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2.1 Políticas e Programas de Avaliação da Educação Superior:um recuo na história

2.1.1 O Programa de Avaliação da Reforma Universitária  PARU

Na década de 80, a preocupação com a avaliação da Educação Superior ganha espaço nos documentos do MEC que cria, em 1983, o Programa de Avaliação da Reforma Universitária

PARU

com o objetivo de avaliar os impactos da reforma de ensino instituída em 1968. O grupo responsável pela avaliação era formado, em sua maior parte, por membros da comunidade acadêmica e o trabalho desenvolvido pautou-se na elaboração e distribuição de questionários para estudantes, dirigentes e docentes

universitários. Nos documentos produzidos pelo grupo responsável, evidencia-se uma concepção de avaliação como mediação e como necessária ao diagnóstico e acompanhamento dos problemas da educação, contribuindo para a formulação de políticas tanto em âmbito do governo, quanto em nível das instituições.

O Programa tinha como incumbência tratar de dois grandes temas: a gestão das Instituições de Educação Superior e a produção e a disseminação do conhecimento. O grupo responsável desenvolveria o projeto de trabalho em 3 etapas: pesquisa sobre a prática das IES, debates nacionais sobre os documentos produzidos e elaboração de subsídios ao CFE - Conselho Federal de Educação -, para a reformulação da legislação vigente. O Programa tinha uma grande abrangência, pois pretendia adentrar o processo de produção e disseminação do conhecimento nas diversas instituições de Educação Superior, não apenas nas universidades.

Dessa forma, caracterizou-se como um amplo programa de pesquisas específicas, a serem realizadas pela própria comunidade acadêmica e a partir das quais se esperava obter uma visão integrada e consolidada dos diversos aspectos internos e externos às instituições que condicionam a realização dos objetivos institucionais e do sistema de Educação Superior como um todo.

Na coleta de informações, os estudos visavam a conhecer os impactos da lei com relação à estrutura administrativa, à expansão das matrículas e à sua caracterização, à relação entre atividades de ensino, pesquisa e extensão, corpo docente e técnico-administrativo e vinculação com a comunidade(BRASIL, 2004, p.16).

Apesar de reconhecida importância, o PARU teve curta duração, apenas um ano de trabalho. Sem respaldo do MEC, não conseguiu apresentar uma proposta de modelos e técnicas de avaliação sustentadas em concepções que pudessem embasar um programa de avaliação sistêmica. Dentre os professores entrevistados, apenas um fez menção ao PARU, destacando sua contribuição para a construção de referencias de avaliação da Educação Superior.

O PARU foi uma proposta interessante pois teve o mérito da participação de vários segmentos. Entretanto mesmo tendo uma indiscutível importância como subsídio para a reflexão a respeito da educação superior, não apresentou recomendações legais e técnicas suficientes para a concretização de um modelo de avaliação para a educação superior no Brasil. (professora do grupo B)

Apesar de não ter se constituído em uma experiência vivida pessoalmente pela referida professora, o PARU fez-se perceber como uma proposta de pesquisa que poderia subsidiar a elaboração de políticas, tanto no âmbito governamental, quanto institucional, uma vez que se pautou em levantamento sobre as diferentes realidades educacionais.

Também, o documento produzido pelo MEC que apresenta as bases do SINAES18 faz destaque ao PARU como a primeira proposta de avaliação da Educação Superior no País, num contexto em que “a avaliação era concebida predominantemente, como forma de as IES prestarem contas à sociedade dos investimentos efetuados pelo setor público, que precisavam ser justificados” (BRASIL/MEC, 2004 p.16)

18

SINAES - Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior - bases para uma nova proposta de avaliação da educação superior ( BRASIL/MEC, 2003)

Esse mesmo documento faz, também, referência à proposta do GERES - Grupo Executivo para a Reforma da Educação Superior - , instituído pelo MEC, em 1986, para a elaboração de um anteprojeto de lei de reformulação da Educação Superior para as Instituições Federais.

O GERES instituiu-se como um desdobramento esperado do relatório da Comissão Nacional para a Reformulação da Educação Superior, intitulado “Uma Política para a Educação Superior Brasileira”, que teve como objetivo conduzir consultas à sociedade e, em especial, à comunidade universitária, buscando produzir análise sobre a questão universitária brasileira.

O Relatório da Comissão não se esgotou com sua formulação e divulgação, cabendo, então, ao GERES dar ao Relatório da Comissão dimensão conceitual e torná-lo instrumento efetivo de políticas governamentais objetivas. Segundo Cunha (1997, p.43), o relatório da Comissão e o anteprojeto, produzidos pelo GERES, causaram várias discussões e sofreram severas críticas dos movimentos de professores e funcionários. Mediante o volume de críticas recebidas, e pelas condições contextuais de um período político conturbado, o anteprojeto de lei não chegou a ser analisado pelo Congresso Nacional, mas as propostas nele contidas serviram como orientação das políticas para a Educação Superior.

Algumas principais preocupações do anteprojeto de lei do GERES eram, dentre outras, de reestruturação das universidades federais, a racionalização do controle governamental sobre as universidades, a valorização dos níveis mais elevados da carreira docente e a participação de professores e alunos na elaboração das listas tríplices para os cargos de direção.

Concomitantemente a essa proposta do governo para avaliação da Educação Superior, acontecem as manifestações do meio acadêmico em combate com os objetivos expressos nessa iniciativa.Uma importante iniciativa se refere a uma reunião do Conselho dos pro- reitores, em 1986, com o objetivo de discutir questões referentes à avaliação das universidades como compromisso social (AMORIM, 1992).

Como resposta, o governo propõe, através da SESU, ações para a criação e o desenvolvimento de uma sistemática de avaliação e de acompanhamento dos cursos de graduação, tomando como referência a experiência da CAPES, para a pós-graduação, experiência que envolveu cerca de 34 instituições de Educação Superior (AMORIM, 1992).

Ainda na década de 80, algumas IES federais desenvolveram programas de avaliação internos, em diferentes áreas da graduação e pós-graduação, incentivadas pelo MEC que, a partir daí, promoveu em, 1987, um Encontro Internacional sobre Avaliação Superior. Além desse importante evento, aconteceram, também, em 1988, seminários regionais

promovidos pela SESU/MEC19 de notável importância para a consolidação do que viria a se constituir como um dos maiores programas de avaliação na década seguinte.

Trata-se do Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras – PAIUB, criado em 1993 e considerado um marco na história da avaliação da Educação Superior que, a partir daí, começou a ganhar maior visibilidade.