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Subitem III.1 da denúncia – 3ª imputação: peculato Denúncia:

prendido 62 doleiros; Que, dessa forma, José Dirceu alegou que seria impossível internar recursos no país para saldar o acordo; Que também o Ministro Valfrido Mares Guia interveio

VI. 4 – Partido do Movimento Democrático Brasileiro – Deputado José Borba

4.3.2. Co-autoria parcial ou funcional

Há divisão de tarefas executórias do delito. Trata-se do chamado “domínio funcio-

nal do fato”, assim denominado porque alude à repartição de atividades (funções) entre os sujeitos. Os atos executórios do iter criminis são distribuídos entre os diversos autores, de

modo a que cada um é responsável por uma parte do fato, desde a execução até o momento consumativo. As colaborações são diferentes, constituindo partes e dados de união da ação co- letiva, de forma que a ausência de uma faria frustrar o delito. é por isso que cada um mantém o domínio funcional do fato.

(In Teoria do domínio do fato no concurso de pessoas. 2. ed. rev. São Pau- lo: Saraiva, 2001. p. 22-23.)

33 De acordo com a Teoria Final da Ação.

34 Código Penal Comentado. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 119/120.

35 In casu, como é claro, não há hipótese de autoria mediata, que é aquela em que o agente imediato

é mero instrumento da vontade de outrem, o denominado “homem de trás”. As hipóteses mais citadas de autoria mediata decorrem de erro, coação irresistível e inimputabilidade do agente imediato. No caso em questão, todos os acusados tinham, em tese, plena consciência de seus atos e, portanto, poder de decisão sobre a sua realização.

Portanto, o que deve ser exposto na denúncia, em atendimento ao que determina o art. 41 do Código de Processo Penal, é de que forma cada um dos denunciados teria contribuído para a suposta consumação do delito, ou seja, qual

papel cada um teria desempenhado na execução do crime.

Apenas para introduzir o tema, transcrevo trecho do depoimento do acusado Romeu Queiroz (suposta prática do crime de corrupção passiva), justamente porque revela o modus operandi que aparentemente era adotado na prática dos crimes narrados na inicial (fl. 2127, vol. 10):

Que, em agosto de 2004, recebeu um contato telefônico do Sr. Cristiano Paz, sócio de Marcos Valério na SMP&B Publicidade; Que Cristiano Paz era o presidente da empresa; Que, neste contato, Cristiano Paz disse ao declarante que a empresa Usiminas tinha disponi- bilizado R$ 150.000,00 (cento e cinqüenta mil reais) de doação para diversas campanhas eleitorais municipais de interesse do PTB; (...) Que dos R$ 150.000,00 doados pela Usimi-

nas, foram descontados pela SMP&B a importância de R$ 47.187,24 (quarenta e sete mil cento e oitenta e sete reais e vinte e quatro centavos), a título de impostos e taxas (...)

Ou seja, enquanto o denominado “núcleo político partidário” teria interesse na compra do apoio político que daria condições para que o grupo majoritário nas eleições se perpetuasse no poder, os denunciados do dito “núcleo publicitário” se beneficiariam de um percentual do numerário que seria entregue aos beneficiários finais do suposto esquema de repasses.

Passo, pois, a analisar se a inicial acusatória atende, suficientemente, aos requisitos do art. 41 do Código de Processo Penal quanto à imputação do crime de corrupção ativa aos denunciados José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoíno, Sílvio Pereira, Marcos Valério, Ramon Hollerbach, Cristiano Paz, Rogério Tolentino, Simone Vasconcelos e Geiza Dias (alínea “a” do item VI.1), de modo a possibilitar, assim, a plenitude de defesa.

Analisarei, também, neste item, se está presente a justa causa para a proposi- tura da ação penal por corrupção ativa, contra os denunciados antes mencionados.

José Dirceu

Já no item II da denúncia, o Procurador-Geral da República aponta José Dirceu como a pessoa que autorizava os denunciados José Genoíno, Delúbio

Soares e Sílvio Pereira a selarem os acordos nas reuniões com os líderes dos partidos, in verbis (fl. 5632):

Roberto Jefferson, com o conhecimento de quem vendia apoio político à organização delitiva ora denunciada, em todos os depoimentos prestados, apontou José Dirceu como o criador do esquema do “mensalão”.

Segundo ele, José Dirceu reunia-se com o principal operador do esquema, Marcos Va- lério, para tratar dos repasses de dinheiro e acordos políticos ou, quando não se encontrava presente, era previamente consultado por José Genoíno, Delúbio Soares ou Sílvio Pereira sobre as deliberações estabelecidas nesses encontros.

Vale ressaltar que, conforme consta do depoimento de Sandra Rodrigues

Cabral, assessora especial do denunciado José Dirceu à época dos fatos, era

comum que os líderes partidários freqüentassem a Casa Civil, para resolução de assuntos políticos, como a indicação de pessoas para a ocupação de cargos públicos:

(...) Que não conhece Jacinto de Souza Lamas; Que João Cláudio de Carvalho Genú já esteve no gabinete da declarante na Casa Civil por duas ou três vezes, sempre acompanhado do Deputado Federal José Janene; Que não conhece Emerson Palmieri, tesoureiro informal do PTB; Que não se recorda quantas vezes José Janene esteve no gabinete da declarante;

Que era comum líderes e presidentes de partidos políticos se dirigirem à Casa Civil, sem prévio agendamento, para discutir nomeações de pessoas indicadas conforme discussão anterior nos respectivos ministérios ou órgãos; (...)

No mesmo sentido, as declarações de Marcelo Sereno (fls. 4233/4234), ex- chefe de gabinete do então Ministro José Dirceu, no período entre 23 de novembro de 2002 a 13 de maio de 2004:

Que sua principal função como chefe de gabinete era de cuidar da agenda de compro- missos do Ministro José Dirceu; Que o Ministro, além de cuidar dos assuntos referentes a sua pasta, tinha também a responsabilidade de coordenação política do Governo do Presidente Lula;

Entretanto, a acusação feita pelo Procurador-Geral da República tem base, entre outros indícios, em depoimento de Roberto Jefferson, indicado na nota

de rodapé 18 da inicial acusatória, no qual o referido acusado asseverou, com

veemência (fls. 4219/4227):

Que José Genoíno não possuía autonomia para “bater o martelo” nos acordos, que

deveriam ser ratificados na Casa Civil pelo Ministro José Dirceu.

Roberto Jefferson Monteiro Francisco, em depoimento prestado à Polícia Federal, às fls. 4219-4227, forneceu detalhes dessa função supostamente desem- penhada pelo denunciado José Dirceu, em relação ao PTB:

(...) que realmente representou o PTB em tratativas junto à Direção Nacional do PT em abril e maio de 2004, relativas às campanhas municipais daquele ano; Que, nessas tratativas,

participaram pelo PTB o declarante, como presidente da legenda, o líder da bancada na Câmara dos Deputados José Múcio Monteiro, e o primeiro secretário nacional do PTB, Dr. Emerson Palmieri; Que, pelo PT, participaram José Genoíno, o Tesoureiro Nacional Delúbio Soares, o secretário Marcelo Sereno, e o então Ministro José Dirceu, que homo- logava todos os acordos daquele partido; Que José Genoíno não possuía autonomia para “bater o martelo” nos acordos, que deveriam ser ratificados na Casa Civil pelo Ministro José Dirceu; (...)

Importante destacar, ainda, trecho do depoimento do denunciado Roberto Jefferson no Conselho de ética e Decoro Parlamentar, que é citado em nota de rodapé na denúncia, à fl. 5617 dos autos do presente inquérito:

Conselho de ética e Decoro Parlamentar – 02 de agosto de 2005

Depoente/Convidado: José Dirceu – Deputado Federal

Sumário: Tomada de depoimento

O Sr. Deputado Roberto Jefferson – Sr. Presidente, Sr. Relator, Srs. Deputados, Sras. Deputadas, povo do Brasil, cidadão do Brasil, cidadã do Brasil, depois de ouvir o ex-Ministro

José Dirceu, o Deputado José Dirceu, eu cheguei à conclusão de que foi ele quem treinou o Silvinho Pereira, o Delúbio e o Marcos Valério a mentirem. Não tem mensalão no Brasil. É conversa da imprensa. Todos os jornais mentem. Todas as revistas mentem. Todo o povo brasileiro prejulga o Ministro José Dirceu, esse inocente e humilde que aqui está, porque não tem mensalão. Todos os gestos do Delúbio não são do conhecimento dele. Todos os gestos do Sílvio Pereira não são do conhecimento dele. Todas as atitudes do Marcos Valério, que foi 12 vezes à Casa Civil – 12, não foram 7 não, Relator, 12 –, ele não viu lá o Marcos Valério, aliás, uma figura que passa despercebida, (...). E aí eu quero

separar o joio do trigo; não vou acusar o PT, mas a cúpula do PT, gente dele – Genoíno, Sílvio Pereira, Delúbio –, gente dele, que ele fez questão de defender ate o último momento,

quando conversou comigo. “Eu quero proteger o Silvinho e o Delúbio, que estão sendo envol- vidos nisso”. (...) Esquece de se referir a saques milionários do Marcos Valério feitos um

dia antes de ir ao seu gabinete na Casa Civil. O jornal O Globo hoje fez a ligação das datas.

Mas o Deputado José Dirceu não sabia de nada disso que acontecia no Brasil. (...), eu ratifico, eu reitero, eu reafirmo, Sr. Relator. José Genoíno era o vice-presidente do PT. O Presidente

de fato era o José Dirceu. Tudo que nós tratávamos no prédio da Varig, Sr. Relator, tudo que

tratamos ali, na sede nacional do PT, tinha que ser fechado e homologado depois, na Casa

Civil, pelo Ministro José Dirceu. Tudo. (...). Aliás, V. Exa. que construiu, é o arquiteto desse

modelo administrativo do Governo, eu não consigo compreender como é que V. Exa. fez na

Secom esse modelo de juntar lá com o ex-Ministro Gushiken as agências de publicidade e os fundos de pensão. Eu não sei que engenharia V. Exa. conseguiu urdir para botar juntos

na Secom, na Comunicação Social do Governo, as agências de marketing, aliás, que foram

bem aquinhoadas aqui no caixa 2 – 15 milhões e meio para o Duda Mendonça no caixa 2, está aqui na mesma relação à qual se refere V. Exa., e consegue juntar os fundos de pensão na Secom para a administração do Ministro Gushiken. Ele fazia o marketing, a propaganda

do Governo e fazia os fundos de pensão.

Quanto ao Partido Progressista, é elucidativo o depoimento prestado pelo Deputado Federal Vadão Gomes, que demonstra a existência de um acordo de “cooperação financeira” firmado entre o PP e o PT (fl. 1719), acordo este nos mesmos moldes do firmado com os demais partidos referidos na denúncia, e no qual teriam ingerência também os denunciados José Genoíno e Delúbio Soares:

Que nunca chegou a tratar nenhum tipo de assunto com Delúbio Soares, esclarecendo que presenciou uma conversa havida em Brasília entre o tesoureiro do Partido dos Traba-

lhadores e o presidente do mesmo partido, José Genoíno, com os Deputados Pedro Henry e Pedro Corrêa, ambos do Partido Progressista; Que, nessa conversa, os políticos dos dois

partidos tentavam acertar detalhes de uma possível aliança em âmbito nacional; Que, no

decorrer do referido diálogo, escutou que os interlocutores mencionaram a necessidade de apoio financeiro do Partido dos Trabalhadores para o Partido Progressista em algumas

regiões do país.

De acordo com a denúncia (v. itens VI.2, VI.3 e VI.4), além do PTB, acordos semelhantes foram celebrados pelo PT com o PL, com o PTB e com o Deputado José Borba, do PMDB.

Com efeito, os elementos coligidos na fase investigatória estão a indicar que o modus operandi do repasse de recursos avençado entre PT e PP, PL e PTB não prescindia da ciência e do aval do denunciado José Dirceu.

Há indícios no sentido de que as grandes decisões políticas do Partido dos Trabalhadores eram todas avalizadas pelo denunciado José Dirceu, inclusive no que concerne a acordos político-financeiros com outros partidos.

é bem verdade que, perante a autoridade policial, José Dirceu negou ter rela- cionamento político, empresarial ou de amizade com Marcos Valério, in verbis (fls. 3552-3556):

Que conheceu Marcos Valério em uma atividade social, da qual não se recorda;

Que não se lembra o local onde ocorreu tal atividade, nem tampouco quem eram os demais participantes; Que Marcos Valério lhe foi apresentado como sendo um publicitário; Que não possui nenhum relacionamento com Marcos Valério Fernandes de Sousa, quer seja

três ou quatro vezes na Casa Civil da Presidência da República; Que, em todos esses

encontros, Marcos Valério estava acompanhando representantes das empresas Usiminas,

Banco Rural e Banco de Investimento Espírito Santo; (...) Que, nesta época, era de seu conhecimento que Marcos Valério possuía relacionamento com Delúbio Soares; Que

Delúbio Soares nunca fez qualquer comentário especial a respeito de Marcos Valério, dando a entender que eram apenas amigos; Que sabia de tal relacionamento tendo em vista que,

no primeiro encontro com Marcos Valério, o tesoureiro do PT Delúbio Soares estava presente; Que Delúbio Soares nunca fez qualquer comentário com o Declarante sobre as

relações financeiras que mantinha com Marcos Valério; Que, entretanto, desconhecia qual era a natureza ou o grau de relacionamento que Delúbio Soares mantinha com Marcos Valério;

Que não sabia que Delúbio Soares estava realizando tratativas financeiras com Marcos

Valério; Que não era do seu conhecimento que Marcos Valério estava auxiliando o Partido

dos Trabalhadores na obtenção de empréstimos bancários; (...) Que ficou sabendo da atuação de Marcos Valério na operacionalização dos empréstimos ao Partido dos Trabalhadores somente quando tais fatos vieram a público; (...) Que desconhece quem eram as pessoas que tinham conhecimento das relações financeiras mantidas entre o Partido dos Trabalhadores e

Marcos Valério; Que também não sabe dizer quais pessoas tinham conhecimento da utilização das empresas vinculadas a Marcos Valério para movimentar recursos do Partido dos Trabalhadores;

Que não sabe dizer por quais motivos o Partido dos Trabalhadores recebeu recursos

transferidos de empresas vinculadas a Marcos Valério; Que não tinha conhecimento de que Delúbio Soares utilizava empresas vinculadas a Marcos Valério para transferir recursos a diretórios do Partido dos Trabalhadores e para partidos aliados; Que também

nunca soube que o Partido dos Trabalhadores utilizava a corretora Bônus Banval para trans- ferir recursos sob orientação de Delúbio Soares; (...) Que não sabia dos acordos firmados

entre o Partido dos Trabalhadores e o Partido Liberal nos anos de 2003 e 2004 que resul- taram na transferência de recursos por meio de empresas vinculadas a Marcos Valério;

Que somente com a divulgação dos fatos ficou sabendo que Delúbio Soares transferiu

recursos para o Partido Liberal através de empresas de Marcos Valério; Que desco-

nhecia totalmente a sistemática utilizada por Delúbio Soares para transferir recursos para partidos aliados e diretórios regionais do PT; (...) Que nunca participou de qualquer acordo

com o PTB que envolvesse a transferência de recursos a este partido; Que também não participou de nenhum acordo financeiro com o Partido Progressista; Que, apesar de não

ter participado das discussões, sabia da existência de um acordo eleitoral entre o PT, PP

e PTB para a campanha eleitoral de 2004; Que desconhece qualquer acordo de cooperação

financeira firmado entre o Partido dos Trabalhadores e o Partido Progressista; Que não sabe dizer quais membros da diretoria executiva do Partido dos Trabalhadores ou do Governo Federal sabiam da transferência de recursos para o PP, PL e PTB; Que também nunca soube da transferência de recursos do Partido dos Trabalhadores para qualquer membro do PMDB;

Que, como membro do Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores, tinha conhecimento das alianças eleitorais formadas em 2004, apesar de não participar diretamente da execução dos acordos, uma vez que não era mais membro da Executiva Nacional; Que, na Casa Civil da Presidência da República, tinha como atribuições principais a coordenação do governo, sala de investimento, sala de infra-estrutura, coordenação de Câmaras e Conselhos, dentre outras atividades vinculadas à Presidência da República; (...) Que desconhece qualquer influência ou poder no Governo Federal desfrutados por Marcos Valério em decorrência das relações que mantinha com membros da Diretoria Executiva do Partido dos Trabalhadores; Que as audiências que mantinha com Delúbio Soares tinham por objeto discussões sobre a situação política do país, do Governo e do Partido dos Trabalhadores, bem como suas relações com o Governo e demais partidos; Que tomou conhecimento da suposta existência do denominado “Mensalão” quando das primeiras notícias publicadas pelo Jornal do Brasil; Que todas as providência para a apuração de tais denúncias foram tomadas pelo presidente da Câmara dos Deputados; Que nunca foi alertado pelo ex-Deputado Federal Roberto Jefferson a respeito da existência do suposto “Mensalão”; Que acredita que Roberto Jefferson fez tais declarações em decorrência das denúncias de investigações que foram iniciadas em seu desfavor. (...)

Apesar das negativas categóricas do denunciado José Dirceu, há nos autos

indícios da concessão de favores pelo denunciado Marcos Valério à sua ex- esposa, notadamente em relação à compra de um imóvel, conforme se extrai do

seguinte trecho do depoimento de Marcos Valério (fls. 727-735):

(...) Que, indagado sobre o empréstimo à ex-esposa do ex-Ministro José Dirceu, chamada Ângela, o depoente confirmou que efetivamente houve o empréstimo do Banco

Rural e a colocação com emprego no Banco BMG; Que, o declarante foi procurado por Sílvio Pereira para auxiliar o ex Ministro José Dirceu na resolução de um problema pessoal

com sua ex-esposa, que pretendia trocar de apartamento e não tinha recursos financeiros; Que, desta forma, foi conseguido o empréstimo e o emprego, e, também, o sócio do decla-

rante, Rogério Tolentino, para resolver o problema, já que o crédito imobiliário dependia do

pagamento de recursos em dinheiro, comprou o apartamento da Sra. Ângela, pagou a vista

e declarou a aquisição no seu imposto de renda; (...)

Entendo, Senhora Presidente, que o favor prestado por Marcos Valério e

Rogério Tolentino à ex-esposa do denunciado José Dirceu constitui indício da existência de relação entre esses três denunciados.

A esse respeito, é interessante o teor do depoimento prestado pelo Sr. Ricardo Guimarães, presidente do Banco BMG, perante a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito dos Correios, depoimento este cuja transcrição foi juntada como anexo da denúncia e se encontra no apenso 81 dos presentes autos:

O Sr. Presidente (Gustavo Fruet. PSDB-PR) – A primeira pergunta – e eu queria per- guntar desta coincidência: no dia 20 de fevereiro de 2003, houve uma reunião da diretoria

do BMG com o Ministro-Chefe da Casa Civil, José Dirceu.

O Sr. Ricardo Guimarães – Sim.

O Sr. Presidente (Gustavo Fruet. PSDB-PR) – Qual foi o objeto dessa reunião?

O Sr. Ricardo Guimarães – O objeto foi uma inauguração que nós... de uma empresa alimentícia de produtos enlatados que a minha família tem na cidade de Luziânia. A gente

ia fazer uma inauguração, e foi a oportunidade para convidar o Ministro José Dirceu para estar presente.

O Sr. Presidente (Gustavo Fruet. PSDB-PR) – E o Marcos Valério e o Delúbio acom- panharam essa audiência?

O Sr. Ricardo Guimarães – Sim. Os dois.

O Sr. Presidente (Gustavo Fruet. PSDB-PR) – Os dois. E comentaram sobre esse

empréstimo? Há coincidência de um empréstimo ter sido três dias antes, e o outro, quatro dias depois?

O Sr. Ricardo Guimarães – Não.

O Sr. Presidente (Gustavo Fruet. PSDB-PR) – E quem marcou a audiência na Casa

Civil?

O Sr. Ricardo Guimarães – Marcos Valério.

O Sr. Presidente (Gustavo Fruet. PSDB-PR) – Também nessa linha, só para fechar essas relações: o Senhor conhece a Srª Maria Ângela Saragoza?

O Sr. Ricardo Guimarães – Sim.

O Sr. Presidente (Gustavo Fruet. PSDB-PR) – Ela foi esposa do ex-Ministro José Dirceu. Ela trabalha no BMG.

O Sr. Ricardo Guimarães – Sim.

O Sr. Presidente (Gustavo Fruet. PSDB-PR) – Em qual função ela trabalha?

O Sr. Ricardo Guimarães – Ela é psicóloga na cidade de São Paulo. Ela atende os funcionários do BMG de São Paulo e também os nossos correspondentes e agentes bancários.

O Sr. Presidente (Gustavo Fruet. PSDB-PR) – Ela foi contratada quando?

O Sr. Presidente (Gustavo Fruet. PSDB-PR) – Como é que ela foi apresentada? Quem solicitou a contratação da Srª Maria Ângela?

O Sr. Ricardo Guimarães – Quem pediu foi o Sr. Marcos Valério.

O Sr. Presidente (Gustavo Fruet. PSDB-PR) – Ele pediu quando? O senhor se lembra? Foi nesse período também?

O Sr. Ricardo Guimarães – Foi próximo...

O Sr. Presidente (Gustavo Fruet. PSDB-PR) – Foi próximo, foi próximo dessa época de novembro de 2003.

O episódio relatado no trecho acima também foi mencionado pelo denunciado Marcos Valério, no depoimento prestado perante o Procurador-Geral da República, à fl. 268 do Inq 2.245:

(...) O declarante freqüentava a sede do PT tanto em São Paulo como em Brasília, não tendo nunca conversado com o ex-presidente do PT, José Genoíno, sobre os empréstimos, mas

o ex-Secretário-Geral Sílvio Pereira tinha conhecimento dos empréstimos que estavam no nome das empresas do declarante e também que Sílvio havia dito ao declarante que o então Ministro José Dirceu tinha conhecimento dos empréstimos. Jamais tratou desses

empréstimos em dependências da Administração Pública Federal. Esclarece que esteve