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Covered Interest Parity Differential

AUDITÓRIO

Eu pediria que, na resposta, não fosse considerada a condicional “se”, porque se eu considerar a condicional “se”, eu resolvo todos os problemas. Existem três condições que expõem os países a um ataque especulativo: finanças desorganizadas, desarmonia no valor das moedas e sistema financeiro frágil.

De outro lado, o ajuste fiscal praticamente não tenha efeito porque parcela considerável das receitas são para atender a despesas do custo da dívida e aí existe uma injustiça ainda muito grande, é que

os recursos estão saindo das classes menos favorecidas para pagar juros às classes mais favorecidas, que detêm os papéis do Tesouro e do Banco Central.

Então, a minha indagação é muito simples: como fica o Plano Real, mesmo a curto prazo, sem a condicional “se”?

SERGIO WERLANG - Revisado por Terceiros

Obrigado... Bom, eu não vou responder com condicional, mas por outro lado também, eu não posso te dar uma resposta com toda a certeza, vou te dar uma resposta com probabilidades do que eu acho que vai acontecer, completamente subjetiva e já mudei de idéia algumas vezes ao longo desse mês e meio que passou.

Então, eu diria que hoje em dia, a gente tem mais ou menos uns 60% probabilidades de que não haja nenhuma modificação na política que foi descrita pelo Demósthenes e que parece que o Governo está implantando, que é diminuir a taxa de juros e continuar o processo de desvalorização antigo e não vai ser nem necessário recorrer ao FMI nessa conta garantida. Com mais uns 25% de probabilidade, eu diria, hoje já tendendo quase para 30, que nós conseguiremos manter tudo isso, mas sendo necessário para isso fazer jus a um aporte de recursos desse tipo conta garantida do FMI, e com a probabilidade residual, eu diria que não terá jeito, teria que desvalorizar entre 10 e 15% de chance. Isso é o mais objetivo que eu posso ser, é impossível fazer qualquer outra previsão mais objetiva que essa.

MEDIADOR

Alguma outra pergunta? Então, gostaríamos de agradecer a presença de todos...

PERGUNTA

Queria que o professor comentasse um modelo que foi colocado por um economista de um banco estrangeiro, falando para a Ásia, mas acho que serviria para o Brasil. Ele disse que entre fixo e flutuante, ele sugere um currency board sujo, quer dizer, dado variações na taxa de câmbio, você teria regras para controle da liquidez da economia. Então, se o câmbio começa a desvalorizar, você é obrigado a reduzir a liquidez da economia se refletindo em juros, então, você não defende a paridade, mas eleva, de acordo com a flutuação. A idéia dele é tentar amortecer os ajustes que você tenha que fazer na taxa de câmbio.

RESPOSTA

Eu não conheço essa proposta, mas acho que um país rico pode se dar ao luxo de tentar coisas novas; um país pobre nunca deve experimentar novas políticas. O Brasil experimentou com o cruzado; deu errado e o custo foi realmente muito grande para a sociedade. Alguns países do Cone Sul

experimentaram com o enfoque monetário do balanço de pagamentos, com as famosas tablitas; também deu errado. Por que nós, países pobres, vamos ter que experimentar regimes novos, quando já existem dois regimes consagrados? A questão é escolher e implementá-lo. O cambo fixo requer um controle efetivo do crédito doméstico líquido; todo sistema de câmbio fixo em que o Governo não controla o crédito doméstico líquido, seja crédito para o setor público, seja crédito para o setor privado, termina por um ataque especulativo. De maneira que será que nós vamos ter a disciplina suficiente para ir para o câmbio fixo? Será que o Banco Central tem essas condições? Se tiver, implementemos o câmbio fixo, mas se for difícil ao Banco Central resistir a demandas do setor público ou do setor privado, é melhor um câmbio flexível. De maneira que eu não tentaria algum medicamento novo. O Brasil não é um país aidético e nem tampouco com câncer terminal para tentar alguma medicação que alguém não tenha provado antes.

MEDIADOR (Marcelo Serfaty) - Revisado

Eu ia ser Moderador e não excitador e é por isso que eu fiquei tanto tempo calado, mas, fazendo uma observação muito rápida sobre a nossa visão relativa das coisas — e aí eu vou olhar sob dois canais de avaliação... Olhando sob a ótica do professor Aluísio Araújo, nossos cálculos de déficit público para o ano que vem superam fortemente o melhor número que ele apresentou; se você considerar o real impacto desse pacote fiscal, ele não é de 20 bilhões, 20 bilhões era sobre valores orçados e, portanto, ele é de apenas 1% do PIB e conseqüentemente, isso nos levaria a um superávit primário de 1,8% do PIB, e se a taxa de juros ficar na faixa de 30%, há um déficit na faixa de 5% do PIB, o que nos levaria, no modelo dele, a uma situação de risco de ataque especulativo fortemente superior ao inicialmente previsto. No mesmo sentido, por outras razões, olhando o que foi dito pelo professor Sérgio Werlang, o problema da privatização, os tais 25 bilhões de dólares, hoje, dependem e normemente, primeiro, da liquidez mundial sobre a qual pende uma espada de Dâmocles, uma vez que, além do problema asiático que ainda não está totalmente resolvido, mas cuja complexidade avança pelo problema japonês, nós também temos a questão da existência ou não ou da manutenção ou não do conceito de novo paradigma, nos Estados Unidos, que, se for mais questionado pelo mercado ou apenas questionado pelo mercado ao longo do próximo ano poderá provocar flutuações na taxa de juros internacional/num cenário de fogo, como eles chamam, num “fire type of scenario” a la Stephen Road ou num cenário a la Barton Biggs, uma desaceleração de lucros que provocará oscilações dramáticas na Bolsa.

Essas duas combinações, novamente, nos colocam sob a égide de uma grande intranqüilidade. E aí eu tenho muitas dúvidas se a Bolsa norte-americana caindo fortemente ou sofrendo um ajuste maior e taxa de juros sob compressão, nós teremos tanto interesse em participação estrangeira na privatização

brasileira a ponto de podermos realizar 25 bilhões de dólares de entrada de capital externo via privatização. A realidade recente é que nós estamos num processo em que os ágios estão muito elevados, anteriormente porque o sistema de câmbio fixo retirava qualquer percepção de risco de alteração ao longo do tempo por parte do investidor comprador e ele, portanto, se alavancava sobremaneira, comprava com 30% de equity e 70% de dívida, na tranqüilidade de um fluxo de caixa totalmente previsível, porque os preços que seriam praticados pelas empresas estatais eram completamente fixados ex-ante pelo Governo. Agora, nós temos um risco cambial aí dentro e temos o risco de assistir as casas matrizes com as suas ações sofrendo ajuste nos seus respectivos mercados, além de que o custo de financiamento para o Brasil sobe, o que implicaria, portanto, em volume de equity maior e preços mais baixos.

O que nós estamos assistindo, no momento, é um financiamento muito forte por parte do Governo para as privatizações. Nós vimos isso em todas as recentes, na Paulista de Força e Luz que foi comprada por um grupo brasileiro, a VBC, ao lado da Previ, com o financiamento do BNDES; nós vimos na Energipe, nós vimos, enfim, em toda a seqüência de privatizações recentes. Não testamos a hipótese desse capital realmente estar disponível.

Então, eu acho que o volume de incertezas quanto, primeiro, à disponibilidade de liquidez para financiar o Brasil; segundo, para financiar essa privatização, ainda que o mercado americano vá bem; terceiro, na própria questão de captação e rolagem de papéis, se essa rolagem não seria exígua em sua maturidade, a ponto de nos levar a um problema dramático em 1999, se ela vier a acontecer, quer dizer, seja por essa ótica, seja pela ótica da questão do déficit público que ainda persiste como eu acabei de fazer um pequeno sumário, eu acredito que os motivos de preocupação transcendem a nossa própria eficácia em fazer reformas. As reformas são, se dúvida nenhuma, uma condição absolutamente necessária para que você não tenha uma sucessão de ataques acontecendo de uma maneira incontrolável e até mesmo voraz. Mas não são condição suficiente; nós precisamos de mais hoje, nós precisamos ou de um ajuste fiscal feroz e bastante maior do que esse que foi feito, ou de uma combinação de redução de déficit potencial com ajuste de câmbio, ou então acreditar que o cenário internacional nos será muito benigno e por um bom tempo.

PAINEL III