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Autonomia profissional

No documento marinamonteirodecastrecastro (páginas 157-160)

O TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NA APS EM JUIZ DE FORA

4.3 A Atuação dos Assistentes Sociais na APS

4.3.3 Autonomia profissional

Em relação a autonomia que possuem para a realização de suas ações, todos os assistentes sociais colocaram que em termos de realização do próprio trabalho, possuem autonomia. Porém, ressaltaram que esta se deve à boa relação que possuem com a supervisão da UBS ou com os outros profissionais.

Eu acho que tem muita autonomia, os limites que esbarramos são os limites que dependem de outros profissionais, não dá para avançar muito porque dependemos de outros profissionais. A gente aqui trabalha com muita liberdade de ação. A relação com a gerência também facilita na liberdade de propormos as coisas, de liberar para irmos à audiência pública, ou alguma atividade externa (ENTREVISTADO VI).

Alguns profissionais alegaram que essa autonomia tem limite quando se deparam com trabalhos em equipe; e outros ressaltaram que são fatores limitantes do trabalho as questões políticas postas pela instituição (PJF) e a falta de recursos.

Dentro dos limites, eu tenho autonomia. Se eu precisar sair para fazer uma visita, eu falo com a gerente, não fico avisando lá embaixo na Secretaria não porque vira e mexe eles ligam pra saber se estamos trabalhando, cobra horário. E essa época de mudança política é mais complicado (ENTREVISTADO I).

Em termos de Serviço Social eu tenho, mas tem algumas coisas que tem que ser reportadas para supervisão ou para a secretaria; como tenho muitos anos aqui na prefeitura, já tive muito chefe, então tento ser sempre cautelosa (ENTREVISTADOII).

A autonomia profissional do assistente social, como assinalado no Capitulo III é sempre relativa, uma vez que para a realização do seu trabalho profissional depende de um contrato de trabalho, e sendo um trabalhador assalariado seu exercício profissional é tensionado pela autonomia que possui e sua condição de assalariado (IAMAMOTO, 2006). Devido a este contexto, o trabalho do profissional é sempre perpassado por processos de correlação de forças, por pressões políticas e por negociações que vislumbram a realização de um trabalho de qualidade.

Ao mesmo tempo um profissional ressaltou que considera que possui autonomia demais, afirmando que

Eu tenho sim. A Secretaria não tem comando, não tem nada que me prenda. Enquanto supervisora a gente tem muitos problemas, mas enquanto assistente social não. Eu me sinto um pouco largada. Eu não acho que a secretaria de saúde me dá autonomia, eu acho que ela me larga é pra lá. Isso me incomoda porque eu vou pra onde eu acho que devo ir (ENTREVISTADO IX).

Nessa fala é percebido outro pólo dessa discussão. O profissional ao expor sua visão está na verdade remetendo a uma falta de projeto, planejamento e monitoramento do trabalho dos assistentes sociais pelos órgãos gestores, e também a uma falta de direção do trabalho profissional para a área da saúde na Instituição.

Conforme narrado, esse fato acaba imprimindo um direcionamento às ações profissionais que são balizadas pelos parâmetros que o próprio assistente social possui, como expresso na frase “eu vou para onde eu acho que devo ir”; mas até nestas situações, o profissional deve ter clareza de que ele é contratado por uma Instituição que regula suas ações (de forma política, burocrática), e assim, mesmo não fixando um direcionamento, coloca limites ao seu trabalho.

Para aprofundar a discussão sobre a autonomia, indaguei aos entrevistados sobre as determinações que são colocadas pela Secretaria de Saúde aos assistentes sociais. Nas falas, houve uma diferenciação relacionada às diferentes inserções dos profissionais nas UBS’s. Os profissionais inseridos em UBS’s com PSF e Tradicional referiram que as determinações postas pela Secretaria de saúde são centradas no médico e enfermeiro e, que o excesso de determinações impede de avançar nas atividades que realizam, e este fato reflete no trabalho em equipe. Isto ocorre, pois de acordo com Franco (2006) nenhum trabalhador sozinho pode dizer que consegue ter uma resolutividade satisfatória, a partir da realização de um projeto terapêutico que seja centrado nas necessidades dos usuários.

Chegam de cima pra baixo, não questionam a realidade local. Tudo é centrado no médico e enfermeiro, e mais centrado ainda na consulta do médico (ENTREVISTADO IV).

Tem muita coisa que é imposta. Coisas burocráticas que nós somos responsáveis e tem que fazer (ENTREVISTADO V).

Os assistentes sociais inseridos em UBS’s com PSF e RESF narraram a existência de uma centralidade no cumprimento dos programas determinados pelo Ministério da Saúde, e

um profissional ressaltou que às vezes essa cobrança junto as UBS’s com RESF é menor pelo fato dos gestores considerarem que estas Unidades são vinculadas à Universidade.

Tem aquilo que vem via ministério para o PSF. Mas existe uma cobrança da equipe de identificar coisas que são da realidade local, como aqui é o caso da violência. Enquanto para o Serviço Social não existe determinações diretas ou cobranças. Depende também da política de cada prefeito e vamos montando as estratégias de acordo com as determinações. Existe uma fiscalização grande, mas como somos de residência, sentimos menos, porque eles acham que somos da universidade (ENTREVISTADO VII).

Pra trabalho não existe. Determinações deles é centrada nos recursos humanos, o negócio deles e determinar a assinatura do ponto e o dia pra assinar (ENTREVISTADO IX).

Em relação as respostas apresentadas, nota-se que todos assistentes sociais se referiram ao excesso de burocracia e controle dos recursos humanos: através da assinatura do ponto, da exigência do cumprimento da produção, assim como uma fiscalização do próprio trabalho.

Franco (2006) considera que a rede básica no SUS é centrada em um número excessivo de normatizações, como pode ser visto no PSF que opera a partir de ações programáticas, e determina o atendimento em horários específicos para certo “grupo” de usuários, além de fichas e senhas, o que o autor aponta que aprisiona o trabalho vivo.

Como foi visto, esse aprisionamento ocorre também através de formas de controle do trabalho, o qual impede que os profissionais possam exercer sua atividade de forma criativa, e planejada a partir da realidade local e das necessidades em saúde dos usuários (e não por meio de um formato prévio ou padronizado).

Outro fato exposto pelos sujeitos da pesquisa é a não existência de determinações específicas para o trabalho do assistente social. Analiso que esse fato pode ocorrer devido os assistentes sociais não comporem a equipe mínima do PSF, e assim, não existirem atribuições normatizadas para o Serviço Social. Porém, isto não quer dizer que os profissionais não necessitem de orientações acerca das ações a serem desenvolvidas.

O que pretendo destacar é que embora a autonomia do assistente social seja relativa, é ela que lhe permite direcionar seu trabalho socialmente, apesar dos organismos empregadores interferirem nos resultados dos trabalhos, uma vez que eles determinam e normatizam as atribuições e competências específicas, definem as relações e condições de trabalho; e oferecem ainda todo suporte no que se refere a recursos materiais, financeiros, humanos e técnicos. “Portanto, articulam um conjunto de condições que informam o processamento da

ação e condicionam a possibilidade de realização dos resultados projetados (IAMAMOTO, 2006, p. 182).

No documento marinamonteirodecastrecastro (páginas 157-160)