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Eu me senti um pouco culpado por não haver apresentado previsões do balanço comercial e, por isso, vou apresentar um substituto próximo. Eu fiz essa tabelinha agora, só para mensurarmos qual é a importância de desvalorização, em termos de redução de déficits comerciais que estão, no caso,

associados a diferentes desvalorizações cambiais. Então, se temos a elasticidade de câmbio real de 1, que é... na verdade, o meu estimador é aproximadamente, quer dizer, é .8, mas estatisticamente igual a 1, então, eu o tomei com o valor de 1 porque a conta fica mais fácil. Se tivermos uma desvalorização real de 10%, as importações vão cair em 10%; como o total das importações é de aproximadamente 50 bilhões de dólares, chegaríamos a uma redução de déficit de 5 bilhões/ano.

PERGUNTA

João, elasticidade de curto ou longo prazo? JOÃO VICTOR ISLLER

Elasticidade de curto prazo. É claro que uma análise de mais longo prazo pode ter algum tipo de reversão. Então, se fizéssemos uma de 20% e não de apenas 10%, essa redução de déficit já estaria na casa de 10 bilhões. Como esse ano o déficit comercial está beirando 10 bilhões, está em torno disso e ainda vai fechar, nós basicamente acabaríamos com o déficit comercial brasileiro se fizéssemos uma desvalorização de 20%. Isso, para mim, mostra que a política cambial tem o poder de reverter os desequilíbrios que a gente enfrente hoje, quer dizer, 1% de elasticidade de curto prazo é um número não trivial, certo? Acho que o ponto todo era esse e quando eu dei o número de 1%, talvez isso não estivesse claro, eu acho que este exercício deixa isto claro. Se fizéssemos o exercício a 30%, que é o que o professor Pastore estimou ser a defasagem cambial aproximadamente, chegaríamos a mais ou menos 15 bilhões e aí a economia brasileira até poderia crescer um pouquinho em 1998.

Bem, duas coisas vale a pena anotar neste exercício que obviamente é muito simplificado, por duas questões; a primeira é a questão da dinâmica; você pode fazer uma desvalorização e talvez não queira fazer tudo de uma vez; talvez queira fazer paulatinamente ao longo do tempo e, então, o impacto não vai ser total, todo esse impacto que está sendo calculado aí, e pode ser um pouco menor. De qualquer forma, isso não tira o impacto que uma desvalorização teria sobre déficit comercial. É claro que uma outra coisa a levar em conta, também, é a questão do impacto sobre preços, e o Governo basicamente não faz a desvalorização porque tem medo que a inflação volte a ser grande. E aí, número grande... O que é grande? A resposta a essa pergunta é difícil, principalmente com os dados que temos no Brasil e a quantidade de ruído que as séries econômicas brasileiras contêm, devido às várias mudanças de regime que encontramos aqui. Mas, de qualquer forma, eu acho que uma desvalorização gradual, acompanhada de regime de taxa de regime alta, no qual, aliás, nós já nos encontramos, teria um potencial considerável em termos de redução da taxa comercial e tirarmos o desequilíbrio que atualmente nos aflige.

Muito obrigado, professor João Victor. O horário do nosso seminário é planejado com base na elasticidade da bexiga humana e preciso ainda passar a palavra para o Presidente da Mesa sumarizar toda a discussão e finalizar esta Sessão.

CLOVIS DE FARO – Revisado

Depois desse comentário do Rubens, terei que ser o mais breve possível.

Inicialmente, fazendo um breve retrospecto, talvez o próprio sucesso inicial do Plano Real, que indubitavelmente foi muito bem sucedido no que tange do seu objetivo primeiro, que era o combate à inflação, fez com que certas correções, como apontou o professor José Júlio, que foi o nosso primeiro palestrante, fossem de alguma maneira adiadas. E infelizmente isso fez com que, comparativamente, no retrospecto que ele fez com relação a outros países, verifiquemos que a nossa situação é muito pior do que a daqueles países. Não é, pois, atoa que tivemos esse percalço recentemente, que pode ser caracterizado como um ataque especulativo, em função da crise deflagrada na Ásia e que nos alcançou. Por outro lado, essa crise veio quando ainda existia uma possibilidade de alguma reação, antes de que o ano eleitoral estivesse em curso, o que permitiu que o Governo pudesse ter feito esse pacote, que é um primeiro passo no sentido de tentar recuperar o tempo perdido na implementação das reformas que não foram feitas.

Mas, infelizmente, e isso aí nós depreendemos da exposição do professor José Júlio, é que a necessidade de correção, em termos de desvalorização cambial, faz-se ainda presente. Neste ponto, vem novamente a questão do problema eleitoral, que eu acho ser um complicador. Face à possibilidade de reeleição, é improvável que o Governo vá querer mexer no câmbio; a não ser para fazer uma pequena aceleração no processo de desvalorização do Real, mas não fazendo talvez as correções que deveriam ser feitas, porque o plano eleitoral passa a ser extremamente importante, provavelmente a variável mais determinante.

Logo em seguida, nós ouvimos o professor João Victor que -fazendo aqui um parêntesis na essência de meu comentário - tinha se furtado de fazer novas previsões. Mas a primeira coisa a salientar, como destacou o Rubens, foi o acerto das suas previsões; o que mostra que a econometria levada a sério realmente é uma coisa muito importante. Voltando ao tema de hoje, ele chamou a atenção, por meio dos estudos que fez, sobre o grau de excessivo fechamento da nossa economia. Quando a gente houve falar que, a partir de 1990 - e é verdade - houve um processo de abertura, o que, de alguma maneira, nos conforta, nem sempre levamos em consideração que quando comparamos com outros países, estamos longe ainda de ter uma abertura suficiente. Ainda na sua palestra, ele nos chamou a atenção para o fato de que, dentro do próprio pacote fiscal, o procedimento de tentar novamente reduzir o desequilíbrio das nossas contas internas via aumento de impostos, o que tem sido a tradição de nossos governantes, terá como conseqüência um problema no crescimento.

A seguir, e dentro dessa diapasão de seguir uma política mais ou menos errática, em termos do nosso comportamento com relação à comercialização internacional, o professor Renato Bauman fez uma exposição muito interessante, mostrando como não tem sido consistente a política de redução de tarifas; embora numa tendência geral de diminuição de alíquotas. Foram apontados alguns casos de produtos que tiveram variações de tarifas mais de oito vezes. Tais casos ilustram , dramaticamente esse contexto de que a nossa política, em termos de relação com o exterior, não tem sido consistente.

Finalmente, o professor Pastore, nos dando uma aula, inclusive sobre como apropriadamente medir o câmbio real, chamou a atenção de que é uma falácia o que as pessoas normalmente acham ser o mais importante na metodologia de medição do câmbio real. Ou seja, olhar um índice de preços internos que reflita fundamentalmente uma componente muito grande de tradeables, não é o mais adequado. De qualquer modo, evidenciou também que, qualquer que tenha sido o índice utilizado, fica patente que há uma sobrevalorização acentuada. Ainda mais, contrariamente à argumentação que tem sido desenvolvida pelo Governo, ela não seria compensada por aumento de competitividade. Isto por que, principalmente a partir de 1988, aliás fundamentalmente motivada até pela Constituição de 88, houve uma mudança muito grande em termos de deslocamento de empregados no setor de produção, onde a formalização da economia é bastante menor, para o setor de serviços, onde há exatamente uma grande informalização da economia. Portanto, o argumento de que teria havido, de alguma maneira, uma compensação para a sobrevalorização do real pelo aumento de competitividade, isso, na realidade, não é uma coisa que podemos tomar com total segurança. Tudo isso nos leva a imaginar - e fica aqui uma indagação - quais serão as surpresas com relação ao pacote de maldades que já foi anunciado, e o que mais vier pela frente, com essa indagação sendo magnificada pelo fato de que 1998 é um ano eleitoral.

Agradeço aos nossos palestrantes e ao auditório, inclusive pelas perguntas, e novamente passo a palavra ao professor Rubens