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7 DIREITO INTERNACIONAL TRIBUTÁRIO POR MEIO DA APLICAÇÃO DO

7.1 Considerações iniciais sobre a internacionalização do direito tributário por meio

7.1.2 Território

A luta pelo território está associada à obrigação em pagar tributos, a propriedade, a bens, a tradição cultural, ao direito natural, a concepções divinas, a questão de produtividade agrícola e de sobrevivência, sendo que, em regra, tais lutas sempre foram resolvidas por meio de guerras, o que não mudou muito na atualidade.

A organização tributária assume relação direta com o território, à medida que as nações vão ficando sedentárias e passam a se identificar com espaço em que vivem. Dessa forma, o povo não aceita contribuir financeiramente, de forma direta ou indireta, para um poder que não esteja vinculado ao seu espaço territorial, terminado por ocorrer infindáveis guerras entre as nações sob o fundamento de que uma nação queria subjugar a outra por meio da expropriação de sua riqueza via cobrança tributária.

A guerra, que em regra atende e atendeu a determinados fins, é um mal que ainda não superamos e se constitui no principal obstáculo para criação de uma comunidade internacional, já que a ideologia de nacionalismo e de

Foram assim, as guerras intermináveis dos hebreus (que tinham a terra prometida por Deus), dos babilônios, dos gregos, dos romanos, dos senhores feudais, dos ingleses contra franceses na lendária Guerra dos Cem Anos, das Cruzadas, da conquista na América, enfim, de todos os povos e das nações que ao longo do tempo buscaram por sua formação.

Conquistar territórios era e, ainda, é para alguns, o instrumento mais importante de se obter riquezas, mercados e força de trabalho, como era o caso dos prisioneiros de guerra em Esparta e em Roma. Fugindo deste aspecto sem, contudo, perder de vista o foco da territorialidade. Verificamos a cobranças de tributos, já existentes no Império Persa, no Império Asteca na América, no Império Romano, no Império Carolíngio, no Império Espanhol, no Império Inglês. Destaca-se este foco como um dos objetivos de Hitler sob a teoria do ‘espaço vital’.

No entanto, as conquistas territoriais, também serviam para aumentar a população do território imperial e as contribuições de impostos. Tal fato foi associando o pagamento de tributos a atos arbitrários, dos fortes sobre os fracos, que ainda hoje persiste. Para exemplificar tais fatos, podemos citar o Império Persa, que a partir de Ciro implementou o que historicamente ficou conhecido como Modo de Produção Tributário, ou seja, o sistema de riqueza principal desse povo era a cobrança de tributos de todas as nações que integravam o império de livre e espontânea vontade, ou por meio de guerra. Quando o povo integrava a jurisdição persa de forma livre era mantida sua autonomia, desde que se comprometesse a pagar tributos. Essa organização tributária ganhou definição com Darío, quem deu relativa autonomia ao criar as Satrapias.

Grande parte das guerras por território tinha como fundamento ideológico questões religiosas, como foi o caso das Cruzadas, para conquistar a Terra Santa, ou dos hebreus, para conquistar a terra prometida, fazendo com que houvesse uma vinculação direta entre religião, autoridade política e território. Assim, o território foi dado por Deus a tal nação, fazendo com que o liame que unisse os homens fosse a religião e, não, o Estado.

Com a instituição jurídica do Estado moderno os homens passam a lutar pela nação enquanto personalidade jurídica de direito internacional.

É dentro de um espaço físico definido que o Estado cobra tributos de seus nacionais, constituindo-se o poder de tributar em uma das maiores expressões do poder jurisdicional do Estado sobre o indivíduo, pois o mesmo subtrai parte de seu patrimônio sem a resistência que outrora existia na antiguidade. O indivíduo só permite esta violência em seu patrimônio, porque ele se sente parte dessa realidade, pois o território também é dele. Sendo assim, o nacional precisa do Estado para defender seu território que foi conquista coletiva da nação contra o poder voraz de outras povos. Essa relação do homem com o Estado fez com que houvesse um sedentarismo jamais visto na história da evolução humana, pois as fronteiras territoriais impedem sua locomoção em direção a outras conquistas e os Estados só garantem cidadania plena aos nacionais. Dessa forma, pertencer a um território é ter um conjunto de direitos. Portanto, o território deixa de ser espaço do mundo da natureza, para ser espaço político, econômico e de sobrevivência de uma nação, pois é dentro dele que o homem se sente livre para suas manifestações culturais.

Ante a isso, não basta conquistar o território, é preciso defender, estabelecer fronteiras territoriais, impedir a livre locomoção de pessoas de outras nacionalidades e regular a entrada e saída de bens. Tudo isso implica em custos que deve ser arcado pelos cidadãos que aceitam a cada dia que passa o crescimento e o gigantismo do Estado sobre sua liberdade, sua segurança e, sobretudo, sobre seus bens. Dentro dessa lógica, a defesa do território de uma nação passou a ser concebida como um direito natural, pois não era justo que outras nações, por qualquer que seja o motivo, ocupasse a área demarcada como propriedade de uma nação. Dentro desse contexto, nasce à concepção do direito a guerra justa, que durante muito tempo foi um dos empecilhos para o fortalecimento do direito internacional público e privado, e como fundamento ideológico para guerras, que muitas vezes, atendia mais aos interesses dos governantes do que de seus cidadãos.

Dessa relação entre território, sociedade e instituição política, temos o que se denomina de Estado Moderno, que, se por um lado, constituiu-se sob os auspícios da defesa nacional e de seus cidadãos, por outro lado, suprime parte de sua liberdade individual por meio de regras de condutas ditas impessoais e seus bens por meio de forte carga tributária. A tributação nacional

quando outrora suas rendas provinham das terras dos reis e as guerras eram financiadas pelos grupos abastados. Esta realidade foi propicia para a constituição de um sentimento coletivo que criou um poder jurídico-político acima dos indivíduos, o que se denomina ideologicamente de poder soberano do Estado. Formando-se, portanto, uma dicotomia entre soberania e autonomia, tendo o Estado atraído para si, o conceito de pessoa soberana e deixando aos indivíduos a idéia de autonomia, desde que essa autonomia não contrariasse a soberania. Tal concepção prepondera no ocidente até a segunda metade do século XX, quando o mundo assiste a expansão de novas organizações políticas nacionais e internacionais sob o fenômeno da globalização.

Com a globalização o sistema territorial que até então definia todas as políticas de Estado sofre um revés até então nunca visto, pois o sistema tecnológico atual, não tem limites físicos, mas virtual, nos obrigando a estabelecer novos conceitos de espaço que não se circunscrevem apenas ao espaço físico, mas também os definidos pelas leis da cibernética.

A grande questão posta com a nova definição de espaço é que as riquezas passam a circular nesse novo espaço, obrigando o poder público a legitimar essas relações, como, por exemplo, o sistema on-line de crédito, as compras on-line e as aplicações financeiras on-line57. Hoje, o sistema financeiro, não tem fronteiras territoriais, fazendo com que o capital deixasse de ter nacionalidade. Esse novo espaço acabou com corre-corre, que até então existia dentro do prédio das bolsas de valores. A idéia de que os bens estão mais protegidos dentro do território, da nacionalidade, da pessoa humana e da pessoa jurídica, não tem mais razão de existir, porque os estados nacionais não controlam o valor monetário das riquezas.

Por tudo isso, as relações internacionais se tornaram intensas fazendo com que surgissem vários organismos internacionais, após a segunda guerra mundial, com a finalidade de legitimar tal realidade. Segundo Larissa Ramina (2009) as organizações internacionais se desenvolveram em torno da

56 GIDDENS, Anthony. O Debate Global sobre a Terceira Via. São Paulo: UNESP, 2007.p.

262-275.

Organização das Nações Unidas (ONU), a qual em sua carta conferiu a missão de desenvolver a cooperação internacional econômica e que se estruturou em torno de três pilares fundamentais em torno deste centro.

Os dois pilares iniciais dizem respeito a ‘moeda’ e ‘às finanças’, com a assinatura em julho de 1944, dos acordos de Bretton Woods, que deram origem duas instituições irmãs, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD ou Banco Mundial), tais instituições seriam complementares, visto que deveriam funcionar em harmonia, in verbis:

Aliás, as duas instituições deveriam funcionar em estreita relação uma com a outra, desde a comunhão de seu estatuto jurídico enquanto instituições especializadas das nações unidas, e fato de que a participação em uma supunha a participação na outra, demonstrando que o Fundo e o Banco haviam sido concebidos como elementos de uma única e mesma ordem internacional econômica.58

O terceiro pilar que completa a ordem em torno das Nações Unidas é a Organização Internacional do Comércio (OIC), que teve sua vida histórica conturbada por receber oposição dos Estados Unidos. A Organização Internacional do Comércio (OIC) teve seu estatuto instituído pela Carta de

Havana, de 1948.

Ora, essa questão coloca em xeque toda ordem jurídica construída a partir de 1648, e que sofreu vários revezes até se consolidar ao longo do século XIX, com a doutrina de que rica era a sociedade que tivesse um grande território, o que forçou a expansão territorial dos Estados Unidos, com a doutrina do Destino Manifesto; a corrida neocolonialismo europeu por novos territórios; e os movimentos nacionalistas de libertação da América. Tudo isso, não faz mais sentido, porque tais espaços existem, mas a dimensão de poder e de riqueza não se limitam a esfera geográfica definida por esses espaços, haja vista que a produção de riquezas não é homogênea, como, por exemplo, a fabricação de um automóvel, a qual envolve vários espaços até que ele se torne disponível ao mercado. Porque, às vezes, seu projeto é feito em um

proprietários são de outro, a empresa responsável é de outro, sua montagem se processa em outro, ele é comercializado em outro e a tributação pode ser paga tanto no Estado que o comercializou, quanto no Estado consumidor, dependendo tão somente dos tratados internacionais vigente.

Ante a isso, podemos afirmar que o mundo atual tem dúvidas e incertezas sobre a forma de estado que deve trilhar, ante aos novos desafios postos pela comunidade internacional, o que acreditamos que deva a um modelo plural; e pelas circunstâncias históricas aqui postas, que deve ao modelo de federação, como já se encaminha a Europa. Afirmamos isso, porque só o sistema federativo é capaz de dividir território para somar.

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