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Da maneira de travar relações com a mulher e dos esforços para conquistá-la

utores antigos são de opinião que as jovens são conquistadas mais facilmente pelos esforços diretos do próprio homem do que pela intermediação de mensageiras, embora as esposas dos outros sejam seduzidas com mais facilidade através dessas intermediárias do que pelos esforços pessoais do homem. Vatsyayana, porém, diz que sempre que possível o homem deve agir diretamente, e só quando isso for impraticável ou impossível deve empregar mensageiras. Quanto à afirmação de que as mulheres que agem e falam de maneira ousada e livre são conquistáveis pelos esforços pessoais do homem, e que as que não evidenciam tais qualidades devem ser seduzidas por intermediárias, não é válida.

Quando o homem age diretamente, deve primeiro travar conhecimento com a mulher amada, da maneira seguinte:

Deve fazer-se visto pela mulher, seja numa ocasião normal, ou numa ocasião especial. A ocasião normal ocorre quando um deles vai à casa do outro, e a especial quando se encontram na casa de um amigo, de pessoa da mesma casta, ou de um ministro, ou do médico, bem como na realização de cerimônias de casamento, sacrifícios, festivais, funerais e festas.

Ao se conhecerem, o homem deve olhá-la de tal modo que ela perceba seus sentimentos; deve cofiar o bigode, produzir sons com as unhas, fazer tinir seus próprios ornamentos, morder o lábio inferior e dar várias outras demonstrações semelhantes. Quando ela estiver olhando para ele, deve falar aos amigos sobre ela e sobre outras mulheres, mostrando-lhe sua liberalidade e sua apreciação dos prazeres. Ao sentar-se ao lado de uma amiga, deve bocejar e contorcer-se, franzir as sobrancelhas, falar muito lentamente como se estivesse cansado e ouvi-la com indiferença. Também deve manter uma conversa de duplo sentido com uma criança ou alguma outra pessoa, aparentemente em relação a um terceiro mas na realidade sobre a mulher que ama, e dessa maneira tornará conhecido dela o seu amor sob o pretexto de referir-se a outras. Deve fazer sinais na terra com as unhas ou com uma bengala que se relacionem com ela, abraçar e beijar

uma criança na sua presença, dar-lhe com a língua uma mistura de nozes e folhas de bétel, afagando-lhe o queixo. Tudo isso deve ser feito na ocasião e no lugar oportunos.

O homem pode acariciar uma criança que esteja sentada no colo da jovem e dar-lhe alguma coisa para brincar, reavendo-a depois. Pode também manter com a jovem uma conversa sobre a criança, levando-a a familiarizar-se com ele aos poucos e procurando ser também agradável aos parentes dela. Posteriormente, esse conhecimento servirá de pretexto para visitar-lhe a casa com frequência, quando falará de assuntos de amor em sua ausência, mas de maneira que ela possa ouvir. Com o aumento da intimidade entre os dois, deve confiar-lhe alguma coisa a guardar, da qual irá retirando partes, aos poucos; ou poderá oferecer-lhe substâncias aromáticas, nozes de bétel, para guardar. Procurará, mais tarde, fazer com que ela estabeleça relações com sua própria esposa, mantenham conversas íntimas e se entretenham em lugares solitários. Para vê-la com frequência, deve fazer com que o mesmo ourives, o mesmo joalheiro, o mesmo fabricante de cestos e o mesmo tintureiro sejam utilizados pelas duas famílias. Deve também fazer-lhe longas visitas sob o pretexto de tratar de algum assunto, e um assunto levará a outro, mantendo a ligação entre ambos. Sempre que ela quiser alguma coisa, ou precisar de dinheiro, ou quiser aprender uma das artes, deve deixar-lhe claro que está disposto e pode fazer qualquer coisa desejada por ela, dar-lhe dinheiro ou ensinar-lhe uma das artes, estando tudo isso ao seu alcance e dentro de seu poder. Da mesma forma, deve conversar com ela na companhia de outras pessoas, e devem comentar juntos os atos e palavras de terceiros, bem como examinar diferentes coisas, como joias, pedras preciosas etc. Nessas ocasiões, ele deve mostrar-lhe coisas cujo valor ela desconheça, e, se ela colocar em dúvida suas afirmações, deverá abster-se de discutir, mostrando-se disposto a concordar sempre.

Assim terminam as maneiras de travar conhecimento com a mulher desejada.

Estabelecidas as relações com a jovem, tal como acima se descreve, e evidenciado, por várias indicações exteriores e por gestos, o amor que ela dedica ao homem, este deve esforçar-se por obter seus favores. Mas, como as moças não estão familiarizadas com a união sexual, devem ser tratadas com grande delicadeza, devendo o homem proceder cautelosamente, embora isso não seja necessário no caso de outras mulheres habituadas às relações sexuais. Quando forem conhecidas as intenções da jovem, e vencida a sua timidez, o homem deve começar a utilizar o dinheiro dela e iniciar um intercâmbio de roupas, anéis e flores. Deve ter o cuidado de lhe dar coisas bonitas e valiosas. Deve, além disso, receber dela uma mistura de nozes e folhas de bétel, e se for a uma festa deve pedir a flor que está em seu cabelo ou em suas mãos. Se lhe der uma flor, deve ser cheirosa e ter marcas de seus dentes ou de unhas. Com assiduidade crescente, dissipará seus receios e aos poucos fará com que ela o acompanhe a um lugar solitário, onde a

abraçará e beijará. E, finalmente, no momento de dar-lhe nozes de bétel, ou recebê-las da moça, ou no momento de trocarem flores, deve tocar e acariciar suas partes íntimas, levando assim seus esforços a uma conclusão satisfatória.

Quando o homem está tentando seduzir uma mulher não deve tentar o mesmo com outra, simultaneamente. Mas, depois que tiver conseguido êxito com a primeira, e a tiver desfrutado durante algum tempo, pode manter sua afeição dando-lhe os presentes de que ela gosta, e iniciar então a conquista de outra mulher. Quando souber que o marido de uma mulher vai a um local próximo de sua própria casa, não deve desfrutá-la, embora isso possa ser fácil naquela oportunidade. O homem prudente, que se preocupa com a sua reputação, não deve pensar em seduzir uma mulher apreensiva, tímida, indigna de confiança, bem guardada ou que tenha um sogro ou uma sogra.

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CAPÍTULO III

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