Serviço Social entender as relações estabelecidas entre os(as) usuários(as) e as leis, evitando cair nas armadilhas moralizantes, que geralmente criminalizam os pobres. Nesse caso, segundo Borgianni (2012), o dever do assistente social “não é o de ‘decidir’, mas o de criar conhecimentos desalienantes sobre a realidade, a ser analisada para se deliberar sobre a vida das pessoas”. (p. 64).

Normalmente, para realizar qualquer tipo de intervenção, faz-se necessário que o profissional de Serviço Social utilize instrumentos distintos para exercer sua ação - pois cada demanda posta apresenta uma especificidade e cabe ao assistente social escolher qual ou quais técnicas utilizará, visando responder as necessidades dos usuários.

Para materializar as ações, o profissional de Serviço Social faz uso de habilidades, conhecimentos, informações, e instrumentais técnicos, que se

12 Assim como Iamamoto (2007), Raichelis (2011), salienta que a condição de trabalhador assalariado do Assistente social, em instituições públicas ou privadas, e em qualquer um dos espaços ocupacionais, faz com que ele não tenha controle sobre todas as suas condições e meios de trabalho, sendo que as instituições empregadoras definem até mesmo o objeto de intervenção do Assistente social, isto é, os recortes da questão social em que o profissional irá atuar. No entanto, os demais meios de trabalho, que são o conhecimento e habilidades profissionais, pertencem ao Assistente social, mas existe um conjunto de determinações que condicionam as possibilidades de desenvolvimento pleno deste saber especializado do profissional. Tais determinações se referem ao recorte de classe, gênero, raça, etnia que se aliam aos traços de subalternidade da profissão e a herança cultural católica, entre outros. (SIMÕES, 2012, p. 109-111)

caracterizam como fundamentais para efetivação da sua intervenção. Contudo, são várias as discussões relativas ao “como fazer” do Serviço Social. De acordo com Guerra (2007, p. 02),

A instrumentalidade é uma propriedade e/ou capacidade que a profissão vai adquirindo na medida em que concretiza objetivos. Ela possibilita que os profissionais objetivem sua intencionalidade em respostas profissionais. É por meio desta capacidade, adquirida no exercício profissional, que os assistentes sociais modificam, transformam, alteram as condições objetivas e subjetivas e as relações interpessoais e sociais existentes num determinado nível da realidade social: no nível do cotidiano.

Sabemos, que a instrumentalidade contempla as habilidades e competências que o profissional adquire durante o processo de formação e na prática cotidiana. Portanto, ela abrange os conhecimentos conquistados no exercício da profissão, competências estas capazes de transformar a realidade social dos indivíduos. Como visto anteriormente, dentre estas competências se tem a técnico operativa, que se caracteriza pela utilização de instrumentos necessários para a ação profissional.

Dentre estes, comumente o assistente social que atua no sociojurídico tem como maior demanda, o estudo social. Concebido por Mioto (2001), como o

[...] instrumento utilizado para conhecer e analisar a situação, vivida por determinados sujeitos ou grupo de sujeitos sociais, sobre a qual fomos chamados a opinar. Na verdade, ele consiste numa utilização articulada de vários outros instrumentos que nos permitem a abordagem dos sujeitos envolvidos na situação. (MIOTO, 2001, p. 153)

É fundamental constar no documento o parecer profissional do assistente social, entendendo que o documento não deve se limitar a compreender e analisar a realidade, mas ponderar sobre ela naquilo que compete ao profissional, considerando suas habilidades, competências, autonomia técnica e ética profissional. Dito isto, percebemos que o parecer emitido pelo profissional de Serviço Social apresenta sua opinião técnica balizada pelas competências e habilidades adquiridas no percurso da formação profissional.

De acordo com a Resolução CFESS nº 557/2009, o parecer social configura-se como ação privativa do assistente social e, portanto, “deve destacar a sua área

de conhecimento separadamente, delimitar o âmbito de sua atuação, seu objeto, instrumentos utilizados, análise social e outros componentes que devem estar contemplados na opinião técnica”. (CFESS, 2009).

Para Mioto (2009), o Estudo Social deve ser pensado a partir da compreensão das requisições feitas aos assistentes sociais pelos indivíduos alvo de sua atuação. Mais que isso, precisa considerar o saber técnico, mas especialmente os elementos teórico-metodológicos da profissão, para que o profissional não exerça o papel de mero descritor da realidade ou venha a culpabilizar sujeitos individuais e/ou coletivos sem considerar os contextos nos quais esses mesmos sujeitos se inserem. De acordo com a autora,

Aquelas necessidades trazidas por sujeitos singulares não são mais compreendidas como problemas individuais. Ao contrário, tais demandas são interpretadas como expressões de necessidades humanas básicas não satisfeitas, decorrentes da desigualdade social própria da organização capitalista. Assim, o assistente social tem como objeto de sua ação as expressões da questão social, e essa premissa não admite que se vincule a satisfação das necessidades sociais à competência ou incompetência individual dos sujeitos. (MIOTO, 2009, p. 484).

A judicialização da questão social e a tendência à criminalização dos pobres, se traduzem, muitas vezes, nas requisições postas aos assistentes sociais que, eventualmente são demandados a elaborar estudos sociais segundo os objetivos das instituições empregadoras, que tendem a gerar novas violações de direitos. Segundo o CFESS (2014), essas solicitações se apresentam de várias formas13:

• Estudo social que se restringe a atestar a ‘veracidade dos fatos narrados’, em situações, por exemplo, de denúncias de maus-tratos [...].

• Apontar, em situações de violência sexual contra crianças e adolescentes, quem e como a violência sexual ocorreu, com o máximo de detalhes possíveis, responsabilizando a fala da vítima pela produção da prova necessária à culpabilização do agressor [...]. • Descobrir autores/as de violência (contra crianças, adolescentes, idosos/as, mulheres, pessoas com deficiência), na perspectiva de punir o(s) suposto(s) autor(es) da violência, reforçando a visão de

13 Destacamos que, daquelas solicitações apresentadas pelo documento elaborado pelo CFESS (2014), foram elencadas apenas aquelas que se relacionam com os objetivos institucionais do Ministério Público, instituição objeto da pesquisa.

que o encarceramento é a saída para o enfrentamento da questão [...]

• Afirmar se pai ou mãe ou outro parente é mais apto para assumir a guarda ou tutela de crianças e adolescentes, sem uma análise de totalidade da realidade de vida desse público, tendendo a culpabilizá-lo pela situação posta. [...].

• Realizar avaliações sociais no sistema socioeducativo, focando-as unicamente no comportamento do/a adolescente de forma a culpabilizá-lo/a ou à sua família, sem análise dos limites institucionais ou de sua realidade de vida. Nessa mesma perspectiva, atestar se o/a adolescente pode ou não retornar ao convívio social [...].

• Afirmar a incompetência de mães ou pais para cuidarem de seus/suas filhos/as, por meio da análise e observação de comportamentos considerados ‘inadequados’ (ou desajustados), ou avaliando negativamente condições materiais de vida, provocando ações de Destituição de Poder Familiar e, até mesmo, de criminalização das famílias. [...].

• Corroborar para atestar a incapacidade de idosos/as, pessoas com transtorno mental ou com deficiência, sem questionar a importância de estimular a autonomia desse segmento populacional, alimentando ações indiscriminadas de interdição civil [...].

• Controlar o acesso de familiares e outros/as visitantes em instituições de acolhimento ou de privação de liberdade, por meio de comprovação de vínculos familiares (geralmente biológicos), idoneidade do/a visitante e, até mesmo, atestando se determinada pessoa possuía vínculos afetivo-sexuais com a pessoa institucionalizada (por exemplo, ao regular visitas íntimas no sistema prisional e no socioeducativo, quando existem) [...].

• Avaliar individualizadamente comportamentos ‘inadequados’ no interior das instituições de acolhimento e de privação de liberdade e, até mesmo, em inquéritos administrativos, envolvendo trabalhadores/as das instituições – sabendo que determinadas avaliações produzirão ‘sanções’ ou ‘não acesso’ a benefícios e direitos por parte dos indivíduos, desconsiderando o próprio papel cumprido pelas instituições em processos de violação de direitos. (p. 26- 28).

Constatamos que, nas circunstâncias apontadas acima, o Estudo Social, pretende que o profissional de Serviço Social aprecie elementos e comportamentos individuais, emitindo pareceres que determinam a direção da vida dos(as) usuários em tela, enfatizando a individualidade dos problemas vivenciados pelos sujeitos, em detrimento de problematização do contexto, a partir da compreensão de totalidade.

Sobre isso, Borgianni (2013) alerta para o risco de o(a) profissional de Serviço Social

[...] deixar-se envolver pela “força da autoridade” que emana do poder de resolver as questões jurídicas pela impositividade, que é a

marca do campo sociojurídico, e “encurtar” o panorama para onde deveria voltar-se sua visão de realidade, deixando repousar essa mirada na chamada lide, ou no conflito judicializado propriamente dito; passando a agir como se fora o próprio Juiz, ou como um “terceiro imparcial”, mas cuja determinação irá afetar profundamente a vida de cada pessoa envolvida na lide. (p. 62).

Dessa forma, para desenvolver um trabalho fundamentado nos princípios que orientam o projeto ético-político da profissão, o(a) assistente social deve abandonar práticas criminalizadoras, moralistas e disciplinadoras. Para tanto, é preciso refletir sobre os diversos níveis da sua prática, inclusive aquela que se assenta em processos burocráticos, mas que podem ser fundamentais para a garantia de direitos dos usuários, como é o caso da elaboração de estudos, relatórios e pareceres sociais, documentos elaborados pelos assistentes sociais, que visam a garantia de direitos da população usuária.

De acordo com o CFESS (2014, p.30),

Se o/a profissional, quando da realização do estudo social, identificar as expressões da questão social, sejam elas materiais, culturais, ideológicas, que permeiam a situação apresentada, e as referenciar nos laudos, pareceres, relatórios sociais apresentados, sobretudo no seu parecer, indicando alternativas que envolvam não apenas o indivíduo e a família, esse trabalho, ainda que institucional, possibilita o enfrentamento da questão social posta.

Verificamos que o enfrentamento às requisições consideradas conservadoras, frente à não concretização de direitos e sua clara negação, pressupõe uma direção guiada por princípios pautados na defesa dos direitos individuais e coletivos dos sujeitos. Para isso, exige-se que o profissional de Serviço Social inserido no campo sociojurídico, em especial no Ministério Público, se proponha a ir além dos ritos processuais, compondo equipes e participando de ações interdisciplinares e coletivas.

Fávero (2018, p. 71), afirma que:

Diante da complexidade das experiências de vida dos sujeitos com os quais o assistente social trabalha, a intervenção profissional

No documento LÍLIAN MARIA OLIVEIRA VIEIRA (páginas 26-43)

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