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PARTE II A INVESTIGAÇÃO

2. A aula de História

Cada um de nós está intimamente relacionado com a História. O passado é História, o presente é a construção de um passado histórico e o futuro será o produto de uma História que construímos.

Quando pensamos no modo como a aula de História deve ser lecionada, devemos centrar-nos, num primeiro momento, no modo como o ensino da História é encarado atualmente. A História que queremos ensinar deve ter um papel de formação para a cidadania, que implique “o conhecimento e apropriação pelos alunos da herança”25, acompanhando em simultâneo a capacidade de adquirir capacidades e destrezas para a visualização histórica dos acontecimentos, “implicando a sua análise crítica e avaliação”.26

O professor quando prepara uma aula de História tem de ter em conta determinados tópicos, nomeadamente, os conteúdos a lecionar, a metodologia, as competências que se pretendem que os alunos adquiram e os recursos mais adequados para concretizar corretamente os três tópicos anteriores. Lecionar História não é somente fazer com que os alunos apreciem a História como disciplina, é muito mais do que isso. Lecionar História exige do professor “o papel de habilitar e preparar o cidadão para uma intervenção nos problemas da sociedade”27.

No 2.º Ciclo do Ensino Básico (EB), os conteúdos a lecionar dizem respeito apenas a situações relativas à Península Ibérica, com especial ênfase ao nosso país. Apenas no 3.º Ciclo do EB os alunos terão a oportunidade de contactar com conteúdos relativos à Europa e ao Mundo, numa perspetiva da História Contemporânea.

Esta divisão de conteúdos nos diferentes ciclos encontra-se relacionada com os estádios de maturação em que os alunos se encontram quando frequentam a escola, tomando como base o estudo de Piaget. Quando frequentam o 2.º Ciclo do EB os alunos encontram-se no estádio das operações concretas, onde há um desenvolvimento do pensamento lógico associado a uma distinção entre a fantasia e a realidade. A criança

25 FELGUEIRAS, Margarida – O Ensino da História: que História ensinar?. Revista Portuguesa de Educação.

Braga: Universidade do Minho, Vol. 1, 1988, p. 118 consultado em 25-11-2014.

Disponível na internet: http://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/56803/2/87827.pdf

26 IDEM, Ibidem

33 apresenta uma capacidade crescente “de compreender os pontos de vista dos outros, ajuda-as a comunicar mais eficientemente e a ser mais flexíveis nos seus julgamentos morais”28.

Lecionar requer de um professor a adoção de uma metodologia que se pretende benéfica para a aprendizagem do aluno. Uma aula exclusivamente expositiva torna o aluno uma personagem secundária, recetora de uma mensagem sem significado onde o professor é o único agente ativo. Espera-se, assim, que numa mesma aula haja momentos expositivos, mas sobretudo participativos em que o aluno é a base de todo o conhecimento e é com ele que se constrói um pensamento crítico face à História, da qual é parte integrante.

O facto de considerarmos o aluno como a personagem principal de todo este processo é necessário ter em atenção um aspeto fulcral de qualquer disciplina, a linguagem. Numa aula de HGP deve haver o cuidado de se utilizar uma linguagem correta, dado que “um bom ensino da História só é possível com o uso eficiente, preciso e conciso da linguagem”29.

Planear uma aula deve ser um momento encarado com seriedade onde a criatividade e o rigor científico andem lado a lado. O modo como os conteúdos são apresentados aos alunos contribuem para um maior ou menor interesse por parte destes pela disciplina, por isso, é que esta escolha deve ser rigorosa e adequada à faixa etária. O segredo para uma boa aula está nos atos de “saber ouvir e sorrir”30. Para tal, tem de haver uma motivação por parte do professor quando leciona mostrando aos alunos que está atento, com especial atenção para os alunos com mais dificuldades. Para que isto seja possível, deve haver um movimento constante de circulação na sala de aula, de modo a que a mensagem seja transmitida com maior intensidade, daí que a colocação de voz seja fundamental, uma vez que “aumentar ou diminuir o tom de voz quebra a monotonia e capta a atenção dos alunos”31.

Como não podia deixar de ser o primeiro recurso ao qual fazemos referência são os documentos históricos, uma vez que são um ponto de partida para a contextualização

28 PAPALIA, Diana E.; OLDS, Sally Wendoks; FELDMAN, Ruth Duskin – O Mundo da Criança. 8ª ed.,

Amadora: McGraw-Hill de Portugal, Lda, 2011, p. 420

29 RODRIGUES, Henrique – Didática e Pedagogia do Ensino da História, o.c., p. 5 30 IDEM, p. 10

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de um determinado acontecimento e são fundamentais para a construção do pensamento histórico através do confronto de mentalidades. Os documentos podem ser apresentados em múltiplas facetas, o importante é que sejam adequados ao nível etário que se está a lecionar. Quando se recorre a documentos na sala de aula devemos ter em conta que a sua apresentação deve ser feita na aula anterior, de modo a que os alunos tenham um conhecimento prévio do conteúdo a ser lecionado. Deste modo, a sua exploração permite a “aquisição e explicação dos acontecimentos e a iniciação à leitura crítica”32. Importa salientar que a análise deste recurso na sala de aula deve ser complementada com o recurso ao manual, visto que apresentam, de um modo geral, documentos com rigor científico e que são uma mais-valia para a aprendizagem do aluno.

Simultaneamente, devemos trazer para a sala de aula Memórias, ou seja, documentos que não são mais do que apontamentos, do quotidiano, concretizados num determinado momento da História. Contudo, é necessário ter em atenção o tipo de informação a retirar desses documentos, dado que podem apresentar informações que não são na sua totalidade verídicas. Apelando a este tipo de reflexão o aluno já está a ser incentivado a empregar o seu espírito crítico.

A era digital está à vista de todos nós e os nossos alunos são parte integrante dela, daí que o recurso a materiais audiovisuais sejam um meio eficaz de captar a sua atenção. Estes materiais podem ir desde diapositivos, música a filmes. A utilização de diapositivos apresenta “um elevado valor pedagógico”33. Atualmente, as escolas estão bem equipadas, grande parte das salas de aula têm projetor que possibilita a ligação direta ao computador, o que facilita a sua utilização. O recurso a diapositivos permite ao professor evitar perdas de tempo, por exemplo, como quando o professor tinha que escrever todos os conteúdos no quadro. Hoje em dia esse tempo pode ser rentabilizado em momentos de diálogo e de análise crítica com a turma. Estes materiais possibilitam conjugar o texto com a imagem, a cor com a transparência, o dinâmico e o estático, sempre com boa qualidade a qualquer hora do dia. Consequentemente, contribui para uma aula que se pretende organizada e coerente, em que os conteúdos são revelados de acordo com uma ordem lógica dos acontecimentos. Para além disto, os alunos

32 IDEM, p. 11 33 IDEM, p.12

35 podem desenvolver diversos comportamentos quando as aulas são acompanhadas com diapositivos “observação, identificação, classificar, relatar, reformular, explicar, prever, calcular, interpretar”34.

A música e o filme também apresentam repercussões interessantes no processo de ensino-aprendizagem. O recurso à música pode ter um carácter exploratório na introdução de um novo conteúdo em que o aluno através de questões é incentivado a tirar conclusões sobre o que o autor da letra pretende transmitir em termos históricos. Por sua vez, a utilização de filmes, menos frequente, apresenta-se como uma vantagem. No entanto, preconiza uma planificação rigorosa para que a compreensão e a discussão dos conteúdos, por parte da turma, seja um objeto de avaliação de acordo com os comportamentos, ou seja, “compreensão, aplicação e participação”35. A escolha de uma película cinematográfica deve ser criteriosamente selecionada de acordo com a faixa etária dos alunos, para que sejam retiradas as elações que se pretendem, para não ferir suscetibilidades. Assim, a estratégia mais adequada quando se recorre a filmes é parar a transmissão em determinados momentos para incentivar o diálogo e o pensamento histórico dos alunos face aquilo que observaram, partilhando com os seus colegas.

Há um outro recurso muito rico que caiu em esquecimento – os cartazes. Esta atividade é bastante rica quando bem orientada, uma vez que resulta em produtos interessantes e didáticos. Quando se pede aos alunos um trabalho deste género, onde a pesquisa e a manualidade andam lado a lado o seu entusiasmo é notório. É interessante e criativo realizar cartazes sobre uma determinada unidade temática para ser exposto na escola. Deste modo, para além de os alunos se sentirem parte integrante de todo o processo de ensino-aprendizagem, também vêm o seu trabalho valorizado perante toda a comunidade escolar.

Importa salientar que a instituição de ensino onde lecionamos é crucial, uma vez que tudo se torna mais fácil quando temos acesso a vários recursos. No entanto, a criatividade deve estar subjacente a qualquer professor de modo a tornar a aula mais ativa e participativa.

Em jeito de resumo verificamos que há uma multiplicidade de recursos que podem contribuir para um aula dinâmica e criativa. Não podemos deixar de referenciar

34 IDEM, Ibidem 35 IDEM, p. 16

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a importância que os documentos históricos têm na aprendizagem da História devendo ser utilizados frequentemente suscitando o diálogo e o pensamento crítico dos alunos, pois “têm de falar (participar), têm de pensar, pois tudo isto é vida, criatividade”36.