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Do Auparishtaka, ou congresso oral

á dois tipos de eunucos, os que se disfarçam de homens e os que se disfarçam de mulheres. Estes últimos imitam as vestes, o modo de falar, os gestos, a delicadeza, a timidez, a simplicidade, a doçura e a vergonha das mulheres. Os atos praticados no jaghana ou partes médias do corpo feminino são praticados também na boca desses eunucos, e a isso se dá o nome de Auparishtaka.1 Os eunucos encontram nessa forma de

congresso o seu imaginário prazer e o seu sustento, levando portanto a vida das cortesãs. Nada mais temos a dizer sobre os eunucos vestidos de mulher.

Os eunucos que se vestem de homem guardam em segredo seus desejos e quando se querem realizar, assumem a atividade de massagistas. Fingindo massagear, esse tipo de eunuco abraça, atraindo-as para si, as coxas do homem massageado, tocando em seguida as juntas de suas coxas e seu jaghana, ou partes centrais do corpo. Se o linga do homem entra em ereção, ele o segura e fricciona, para mantê-lo nesse estado. Se depois disso, conhecendo as intenções do eunuco, o homem nada diz, ele continua e dá início ao congresso. Mas se o homem lhe disser para prosseguir, discutirá com ele e só dificilmente acabará por concordar.

Os oito atos seguintes são praticados pelo eunuco, um depois do outro: • O congresso nominal

• As mordidas dos lados • A pressão exterior • A pressão interior • Os beijos • A esfrega • O chupar da manga • A deglutição

Ao concluir cada um desses atos o eunuco manifesta sua vontade de parar, mas o homem deseja sempre o ato seguinte, depois do outro, e mais outro, e assim sucessivamente.

Quando, segurando o linga do homem com a mão e colocando-o entre os lábios, o eunuco mexe com a boca, realiza o “congresso nominal”.

Quando, cobrindo a extremidade do linga com os dedos entrançados como um botão de flor, o eunuco pressiona os lados do membro com seus lábios, usando também os dentes, ocorre a “mordida dos lados”.

Quando, sendo solicitado a prosseguir, o eunuco pressiona a ponta do linga com seus lábios fechados, e o beija como se o estivesse sugando, temos o que é chamado de “pressão exterior”.

Quando lhe pedem para continuar, ele coloca o linga ainda mais para dentro da boca, pressiona-o com os lábios para depois retirá-lo, a isso se dá o nome de “pressão interior”.

Quando, segurando o linga na mão, o eunuco o beija como se estivesse beijando o lábio inferior, está praticando o “beijo”.

Quando, depois de beijar, toca-o com a língua em toda a sua extensão, principalmente na extremidade, chama-se a isso a “esfrega”.

Quando, da mesma forma, ele coloca a metade do linga na boca e o beija e chupa vigorosamente, está “chupando a manga”.

Finalmente, quando, com o consentimento do homem, o eunuco coloca todo o linga na boca e o aperta até o fim, como se o fosse engolir, temos a “deglutição”.

Bater, arranhar e coisas semelhantes podem também ser feitas durante esse tipo de congresso.

O Auparishtaka é praticado também pelas mulheres dissolutas e impudicas, pelas servas e criadas, ou seja, as que não são casadas, mas que ganham a vida fazendo massagens.

Os Acaryas (isto é, os autores antigos e venerandos) são de opinião que o Auparishtaka é um ato digno de cães e não de homens, por ser uma prática vil e contrária às ordens da Sagrada Escritura, e também porque o próprio homem sofre ao colocar o seu linga em contato com a boca de eunucos e mulheres. Mas Vatsyayana acha que as ordens da Sagrada Escritura não são violadas pelos que recorrem às cortesãs, e que a lei só proíbe o Auparishtaka com as mulheres casadas. Quanto aos males que podem advir ao homem, isso se pode remediar facilmente.

Os habitantes da Índia oriental não recorrem às mulheres que praticam o Auparishtaka.

Os habitantes de Ahichhatra a elas recorrem, mas abstendo-se de qualquer contato com sua boca.

Os habitantes de Saketa praticam com essas mulheres todas as formas de congresso oral, enquanto o povo de Nagara as evitam, embora aceitando todos os outros tipos de união.

Os moradores de Shurasena, na margem meridional do Jumna, fazem tudo sem qualquer hesitação, pois dizem que, sendo as mulheres naturalmente impuras, ninguém pode ter confiança em seu caráter, sua pureza, seu comportamento, suas práticas, suas confidências ou sua fala. Não devem, porém, ser desprezadas por isso, porque a lei religiosa, que nos autoriza a considerá-las puras, estabelece que o úbere da vaca está limpo no momento da ordenha, embora a sua boca, e também a boca do bezerro, sejam consideradas como impuras pelos hindus. Também o cão está limpo quando agarra a corça na caça, embora o alimento tocado pelo cão seja, em outras circunstâncias, considerado imundo. O pássaro está limpo ao provocar a queda de um fruto de árvore, bicando nele, embora as coisas tocadas pelos corvos e outras aves sejam consideradas impuras. E podemos considerar limpa a mulher para os beijos e carícias semelhantes, durante a relação sexual. Vatsyayana acha, além do mais, que em tudo o que se relaciona com o amor, as pessoas devem agir segundo o costume de sua terra e segundo as suas próprias inclinações.

Os criados de certos homens realizam o congresso oral com seus senhores. Ele é também praticado por alguns citadinos, que se conhecem bem, entre si. Algumas mulheres do harém, quando apaixonadas, praticam esse ato entre si, em seus iônis, havendo homens que também o fazem com mulheres. A maneira de fazê-lo (isto é, de beijar o iôni) assemelha-se aos beijos na boca. Quando o homem e a mulher deitam-se em posições inversas, ou seja, a cabeça de um junto dos pés de outro, e realizam esse tipo de congresso, ele recebe o nome de “congresso do corvo”.

Por amor a tais práticas, as cortesãs abandonam homens de boas qualidades, liberais e inteligentes, e se ligam a pessoas de baixa condição, como escravos e condutores de elefantes. O Auparishtaka, ou congresso oral, não deve ser praticado nunca por um brâmane culto, por um ministro encarregado de negócios de Estado, ou por homens de boa reputação, porque, embora seja um ato permitido pelos Shastras, não há razões para praticá-lo, e só deve ocorrer em casos particulares. Como por exemplo o gosto, o vigor e as qualidades digestivas da carne de cachorro são mencionados em obras de medicina, mas não se segue daí que ela deva ser consumida pelo homem prudente. Por outro lado, há homens, lugares e momentos que tornam possíveis tais práticas. O homem deverá, por essa razão, atentar para o lugar, o momento e a prática a ser realizada, bem como para o fato de ser ela ou não agradável à sua própria natureza. Poderá, então, permitir-se tais práticas ou não, segundo as circunstâncias. Afinal de contas, tais coisas são feitas em segredo e, sendo inconstante o espírito do homem, como saber o que uma pessoa fará em determinado momento, e com determinada finalidade?

1. Essa prática parece ter sido corrente em certas partes da Índia desde uma época muito antiga. Já no Shustruta, obra sobre medicina com cerca de 2 mil anos, descreve-se o ferimento causado no linga pelos dentes como uma das causas de certa doença. Também no século VIII encontramos vestígios dessa prática, pois várias espécies de Auparishtaka estão representadas em esculturas de muitos templos de Xiva em Bhuvaneshwara, perto de Cuttack, em Orissa, construídos mais ou menos nesse período. Pelo fato de terem encontrado essas esculturas nesses lugares, pode-se concluir que essa forma de união sexual era então generalizada na região. Como tal prática não parece ser hoje muito comum no Indostão, é possível que tenha sido substituída pela sodomia, introduzida durante o período de ocupação muçulmana.

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CAPÍTULO X

Do modo de iniciar e terminar o congresso. Diferentes tipos

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