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Em razão dessas informações, faz-se necessário o afastamento do sigilo bancário

Capítulo VIII da denúncia Evasão de divisas Execução das remessas pelo chamado “núcleo publicitário-financeiro” Ausência de

53. Em razão dessas informações, faz-se necessário o afastamento do sigilo bancário

das contas do publicitário “Duda Mendonça” e empresas, no Brasil, incluindo as contas “CC-5”, devidamente indicadas nos itens “1” e “2” acima.

54. Quando às demais contas mantidas no exterior, após o afastamento pelo Supremo Tribunal Federal do sigilo acima requerido, diligenciarei o acesso às mesmas junto aos órgãos

internacionais competentes, com base nos Acordos e demais normas que disciplinam a matéria.

O afastamento de sigilo assim solicitado foi acatado na decisão de fl. 12482, demonstrando a lisura de todo o procedimento e o seu pleno conhecimento pela autoridade judicial competente, STF.

Como afirmou a própria defesa e conforme documento salientado no próprio Laudo 2293/05 do INC, o sigilo das contas em questão foi afastado pela autori-

dade norte-americana competente, que autorizou, no bojo do presente inquéri- to, seu uso pelo Procurador-Geral da República e pela Polícia Federal.

Eis o que consta dos ofícios que remeteram referidos documentos bancários (fls. 3796 e 3822, vol. 17):

Em referência aos pedidos acima referidos do Governo do Brasil, formulados conforme o Tratado entre os Estados Unidos e o Brasil sobre Assistência Jurídica Mútua em Matéria Criminal, assinado em 14 de outubro de 1997, encaminhamos anexadas a esta carta oito caixas contendo cópias de registros bancários encaminhados ao nosso escritório pelo Escritório do Procurador Distrital do Condado de Nova Iorque. O Escritório do Procurador Distrital do Condado de Nova Iorque obteve ordens judiciais para abrir os documentos apenas para os

Procuradores Federais brasileiros e para a Polícia Federal brasileira (...). Portanto, neste momento não compartilhe as provas anexadas com quaisquer outras entidades ou autoridades

no Brasil, inclusive a Comissão Parlamentar de Inquérito, que solicitou o compartilhamento dos documentos pelo pedido de 24 de outubro de 2005 (Ofício nº 4766/2005ISNJ-MJ).

Desse modo, não há que falar em nulidade a propósito da perícia feita pelo INC nos documentos bancários provenientes do exterior, tendo em vista a permissão para abrir os documentos tanto para os procuradores da República

quanto para a Polícia Federal, sendo que o Instituto Nacional de Criminalística

é, como sabido, órgão do Departamento de Polícia Federal.

Portanto, como visto, todas as provas existentes nos autos foram legal- mente colhidas no curso do presente inquérito.

Individualmente, o acusado Luiz Gushiken alegou ter havido cerceamento de defesa, porque teriam sido juntados documentos após a apresentação de sua impugnação. Requereu, assim, abertura de prazo para complementar a defesa “após serem carreados para os autos todos os elementos anteriormente requisitados à Polícia Federal pelo Ministério Público, bem como descritos em auto próprio os conteúdos dos CDs que acompanharam os ditos apensos” (fl. 14).

Ocorre que a denúncia foi oferecida com base, tão-somente, nos documentos até então existentes, não servindo, para a decisão que se proferirá nesta sessão, documentos eventualmente juntados pelo Parquet após o oferecimento da inicial. 2 Posteriormente, o Pleno deu provimento a agravo regimental no qual se impugnava apenas a parte da decisão deste Relator que decretara a quebra do sigilo bancário das contas CC-5.

Até porque tais documentos não podem ter influenciado no convencimento do órgão ministerial ao apresentar a denúncia. Como destacou o Procurador-Geral da República à fl. 10173, “os demais documentos servirão para instruir a ação penal, momento no qual o denunciado terá pleno acesso aos respectivos conteúdos”.

Relativamente aos conteúdos dos CDs, que a defesa requer sejam “descritos em auto próprio”, esclareço apenas que há, nos autos, precisa indicação dos CDs, estando disponíveis às defesas para consulta.

Por fim, quanto à alegação do acusado José Dirceu, no sentido de que se pretende fazer um julgamento político de seus atos, não há qualquer base para tal afirmação. Como veremos nos capítulos seguintes, são-lhe imputados fatos em tese típicos e antijurídicos, com base em indícios que analisaremos para saber se são suficientes ou não para dar início à ação penal. Não há qualquer alusão

a atos ou posicionamentos político-ideológicos do acusado, mesmo porque o

Poder Judiciário não tem legitimidade democrática para julgá-los.

Rejeito, assim, todas as questões preliminares.

Da imputação de desvio de recursos públicos – Capítulo III da denúncia

Os fatos criminosos narrados no item III da denúncia (fls. 5649-5686) refe- rem-se a supostas ilicitudes cometidas no âmbito de contratos celebrados entre órgãos da administração pública e empresas vinculadas ao grupo de Marcos Valério, nomeadamente a DNA Propaganda Ltda. e a SMP&B Comunicações Ltda.

Esta parte da denúncia encontra-se subdividida em quatro subitens, conforme o órgão que contratou os serviços das referidas empresas.

No subitem III.1, o Procurador-Geral da República aborda as supostas ile- galidades perpetradas durante licitação para contratação de serviços publicitários pela Câmara dos Deputados (Concorrência 11/03), durante o período no qual o denunciado João Paulo Cunha ocupava a Presidência da Casa, bem como aquelas supostamente cometidas ao longo da execução do contrato administrativo corres- pondente (2003/204.0), celebrado com a SMP&B Comunicações Ltda.

As imputações constantes desse subitem são as seguintes: (i) corrupção ativa e passiva (fl. 5668):

a) João Paulo Cunha, em concurso material, está incurso nas penas do: a.1) artigo 317 do Código Penal Pátrio (recebimento de cinqüenta mil reais).

(Fl. 5667.)

(...)

b) Marcos Valério, Ramon Hollerbach, Cristiano Paz e Rogério Tolentino, em concurso material, estão incursos nas penas do:

b.1) art. 333 do Código Penal Pátrio (pagamento de cinqüenta mil reais).

(Fl. 5668.)

(ii) lavagem de dinheiro (fl. 5667):

a) João Paulo Cunha, em concurso material, está incurso nas penas do: (...)

a.2) artigo 1º, incisos V, VI e VII, da Lei nº 9.613/1998 (utilização da Sra. Márcia Regina para receber cinqüenta mil reais)

(iii) peculato (fls. 5667-5668):

a) João Paulo Cunha, em concurso material, está incurso nas penas do: (...)

a.3) 02 (duas) vezes no artigo 312 do Código Penal (desvio de R$ 252.000,00 em pro- veito próprio e R$ 536.440,55 em proveito alheio);

(...)

b) Marcos Valério, Ramon Hollerbach, Cristiano Paz e Rogério Tolentino, em concurso material, estão incursos nas penas do: (...)

b.2) art. 312 do Código Penal Pátrio (desvio de R$ 536.440,55).

No subitem III.2 o Procurador-Geral da República aponta supostas ilicitudes em contratos de publicidade do Banco do Brasil com a empresa DNA Propaganda Ltda. (Contratos 99/1131 e 1/03).

O seguinte trecho da denúncia sintetiza bem o teor do subitem III.2:

Em relação à empresa DNA Propaganda Ltda., os Analistas do TCU apuraram que desde a sua primeira contratação, ocorrida em 22/03/2000, a empresa, por seus dirigentes, vem se beneficiando, com a total conivência dos responsáveis pela contratação, o Gerente Executivo de Propaganda e Diretor de Marketing do Banco do Brasil, de valores concernentes a descontos e bonificações que, contratualmente, pertencem ao próprio banco e que são indevidamente desviados em benefício da agência de publicidade.

(Fls. 5668/5669.)

Após a pormenorização das circunstâncias em que teriam ocorrido as supos- tas ilicitudes, foram feitas as seguintes imputações no subitem III.2 da denúncia:

Assim procedendo de modo livre e consciente, na forma do art. 29 do Código Penal: a) Henrique Pizzolato está incurso nas penas do artigo 312 do Código Penal (desvio de R$ 2.823.686,15 em proveito alheio); e

b) Marcos Valério, Ramon Hollerbach, Cristiano Paz e Rogério Tolentino estão incursos nas penas do artigo 312 do Código Penal (desvio de R$ 2.923.686,15).

Quanto ao subitem III.3 da denúncia, este trata das transferências, suposta- mente ilícitas, de recursos do Banco do Brasil para a empresa DNA Propaganda Ltda., por meio da Companhia Brasileira de Meios de Pagamento (Visanet).

O seguinte trecho sintetiza a narrativa do subitem III.3:

O ex-Ministro da Secretaria de Comunicação e Gestão Estratégica da Presidência da República, Luiz Gushiken, e o ex-Diretor de Marketing e Comunicação do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato, em atuação orquestrada, desviaram, no período de 2003 e 2004, em bene- fício do grupo liderado por Marcos Valério (Cristiano Paz, Ramon Hollerbach e Rogério Tolentino) e do Partido dos Trabalhadores (José Dirceu, José Genoíno, Sílvio Pereira e Delúbio Soares), vultosas quantias do Fundo de Investimento Visanet, constituído com recursos do Banco do Brasil S/A.

Ao final do subitem III.3, são feitas as seguintes imputações:

Assim procedendo de modo livre e consciente, na forma do art. 29 do Código Penal: a) Henrique Pizzolato, em concurso material, está incurso nas reprimendas do: a.1) artigo 317 do Código Penal Pátrio (recebimento de R$ 326.660,27);

a.2) artigo 1º, incisos V, VI e VII, da Lei n.º 9.613/1998 (utilização do Sr. Luiz Eduardo Ferreira para receber R$ 326.660,27); e

a.3) 4 (quatro) vezes no artigo 312 do Código Penal (19.05.2003 – R$ 23.300.000,00; 28.11.2003 – R$ 6.454.331,43; 12.03.2004 – R$ 35.000.000,00; e 01.06.2004 – R$ 9.097.024,75);

b) Luiz Gushiken, em concurso material, está incurso 4 (quatro) vezes nas repri- mendas do artigo 312 do Código Penal (19.05.2003 – R$ 23.300.000,00; 28.11.2003 – R$ 6.454.331,43; 12.03.2004 – R$ 35.000.000,00; e 01.06.2004 – R$ 9.097.024,75);

c) Marcos Valério, Ramon Hollerbach, Cristiano Paz e Rogério Tolentino, em concurso material, estão incursos nas reprimendas do:

c. l) artigo 333 do Código Penal Pátrio (pagamento de R$ 326.660,27); e

c.2) 4 (quatro) vezes no artigo 312 do Código Penal (19.05.2003 – R$ 23.300.000,00; 28.11.2003 – R$ 6.454.331,43; 12.03.2004 – R$ 35.000.000,00; e 01.06.2004 – R$ 9.097.024,75); e

d) José Dirceu, José Genoíno, Sílvio Pereira e Delúbio Soares, em concurso material, estão incursos 4 (quatro) vezes nas reprimendas do artigo 312 do Código Penal (19.05.2003 – R$ 23.300.000,00; 28.11.2003 – R$ 6.454.331,43; 12.03.2004 – R$ 35.000.000,00; e 01.06.2004 – R$ 9.097.024,75).

Quanto ao item III.4, este não traz qualquer imputação e é unicamente ilustrativo das atividades da suposta organização criminosa, apontando supostas irregularidades em diversos contratos das empresas do grupo liderado por Marcos Valério com a administração pública federal.

Consta da denúncia que as supostas ilicitudes descritas no subitem III.4 serão tratadas nos respectivos procedimentos cíveis e/ou investigações criminais, não sendo objeto, portanto, de apreciação por esta Corte.

Passo agora a analisar cada um dos subitens do item III da denúncia, para o fim de que seja admitida ou não a abertura de ação penal para apuração das imputações constantes desta parte da denúncia.