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8. Discussão dos Resultados

2.1. Autoestima e Comportamentos de bullying

De acordo com O’Moore e Kirkham (2001) parece existir unanimidade de resultados nas investigações que associam a autoestima e vitimização na escola, já que a maioria destes estudos indica que ser vítima de bullying está relacionado a índices mais

baixos de autoestima (Maliki & Ibu, 2009). Na ótica de Matos e colaboradores (2009), numa situação de bullying, os agressores destacam-se pela elevada autoestima e as vítimas pela baixa autoestima. Todavia, as investigações em torno da autoestima dos agressores apresentam uma incongruência nos resultados (O’Moore & Kirkham, 2001), sendo que uns demonstram que estes têm uma baixa autoestima e outros sugerem que estes têm uma autoestima elevada (Matos & Gonçalves, 2009).

De acordo com Fríssen, Jonsson e Person (2007), a presença de baixa autoestima no período da adolescência pode ser encarado como uma fator de risco para o desenvolvimento, no agressor, de condutas de bullying. Em conformidade com este estudo, Donnellan, Trzerniewski, Robins, Moffit, e Caspi (2005) com uma amostra que contemplou adolescentes e alunos universitários, pretendeu explorar a possível ligação entre a baixa autoestima e comportamentos de externalização, tais como agressividade, comportamento antissocial e delinquência. Os resultados confirmaram a hipótese central do estudo, de que a baixa autoestima se correlaciona positivamente com o desenvolvimento de comportamentos de externalização. Também o estudo efetuado por Martínez-Ferrer, Murgui-Pérez, Musitu-Ochoa e Monreal-Gimero (2008) em que o objetivo foi verificar as relações entre apoio parental e a autoestima numa amostra de 1068 adolescentes revelou que os jovens com baixa autoestima são mais propensos a desenvolver comportamentos agressivos na escola.

No seguimento dos estudos apresentados anteriormente, Fanti e Henrich (2014) realizaram uma investigação longitudinal durante o período de um ano em que participaram cerca de 1416 adolescentes com idades entre os 11 e os 13 anos, com o objetivo de verificar a influência da autoestima e do narcisismo no desenvolvimento de

bullying e vitimação entre pares. Os adolescentes foram avaliados através de medidas de

os adolescentes classificados com baixa autoestima no ano 1, foram mais suscetíveis de se envolver em situações de bullying como agressor ou vítima. Quanto ao narcisismo, os jovens com níveis elevados de narcisismo no ano 1, estavam mais envolvidos em condutas de bullying no ano 2, como agressores. Neste sentido, a combinação de baixa autoestima com níveis elevados de narcisismo predispõe os jovens a serem agressores numa situação de bullying. Segundo os autores, é provável que os adolescentes com baixa autoestima e com altos níveis de narcisismo recorram à agressividade como forma de se destacar no grupo de pares. Também o estudo realizado por Barry, Frick e Killian (2003) chegou a conclusões similares ao citado anteriormente. Este estudo visou averiguar a influência do narcisismo e da autoestima nos problemas de conduta em crianças e adolescentes. Participaram do estudo 98 crianças com idades entre os nove e os 15 anos. A amostra foi dividida em dois grupos: grupo de crianças com transtorno de conduta e grupo de crianças que não evidenciam problemas de conduta. Os resultados revelaram que as crianças que denotaram níveis mais baixos de autoestima e altos níveis de narcisismo apresentam mais problemas de conduta, nomeadamente comportamento agressivo.

Na mesma linha de conclusões o estudo de Patchin e Hinduja (2011) pretendeu verificar o nível de autoestima em adolescentes envolvidos numa tipologia específica do comportamento de bullying – o cyberbullying. Participaram deste estudo cerca de 1963 estudantes com idades compreendidas entre os 11 e os 16 anos. Os resultados vão de encontro aos dos estudos supracitados de que os agressores e as vítimas de bullying apresentam uma autoestima baixa em relação aos alunos que não se envolvem neste tipo de comportamento.

Paralelamente, o estudo realizado por O’Moore e Kirkham (2001) com o objetivo de averiguar a relação entre a autoestima e os comportamentos de bullying que

envolveu 8249 estudantes entre os 8 e os 18 anos concluiu que os agressores e as vítimas de bullying evidenciam níveis mais baixos de autoestima global comparativamente aos alunos não envolvidos neste comportamento. Em relação às vítimas, os autores concluíram ainda que quanto mais frequente for a vitimização e a agressão, mais baixa é a autoestima. Outro dado relevante encontrado neste estudo remete para a autoestima dos alunos que se encontram simultaneamente envolvidos nestas condutas como agressores e vítimas. De acordo com os resultados as vítimas- agressoras apresentam níveis mais baixos de autoestima comparativamente aos agressores puros e vítimas puras. Estes resultados são contudo refutados pelo estudo realizado por Ramírez (2001) que objetivou verificar as características de personalidade e de socialização presentes em agressores e vítimas de bullying em 315 alunos na faixa etária dos 10 aos 15 anos de idade. No que diz respeito às variáveis de personalidade e de socialização os agressores evidenciaram índices elevados de psicoticismo e liderança e as vítimas níveis elevados de autocontrolo, ansiedade/timidez e, tal como os agressores, psicoticismo. No que concerne à imagem de si mesmo, os resultados não permitiram estabelecer uma associação entre baixa autoestima e ser vítima de bullying. No entanto, os agressores manifestaram altos níveis de autoestima.

Bandeira e Hutz (2010) numa amostra de 465 estudantes de ambos os sexos pretenderam averiguar diferenças entre os envolvidos em bullying enquanto agressores, vítimas, vítimas-agressores e testemunhas. Os resultados sugerem a existência de diferenças, tendo em conta o sexo, nos níveis de autoestima nos agressores, vítimas, vítimas-agressores e testemunhas. Deste modo, o sexo masculino destacou-se pelos níveis elevados de autoestima no papel de testemunha e de vítima-agressor e pela baixa autoestima no grupo das vítimas. No que se refere ao sexo feminino, as raparigas

revelaram níveis elevados de autoestima no grupo dos agressores na situação de

bullying.

Em coerência com o estudo supracitado Brito e Oliveira (2013), numa investigação com 237 alunos em que analisaram a relação entre o bullying e a autoestima encontrou evidências que remetem para a existência de diferenças no papel assumido na conduta de bullying e autoestima conforme o género. Assim, o sexo masculino evidenciou níveis mais elevados de autoestima quando no papel de agressor, vítima-agressor e testemunha. No entanto, os rapazes denotaram níveis baixos de autoestima quando se encontravam no papel de vítima. Contrariamente, as raparigas evidenciavam uma baixa autoestima, qualquer que fosse o papel assumido na situação de bullying.

Estévez, Murgui, e Musitu (2009) pretenderam examinar o ajustamento psicossocial em intervenientes nas condutas de bullying numa amostra de 1319 adolescentes com idades compreendidas entre os 11 e os 16 anos de ambos os sexos. Para avaliar o ajustamento psicossocial utilizaram medidas de autoestima, sintomatologia depressiva, stress, solidão e satisfação com a vida. Os resultados, no que toca à autoestima, revelaram que os agressores revelaram níveis mais elevados de autoestima comparativamente aos restantes intervenientes.

Gendron, Williams, e Guerra (2011) realizaram uma investigação em que pretenderam examinar as relações entre as crenças dos adolescentes em relação ao

bullying, a autoestima e o clima escolar e a perpetração de bullying. Para tal reuniram

uma amostra de 7299 participantes entre os 10 e os 19 anos que avaliaram em dois anos distintos. Os resultados evidenciaram que os jovens que se encontravam envolvidos em

bullying no primeiro ano do estudo permaneciam envolvidos na prática no ano seguinte.

estas mostram-se preditoras de bullying. No entanto não se constatou uma relação direta entre autoestima e bullying. A variável autoestima só se relacionou significativamente com o bullying quando associada à variável clima escolar. Ou seja, os jovens com elevada autoestima tendiam a envolver-se menos em bullying quando o seu ambiente escolar era percepcionado como positivo. Inversamente, os jovens com elevada autoestima quando inseridos num clima escolar negativo eram mais propensos a envolver-se em bullying.

Pelo exposto, verifica-se que as conclusões dos estudos que pretendem compreender os sentimentos de valoração pessoal dos intervenientes nas condutas de

bullying não são consensuais. Deste modo, enfatiza-se a necessidade de realizar mais

estudos que associem a autoestima e bullying, a fim de averiguar se existe uma relação de causa-efeito entre estas duas variáveis e, consequentemente, contribuir para um melhor entendimento dos fatores psicológicos que podem predispor o desenvolvimento do comportamento agressivo em meio escolar.