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Visita Domiciliar

No documento marinamonteirodecastrecastro (páginas 137-141)

O TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NA APS EM JUIZ DE FORA

4.2 Os Pilares do Trabalho do Assistente Social na APS

4.2.3. Instrumentos do trabalho profissional

4.2.3.4 Visita Domiciliar

A visita domiciliar (VD) é um instrumento de trabalho do assistente social que tem por objetivo conhecer a condição e o modo de vida da população in loco. Pitarello (1990) destaca que a VD deve ser utilizada em algumas situações para adquirir maiores conhecimentos sobre a realidade de um determinado usuário, família ou comunidade. É um recurso para complementar informações, aprofundar relações de confiança ou abrir determinadas negociações.

Todos os profissionais entrevistados utilizam a visita domiciliar como instrumento de trabalho. Pondero que houve uma diferenciação nas falas dos assistentes sociais no que refere à freqüência na utilização do instrumento, pois nas UBS’s tradicionais não existe um direcionamento para a realização de visitas, mas esse fato não impede que os assistentes sociais as realizem.

A realização de VD, segundo os profissionais (independente da alocação), ocorre da seguinte forma: com a equipe, quando há situações específicas a serem acompanhadas como de recém- nascidos, gestante e acamados; e de forma individual quando existem demandas próprias do Serviço Social, quando ocorre alguma denúncia ou há solicitação de familiar ou profissional.

A gente faz a visita, orienta, vê o que precisa ser encaminhado. A gente faz uma busca ativa também nessas visitas, porque quando você faz a visita junto com a equipe, num primeiro momento, você vai atender uma situação da família e quando eu chego lá a gente verifica que a demanda é grande em relação a encaminhamentos, orientações (ENTREVISTADO VI).

Sim, quando tem necessidade a gente faz. Eu faço sempre visita domiciliar, principalmente quando há denúncia de maus-tratos de idosos ou de crianças, eu tenho feito muito ultimamente, e a enfermeira acompanha os agentes na hora que tem que fazer curativo, medir pressão, alguma coisa que precise mais dessa parte (ENTREVISTADO III).

Franco e Merhy (1999) ao realizar uma reflexão sobre as visitas domiciliares no âmbito da APS consideram que em se tratando das visitas compulsórias voltadas para grupos específicos como de recém-nascidos e gestantes, deve-se ter cuidado em sua realização para que esta não ocorra sem um objetivo claro e explícito, e para que não haja uma intromissão excessiva na privacidade dos usuários.

As visitas domiciliares compulsórias, indicam dois tipos de problemas muito graves: (...) Não deveria ser recomendado que profissionais façam visitas domiciliares, sem que haja uma indicação explícita para elas, a exceção dos trabalhadores que têm a função específica da vigilância à saúde, como por exemplo, os agentes comunitários de saúde, que devem percorrer o território insistentemente. Mas, pode-se considerar uma diretriz pouco eficiente, a visitação de médicos e enfermeiros por exemplo, sem que o mesmo nem mesmo saiba o que vai fazer em determinado domicílio. Um outro aspecto, da visita domiciliar compulsória, diz respeito ao fato de que isto, pode significar uma excessiva intromissão do estado na vida das pessoas, limitando sobremaneira seu grau de privacidade e liberdade. O controle que o estado pode exercer sobre cada cidadão, é reconhecido como problema e fica mais evidente, ao se pensar este tipo de diretriz sendo praticado em um país sob governo autoritário, o quanto não há um cunho trágico nisso (FRANCO & MERHY, 1999, s/p).

Destaco a existência de algumas visões já superadas pelo Serviço Social em relação às visitas domiciliares como as relacionadas à investigação e comprovação das condições de vida da população, como também às vinculadas às orientações sobre higiene e cuidados médicos. Outro ponto a ser considerado se refere à forma de tratamento do usuário (compreendido como sujeito que deve ser respeitado em sua inserção social e geração) e as possibilidades de acesso aos direitos garantidos na atualidade65.

A gente, às vezes, recebe uma denúncia de maus tratos, ou alguma

investigação que tem que ser feita, algum órgão da prefeitura ou mesmo de

algum juiz. Já teve caso de juiz pedir um parecer da assistente social, ou alguma questão da própria UBS que é detectada aqui que precisa de

comprovação (ENTREVISTADO II).

A agente comunitária visita periodicamente a família e identifica problemas, aí eu vou para estar orientando a família, ajudando, assessorando a agente comunitária para aquele problema que ela identificou, assim como: pessoas

que não estão fazendo o uso correto da medicação, não estão seguindo a prescrição médica, pessoas que precisam de qualquer orientação, às vezes

sei lá uma família com um senhor igual eu já fui várias vezes que não tem

65

Para melhor visualização das questões abordadas, optei por realçar em negrito passagens significativas contidas nas falas.

cuidado de higiene, não usa a medicação correta, então ela me pede, e eu

vou e ajudo. (ENTREVISTADO V).

Atualmente até que é pouca coisa, eu quase não faço visita, a última que eu fiz foi uma idosa lá em cima que não anda mais e fica sozinha em casa o dia todo. Tem uma vizinha que leva comida e ela quem me pediu para ir lá, ai eu fui conversei, pedi para chamar a vizinha que cuida dela, conversei com a vizinha de novo porque ela estava até nesse dia cheirando mal, aí eu falei com a menina e ela me falou que tinha ido viajar e que não deu banho. É esse tipo de coisa. É um caso que fica difícil ser resolvido e também você

não tem como internar porque também internação está dificílimo, antigamente era mais fácil, mas agora está tudo complicado, então eu fui lá

conversei, dei orientações. Depois ela voltou aqui e eu tornei a falar com ela o que eu fiz, o que eu falei lá, mas quer dizer, a “vovó” continua lá na casa dela (ENTREVISTADO I).

Na realização da visita domiciliar deve-se ter clareza de que o profissional está atuando no espaço privado das famílias, colocando em choque os direitos ao acesso ao serviço público e à privacidade. Dessa forma, é de suma importância compreender o cotidiano de vida das classes populares; valorizar e respeitar os costumes, crenças, a cultura dos usuários, para que possam se desvencilhar de posturas autoritárias, conservadoras e controladoras, de modo a possibilitar que os sujeitos reflitam sobre a condição de vida em que se situam.

Assim, ao realizar uma visita domiciliar,

não serão observadas apenas as condições de vida dos sujeitos, mas procurar-se-á apreender o seu modo de vida, expresso no cotidiano da vida familiar, comunitária, no seu trabalho, nas relações que estabelece, no significado que atribui a estas relações, na sua linguagem, representações, com vistas sempre à construção de novas sínteses (PRATES, 2003, p.4).

4.2.3.5 Documentação

O ato de documentar, segundo Pitarello (2000) não é uma atividade burocrática, e o ato de produzir documentos não se reduz ao manuseio técnico-operativo. A autora aborda que quando

produzimos ou desejamos conhecer documentos queremos juntar elementos, evidências, sinais que darão sustentação às idéias ou às ações realizadas, querendo ou precisando comunicar isto a outros interlocutores (PITARELLO, 200, p.3).

Sobre o registro que realizam de seus atendimentos, a maioria dos assistentes sociais afirmou que o fazem no prontuário, um relatou que não tem o hábito de registrar suas ações e um que tem somente o registro de relatórios.

Já registrei muito, mas agora eu estou meio “malandrinha” então as vezes eu só registro no que eu tenho que anotar ali, algum caso que justifica (ENTREVISTADO V).

Alguns assistentes sociais abordaram que além do registro no prontuário geral, possuem formas de registro próprias do Serviço Social.

Geralmente eles são registrados nos prontuários, onde todos os profissionais também registram, de forma que quando você pega o prontuário, ele vai ter uma seqüência dos atendimentos, de todo mundo que atendeu. Ele é registrado também no caderno do Serviço Social, onde são um pouco mais detalhado algumas questões, (ENTREVISTADO VII).

Tem o registro que é realizado no prontuário geral da UBS e registros específicos do Serviço Social. Temos um arquivo na sala desses atendimentos e encaminhamentos realizados. Temos uma folha de produção que vai pro sistema de informação e tem as informações de atendimento que vão pro SIAB. E temos um caderno de atendimentos mais específicos com informações que precisamos guardar para fazermos um acompanhamento melhor posteriormente. Cada equipe tem os projetos que são realizados, tem livro de ata das reuniões (ENTREVISTADO VIII).

Em relação especificamente à documentação dos projetos desenvolvidos pelo Serviço Social, a maioria dos profissionais expôs que não possuem nenhum projeto escrito do Serviço Social e não há documentação de ações específicas.

Não há projeto escrito ou análise da realidade, é o próprio cotidiano. O arquivo sou eu, mas isso é um problema de não ter o hábito de registrar porque quem entrar aqui depois não terá nada, porque sou eu sair levo a história toda comigo. Mas a questão da saúde mental eu tenho procurado escrever (ENTREVISTADO II).

Às vezes peco por não ter tempo de documentar, talvez seja também uma questão de acomodação. Se a gente tivesse sempre documentado tudo o que a gente fez, a gente teria feito vários livros porque a gente consegue captar muita coisa (ENTREVISTADO VI).

As falas traduzem uma problemática que se refere à continuidade do trabalho quando estes assistentes sociais não estiverem nos seus cargos, como também nos remete a uma falta de sistematização das ações que realizam. A documentação do exercício profissional do assistente social é fundamental, uma vez que durante a realização de seu trabalho o

profissional produz um conhecimento sobre a realidade na qual ele está atuando, e é por meio da documentação que há possibilidade de se registrar esses conhecimentos e planejar o trabalho profissional.

Mioto (2007) observa que, pelo fato das ações profissionais estarem calcadas predominantemente no uso da linguagem, serão os registros das ações que irão permitir obter dados e dar visibilidade à intervenção profissional.

Uma minoria dos entrevistados da amostra afirmou que as atividades exercidas pelo Serviço Social têm documentação própria. Relevante assinalar que estes profissionais estão inseridos na RESF.

Todos os projetos, fichas de atendimento, têm tudo documentado. Temos o fluxograma da equipe e temos também uma organização do Serviço Social. Tem tudo escrito: se o Serviço Social está no atendimento ao desnutrido, o que ele está fazendo lá? Aí tem toda descriminação. E isso dá visibilidade também ao trabalho do Serviço Social para os outros profissionais (ENTREVISTADO VII).

Considero assim, que o ato de documentar é instrumento de comunicação e também de memória, por ser elemento essencial para o trabalho do assistente social, uma vez que possibilita subsidiar a organização e a divulgação do trabalho, e conserva a memória da profissão em seus diferentes espaços sócio-ocupacionais.

Ao tratar dos instrumentos utilizados pelo assistente social é possível verificar, respaldado em Merhy (2002), que os assistentes sociais operam seu trabalho por meio de tecnologias leves produzindo ações que tem o compromisso com a tarefa de acolher, responsabilizar, resolver e automatizar a relação com os usuários.

No documento marinamonteirodecastrecastro (páginas 137-141)