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Os PAEs foram criados pelo INCRA em parceria com as organizações existentes nas comunidades. Como terra de várzea, pertencem à União, sendo a Secretaria do Patrimônio da

18 O relatório foi feito com base de convênio nº 619104 de 08 de janeiro de 2008 pela Superintendência Regional

de INCRA em Santarém com Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, objetivando a elaboração e aprovação de PU e PB para 18 PAE de Várzea do Baixo Amazonas.

União (SPU) a entidade responsável por sua administração. Mas, a partir de 200519, permitiu-

se a Concessão de Uso Coletivo de várzea. Nesse mesmo ano, com a edição de nova portaria20

da SPU, iniciou-se um processo de regularização das ocupações em áreas de várzea por meio da celebração de um Termo de Cooperação Técnica (TCT) com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA).21

O INCRA é o órgão responsável pela implementação de assentamentos no Brasil. Em 9 de julho de 1970, criou o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA)22,

resultado da fusão do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária (IBRA) e o Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrário (INDA) para acelerar a reforma agrária no Brasil. Mas à época da criação do INCRA, mais do que reforma agrária, o governo era interessado na colonização da Amazônia.

A redemocratização, em 1984, trouxe de volta o tema da reforma agrária. Em 1985, o governo instituiu novo Plano Nacional de Reforma Agrária23, com a meta ambiciosa de destinar

43 milhões de hectares para o assentamento de 1,4 milhão de famílias até 1989. Em 14 de janeiro de 2000, o governo criou o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA24), órgão ao

qual o INCRA está vinculado hoje.

A Superintendência Regional do INCRA no Oeste do Pará, com sede em Santarém (PA), foi criada no dia 30 de maio de 2005. Possui jurisdição imediata que envolve 18 municípios do Oeste do Pará. Junto com a nova Superintendência, foi estabelecida uma Ouvidoria Agrária Regional para resolver os conflitos relacionados com a reforma agrária na região. O órgão continua a existir dentro do INCRA em Santarém, porém, sem servidor nomeado para exercer tal função. Hoje a região oeste do Pará é palco de inúmeros conflitos agrários e conta com deficiente estrutura institucional para que estes sejam resolvidos, seja em áreas ainda não regularizadas e mesmo em Projetos de Assentamento.

A Superintendência Regional do INCRA conta com apenas 90 servidores efetivos em 2013, para trabalhar em 208 projetos de assentamentos nas diversas modalidades, atendendo 70 mil famílias e pelo menos 250 mil pessoas, promovendo as mais diversas atividades. Durante a pesquisa de campo, observou-se que a despeito dos projetos do INCRA em numerosas áreas de várzea, esse instituto não possui uma única embarcação.

19 Portaria, nº 284/2005 do SPU 20 Portaria, nº 232/2005, SPU 21 Portaria nº 232/2005, SPU. 22 Decreto nº 1.110/1970 23 Decreto nº 97.766, de 10 de outubro de 1985 24 Decreto nº 3.338/2000

O processo de regulamentação de ocupação de várzea resultou na criação de 15 Assentamento Agroextrativistas no Baixo Amazonas do Pará. Mas, todo processo de regulamentação está parado desde 2010. Segundo as lideranças que foram entrevistadas no dois PAEs, a grande maioria (Gráfico, 3) concordou que não existe atuação do INCRA nos PAEs desde 2010. Todos os projetos relacionados à construção de casa, financiamento, crédito de apoio, crédito de fomento, entre outros estão estagnados e ninguém mais consegue acessar esses benefícios relacionados ao assentamento.

Gráfico 3 - Nível de atuação do IBAMA e INCRA nos PAEs Aritapera e Salvação no período de 2010 a 2013.

Fonte: Pesquisa de campo, 2013

Nos grupos focais com as lideranças das comunidades, a ausência do INCRA é atribuída às interferências políticas que acontecem nesse instituto. Foram substituídos quatro Superintendentes do INCRA em Santarém nos últimos três anos (2010-2013). Os conselhos dos PAEs não conseguem criar um diálogo contínuo com o INCRA, órgão responsável pela implementação dos Assentamentos. As questões burocráticas como a entrega do título de Concessão de Uso Coletivo de terra, a permanência de grandes fazendas dentro da área do assentamento, ainda não foram resolvidas. Segundo o Superintendente do INCRA Regional de Santarém, os referidos problemas eram decorrência das questões burocráticas. Mas na entrevista realizada em 2013, o Superintendente não sabia os andamentos dos processos dos PAEs da várzea. Percebe-se que existe grande falta de interesse por parte de órgão responsável como INCRA e uma ausência da implementação da Política Pública destinada à várzea.

Outro órgão do governo federal que deveria monitorar e fiscalizar os recursos naturais de várzea é o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Em 22 de fevereiro de 1989, foi promulgada a Lei nº 7.735, que cria o Instituto

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IBAMA INCRA

Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis com objetivo de integrar a gestão ambiental no Brasil. Em agosto de 2007, foi criado o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (segundo a Lei, 11.516) que dividiu o IBAMA, criando, as principais atribuições:

[...] o poder de polícia ambiental; executar ações das políticas nacionais de meio ambiente, referentes às atribuições federais, relativas ao licenciamento ambiental, ao controle da qualidade ambiental, à autorização de uso dos recursos naturais e à fiscalização, monitoramento e controle ambiental; e executar as ações supletivas de competência da União de conformidade com a legislação ambiental vigente. (BRASIL, 2007).

Segundo os entrevistados há ausência da atuação do IBAMA na região nos últimos três anos. Apesar de inúmeras reclamações aos órgãos competentes como IBAMA, Secretaria Estadual e Municipal do Meio Ambiente, a fiscalização dos rios e lagos de várzea são precárias.

Pelo projeto do PAE, a fiscalização é responsabilidade conjunta das comunidades e do INCRA. Mas na realidade a comunidade não tem poder de polícia. Quando solicitada pelas comunidades a presença das autoridades responsáveis pela fiscalização, tais como o IBAMA, na maioria das vezes, essas autoridades não atendem ao pedido. Por esse motivo, os moradores sentem que o sistema de gestão é limitado pela ausência de autoridades governamentais.