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Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras – PAIUB

2.1 Políticas e Programas de Avaliação da Educação Superior:um recuo na história

2.1.2 Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras – PAIUB

Nos anos de 1990, significativas mudanças ocorrem no cenário político brasileiro após a posse do primeiro presidente eleito pelo voto direto depois do período ditatorial. Predominava nos discursos oficiais a proposta de fazer o país se destacar no mundo globalizado, aumentando o poder de competitividade. Nesse contexto, a reforma de Estado torna-se item primordial para modernização produtiva da economia. À Educação Superior, também, são destinadas propostas de análise de seu funcionamento, visando a identificar as necessidades de adequação aos parâmetros em vigor consoantes com o novo paradigma de produção.

Nessa perspectiva, já no governo Itamar Franco, o MEC cria uma Comissão Nacional de Avaliação com o objetivo de estabelecer diretrizes e viabilizar a implementação do processo de avaliação institucional nas universidades. Essa comissão teve representação

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Encontro Regional sobre Avaliação do Educação Superior (Amazônia);Seminário Regional sobre Avaliação da Universidade (Santa Catarina); Encontro da Região Nordeste sobre Avaliação da universidade (Ceará) e Encontro Paulista sobre Avaliação no Educação Superior (São Paulo).

de diferentes entidade 20 e que apresentou ao MEC uma proposta nacional de avaliação em que defendia o incentivo à auto-avaliação das universidades e a existência de um sistema organizado para proceder, também, à avaliação externa. Como resultado dos trabalhos dessa comissão, é criado, em dezembro de 1993, o Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras─ PAIUB.

O PAUIB conseguiu promover algumas mudanças nas práticas de avaliação institucional das IES. Sua principal contribuição se deve ao fato de que tinha como princípio a adesão voluntária das universidades e, por esse motivo, conseguiu produzir uma cultura de avaliação, pois fixou um diálogo com toda a comunidade acadêmica através de uma ampla adesão das instituições.

O Programa apresentava como objetivo da avaliação das instituições “rever e aperfeiçoar o projeto acadêmico e sócio-político da instituição, promovendo a permanente melhoria da qualidade e pertinência das atividades” (MEC/SESU,1994, p.13). A avaliação, nessa perspectiva, deveria centrar-se nos processos e tomar como orientação a instituição como um todo.

Para a consecução do objetivo proposto, o Programa apresentava 5 (cinco) princípios básicos a partir dos quais as instituições deveriam desenvolver seu processo de avaliação: globalidade; comparabilidade; respeito à identidade institucional; não premiação ou

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Conforme Portaria Nº 130 de 14 de julho de 1993,artigo 2º comissão foi composta por representantes da SESU, da ANDIFES, do CRUB, da ANUP, da ABRUEM, dos Fóruns Nacionais dos Pro-Reitores de Graduação, Extensão, Pesquisa e Pós-graduação e Planejamento (MEC, 1993).

punição; e legitimidade política. Além dos princípios, a avaliação, na concepção do PAIUB, consistiria num projeto de avaliação institucional que focalizaria um ou mais departamentos e cursos de graduação, currículos e programas, avaliação docente e dos estudantes, qualidade do ensino e os aspectos administrativos, auto-avaliação e a avaliação externa.

O PAIUB é destacado nos depoimentos de 4 (quatro) professores entrevistados, com grande ênfase e compõe o conjunto de experiências registradas por eles.Vejamos.

O PAIUB é, ao meu ver, a principal experiência de avaliação das universidades pois era delas a proposta. Basta revermos os seus princípios para compreendermos que tratava-se de uma declaração de autonomia das IES, pois se pautava, principalmente, na auto-avaliação e, além disso, os seus princípios em nada se identificavam com as propostas do governo. (professor do grupo A)

O depoimento acima revela o entendimento da gênese da proposta do PAIUB como resultante das discussões que vinham se sucedendo nos fóruns de participação das instituições. O destaque da autonomia, também, está presente na definição do papel do Estado nessa proposta, qual seja o de “coordenar, articular e financiar a avaliação institucional, assumindo a posição política de parceiro das universidades” ( MEC/SESU, 1994, p. 1). Nesse sentido, a idéia de parceria refletia a legitimidade política atribuída ao Programa, uma vez que, aceitos os princípios do PAIUB, ao governo caberia o respeito à identidade institucional, o incentivo à adesão voluntária e o não estabelecimento de condições a partir dos resultados das avaliações.

Entretanto, essas prerrogativas da parceria firmada é discutida no âmbito dos segmentos participantes. Dentre eles, representantes do MEC apresentavam críticas ao PAIUB. Uma das principais é o fato de que esse formato não favorecia a coleta de informações consistentes para o processo de formulação e de implantação de políticas educacionais, uma vez que não oferecia uma base mínima para realizar comparações de progressos nas IES. Entre os representantes das universidades, esse era, exatamente, o grande diferencial da proposta, conforme afirma, no texto seguinte, um dos professores entrevistados.

Acompanhei com entusiasmo os principais momentos de planejamento, divulgação e adesão do PAIUB. Considero-o como um programa que teria força para produzir uma cultura de avaliação nas IES, por estimular que elas próprias criem seus padrões de referência de qualidade. (professor do grupo B)

Observa-se que, apesar de o PAIUB receber total aprovação por grande parte da academia, as tensões entre governo e universidades se fazem presentes, demonstrando a complexidade do campo de forças em relação à avaliação. A busca de garantia da autonomia pelas instituições é vista pelos representantes dos governos como perda de controle, e, conseqüentemente, de poder de intervenção. Nesse sentido, defendem a existência de mecanismos de acompanhamento sustentados em indicadores mais consistentes, visando à comparabilidade de desempenho.

Sobre a questão de padrões e indicadores mínimos, Dias Sobrinho (1996) afirma que tais dados seriam utilizados pelo PAIUB, não somente para conhecer a realidade objetiva das instituições, mas, principalmente, para “produzir uma cultura permanente de reflexão sistemática e radical sobre todos os processos importantes da instituição, organizacionais

ou pedagógicos, os meios e os fins, em resumo, sobre toda a instituição em sua riqueza e complexidade” ( p.7).

Mesmo com a adesão de várias universidades ao PAIUB, a discussão do papel do MEC continua em destaque no jogo de forças entre governo e universidades. Entende-se que as tensões são geradas, principalmente, em relação a concepções, finalidades e objetivos da avaliação. Entretanto esse espaço de tensionamento entre governo e acadêmicos pode ser visto como uma perspectiva positiva desejável, uma vez que coloca em evidência, cada vez mais, a questão problemática da avaliação em toda sua complexidade, entendendo que, para além dos enfoques técnicos, a avaliação revela um determinado projeto educacional sustentado no modelo de sociedade que se deseja.

Palharini (2001) destaca que o formato do PAIUB valoriza a criatividade das IES, ao mesmo tempo que se tem a liberdade como pressuposto do programa, chamando-as a uma maior responsabilização:

O PAIUB não recomenda uma forma de análise das relações entre o conjunto de dados e de dimensões avaliadas. Isso ficaria a cargo da iniciativa e da criatividade de cada uma das instituições. Estas disporiam de plena liberdade para introduzir, aperfeiçoar e ampliar os processos de avaliação. Podem inclusive propor novas formas de avaliação institucional. (PALHARINI, 2001, p.18)

Esse formato de liberdade irrestrita das universidades causou sérios incômodos aos representantes do governo que perceberam que a hegemonia política do processo de formulação e de políticas de avaliação pertencia às lideranças universitárias, cabendo a

elas a definição de condições, critérios e procedimentos. Entretanto, essa não era a única tensão presente na proposição do PAIUB. Também, houve divergências e desconfianças entre os professores, através dos discursos de seus representantes, conforme depoimento de um dos sujeitos desta pesquisa, a seguir.

Na minha experiência como participante do fórum dos pro-reitores, tivemos uma grande surpresa com o posicionamento de representantes do movimento docente em relação ao PAIUB.Viajamos por todo Brasil e em vários encontros recebemos severas críticas desses representantes dizendo que se tratava de mais uma proposta de avaliação do MEC com outra roupagem. E esse grupo também tentou mobilizar o pessoal da UNE para fazerem oposição ao Programa. (professor do grupo B)

Vê-se que, apesar da legitimidade política do PAIUB, houve resistência à sua implantação por parte, também, de segmentos das universidades. Analisando o conjunto de depoimentos dos professores, que registraram o PAIUB como experiência da qual participaram, pode-se depreender que um dos fatores que levaram à desconfiança em relação à proposta referia-se ao financiamento feito pelo MEC (no caso de instituições públicas), e, ainda, a falta de clareza sobre o que viriam a ser exigências do governo, após a culminância do processo de avaliação e “qual o lugar do Programa nas políticas do governo para a educação superior” (questão presente no depoimento de quase todos professores do grupo A).

Por outro lado, apesar do número de instituições que aderiram ao Programa21, o MEC não conseguiu construir um diagnóstico da Educação Superior, uma vez que as informações recebidas das IES eram relativas a cada instituição, individualmente, sob parâmetros e

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Em 1994/ 1995, houve a adesão de 55 IES ao PAIUB, 1996/1997 o número aumentou para 90 e, em 1997, 136 IES haviam aderido ao Programa ( BRASIL/ MEC 2000).

referências de cada realidade especificamente. Na luta de forças nesse campo, o PAIUB, apesar de tamanha credibilidade, não ganhou da gestão seguinte a mesma importância, deixando de receber o apoio do MEC, assim, se transformando em processo de avaliação interna das instituições pela iniciativa e acompanhamento individual de cada uma.