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As aulas exploratório-investigativas e a introdução de mudanças na CoPL da minha sala de

CAPÍTULO 3 TEORIA SOCIAL DA APRENDIZAGEM

3.5 O conceito de comunidade de prática local

3.5.1 As aulas exploratório-investigativas e a introdução de mudanças na CoPL da minha sala de

Quando propus as aulas exploratório-investigativas, provoquei mudanças na minha sala de aula de matemática do 1º D. A tarefa que levei para a sala exigiu que os alunos mudassem sua forma de

participação. Por exemplo, o trabalho não era mais individual, mas em grupos. Também a atividade dos

alunos não se resumia em aplicações de fórmulas, mas na leitura e interpretação de um enunciado e requeria deles se comprometerem em complexos processos de negociação de significados. Além disso, houve uma participação ativa, tanto dos alunos como minha, para resolver a tarefa. Tais mudanças acabaram gerando novas maneiras de reificação da prática que incluíram modificações nas formas de

registro habituais dos alunos como mudanças nas formas de discutir e validar os resultados da atividade. Considerando esses pontos, posso caracterizar minha sala de aula de matemática como uma CoPL sendo, então, um espaço privilegiado para a negociação de significados e aprendizagens. A seguir, apresento um quadro onde relaciono as seis características que Braz e Kato (2015) usam para definir uma CoPL e sala de aula de matemática do 1º D.

Quadro 4. Relação entre as características de CoPL e a CoPL do 1º D. Características definidoras da

constituição de uma CoPL

Características da sala de aula de matemática (1º D) 1) Os alunos verem-se, a eles próprios,

funcionando matematicamente e para esses alunos fazer sentido ‘o ser

matemático’ como uma parte essencial de quem são naquela aula.

Os alunos participaram da atividade, reificando suas aprendizagens na forma de realização de cálculos, trazendo para sala sua realidade e tomando decisões. Eles produziram reificações produzindo hipóteses sobre qual tipo de investimento ou qual opção de pagamento seriam melhores, registrando e testando essas hipóteses para chegarem a uma conclusão. Apresentaram seus resultados para os demais, argumentando suas escolhas. Desse modo, se

envolveram e puderam ver-se a si mesmos como sendo matemáticos.

2) Através das atividades e papéis

assumidos, há reconhecimento público do desenvolvimento da competência naquela aula.

Alguns alunos dos grupos ficavam responsáveis pela leitura e interpretação, outros por reificações como cálculos e escrita e outros, ainda, pela socialização. Ao longo do progresso das aulas foi possível captar momentos em que essas competências eram reconhecidas pelos outros membros dos grupos 3) Os alunos verem-se a trabalhar

conjuntamente, com um propósito, para conseguirem um entendimento comum.

Todos estavam envolvidos em determinar vantagens e desvantagens dos investimentos ou das opções de compra de maneira a poder justificar sua tomada de decisão, sendo que essas vantagens, desvantagens e justificativas foram reificações produzidas pelos alunos, a partir da participação e da negociação de significados deles.

4) Existem modos partilhados de comportamento, linguagem, hábitos, valores e uso de ferramentas.

Cada grupo de alunos reificou suas negociações de significados, criando seu próprio repertório, que envolveu o uso de calculadora, a determinação do montante de um investimento fazendo os cálculos mês- a-mês, o uso da fórmula de juros compostos,

necessidade ou não de cálculos, marcar trechos importantes no texto etc.

Além disso, a tarefa gerou novas formas de comportamento, de participação e de linguagens. Particularmente, as aulas exploratório-investigativas permitiram refletir sobre os valores provenientes do mundo fora da escola, relacionados com a questão financeira e fazer contrastes com aqueles que a educação matemática propõe.

5) A aula é, essencialmente, constituída por participação ativa dos alunos e professor.

Todos os alunos participaram das aulas, inclusive os que, normalmente, não se mostravam muito engajados. Enquanto os alunos se comprometiam em realizar a atividade, eu estava comprometida em intervir, principalmente quando tinham dúvidas matemáticas. 6) Os alunos e o professor podem ver- se

engajados na mesma atividade.

Tanto os alunos quanto a professora estavam envolvidos na mesma tarefa, mas cada um se comprometendo de forma distinta e criando suas próprias reificações.

Essa CoPL, por fim, assume como empreendimento articulado promover a tomada de decisões perante situações que envolvem diversas formas de investimentos e/ou de compra de bens materiais. O repertório compartilhado pelos seus integrantes se manifesta em suas reificações, como os registros escritos e na forma como dividem o trabalho. Nessa CoPL, os alunos se comprometem realizando cálculos, fazendo a leitura do texto, discutindo pormenorizadamente as opções e registrando o que é negociado. Já eu, como professora, me comprometo com ela fazendo as intervenções necessárias e solicitadas.

Todo esse movimento gerou novas negociações de significado e reificações e, por conseguintes novas aprendizagens. Os significados construídos e reificados a partir dessa nova prática não envolveram apenas a matemática em si, mas envolveram também, a tomada de decisões, a argumentação e a análise das experiências vividas por cada integrante em relação a certas questões financeiras. Ou seja, o desenvolvimento das aulas exploratório-investigativas com foco na educação financeira produziu diversas aprendizagens.

E é justamente para essas aprendizagens que vou olhar nessa pesquisa. Portanto, a minha pesquisa visa descrever, analisar e compreender as aprendizagens produzidas pelos integrantes de uma CoPL que introduziu algumas modificações na sua prática e, portanto, nos processos de negociação de

significados que nela se desenvolveram.

Considerando esse marco teórico e o objetivo geral dessa dissertação, estabeleci como objetivos específicos:

1) Descrever e discutir as trajetórias de participação dos alunos durante as aulas exploratório-investigativas propostas nessa pesquisa.

2) Narrar o processo pelo qual os alunos negociam significados para práticas matemáticas vinculadas a educação financeira.

3) Descrever e analisar como os estudantes articulam e reificam práticas vinculadas com as finanças provenientes das suas comunidades familiares com aquelas promovidas e desenvolvidas dentro da comunidade da sala de aula durante as aulas exploratório-investigativas.

4) Descrever e analisar a minha participação e reificação durante as aulas exploratório- investigativas e como ela influenciou a negociação de significados nos grupos de alunos.

No capítulo seguinte apresentarei o contexto da pesquisa e os procedimentos metodológicos que mobilizei para desenvolvê-la.

CAPÍTULO 4 O CONTEXTO E A METODOLOGIA DA PESQUISA