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PAINEL IV – INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA E POLÍTICA MONETÁRIA

RUBENS CYSNE

Teremos aqui, no 15º andar, um almoço para todos, em homenagem ao professor Ney Coe de Oliveira, que por mais de 40 anos serviu a Escola de Pós-Graduação em Economia, da Fundação Getulio Vargas . O convite se estende a todos os presentes. Além disso, às 13h45, teremos o descerramento da

placa, no 10º andar, da Secretaria Ney Coe de Oliveira e às 14 horas voltamos ao trabalho. Muito obrigado a todos.

P A L E S T R A D O A L M O Ç O

Conforme o combinado, vamos ter em seguida a palestra do professor Sebastião Marcos Vital, egresso da Escola, em homenagem ao professor Ney Coe de Oliveira, lembrando que hoje, logo após a palestra, desceremos ao 10º andar para descerrar a placa da Secretaria Ney Coe de Oliveira. Passo a palavra para o professor Sebastião Marcos Vital.

SEBASTIÃO MARCOS VITAL - Revisado

Começarei dizendo que esta é uma das tarefas mais agradáveis das que me foram cometidas nos últimos tempos. Se pudesse, eu teria me autoconvidado para exercer este papel, não de fazer uma palestra, mas de saudar o professor Ney Coe de Oliveira que presta serviços à Fundação há 40 anos e que me presta ajuda pessoal há 30 anos, porque eu sou egresso da EPGE, da turma de 1967. A razão pela qual fui convidado é a pior possível: é que eu sou provavelmente o aluno mais velho da EPGE desde que começou o curso de mestrado. Antes de mim só houve uma turma, mas infelizmente dos melhores alunos daquela turma, dois se foram, que é o Alfredo Baumgarten Júnior e o Marcos Amorim Neto, que foram diletos amigos meus. Então, eu creio que foi por isso, ou seja, olhando a lista chegaram à conclusão que eu era o mais velho e, portanto, me caberia essa agradável tarefa, o que faço com o maior prazer.

Devo dizer, para que vocês tenham uma idéia de quem é o professor Ney Coe de Oliveira — não vou falar da carreira dele porque não cabe, mas vou falar da pessoa dele — eu não era sequer nascido, ele já era licenciado em Filosofia e Pedagogia, licenciou-se em 1939. Quando eu nasci, em 1942, ele já tinha feito um curso de química na MacKenzie. Em 1943, quando eu sequer caminhava, ele já era licenciado em Matemática e em 1950, quando eu tinha — não vou dizer quantos anos — ele já tinha um doutorado na Universidade Gregoriana de Roma, doutorado em Filosofia. Então, vocês vêem pelas diferentes formações que ele tem que ele é um homem de natureza complexa, no sentido de ser um homem de valores diferentes, rico, pleno de diferentes capacidades e que teve a gentileza, a bondade e o amor para transmiti-las a todos nós.

Eu o conheci em 1967, quando cheguei à EPGE no dia 12 de janeiro de 1967, porque naquele tempo os cursos começavam no dia 15 de janeiro, paravam no dia 15 de dezembro e recomeçavam em 15 de janeiro e assim por diante, sem ar condicionado... E logo de início eu encontrei o professor Ney no corredor, ele me recepcionou e logo me deu diretrizes sobre o Rio de Janeiro, e inclusive me indicou uma pensão que havia aqui ao lado onde agora existe um prédio. Aí ele começou a nos catequizar. E essa

nossa vida diária era muito interessante porque, antes de ser da EPGE, ele havia sido da presidência da Fundação e foi mandado pela EPGE justamente pela sua formação eclética e porque era um homem detalhista, que cuidava da EPGE com esmero e com cuidado especial, um pouco ao contrário do professor Simonsen, que era homem mais das grandes estratégias, mas que tinha um certo horror pelas coisas da administração, no dia-a-dia. Então, foi um casamento perfeito entre o Mário Henrique Simonsen e o professor Ney.

Durante o meu tempo na EPGE, nós tivemos coisas muito interessantes que eu talvez possa lhes contar algumas. Uma vez, por exemplo, um fato que foi marcante na minha vida profissional, eu tive uma briga razoavelmente séria com ele, porque havia uma sala, chamada de Sala de Audiovisual, mas que era mentira, era trancada simplesmente para que ninguém da Fundação tomasse conta daquela sala, quer dizer, uma briga por espaço. E eu conseguir arrumar a chave dessa sala, entrei e havia um telefone e dessa sala eu ligava toda tarde para uma namorada que eu tinha aqui, na Fundação. E numa dessas, o professor Ney chegou a me pegou no maior “love” lá com a namorada e obviamente deu-me uma esculhambação e me mandou voltar para o meu box que era onde eu devia estar estudando. Eu fiquei muito chateado, tive uma discussão meio altercada e voltei para o meu box. No dia seguinte, eu repeti o ritual e voltei, na mesma hora, para ligar para a namorada. Chego lá e, para minha surpresa, os fios estavam cortados, fisicamente, quer dizer, cortou e levou embora o telefone. Eu fiquei muito impressionado com isso e falei: “Poxa, isso talvez dê alguma complicação”. Bem, passaram-se uns dois dias, ele chega perto de mim, com grande zelo, e diz: “Sebastião, o professor Simonsen quer falar com você”. Eu fiquei terrificado, porque imaginei que ia ser expulso da Escola pela altercação que havíamos tido alguns dias antes. Fui falar com o professor Simonsen completamente, quase desvanecido e aí o professor Simonsen me diz: “Olha, Sebastião, queria dizer o seguinte, o Dr. Bulhões está procurando uma pessoa para ser o redator-chefe da Conjuntura Econômica e eu indiquei você”. Aí eu quase desmaiei pela segunda vez, porque eu esperava ser demitido e tinha uma proposta de emprego. Essa é uma das história que eu tive com o professor Ney.

Mas o professor Ney, nesses anos todos, foi uma pessoa que para todos nós serviu como pai, como um grande conselheiro, e ele demonstra isso, a verve que ele tem de educador, ao educar as filhas, uma das quais era assídua freqüentadora da EPGE, quando eu era estudante. Claro que ela era muito pequena e eu já era um rapaz... E formou uma em medicina, duas em engenharia, o que mostra que ele fazia em casa o que professava na Escola, porque ele nunca foi do tipo de dizia: “Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”. Ele fazia em casa. Então, ele foi para todos nós um grande assessor, um pai, um companheiro, uma pessoa que sempre dedicou muita atenção e muito amor. Mas devo dizer a vocês, não sem grandes atritos, porque ele é uma pessoa perfeccionista, é detalhista e é uma pessoa que quer superar a si próprio; ele nunca está satisfeito com o que faz e quer cada dia fazer melhor. Então, de quando em quando, as relações eram tensas, eram as vezes conflitantes, mas todos nós lembramos das brigas com ele, como lembramos dos tapas que tomamos dos nossos pais, mesmo aqueles que nós não merecíamos, tiveram o seu valor e nenhum deles foi perdido.

Eu quero dizer, finalmente, que o professor Ney pode se dar por um homem realizado porque ele fez tudo o que nós gostaríamos de fazer como pessoas e como pais. Ele formou três filhas, muito bem;

como educador ele formou uma geração de economistas do mais alto calibre que eu, correndo o perigo de cometer grandes injustiças, queria enumerar alguns: começo pelo professor João Paulo dos Reis Velloso, que foi do CAE; o professor Ney também o tutorou; o professor tutorou o Beto ..., um colega da minha turma pelo qual tenho grande estima; tutorou o Carlos Von Dollinger; tutorou João Batista de Abreu que se tornou Ministro do Planejamento; Dorothea Werneck, Chico Lopes, Raul Dantas, Dionisio Dias Carneiro, e tantos outros que não posso continuar mencionando porque provavelmente não vou conseguir esgotar a minha lista e poderia ser muito injusto. Desculpem os que eventualmente... O Gustavo Loyola que está aqui presente... Mas não quero enumerar todos porque certamente cometerei injustiças. E, como diz o Moises, principalmente dentre todos os que ele educou, ele me educou e por isso sou muito grato. Professor, muito obrigado.

NEY COE DE OLIVEIRA - Revisado

Permitam-me, não o tempo de um discurso, que não é o caso, depois de uma refeição, mas apenas o de o cumprimento de um dever, isto é, alguns minutos de considerações e de agradecimentos. As considerações se referem ao que mais me sensibiliza no enunciado desta placa, que já me foi mostrada, a dedicação à escola. Na verdade, dedicação ou devotamento a um trabalho ou atribuição é conseqüência natural da convicção que se tem sobre a importância do papel ou da função que se desempenha na instituição. E essa convicção se alimenta e se desenvolve na medida em que, por atos e fatos, se constatam o êxito e os frutos dessa instituição, podendo-se até sonhar resultados de seu futuro, não com imaginação utópica, mas realisticamente buscados.

Sonhar o futuro deste EPGE, com os olhos no passado, significa conhecer e respeitar o que de melhor há no seu passado, isto é, sua tradição de seriedade e competência; seu racionalismo crítico e criativo no ensino e na pesquisa; sua imunidade a preconceitos, ideologias e dogmatismos; seu compromisso permanente com o próprio aperfeiçoamento; o espírito de colaboração e solidariedade reinante nesta casa; o exemplar devotamento responsável ao papel ou à função que aqui se exerça. Esta sua cara e jeito, nisto seu prestígio e nome , é edificante o fato de que na EPGE não se medem e nem se poupam esforços ou empenho. Na verdade, não há dificuldade e nem mesmo sacrifício para quem faz um trabalho que gosta e com ele se identifica, e se houver esse sacrifício é assumido com prazer.

Creio que essas, entre outras, parecem constituir características que definem a identidade da EPGE, inclusive a distingue no contexto da FGV. Parece-me assim que o passado e a história desta escola se tornam cada vez mais a conscientização da relevância desta obra, engrandecida pela figura inesquecível de Mário Henrique Simonsen. Relevados os compreensíveis altos e baixos por que passa qualquer instituição neste mundo, caberá à prudência, à sabedoria e à determinação das gerações por ela responsáveis, a sobrevivência fecunda e exitosa dessa EPGE, como modelo ou arquétipo que sempre imaginamos, mesmo tomando novas formas e desdobramentos que um futuro auspicioso aconselhar. Mudariam assim os acidentes, mas não a substância.

A propósito, conviria lembrar aqui que sobretudo nestes fim e começo de séculos, entre as grandes vinhas de nossas políticas públicas, se destacam a educação em geral e, em particular, a especialização de elites culturais através dos chamados centros de excelência, como esta escola. Desejaríamos que todos os privilegiados, inclusive alunos, que por aqui passassem, na plenitude de seu dever cumprido, pudessem contemplar essa frondosa árvore de seus frutos opimos com a alegria e o orgulho dos que ajudaram a plantá-la, preservá-la ou desenvolvê-la. Seria um prêmio sempre renovado.

E agora, quanto aos minutos de agradecimento que lhes pedi, esses me constituem uma agradável obrigação. Sem retórica de praxe, realmente sensibilizado, sinto-me honrado e reconhecido por essa lembrança e homenagem afetuosas, promovidas particularmente pela direção da Escola, com iniciativa confessa de nosso jovem Vice-Presidente, inspirados por duas pessoas, Clóvis e o Moisés, e com a cumplicidade amável de nosso Diretor de Pesquisas que, se não tivesse o doutorado e não estivesse mergulhado de alma e corpo no ensino e na pesquisa, eu acho que seria um brilhante empresário na difícil arte de imaginar e organizar seminário e congressos.

Assim, com gratidão e modéstia, recebo essa distinção generosa da Escola, e como não poderia omitir, expresso um obrigado pela atenção e deferência prestada por todos os presentes, muitos dos quais são amostras vivas dos frutos desta EPGE que, com o passar dos anos, vamos incorporando à nossa vida, como se parte fosse de nosso patrimônio moral e sentimental. Eu, por exemplo, tenho um genro que fez mestrado e doutorado aqui.

Finalmente, as últimas palavras são para um ilustre, muito ilustre, ex-aluno, conhecido da maioria dos presentes, que dignifica esta usina de professores, como um de seus produtos acabados, Marcos Vital. Embora suas referências sejam a expressão da velha amizade que nos liga, ainda que tenham havido aqueles mal-encontros, sou-lhes agradecido por esta manifestação pública e afetuosa, repito, muito grato a todos.

Um aviso, estamos descendo para o 10º andar, onde vamos descerrar a placa da Secretaria Ney Coe de Oliveira.

PAINEL V