Facilidades e dificuldades para o desenvolvimento do trabalho profissional

Com referência às facilidades para a realização do trabalho profissional, os assistentes sociais destacaram questões como: vínculo com os usuários, reconhecimento profissional, a articulação com a equipe, experiência profissional; atrelamento do SUS/PSF com a profissão e o conceito ampliado de saúde.

Eu acho que uma das facilidades é nós termos o SUS e o PSF que tem toda uma filosofia que afina muito com a formação profissional do Serviço Social, muito voltada para a participação da comunidade, e para a saúde enquanto direito. E também pela própria definição de saúde, o conceito ampliado de saúde, que acaba que as condições de vida, as condições de saúde, a qualidade de vida que a pessoa tem vai influenciar diretamente no adoecer ou na saúde mesmo. A outra é como a gente trabalha com a saúde da família, uma das premissas é a questão da relação, do trabalho em equipe, que é o que o Serviço Social também já tem toda uma formação voltada para trabalhar com outros profissionais. E a questão dos vínculos que é muito firme de ser estabelecido pelo Serviço Social, que já tem também esse contato para o ouvir, para escutar, para o outro participar, então isso faz com que o vínculo seja muito facilitado (ENTREVISTADO VII).

A fala exposta traz um posicionamento passível de ser analisado no que se refere à formação profissional do assistente social. Esta tem como eixos, dentre outros, a capacitação teórico-metodológica e ético-política para o exercício de atividades técnico-operativas; a apreensão crítica dos processos sociais numa perspectiva de totalidade; a identificação das demandas presentes na sociedade, objetivando formular respostas profissionais para o enfrentamento da questão social; a presença da interdisciplinaridade; a compreensão da ética como princípio que perpassa toda a formação profissional; e a orientação da população na identificação de recursos para atendimento e defesa de seus direitos (BRASIL, 1999).

Perante o exposto, entendo que as principais facilidades abordadas pelos entrevistados realmente condizem com a formação do Serviço Social que prioriza elementos como o vínculo com os usuários, a articulação com a equipe e a qualidade dos serviços prestados.

Em relação às dificuldades para a realização do trabalho, os profissionais tiveram respostas variadas: seletividade e focalização dos programas e das políticas; incompreensão do papel do Serviço Social; trabalho em equipe; sobrecarga de trabalho devido extensão da

área de cobertura da UBS; imediatismo da demanda; falta de espaço físico, desenvolvimento de duas funções.

Isso que eu já falei de que no Serviço Social há um imediatismo nas coisas. As pessoas chegam aqui naquele negócio do imediato, querendo a resposta na hora, daquele jeito assistencialista que a gente não está querendo fazer. As pessoas vêm no Serviço Social para pedir cesta básica, botijão de gás, falar da briga com o marido e que não tem para onde ir. Lógico que a gente vai tomar as providências, mas vai buscar ir para um outro lado, porque não é para isso que a gente está aqui. Eles procuram tudo aqui na unidade. Se os outros profissionais não resolverem, eles falam “vou procurar a assistente social e ver o que ela pode arrumar para mim” (ENTREVISTADO IV). Uma dificuldade é a incompreensão dos profissionais, e até dos próprios usuários sobre o papel do Serviço Social dentro da equipe de saúde, do PSF, e muitas vezes algumas solicitações que não tem muito a ver com a nossa ação são feitas, tanto por um quanto por outro. Outra, enquanto Serviço Social é a dificuldade da gente ter uma rede que responda aos encaminhamentos, aos problemas sociais que a gente acaba atendendo, então é a dificuldade de estar encaminhando para alguns serviços (ENTREVISTADO VII).

Recursos materiais, sociais, interdisciplinaridade, integração das políticas, integração entre as políticas. Tem usuário que chega pra gente que ta demandando emprego, às vezes eu tenho pra onde encaminhar, mas ele não tem qualificação. Os usuários têm baixa escolaridade (ENTREVISTADO IX).

A questão da seletividade das políticas colocada pelos sujeitos da pesquisa chama atenção, pois o assistente social lida diretamente com a possibilidade de acesso dos usuários aos serviços sociais disponibilizados pelas políticas. Quanto mais estas se encontrarem seletivas e focalizadas (e esta é uma proposta do Estado neoliberal), maiores dificuldades o profissional terá para que os usuários tenham acesso a estes serviços e que os resultados de suas ações sejam visualizados.

Outro problema trazido por este contexto é que os usuários com a dificuldade de acesso às políticas vêem no assistente social a possibilidade de “conseguir alguma ajuda”, o que acaba tornando- os mendicantes institucionais, e isto contribui para a perda da perspectiva do espaço público como lócus de efetivação de direitos (CASTRO, 2008).

Passa por mim mais de 20 usuários por dia, e eu não tenho dificuldades em divulgar o direito. Tenho limitações é pra ele alcançar (ENTREVISTADO IX).

Os programas destinados à APS também são focalizados em grupos específicos. Como suporte a esta afirmação, concordo com Ceccim e Ferla (2006) ao avaliarem que os sistemas municipais de saúde devem assegurar a ampliação e a qualificação da atenção básica através do acesso de todas as faixas etárias e segmentos sociais, e sinalizar para uma organização do serviço que esteja voltada para a inclusão do conjunto da população e não somente em grupos programáticos.

A partir deste estudo realizado com aporte dos especialistas citados e da análise dos depoimentos dos profissionais sujeitos da pesquisa apresento, a seguir, algumas considerações a título de contribuição para a análise da atuação dos assistentes sociais na APS em Juiz de Fora-MG.