Autopoiese e Economia

No sistema econômico, a comunicação se realiza mediante o uso do dinheiro. O acontecimento autopoiético básico, a última comunicação consiste no pagamento. Devido aos pagamentos, o sistema econômico é um sistema fechado e autorreferencial em que ele sempre se utiliza da metáfora da circulação, uma espécie de eufemismo para acontecimentos, na verdade, bastante confusos. Mas com isso temos apenas metade do sentido operacional designado. Os pagamentos sempre exigem também o movimento oposto da transferência de bens ou serviços e outras instituições monetárias. (LUHMANN, 1998)

Neste sentido, o significado operativo se refere, em última análise, ao entorno: coisas, necessidades. Uma economia completamente monetária é um excelente exemplo de sistema fechado e aberto ao mesmo tempo. Para Luhmann (1998, p. 411), é ―la relación condicionada entre estar cerrado y estar abierto lo que provoca el processo de diferenciación del sistema económico‖, pois o acoplamento forçoso de indicadores significativos autorreferenciais e de referência no exterior requer condições estruturais especiais em todas as operações econômicas. Sendo assim, as operações do sistema da economia são os pagamentos: todas as comunicações que possuem alguma relação com dinheiro fazem parte do sistema econômico. O meio de comunicação ―dinheiro‖ é fundamental para que se possa ter a diferenciação de um sistema autônomo de economia. (CORSI; ESPOSITO; BARALDI, 1996, p. 69) A propriedade (capital) na economia se baseia na distinção ter/não ter.

O dinheiro, no sistema econômico, comina com a distinção ter/não ter e a distinção pagar/não pagar; isto porque o código se baseia na diferença entre ter ou não ter determinadas quantidades de dinheiro, pois somente quem tem certa quantia de dinheiro (ou quem não tem) pode pagar, e o pagamento é a transformação de ter em não ter. A utilização do dinheiro, dessa forma, é ao mesmo tempo sua transmissão aos demais e a circulação da propriedade (capital). (CORSI; ESPOSITO; BARALDI, 1996)

Os mesmos autores definem que pagamento requer motivos, que se inicia com a satisfação de determinadas necessidades: as necessidades, por sua vez, se constituem um efeito da heterorreferência do sistema. O código não indica ao sistema econômico o que se

deve pagar e o que não se deve pagar, para isto é necessário programas, que no caso da economia se baseia nos preços.

O motivo para fazer um pagamento não pode ocorrer somente por uma necessidade, tal como os dados do entorno não podem ser tratados no interior do sistema, mas deve considerar o preço. Isto permite avaliar se um pagamento está correto ou não: se paga se o preço é bom. São produzidos, desta maneira, condições dos processos de pagamento com base nos critérios do sistema interno da economia. As condições do entorno podem encontrar expressão na economia apenas na forma de preços e alterações de preço e os problemas surgem como custos. (CORSI; ESPOSITO; BARALDI, 1996)

A autopoiese da economia consiste na reprodução de pagamentos - embora, naturalmente, não existe um sistema econômico que proporcione somente isso. Durante a evolução dos sistemas, os sistemas funcionais reorientam seus modos de critérios em princípios instáveis. A seleção não permite que se justifique a qualidade das seleções no sistema, mas apenas pelos critérios de seleção. A orientação da economia pelo lucro permite uma constante adaptação da produção às condições de mercado. (LUHMANN, 2006) Importante referir que, diferentemente do sistema do direito e da política, que se fundamentam em estabilizar e criar, respectivamente, expectativas normativas, o sistema econômico é fundamento em expectativas cognitivas. (NEVES,2009)

A Economia comunica que é preciso (ou não) ter dinheiro e a produção é um meio pelo qual é possível gerar rendimentos financeiros. Para a produção obter êxito, é preciso (entre outros fatores, como bom investimento e boa administração) que haja necessidade de fabricação de coisas e produtos, muito estimulada pelo consumo. Assim, é possível que o sistema da economia se comunique e cause irritação nos demais subsistemas sociais em níveis de causar alteração nas suas estruturas para haver adaptação das suas comunicações em conformidade às comunicações da Economia.

O consumo pode ter se adequado ao sistema da economia, porém é um fenômeno que ao sistema natural causa muitos efeitos danosos. Diariamente são descartadas toneladas de resíduos sólidos na natureza; o processo produtivo de determinados produtos elimina muita poluição no ambiente além de causar alterações significativas no local que abriga a fábrica ou empreendimento empresarial.

Diante de tantas possibilidades, cada sistema vai interpretar estes eventos de uma maneira e irão fazer sua comunicação. O sistema da Política vai primar pelo contento da maioria (ou minoria), ou seja, vai criar leis de interesse público e privado que favoreçam os interessados ao assunto abordado na norma; o sistema do Direito diante de algum problema

irá decidir se determinado acontecimento é ou não válido e o sistema da Economia vai sempre comunicar o interesse em dinheiro e propriedade.

De modo geral, foram expostos neste capítulo os significados básicos para a compreensão da complexa teoria elaborada pelo alemão Niklas Luhmann, a qual serve como base de estudo para esta pesquisa. A intenção foi revisar alguns conceitos básicos da teoria dos sistemas de maneira a elucidar o que se pretende ao indicar que a política, a economia e o direito sejam compreendidos como sistemas autopoiéticos capazes de construir sentido por intermédio da comunicação.

As hidrelétricas permitem que se produzam muitas benesses à sociedade ao colaborar com a geração da energia utilizada em atividades comuns do dia de uma pessoa - como carregar a bateria do celular, ligar o secador de cabelo, acender a luz do quarto ou assistir um filme – porém, para que se tenha energia nas residências – apenas como ilustração, já que as indústrias são as maiores consumidoras de energia -, muitas consequências destrutivas ao meio ambiente natural e à população da beira dos rios são constatadas com a formação dos lagos das barragens. Diante desta problemática, os sistemas sociais autopoiéticos podem observar as comunicações que cada subsistema é capaz de comunicar diante das questões que emergem deste fato, pelo que o sistema do Direito, por meio de seu código e de seus programas, concebe uma comunicação a respeito da necessidade de construção de hidrelétricas; a Política traduz em informação aquilo que é referente as suas estruturas e a Economia, igualmente, traduz aquilo que as hidrelétricas revelam à sociedade.

3 COMUNICAÇÕES POLÍTICAS E JURÍDICAS SOBRE A INSTALAÇÃO DE