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7 DIREITO INTERNACIONAL TRIBUTÁRIO POR MEIO DA APLICAÇÃO DO

7.1 Considerações iniciais sobre a internacionalização do direito tributário por meio

7.1.4 Autonomia

A autonomia aqui posta não se resume a dimensão política do homem, mas, tem uma acepção geral, ampla, que não se limita a território, a religião, entretanto, a uma concepção humana de existir por si só enquanto ente da natureza, porém, que dela se separa por vontade própria. É uma autonomia que supera a sociedade civil pensada por Hobbes, assim como a autonomia moral idealizada por Kant. A autonomia como ato de existir por si só e capacidade de limitar essa existência por meio de ato consciente como condição para permanecer com luz própria, sendo, ao um só tempo uma lei natural e lei positiva. É essa autonomia que vai permitir que o direito tributário deixe de ser um fenômeno nacional para ser direito internacional.

Talvez o conceito de autonomia que propomos esteja próximo ao que hoje denominamos de mercado, pois esse não define mais só economia, mas uma diversidade de conceito. Senão vejamos: conceito de qualidade, de concorrência, de igualdade, de liberdade, de globalização, de direito e até de democracia estão associados a mercado. Pois, bem, a autonomia também esta associada a idéia de mercado, assim como mercado está associado autonomia.

individualidade é uma construção ideológica que serviu de base de sustentação aos propósitos do Estado moderno. Os teóricos do Estado moderno construíram o conceito de autonomia associado aos pressupostos de afirmação nacional ante a uma cultura específica dentro de um espaço territorial definido. O conceito de autonomia serviu tanto para a criação das nações, quanto para o nacionalismo, mas, por outro lado, reduziu a autonomia do ser humano frente ao poder estatal.

De outro ângulo, à medida que os fundamentos do conceito autonomia moderna afirmam os valores da nação e do nacionalismo, ela torna-se responsável pela formação do pluralismo político internacional que tem marcado a história da humanidade. Esta pluralidade internacional que se formou, é no seu todo, um tanto contraditória, pois a modernidade em sua totalidade foi construída negando de forma veemente toda essa estrutura jurídica feudal, que sob o manto do Estado absoluto suprimiu a autonomia dos nobres e da igreja, e por fim, centralizou o poder dentro de uma grande dimensão territorial. Essa idéia de unidade está associada à idéia de coletividade e de comunidade, mas, em dimensão limitada a um território e a um povo, e não, em acepção universal.

Com a centralização do poder pelos reis absolutos o conceito de autonomia perdeu espaço para o conceito de soberania, fazendo com que os limites da soberania estivesse associada à capacidade de obediência dos súditos em relação ao poder central e suprimisse de vez a autonomia política local e do cidadão. O conceito de soberania separou de forma lapidar a ordem jurídica nacional da ordem jurídica internacional. E o conceito de soberania passou a ser atribuída a ordem internacional e a autonomia a ordem nacional. Dessa forma, quando se fala em poder supremo associa-se a soberania, e quando se fala em autonomia, associa-se a gestão. Ressalte-se que, tal diferença é meramente ideológica, pois nada impede que nas relações internacionais seja utilizado o termo autonomia, aliás, tal termo como foi gestado pelo Estado moderno é mais eficaz dentro da nova configuração política do mundo atual, pois a noção de soberania é considerada por Stanley

Hoffman como sendo exclusivamente negativa59, ou seja, enquanto o conceito de soberania se fecha ao Estado, o conceito de autonomia está aberto, haja vista que o conceito de autonomia está vinculado ao povo, ao cidadão, ao governante, a cultura de uma sociedade, ao mercado, ao passo que, o conceito de soberania está vinculado ao Estado, ao poder de punir, ao poder de guerrear, ao poder de tributar, ao poder de julgar. Com isso, a autonomia é uma necessidade humana, é condição humana, ao passo que, soberania é um necessidade do Estado moderno decorrendo disso sua crise.

Pois bem, esse poder horizontal e soberano que se impõe a partir do século XVII sobre a autonomia humana se torna hegemônico até a segunda guerra mundial, quando se percebe que a constituição de soberanias territoriais coloca em riscos a sociedades de nações e a comunidade de uma forma geral. Tal fato fez com que o conceito de soberania fosse revisto e ganhasse força sob sua nova acepção, o conceito de autonomia construído pelo sistema tradicional. Não se trata de um conceito novo, é o mesmo conceito utilizado pela ordem jurídica monista, mas que transcende o sistema fechado para aceitar à vontade humana de constituir uma comunidade internacional.

Ante ao exposto, podemos observar que, o que se denomina de globalização60 não é resultado do crescimento das relações entre os Estados soberanos, mas, sim, o resgate da necessidade humana de autonomia, que tinha sido perdida com o levante das fronteiras pelos Estados modernos, fazendo com que o ser humano passasse a lutar por direitos internacionais e universais. Tudo isso ocorre, porque enquanto o ser humano tem necessidades universais, os Estados nacionais têm necessidades vinculadas ao espaço territorial de poder. Dessa forma, quando o Estado assina um tratado internacional ou formaliza qualquer relação não está atendendo suas necessidades naturais, mas ao desejo de autonomia de seu povo. Por exemplo, o desejo de conhecer outras culturas, ou de intercâmbio cultural não faz parte da natureza do Estado, mas, sim de uma necessidade originária da autonomia humana e que contribui para condição humana. O Estado, portanto,

59 GIDDENS, Anthony. O Estado-Nação e a Violência. São Paulo: Universidade de São

Paulo -USP, 2008.p. 295-300.

Estados.

Além disso, um dos grandes desafios do mundo atual é a distribuição de riquezas, que persistentemente tem se concentrado em algumas regiões do globo e que por sua natureza descentralizante, o federalismo tem sido o sistema mais aceito a tais propósitos, na medida em que sua existência como se explicou anteriormente, é dentro da diversidade e, não, da unidade.

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