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Audiências Públicas

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5. O CONTROLE DOS ATOS ADMINISTRATIVOS EM ITAGUAÍ: DO

5.3 Instrumentos de Controle Social

5.3.2 Audiências Públicas

Para Fontes; et. al. (2013) as Audiências Públicas (APs) possuem um aspecto pontual e, não inserem a população em uma participação ativa e com poder discricionário. Isto porque o poder público pode aprovar ou não as propostas levantadas pela comunidade. No que tange a efetividade de suas ações representativas, as APs acabam firmando-se como espaços de legitimação dos atos da máquina estatal.

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SIM, CONHECE MUITO BEM SIM, CONHECE EM GRANDE PARTE NÃO, CONHECE MUITO POUCO NÃO, NÃO CONHECE NADA

Como alguns entraves das audiências públicas como uma via de deliberação inclusiva e efetiva, Freitas; et. al. (2013) consideram que estas possuem uma série de regras no processo participativo. Dentre elas “a determinação de quais atores têm a

palavra, quanto tempo de fala tem cada participante, se haverá réplicas, tréplicas, entre outras” (Freitas; et. al., 2013, p. 10). E por vezes toda a configuração do processo de

participação acaba reprimindo a ação efetiva de determinados grupos sociais.

No caso específico de Itaguaí, a inclusão das audiências públicas no processo de debate sobre a implantação dos megaempreendimentos vem firmando-se como um mero processo burocrático onde a prefeitura expõe suas ações à comunidade. Sem representar um canal de inclusão dialógica. Pode-se observar essa questão pela “Ata Sucinta da Audiência Pública da Companhia Siderúrgica Nacional – CSN”. Documento registrado na audiência que se realizou no dia dezoito de dezembro de dois mil e quatorze (18/12/2014), onde aprovou-se a expansão do Terminal de Granéis Sólidos do Porto de Itaguaí (Anexo B).

Apesar de terem sido registrados o número de cinquenta e seis falas de agentes sociais, não foi introduzida na ata da audiência municipal nenhuma parte destas falas. E, nem foi apresentada qualquer alteração no projeto, na sua implementação e/ou avaliação. Isso demonstra que mesmo com o processo de debate gerado na audiência pública, o poder público local e a empresa continuam tomando suas decisões de forma alheia aos interesses locais. O processo da audiência pública neste caso torna-se um mero cumprimento do dispositivo jurídico que exige esta ação por parte da prefeitura e da empresa. Mas a audiência como um todo acaba não sendo um espaço participativo efetivamente.

No caso em específico do município de Itaguaí, percebe-se que a configuração das audiências públicas disponibiliza pouca capacidade de participação efetiva na construção de políticas públicas locais. Neste sentido alguns representantes de conselhos comunitários de Itaguaí destacam que as audiências públicas são conduzidas de forma pouco deliberativa na localidade:

(...) hoje há um questionamento do município quanto a prestação de contas do último trimestre ou quadrimestre do ano passado, onde me parece que ouve uma audiência pública para a aprovação destas contas, mas a audiência não ocorreu na forma que a lei prevê, ou aconteceu entre aspas. E não ocorreu essa prestação de contas e deveria ter havido. (...) Agora, se você olhar como é prestado contas em um audiência pública de prestação de contas daqui do município é melhor você não ir ou então nem tentar compreender. Porque se você não tiver um conhecimento contábil ou de gestão de contas públicas, você realmente não vai entender. Pro leigo, pro cidadão comum, fica muito difícil compreender. (Representante 1).

Ah, não! Outro dia houve a prestação de contas da saúde e eu até participei, só que eu fiquei lá boiando. Se a gente não tiver um conhecimento prévio sobre aquilo não adianta nada. A única coisa que a gente consegue compreender é que os serviços não são aquilo que deveriam ser (...) (Representante 2). No geral, percebe-se que a capacidade de agregar a comunidade local é pouco disseminada no município, e nesse sentido alguns conselheiros comunitários ainda destacam que só são chamados para participar das deliberações quando isto é exigido por Lei. Trazendo assim, pouca eficiência na própria inserção participativa, onde as audiências públicas referendam as decisões dos líderes políticos e dos grandes empresários da região. O que implica em um desanimo por parte da população local na inserção dos debates e pautas trazidos pela administração pública.

Na imagem abaixo temos a manifestação de moradores do bairro de Piranema em uma Audiência Pública em Itaguaí que tratava sobre um assunto diretamente ligado a eles. Na ocasião os moradores pediam a ajuda do poder público para regulamentar a proibição da passagem de veículos de carga pelas ruas do bairro.

Figura 13. Manifestação na Câmara dos Vereadores de Itaguaí:

Na imagem acima temos uma manifestação pacífica que ocorreu durante a audiência municipal que tratou sobre a definição de áreas abertas ou não ao transporte de caminhões pesados. Alguns bairros sofrem com a movimentação constante e desregulamenta de caminhões. Muitos caminhões que operam na região estão ligados os funcionamento dos areais que ficam no bairro de Piranema, principal afetado pela livre circulação de veículos pesados.

De acordo com a percepção dos conselheiros comunitários do município as Audiências Públicas possuem o seguinte nível de abertura para debates e construções coletivas:

Gráfico 04. Nível de Abertura das Audiências Públicas de Itaguaí:

Fonte: Elaboração Própria.

Em grande parte, 16 (dezesseis) conselheiros notam que as audiências públicas em Itaguaí nunca se configuram como espaços para a discussão e a construção de projetos de forma corroborativa. Outros 5 (cinco) conselheiros afirmam que estes espaços são muito pouco abertos como espaços de discussão e construção coletiva. Enquanto 1 (um) conselheiro afirma que as audiências públicas locais são pouco abertas e com poucos espaços de discussão. E outros 2 (dois) conselheiro destacam que as audiências são elementos que sempre trazem abertura de diálogo e espaço de construção coletiva. E 1 (um) conselheiro preferiu não responder, alegando que não conhece os espaços das audiências públicas em Itaguaí.

No geral, se destaca a maioria das falas dos conselheiros que afirmam que as audiências públicas não são espaços de construção coletiva, mas sim de referendar as decisões já arquitetadas pelo poder público. E teriam apenas meros espaços de fala para

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a comunidade, que segundo os mesmos, não é ouvida. As audiências públicas figuram-se assim como instrumentos pouco participativos, especialmente no que tange a sua capacidade deliberativa.

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