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INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA COMO DEMANDA PARA O SERVIÇO SOCIAL

No documento LÍLIAN MARIA OLIVEIRA VIEIRA (páginas 62-92)

4 SERVIÇO SOCIAL NOS MINISTÉRIOS PÚBLICOS DO NORDESTE: A

4.1 INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA COMO DEMANDA PARA O SERVIÇO SOCIAL

Como dito anteriormente, após as transformações da sociedade brasileira e do Estado, e sobretudo, após a promulgação da Constituição Federal de 1988, o Ministério Público passou por uma ampliação de suas funções institucionais, expandindo seu orçamento e o número de promotores de Justiça, além da abertura institucional para a inserção de outras profissões, com saberes e conhecimentos específicos, para dar conta da realidade posta às demandas que lhe foram trazidas.

Diante disso, os anos que sucederam a Constituição Federal se apresentaram como campo fértil para a inserção de profissionais de Serviço Social para compor os quadros técnicos dos Ministérios Públicos Estaduais, em todo território nacional, devido ao contexto já apresentado. Os primeiros concursos públicos para ingresso de Assistentes Sociais nos quadros técnicos dos Ministérios Públicos Estaduais ocorreram a partir da década de 1990. Sobre isso, Silva e Silva (2016, p. 5) afirmam:

O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) foi o primeiro do país a realizar concurso público para provimento de cargos de assistente social [...] O primeiro concurso público foi realizado no ano de 1994 e previu duas vagas para o cargo de Auxiliar Superior – Assistente Social. No ano de 2002 a instituição realizou novo concurso para provimento de mais duas vagas e, no curso das transformações operadas pelas contrarreforma do Estado, o MPRJ não realizou mais concursos com previsão de vagas para assistentes sociais, tendo optado pela ampliação maciça e progressiva do quadro por meio da nomeação de profissionais que ocupam cargos comissionados e atuam como assessores em matéria de Serviço Social.

Com o objetivo de compreender a inserção e atuação dos assistentes sociais no Ministério Público em nível nacional, buscamos acesso à Análise do Perfil das/os assistentes sociais, elaborado pela Comissão Organizadora do VII Encontro Nacional de Serviço Social no Ministério Público, ocorrido em São Paulo - SP (VII ENSSMP), no ano de 2018.

O documento é resultado do formulário41 aplicado online no momento da inscrição no evento e respondido por 100 (cem) assistentes sociais de todo o país, de um total de 151 participantes inscritos no Encontro, com representação de todos as regiões do país, entre os meses de abril e setembro de 2018. Importa esclarecer que não temos o número exato de assistentes sociais inseridos nos Ministérios Públicos brasileiros, temos a informação parcial de 22 estados totalizando 380 profissionais de Serviço Social, contudo, os estados de Minas Gerais, Pará, Ceará, Alagoas e Amapá não informaram o quantitativo42.

O formulário em tela, abordava questões relativas à identificação pessoal, informações profissionais, formação acadêmica e capacitação continuada. Porém, considerando o objeto de estudo proposto, trouxemos aqueles que consideramos ser os aspectos mais relevantes para conhecermos o perfil das assistentes sociais que compõem os ministérios públicos brasileiros.

No que se refere a identificação pessoal, foram obtidos dados sobre a idade, o sexo, a etnia dos assistentes sociais que responderam o formulário. Quanto a idade, observou-se que a maioria das/os assistentes sociais têm entre 35 e 44 anos, seguidos daqueles/as com idades entre 25 e 34. A menor proporção é daqueles/as com idades entre 55 e 64 anos, conforme pode ser verificado no gráfico abaixo.

FIGURA 1 – Gráfico representativo da idade dos assistentes sociais inseridos no Ministério Público (2018)

41 Ver Anexo A.

42 Essa informação foi solicitada por uma das profissionais, que compõe o Grupo de Whatsapp que reúne os assistentes sociais dos Ministérios Públicos brasileiros, para realização de uma pesquisa.

Fonte: Análise do Perfil das/os assistentes sociais, elaborado pela Comissão Organizadora do VII Encontro Nacional de Serviço Social no Ministério Público, ocorrido em São Paulo -

SP (VII ENSSMP) (2018).

O fato da maioria dos entrevistados estar na faixa etária jovem/adulta (25 a 44 anos), mostra que, não estão afastados da Universidade há muito tempo e por isso, certamente, vivenciaram um processo de formação mais crítico, que proporcionou uma leitura de sociedade numa perspectiva de totalidade. Isso não garante uma atuação profissional em sintonia com uma direção profissional crítica, mas possibilita um conhecimento do projeto ético político da profissão e dá aos sujeitos possibilidades de escolha em sua atuação profissional.

No que se refere, ao tempo de trabalho no MP, 64% dos participantes está na instituição entre 05 e 15 anos, com predomínio daqueles que estão entre 05 e 10 anos trabalhando no Ministério Público, atingindo 43%.

Esse dado comprova que a inserção do profissional de Serviço Social nos Ministérios Públicos configura parte de uma história recente, ocasionado sobretudo pela ampliação das funções atribuídas à instituição pela Constituição Federal de 1988, como foi explicitado no tópico anterior. Além disso, é possível inferir que, pelo fato de estar na instituição a pouco tempo, o Serviço Social ainda busque um espaço de legitimidade e identidade profissional.

FIGURA 2 – Gráfico representativo do tempo de trabalho dos assistentes sociais inseridos no Ministério Público (2018)

Fonte: Análise do Perfil das/os assistentes sociais, elaborado pela Comissão Organizadora do VII Encontro Nacional de Serviço Social no Ministério Público, ocorrido em

No que se refere ao sexo das/os participantes da pesquisa, a proporção de mulheres é bem maior que a dos homens, seguindo a tendência da profissão nacional e historicamente. De acordo com dados de pesquisa do perfil nacional dos/as assistentes sociais, feita pelo Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), no ano de 2005, 94% das(os) assistentes sociais brasileiras(os) pertenciam ao sexo feminino.

FIGURA 3 – Gráfico representativo do sexo dos assistentes sociais inseridos no Ministério Público (2018)

Fonte: Análise do Perfil das/os assistentes sociais, elaborado pela Comissão Organizadora do VII Encontro Nacional de Serviço Social no Ministério Público, ocorrido em São Paulo -

SP (VII ENSSMP) (2018).

Desde o surgimento da profissão do Serviço Social no Brasil constatamos a predominância do sexo feminino entre tais profissionais. O predomínio feminino na profissão em suas origens, está associada às características arraigadas e culturalmente legitimadas como sendo de propriedade feminina, como é possível verificar na afirmação feita por Iamamoto e Carvalho (2006)

Aceitando a idealização de sua classe sobre a vocação natural da mulher para as tarefas educativas e caridosas, essa intervenção assumia, aos olhos dessas ativistas, a consciência do posto que cabe à mulher na preservação da ordem moral e social e o dever de tornarem-se aptas para agir de acordo com suas convicções e suas responsabilidades. Incapazes de romper com essas representações, apostolado social permite àquelas mulheres, a partir da reificação

daquelas qualidades, uma participação ativa no empreendimento político e ideológico de sua classe, e da defesa faculta um sentimento de superioridade e tutela em relação ao proletariado, que legitima a intervenção (p. 171 -172).

Os discursos predominantes, afirmavam que as primeiras assistentes sociais da época deveriam ser dotadas de sentimentos nobres, ter moral bem estabelecidas, vontade de servir aos outros e bondade com o próximo. Veloso (2001), ao falar sobre o fato do Serviço Social ser uma profissão composta praticamente por mulheres, declara que as mulheres que constituíam a categoria do Serviço Social imprimiram a sua atuação valores, maneiras de se relacionar com o mundo, propriedades e prerrogativas destinadas às mulheres, esses fatos colaboraram para que a profissão imprimisse uma imagem semelhante daquela que se tinha da mulher.

Na época, considerava-se que a mulher detinha uma habilidade natural para as ocupações educativas e caridosas e como o Serviço Social, inicialmente, se caracterizou por ser uma profissão destinada às mulheres, as características da profissão nesse período se relacionavam com as atribuições dirigidas às mulheres. Conforme pode ser observado, na Tese apresentada na 4ª Semana de Ação Social em São Paulo, em 1940 por Maria Kiehl:

Intelectualmente o homem é empreendedor, combativo, tende para a dominação. Seu temperamento prepara-o para a vida exterior, para a organização e para a concorrência. A mulher é feita para compreender e ajudar. Dotada de grande paciência, ocupa-se eficazmente de seres fracos, das crianças, dos doentes. A sensibilidade torna-a amável e compassiva. É, por isso, particularmente indicada a servir de intermediária, a estabelecer e manter relações. (apud IAMAMOTO; CARVALHO, 2006, p.171-172).

O fato do Serviço Social, atualmente, ainda ser uma profissão composta predominantemente por mulheres, faz com que se mantenha a ideia de uma profissão associada a uma determinada concepção de formação, relacionada ao imaginário de que a mulher dispõe das características mais compatíveis com o exercício da profissão.

O Serviço Social ainda é percebido enquanto uma profissão que executa nos moldes utilizados e destacados no início da história da profissão, se tornando evidente uma ligação histórica e muito complexa para ser rompida, tendo por base os anos de existência da profissão, assim como, o seu histórico dentro da sociedade capitalista. (p. 07).

Analisando as relações de trabalho atualmente, verificamos que a função designada anteriormente às mulheres, qual seja: zelar pelo bem-estar comum, cuidar, realizar práticas voluntaristas relacionadas à caridade e à filantropia, que não objetivavam o provimento de uma família, por exemplo – foi alterado pela perspectiva contemporânea, que prevê justamente o contrário, ou seja, a inserção de mais mulheres no mercado de trabalho e provedoras de suas famílias.

Com relação as informações profissionais, a maioria dos assistentes sociais que responderam à pesquisa trabalha em MP’s localizados na região Sudeste, seguidos pelos da região Sul, Centro-Oeste, Nordeste e Norte, estando assim distribuídos:

FIGURA 4 – Gráfico representativo da região de trabalho dos assistentes sociais inseridos no Ministério Público (2018)

Fonte: Análise do Perfil das/os assistentes sociais, elaborado pela Comissão Organizadora do VII Encontro Nacional de Serviço Social no Ministério Público, ocorrido em

São Paulo - SP (VII ENSSMP) (2018).

Ao particularizar por estado, há uma predominância de participantes da pesquisa dos estados de São Paulo, Paraná, Goiás e Rio Grande do Norte, em suas

respectivas regiões. Na região sudeste, o Estado de São Paulo, que sediou o encontro teve a participação de 31 assistente sociais, seguido do Rio de Janeiro que contou com a participação de 18 profissionais. Na Região Sul, o Estado que teve mais participação foi o Paraná, com 15 assistentes sociais. No Nordeste, o Rio Grande do Norte foi o que enviou o maior número de profissionais, seis no total, seguido do Maranhão com três profissionais. A Região Centro-oeste registrou a participação de 13 assistentes sociais, sendo nove de Goiás, três do Mato Grosso e um do Distrito Federal. No Norte, Pará, Rondônia e Acre teve um participante cada.

De acordo com a figura 5, sobre o vínculo de trabalho dos assistentes sociais do MP brasileiro, foi predominante o concurso público como forma de inserção na instituição, com 81%. Embora haja a predominância de concursos públicos para provimentos dos cargos de assistente social nos Ministérios Públicos brasileiro, percebe-se que os cargos comissionados são realidade nesse espaço sócio ocupacional e se constituem em um vínculo precarizado.

FIGURA 5 – Gráfico representativo da forma de ingresso dos assistentes sociais inseridos no Ministério Público (2018)

Fonte: Análise do Perfil das/os assistentes sociais, elaborado pela Comissão Organizadora do VII Encontro Nacional de Serviço Social no Ministério Público, ocorrido em

São Paulo - SP (VII ENSSMP) (2018).

No que diz respeito a denominação do cargo, a maior parte dos assistentes sociais informaram que o seu cargo não conta com o nome da profissão na

denominação, prevalecendo aqueles que são “Analistas”, como é o caso do Ministério Público do Rio Grande do Norte.

FIGURA 6 – Gráfico representativo da denominação dos cargos dos assistentes sociais inseridos no Ministério Público (2018)

Fonte: Análise do Perfil das/os assistentes sociais, elaborado pela Comissão Organizadora do VII Encontro Nacional de Serviço Social no Ministério Público, ocorrido em

São Paulo - SP (VII ENSSMP) (2018).

O conjunto CFESS/CRESS tem demonstrado apreensão com esta ocorrência, pois muitas instituições nomeiam os cargos genericamente com o intuito de não caracterizar a atuação de Serviço Social, podendo violar as competências próprias e atribuições privativas da profissão.

Observa-se, com isso, a tendência de se enfraquecer direitos trabalhistas conquistados, ao longo dos anos, pelos assistentes sociais (como a carga horária de 30 horas semanais) quando inseridos em cargos com outras denominações. Visto que, em alguns espaços, a justificativa dada para não seguir a Lei 12.317, de 26 de agosto de 2010, que dispõe sobre as 30 horas de trabalho para os assistente sociais, se baseia na nomenclatura do cargo exercido.

Sobre isso, o Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), emitiu a Resolução nº 572, de 25 de maio de 2010, que dispõe sobre a obrigatoriedade de registro nos Conselhos Regionais de Serviço Social aos profissionais de Serviço Social que exerçam funções ou atividades de atribuição do assistente social, ainda que contratados com cargo genérico.

Em grande medida, essa resolução protege o profissional de Serviço Social, vez que preconiza:

[...] Independentemente da designação do cargo ou função de contratação do profissional, se este exerce funções, atividades ou tarefas de atribuição do assistente social, está obrigado a se inscrever no Conselho Regional da jurisdição de sua área de atuação [...] Considerando que a denominação ou nomenclatura do cargo ou o fato de ser genérico é irrelevante, posto que compete ao CRESS no âmbito de suas atribuições legais fiscalizar o exercício da profissão, exigindo que todos aqueles que exerçam atividades ou funções privativas do assistente social, estejam inscritos em suas hostes. (CFESS, 2010).

De acordo com a Resolução tem se constatado, a contratação de vários assistentes sociais sob nomenclaturas e cargos genéricos, todavia, em inúmeras situações, desempenham funções e atividades que fazem parte do rol de atribuições e competências do assistente social, e por isto:

Art. 5º - O profissional, assistente social, em qualquer espaço sócio ocupacional, deverá atuar com a devida e necessária competência técnica, competência teórico-metodológica, autonomia e compromisso ético, independentemente da denominação de seu cargo ou função.

Art. 6º. É prerrogativa do assistente social e de qualquer trabalhador, independentemente da denominação de seu cargo ou função, exercer somente as funções pertinentes ao cargo que ocupa ou que foi investido ou contratado. (CFESS, 2010).

Dentro do Ministério Público do Rio Grande do Norte, por exemplo, a denominação tem englobado diferentes profissionais, como da psicologia, da contabilidade, da arquitetura dentre outros. Na instituição, os analistas são aqueles profissionais que assessoram os promotores de justiça em matérias profissionais específicas, adicionando outros conhecimentos.

Quanto a carga horária trabalhada, embora a Lei nº 12.317 de 26 de agosto de 2010 – que dispõe sobre a duração de trabalho semanal da/o assistente social (“Lei das 30 horas”) – tenha feito nove anos, verifica-se um número elevado de assistentes sociais trabalhando 35 ou 40 horas semanais, nos Ministérios Públicos brasileiros, conforme ilustra o gráfico abaixo:

FIGURA 7 – Gráfico representativo da carga horária trabalhada pelos assistentes sociais inseridos no Ministério Público (2018)

Fonte: Análise do Perfil das/os assistentes sociais, elaborado pela Comissão Organizadora do VII Encontro Nacional de Serviço Social no Ministério Público, ocorrido em

São Paulo - SP (VII ENSSMP) (2018).

Um dos fatores que podem aparecer como argumento utilizado pelos Ministérios Públicos para negar a concessão da carga horária estabelecida na Lei nº 12.317, de 26 de agosto de 2010, pode ser a denominação do cargo genérico utilizada pela Instituição, conforme dito anteriormente.

Outro argumento utilizado, mais especificamente, no Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte (MPRN), diz respeito ao fato da Lei citar no Art. 2º o termo “contrato de trabalho”, e o MPRN alega que os profissionais da Instituição não são regidos por registro em carteira de trabalho e por isto não reconhece as 30 horas semanais, como um direito adquirido pelos profissionais de Serviço Social.

No que se refere à realização de trabalho a referida pesquisa questionou sobre a existência de outros assistente sociais no local de atuação. Dos profissionais que responderam à pesquisa, 75% declararam trabalhar com outros assistentes sociais, o que ilustra a importância e a necessidade de não se ter apenas um profissional de Serviço Social no ambiente de trabalho, possibilitando a discussão dos casos e divisão da demanda recebida.

FIGURA 8 – Gráfico representativo da presença de outros assistentes sociais no setor (2018)

Fonte: Análise do Perfil das/os assistentes sociais, elaborado pela Comissão Organizadora do VII Encontro Nacional de Serviço Social no Ministério Público, ocorrido em

São Paulo - SP (VII ENSSMP) (2018).

Ademais, a maioria dos assistentes sociais que responderam à pesquisa mencionaram contar com profissionais de outras áreas em seu local de trabalho:

FIGURA 9 – Gráfico representativo da presença de outros profissionais no setor (2018)

Fonte: Análise do Perfil das/os assistentes sociais, elaborado pela Comissão Organizadora do VII Encontro Nacional de Serviço Social no Ministério Público, ocorrido em

São Paulo - SP (VII ENSSMP) (2018).

Dentre os profissionais mais citados estão os psicólogos (50%), seguidos por pedagogos (10,78%) e profissionais do direito (10%), entre outros. Esse dado

demonstra a importância da realização de um olhar interdisciplinar, devido à complexidade das demandas que chegam aos Ministérios Públicos.

Ao refletir sobre a interdisciplinaridade e o Serviço Social, Jorge e Pontes (2017, p. 176) afirmam

Diferentes disciplinas em interação em um espaço de trabalho podem trocar experiências através de um encontro e tecer diálogos que possam proporcionar diferentes formas de enxergar e abordar uma realidade de trabalho. Consideramos, então, a Interdisciplinaridade como um conceito de análise porque trata de como o assistente social utiliza ou incorpora esse conhecimento à sua prática profissional, e como acontece a relação e encontro com outros sujeitos profissionais. [...] Portanto, a reunião de profissionais especializados para intervir na realidade revela uma necessidade de pensar e executar ações coletivas, e, assim, na dimensão da prática profissional, este encontro entre conhecimentos profissionais é colocado para investigação, pois pressupondo que o mesmo exige uma abertura e atitude na direção do diálogo, do inter, do fazer-com-o-outro, é este encontro ou relação que nos faz indagar sobre as intervenções na realidade social e sobre esse conhecimento da interdisciplinaridade aplicado a um espaço público.

Percebemos com essa fala que a interdisciplinaridade, se apresenta como a possibilidade de um trabalho articulado com outros saberes e competências visando dar respostas as demandas apresentadas no trabalho do assistente social. Entendemos que o profissional de Serviço Social, sozinho, não consegue apontar todos os encaminhamentos necessários para a superação da situação de vulnerabilidade e/ou risco vivenciada pelos usuários que demandam atuação do MP.

Sobre as condições de trabalho dos assistentes sociais do Ministério Público brasileiro, temos o seguinte gráfico, no qual indagou-se aos participantes da pesquisa se estes possuem os insumos fundamentais para a efetivação do trabalho no espaço sócio ocupacional no qual atuam. Por insumos, entendemos:

 Material de escritório;

 Veículo para realização de atividades externas;

 Espaço físico adequado para realização do trabalho (sala, mesa, cadeira);

FIGURA 10 – Gráfico representativo das condições básicas de trabalho dos assistentes sociais inseridos no Ministério Público (2018)

Fonte: Análise do Perfil das/os assistentes sociais, elaborado pela Comissão Organizadora do VII Encontro Nacional de Serviço Social no Ministério Público, ocorrido em São Paulo -

SP (VII ENSSMP) (2018).

De forma geral, os profissionais que responderam a esta pergunta declararam possuir condições adequadas de trabalho, havendo 2% que indicaram não dispor de material de escritório e 3% que mencionaram não possuir veículo para visita e/ou espaço físico e/ou equipamentos eletrônicos. Os profissionais que citaram a inexistência de ao menos um destes insumos estão lotados no estado do Paraná e de São Paulo.

A realidade apresentada no gráfico acima, difere da maior parte dos assistentes sociais que trabalham em instituições públicas que, em sua maioria, enfrentam dificuldades básicas em relação ao seu trabalho cotidiano, devido as condições de trabalho.

Sobre isso, Santos e Manfroi (2015, p. 186) apontam informações sobre pesquisas realizadas no Espírito Santo (2007) e em Santa Catarina (2011)

[...] Na pesquisa realizada em Santa Catarina, por exemplo, foi perguntado aos assistentes sociais se existiam problemas que

dificultavam a realização de seu trabalho, ao que 73% responderam afirmativamente; 24% dos entrevistados disseram não haver dificuldades e 3% não responderam. Dentre as dificuldades mais citadas, estão: a falta de estrutura física, de recursos humanos e materiais, de equipamentos e de veículos; equipe reduzida de profissionais; burocracia excessiva; problemas de gestão e financiamento; fragmentação da rede de proteção social; descontinuidade, fragmentação e sobrecarga de trabalho; e desconhecimento das atribuições do assistente social por outros profissionais e gestores. [...] Na pesquisa do Espírito Santo, solicitou-se que os profissionais citassolicitou-sem os cinco principais problemas

No documento LÍLIAN MARIA OLIVEIRA VIEIRA (páginas 62-92)

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