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Neste capítulo, objetiva-se situar a pesquisa desenvolvida, apontando as orientações metodológicas, a caracterização dos sujeitos e os processos de coleta e de análise de dados. Destaca-se, de modo especial, a força da avaliação na vida profissional dos professores e na constituição de suas experiências, uma vez que eles estão expostos à avaliação como elementos constitutivos das tarefas de seu ofício.

Na realidade, a avaliação está presente em todos os espaços da vida humana. É uma prática cotidiana de julgamento e de classificação, legitimada pela sociedade em diferentes campos da vida social. Portanto está na ordem social que, segundo Berger e Luckmann (1985, p.75), “existe unicamente como produto da atividade humana”. Dessa perspectiva, a avaliação é uma atividade eminentemente social. Durante toda a trajetória escolar, os professores convivem com a avaliação. Na condição de alunos, as avaliações a que foram submetidos tiveram como função básica a promoção ou retenção e a classificação. Como docentes, realizam avaliação de desempenho de seus alunos e são, também, avaliados, tanto no nível da instituição quanto no nível do sistema, participando, direta ou indiretamente, da avaliação de cursos e de instituição.

Há tempos tem-se discutido sobre a necessidade de a avaliação na escola se transformar em um processo de diagnóstico, reflexão e emancipação com foco na ação formativa, que se torne inclusiva, em vez de excludente; acolhedora, em vez de segregadora. Mas a memória educativa da maioria dos professores os remete a uma escola que utilizou, e ainda utiliza instrumentos de medida que serviram, e ainda servem, para o exercício da classificação, seleção e punição em nome da avaliação escolar.

A idéia de medida está impregnada na escola e nos professores de tal forma que são muitos os dilemas vividos no cotidiano escolar pela força presente na função de verificadora de desempenho que a avaliação praticada nas instituições escolares carrega. Como prática social, a avaliação está contaminada pelos valores que predominam, não somente no espaço específico da escola, mas também pelas intenções e determinações do contexto mais amplo no qual ela está inserida. Dessa forma, por se tratar de um fenômeno social, a “avaliação tem a ver com ações, atitudes e valores dos indivíduos em diversas dimensões” (DIAS SOBRINHO, 2002, p.14).

Em pesquisa já citada anteriormente, sobre memórias e práticas de avaliação, professores da Educação Superior demonstraram consciência de que suas concepções e práticas de avaliação não estão prontas e acabadas, mas foram sendo produzidas ao longo de suas vidas, a partir das influências recebidas nos mais diversos ambientes educativos, incluindo- se, aí, os espaços formais e não formais. Decorre desse entendimento que, nesse processo, há uma historicidade entendida, não somente como leitura do passado, mas como sua

interpretação, à luz do dinamismo do presente. Isso significa que há uma força do presente na interpretação dos processos vividos e que resulta das exigências das práticas cotidianas.

Entretanto, por entre as intenções, explícitas ou não, nas práticas cotidianas de avaliação, transitam determinantes de outras práticas de um contexto mais amplo: as práticas institucionais e as práticas organizativas (GIMENO SACRISTÁN,1995, p.65). As primeiras, segundo o autor, estão relacionadas ao sistema escolar, sua estrutura e formas de funcionamento. As segundas, por sua vez, referem-se ao funcionamento da escola e estão configuradas pela sua organização. Dessa forma, as práticas educativas e todo o movimento que as produz, nos diferentes tempos e espaços, estão demarcados por determinantes desse conjunto de práticas que vão produzindo os valores, as concepções, as disposições pessoais e coletivas presentes no cotidiano da instituição.

Nesse território de interesses conflituosos, os professores vivem experiências de avaliação, não só da aprendizagem dos alunos, mas também relativas à avaliação de cursos, às instituições e ao desempenho docente. Mesmo a avaliação da aprendizagem não se limita apenas aos domínios do professor, uma vez que a avaliação sistêmica, abrangendo todos os níveis de educação14, vem ganhando, nas últimas décadas, cada vez mais espaço e “tende a imprimir uma dada lógica e dinâmica organizacional aos sistemas de ensino as quais se expressam no estímulo à competição entre instituições e no interior delas, refletindo na forma de gestão e nos currículos” (SOUSA, 2002, p.36). Isso porque as características

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Refiro-me às avaliações de larga escala realizadas pelo governo, no âmbito federal  SAEB, ENEM, ENADE bem como às outras modalidades de avaliações realizadas por organismos internacionais, como PISA.Vale destacar, também, a ocorrência das avaliações sistêmicas, em nível estadual, em vários Estados do País, destinadas à avaliação, principalmente, do Ensino Fundamental. Dentre elas, SIMAVE/MG, SARESP/SP e outros.

principais das avaliações estão referendadas pela perspectiva quantitativa, com ênfase nos produtos e/ou resultados obtidos através de testes sem articulação com a auto-avaliação das instituições. Assim, segundo a autora,

Quanto ao currículo, destaca-se sua possível conformação aos testes de rendimento aplicados aos alunos que tendem a ser vistos como os delimitadores do conhecimento que “tem valor”, entendido o conhecimento como o conjunto de informações a serem assimiladas pelos alunos e passíveis de testagem. Quanto à gestão, a perspectiva é o fortalecimento dos mecanismos discriminatórios (SOUSA, 2002, p.36).

É preciso entender, entretanto, que o cenário de avaliação no qual estão inseridas, tanto as instituições de Educação Básica, quanto as de Educação Superior, está conformado por modelos de avaliação que valorizam os parâmetros quantitativos, tais como testes objetivos e padronizados, pois facilitam a medição e permitem a comparação dos resultados acadêmicos. Essas propostas no dizer de Afonso (2001, p. 70) “se caracterizam como um modelo de responsabilização baseado na lógica do mercado”.

Assim, os mecanismos de avaliação sistêmica que predominam no cenário educacional, em todos os níveis, se baseiam na idéia de regulação e controle do Estado, pois visam à análise da eficiência e da eficácia das instituições através dos resultados do desempenho de seus alunos, conforme as leis do mercado. Imersos nesse universo, os professores são avaliados e exercem a função de avaliadores em diferentes situações: ora na avaliação de desempenho de alunos, ora fazendo parte de comissões de avaliação internas às instituições, por vezes, atuando como avaliadores de outras instituições a serviço do governo, ou ainda como avaliadores que, em pares, avaliam programas e/ou cursos de pós-graduação, dentre outros.