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7. DISCUSSÃO

7.3. Avaliação da capacidade inibitória na osteoclastogênese in vitro

A evolução da resposta do hospedeiro, em ambiente perirradicular, frente ao estímulo microbiano resulta em ativação do processo de reabsorção óssea (HANDAL et al., 2009). O parâmetro de diferenciação e ativação de osteoclastos foi analisado a partir de cultura de precursores de osteoclastos na presença de rRANKL, ativador da osteoclastogênese. A identificação de osteoclastos diferenciados ocorreu pela utilização de um marcador citoquímico, a enzima TRAP, expressa em altos níveis nos osteoclastos, por participar do processo de degradação óssea (HAYMAN et al., 2001).

Estudo com células de baço de murino demonstrou a formação de células multinucleadas TRAP positivas após estímulo bacteriano, de maneira dose dependente. Depreende-se que bactérias podem estimular a osteólise mesmo na ausência de osteoblastos. Na ausência de tal estímulo, não foram identificadas células TRAP positivas (JIANG et al., 2002). O aumento da atividade de osteoclastos e, consequentemente, da reabsorção óssea pode estar relacionado à resposta dos tecidos à penetração bacteriana e seus componentes (NOORLOOS et al., 1990). Portanto, a resposta imuno inflamatória pulpar e perirradicular, com a participação de uma série de proteínas tende a ser o principal fator desencadeante da lesão perirradicular, uma vez que esta responde ao estímulo bacteriano resultando em reabsorção óssea desencadeada por diferenciação e ativação de osteoclastos (HANDAL et

al., 2009).

Em suma, o conjunto de atividades antimicrobiana, imunomodulatória e inibitória na osteoclastogênese fazem referência a importantes características de um produto ideal, no contexto de tratamento de lesões perirradiculares refratárias, conduzindo saúde dos tecidos perirradiculares.

7.4. Hidróxido de cálcio (Ca(OH)2)

O Ca(OH)2 é uma medicação intracanal considerada como padrão ouro

e possui propriedades antimicrobiana, mineralizadora, biocompatível, além de atuar na dissolução tecidual e como barreira física (inibindo reinfecção e o suprimento aos microrganismos) (DOTTO, 2006; BAREKATAIN et al., 2012). O Ca(OH)2 possui atividade de amplo espectro e é capaz de atingir a maioria dos

microrganismos participantes de infecções endodônticas. Atuando como uma base forte, a alta capacidade de alcalinização do meio pode destruir membranas celulares da maioria destes microrganismos (MINANA et al., 2001). Dentre suas desvantagens, observa-se baixa solubilidade e difusão entre túbulos dentinários, além de necessitar de 3 a 4 semanas para alcançar e estabilizar altos níveis de pH (NERWICH et al., 1993).

O presente estudo avaliou a concentração inibitória mínima do Ca(OH)2

contra C. albicans e E. faecalis. O fungo C. albicans foi susceptível ao Ca(OH)2

na concentração de 128 µg.mL-1 (1728 µM), enquanto os PAMs não foram capazes de atingir a CIM até 1024 µg.mL-1 (<400 µM). A bactéria E. faecalis foi susceptível ao Ca(OH)2 somente na concentração de 1024 µg.mL-1 (13820

µM), concentração 4 vezes maior, comparado a CIM atingida pela LL-37 a 256 µg.mL-1 (57 µM).

O presente estudo demonstrou susceptibilidade de C. albicans ao Ca(OH)2 in vitro, condição que não pode ser totalmente extrapolada para a

situação clínica. Apesar da capacidade desse microrganismo de resistir ao efeito antimicrobiano do Ca(OH)2 ainda na ausência de formação de um

biofilme, as condições aqui apresentadas não reproduzem totalmente a infecção em SCR. No interior do elemento dentário, os túbulos dentinários, os fluidos teciduais e o efeito da dentina sobre o pH podem viabilizar o crescimento de C. albicans na presença do Ca(OH)2.

Estudo in vitro demonstrou que a solução de Ca(OH)2 saturada (pH

12,5) demonstrou inibição completa de C. albicans em forma de blastóporos, hifa, e pseudo hifa (WECKWERTH et al., 2012), após 48 h de incubação. Outro estudo considerou resistente a C. albicans que só foi morta após 16 h de incubação na presença de Ca(OH)2, comparando ao grau de resistência de E.

infectada, o uso de Ca(OH)2 combinado com PMCC e glicerina possibilitou

eliminar C. albicans em 1 h de incubação, enquanto o uso de Ca(OH)2

combinado com glicerina apresentou o mesmo efeito, em 7 dias (SIQUEIRA et

al., 2003b).

Um levantamento demonstrou que a ineficácia do Ca(OH)2 começou a

ser relatada em 1983 (MOHAMMADI et al., 2012). Diversas espécies de

Candida, incluindo C. albicans tem resistência relada ao Ca(OH)2 (WALTIMO et

al., 1999a; WALTIMO et al., 1999b). A C. albicans pode ser resistente ao

Ca(OH)2 devido a sua capacidade de sobrevivência em altos níveis de pH

(MOHAMMADI et al., 2012). Estudo que avaliou o impacto de estresse alcalino contra C. albicans revelou que sua resistência não se deu pelo crescimento (BRANDLE et al., 2008). As características virulentas deste fungo incluem a produção de proteinases (colagenase, aminopeptidases, fosfatase alcalina, hialuronidase, sulfatase condroitina) que atuam na destruição proteica de matriz (HAYNES, 2001). Dessa maneira, tal atividade enzimática pode liberar substâncias minerais, como o cálcio, que permitem a hifa adentrar nos túbulos dentinários (SEN et al., 1997). Em adição, íons de cálcio podem favorecer o crescimento e morfogênese desse fungo (MOHAMMADI et al., 2012).

O mecanismo antimicrobiano do Ca(OH)2 envolve a inibição de enzimas

bacterianas, mediante aumento do pH e consequente inibição do metabolismo, crescimento e divisão celular microbiano. O rompimento de componentes orgânicos e de transporte de nutrientes altera a integridade de membranas (ESTRELA et al., 1995). No entanto, o Ca(OH)2 requer tempo para alcalinizar o

meio, além da possibilidade dos meios de cultura in vitro poderem alterar a capacidade tampão desta substância. Estudo que analisou a mudança de pH in

vitro pelo Ca(OH)2 em água destilada, a partir de um pH de 7,4, demonstrou o

alcance do pH 10,9, em 1 h e do pH 11,2, em 24 h, permanecendo por 15 e 23 dias (ZMENER et al., 2007). Esta constitui uma limitação experimental. Estudos

in vivo podem fornecer maiores esclarecimentos sobre a atividade do Ca(OH)2.

Apesar das limitações mencionadas, a resistência ao Ca(OH)2

apresentado neste estudo pela bactéria E. faecalis pode ser determinada pela alta CIM. Relatados como prevalentes em lesões refratárias, estudo demonstrou que são necessários 60 dias para que o Ca(OH)2 seja capaz de ter

efeito antimicrobiano contra E. faecalis e C. albicans, como medicação intracanal (ESTRELA et al., 2003).

A bactéria E. faecalis foi resistente contra Ca(OH)2 combinado com

água, anestésico e propileno glicol. No entanto, a bactéria foi susceptível ao Ca(OH)2 combinado com PMCC e clorexidina (PACIOS et al., 2012). Outro

estudo demonstrou que E. faecalis intraluminal e intratubular em dentes extraídos não foram eliminadas pelo Ca(OH)2, após 1 semana (JAVIDI et al.,

2011). O E. faecalis também foi susceptível a pasta de Ca(OH)2 e óleo de

silicone a base de Ca(OH)2 (HAN et al., 2001). O efeito do Ca(OH)2 combinado

ou não com clorexidina contra C. albicans e E. faecalis é contraditória, apesar de relatos de efetividade (DELGADO et al., 2013).

A clorexidina pode apresentar eficácia em baixas concentrações, no entanto, suas desvantagens quanto à citotoxicidade e ausência de efeito sob tecido necrosado e LPS ainda deixam propriedades a desejar (ATHANASSIADIS et al., 2007). Em adição, a clorexidina também pode ser inativada pela dentina, ter penetração limitada em biofilmes de E. faecalis (PAZ

et al., 2010) e ser ineficaz com relato de resistência (EMILSON, 1977).

Diversas outras pesquisas buscaram avaliar o potencial de antibióticos isoladamente, combinados entre si ou associados à medicações intracanais. Para combater infecções persistentes, existe também a associação de agentes antimicrobianos e veículos que possam transportar e difundir a medicação intracanal pelo SCR. Pesquisa in vitro demonstrou que, isoladamente, metronidazol e natrosol não foram efetivos contra os microrganismos S.

aureus, E. faecalis, S. mutans, P. aeruginosa, E. coli, E. cloacae, K. pneumoniae, Candida tropicalis e C. albicans (CARREIRA et al., 2007). No

entanto, contra estes microrganismos, as combinações de ciprofloxacina com metronidazol, com ou sem polietileno glicol ou natrosol, foram eficazes (exceto na situação de ciprofloxacin com metronidazol contra C. tropicalis e C.

albicans) (CARREIRA et al., 2007). Outro estudo in vitro testou a efetividade de

uma pasta antibiótica tripla (metronidazol, ciprofloxacina e minociclina) contra

E. faecalis. Foi demonstrado efetividade antimicrobiana à partir da pasta

isolada ou com clorexidina a 2%, comparado com antibióticos isolados e com o Ca(OH)2 (ADL et al., 2012). Em conjunto, outro estudo evidenciou que

infectados, enquanto clindamicina inibiu 50% e doxiciclina 30% (SEL et al., 2012).

Trabalhos que testam antibióticos como medicação intracanal sugere que estas podem ser indicadas, a partir do insucesso no tratamento endodôntico. No entanto, com a finalidade de evitar resistência bacteriana, o uso de antibióticos na endodontia deve ser restrito. Pesquisas que demonstraram resultados com cepas resistentes à antibióticos reforçam esta orientação (ARDIZZONI et al., 2009; SEL et al., 2012). A terapia antibiótica sistêmica pode beneficiar pacientes imuno comprometidos na intenção de reduzir o risco a infecções secundárias e auxiliar na redução da carga bacteriana do foco infeccioso endodôntico (SIQUEIRA, 2002).

Em casos de resistência de E. faecalis ao Ca(OH)2, a adesão a dentina

e a formação de biofilme foi o principal fator envolvido. Neste intuito, é importante ressaltar a diferença de resultados de células planctônicas e biofilmes. No interior do SCR, os microrganismos podem formar biofilme, tornando-se mais resistente, comparado a planctônicas, podendo aumentar a CIM em até 1000 vezes (MARSH, 2005). Portanto, é um pré-requisito que o agente antimicrobiano penetre no biofilme para eliminar a infecção (BRANDLE

et al., 2008).

Por fim, em relação à atividade antimicrobiana de outras medicações intracanais, a Tabela 6 apresenta a CIM contra diversos microrganismos causadores de patologias endodônticas.

Tabela 6. Concentração inibitória mínima de diferentes medicações intracanais contra microrganismos participantes de patologias endodônticas.

Medicações

intracanais CIM Microrganismos Referências

Iodofórmio 0,125 – 64 mg.mL-1 E. faecalis, S. aureus, P. aeruginosa e

Bacteroides fragilis.

(PALLOTTA et

al., 2007)

Ca(OH)2 0,390 – 16 mg.mL-1

E. faecalis, S. aureus, P. aeruginosa, Clostridium perfringens, A. israelii, P. nigrescens, F. nucleatum e B. fragilis.

(SIQUEIRA et al., 2004; 2009) PMCC 85 – 680 µg.mL-1 C. perfringens, A. israelii, P. nigrescens e

F. nucleatum.

(FERREIRA et

al., 2007)

Clorexidina 2,67 – 80 µg.mL-1

P. aeruginosa, S. aureus, P. gingivalis, P. endodontalis, P. melaninogenica, P. intermedia, E. faecalis, E. coli, Prevotella

denticola e C. albicans.

(AMORIM et al., 2004) Formocresol 371 – 742 µg.mL-1 C. perfringens, A. israelii, P. nigrescens e

F. nucleatum.

(FERREIRA et

al., 2007)

Com relação a citotoxicidade do Ca(OH)2, o presente estudo não

demonstrou redução da viabilidade celular na concentração de 128 µg.mL-1 (referente a CIM contra C. albicans). No entanto, a concentração de 1024 µg.mL-1 do Ca(OH)2 apresentou altos níveis de citotoxicidade (dado não

apresentado). Assim, existem trabalhos que consideram o Ca(OH)2 como um

material biocompatível (DOTTO, 2006; BAREKATAIN et al., 2012). Estudos demonstraram efeito pouco citotóxico (até 1000 µM) ou não citotóxico (até 25 µg.mL-1) do Ca(OH)

2 em células da polpa dentária e em células RAW 264.7,

respectivamente (SILVA et al., 2008; KOBAYASHI et al., 2013).

Controversamente, as células em contato com Ca(OH)2 como material

capeador pulpar, são mortas pelo alto pH, formando uma camada necrótica (MODENA et al., 2009). Estudo não recomenda o uso do Ca(OH)2 em tecidos

perirradiculares, afirmando causar dano tecidual severo por sua capacidade de alcalinização (KHAN et al., 2008).

As controvérsias relacionadas a citotoxicidade do Ca(OH)2 podem ser

devido aos diferentes métodos de análises. Nesta ocasião, é possível que materiais obturadores a base de Ca(OH)2 sejam categorizados como

biocompatíveis, comparado a outros materiais obturadores (MOHAMMADI et

al., 2011). Dentre as medicações intracanais, diversos estudos demonstram a

citotoxicidade do formocresol, PMCC, iodofórmio e formocresol em fibroblastos do ligamento periodontal de humanos (WANG et al., 2007), em linhagem celular L929 (SARIGOL et al., 2010), em fibroblastos de Balb/c 3T3 (MENEZES

de periodonto e de polpa humana (WANG et al., 2007). Outra pesquisa demonstrou que o Ca(OH)2 diminuiu somente em 5% a atividade metabólica de

linhagem celular de osteoblastos MDPC-23 (COSTA et al., 2001). Ademais, considerando os resultados do presente estudo, somente altas concentrações de Ca(OH)2 possam interferir na viabilidade celular. Como medicação

intracanal, em conjunto com as diversas propriedades mencionadas, o Ca(OH)2

pode apresentar menor citotoxicidade comparado as demais medicações. Portanto, algum grau de citotoxicidade pode favorecer a reorganização e o reparo tecidual.

O tratamento endodôntico deve, além de eliminar o foco infeccioso, inativar fatores de virulência microbiana. Outro parâmetro analisado neste estudo constituiu da capacidade imunomodulatória do Ca(OH)2 na presença de

IFN-γ, HK-C. albicans e HK-E. faecalis. A partir da ausência de tais estímulos, o Ca(OH)2 foi capaz de aumentar a produção de TNF-α e IL-6. O Ca(OH)2

estimulou a produção de MCP-1, IL-6, IL-1α e IL-10 na presença de IFN-γ. Na presença de HK-C. albicans, o Ca(OH)2 estimulou a produção de IL-6 e NO. A

partir da adição de IFN-γ a HK-C. albicans, o Ca(OH)2 induziu a produção de

MCP-1, IL-12, IL-6, IL-1α e IL-10 e reduziu a produção de NO.

A partir dos resultados do presente estudo, o Ca(OH)2 demonstrou uma

atuação anti-inflamatória e pró-inflamatória, do desencadear de resposta inflamatória por infecção por C. albicans. Sua atuação pró inflamatória se deu no período inicial de incubação, pela produção e MCP-1 e final, pela produção de IL-10. Esses estímulos podem favorecer o combate a esse microrganismo, uma vez que a concentração usada foi a CIM.

Outra evidência do presente estudo se baseia em uma das funções do NO, que envolve uma resposta de proteção do hospedeiro contra patógenos. O NO auxilia na homeostase e está relacionado à condições inflamatórias que trazem danos aos tecidos. Dessa forma, este se apresenta como função protetora das células contra citocinas que causam danos e apoptose celular. (WINK et al., 1998). O presente estudo determinou a redução na produção de NO na presença de HK-C. albicans e IFN-γ pelo Ca(OH)2. Altos níveis de NO

são citotóxicos e tal redução elimina esta possibilidade. Em adição, apesar do NO também contribuir para uma resposta antimicrobiana celular, que neste caso foi quase ausente, o material apresentou atividade antimicrobiana em

função do pH. Desta forma, não houve prejuízo na ação antimicrobiana aos antígenos de C. albicans.

Em outro parâmetro analisado, a partir da simulação de uma infecção bacteriana, o presente estudo demonstrou que o Ca(OH)2 estimulou a

produção de MCP-1, TNF-α, IL-1α e IL-10, na presença de HK-E. faecalis. Em conjunto, em grupos com IFN-γ e HK-E. faecalis, o Ca(OH)2 estimulou a

produção de TNF-α, IL-12, IL-6, IL-1α e IL-10. Em adição, nesta última condição, o Ca(OH)2 reduziu a produção de NO.

Em um processo infeccioso, endotoxinas são liberadas na morte celular bacteriana e são capazes de estimular principalmente os macrófagos a produzirem mediadores químicos (MOHAMMADI et al., 2012). A bactéria E.

faecalis possui fatores de virulência como LTA, peptidoglicano, substância de

agregação, aderência a superfície, enzimas líticas (gelatinase e hialuronidase) e citolisina (STUART et al., 2006). O LTA está envolvido na resposta inflamatória, formação de biofilme, síndrome da sepsis e adesão à dentina (BAIK et al., 2008a). Este é formado por poliglicerol fosfato e ácidos graxos. A ativação da resposta inflamatória por LTA tem como consequência o dano tecidual e, portanto, são alvos de anticorpos (BAIK et al., 2008b).

O Ca(OH)2 possui capacidade de hidrolizar endotoxinas (transformando-

as em ácidos graxos e açúcares aminados) e de inativar LTA (SAFAVI et al., 1994; BAIK et al., 2008a). Estudo demonstrou que o LTA de E. faecalis foi capaz de estimular a produção de TNF-α, de maneira dose dependente, em células RAW 264.7, além de induzir a cascata de transdução do NF-ĸB. Em adição, o LTA na presença do IFN-γ estimulou a produção de NO. Nesta ocasião, o LTA de E. faecalis estimulou preferencialmente a expressão de TLR2. Os antígenos HK-E. faecalis deste mesmo estudo estimularam a produção de TNF-α e NO. Estes estimularam a expressão de TLR2 e TLR4 (BAIK et al., 2008b).

Em outro estudo, células de E. faecalis mortas por Ca(OH)2 reduziram a

produção de TNF-α em células RAW 264.7, comparado a indução de HK-E.

faecalis. A partir do LTA purificado de E. faecalis tratado com Ca(OH)2, não foi

observado estímulo na produção de TNF-α. Nessa ocasião, 2,5 mg.mL-1 foi a

concentração mínima de Ca(OH)2 para efetuar a redução de TNF-α, enquanto

também não estimulou a expressão de TLR2, comparado ao LTA não tratado com Ca(OH)2. Portanto, a inativação de LTA pelo Ca(OH)2 pode acontecer por

deacilação, inativando as cadeias de ligação com TLR2, o que ocorre em alto pH (BAIK et al., 2008a). A partir de LPS de E. coli, o Ca(OH)2 aumentou a

expressão de TNF-α, IL-1α e reduziu a produção de NO (SILVA et al., 2008). Estudo reportou que também é possível que o Ca(OH)2 possa ter um

efeito imunomodulatório pela desnaturação de mediadores e citocinas pró inflamatórias pela hidrólise de ligações de amida (SEL et al., 2012). A resposta a essa afirmação foi confirmada a partir da capacidade do Ca(OH)2 reduzir de

maneira tempo dependente, níveis detectáveis de IL-1α, TNF-α e peptídeo relacionado ao gene de calcitonina. Neste estudo, o Ca(OH)2 foi capaz de

desnaturar estes combinantes testados em doses fisiológicas (KHAN et al., 2008).

Dentes com polpas necrosadas tratados com Ca(OH)2 demonstraram

redução na expressão de IL-1α, IFN-γ e IL-10 (TAVARES et al., 2012). Em outro estudo, utilizando dentes com lesão perirradicular, os níveis de IFN-γ, IL- 1β e RANKL apresentaram-se reduzidos no 7º dia, enquanto IL-10 apresentou aumento (BRITO et al., 2012). No entanto, amostras de camundongos com tubos de dentina subcutâneo com Ca(OH)2 demonstraram aumento na

expressão de IL-1β e TNF-α durante 3 dias. Neste estudo, os níveis de IL-10 foram aumentados no 3º dia. O Ca(OH)2 causou áreas de necrose e estimulou

a expressão de COX2, produtora de prostaglandina E2, que induz transcrição de iNOS e pode envolver a deposição de tecido (REYES-CARMONA et al., 2011).

Estudo in vivo com modelo de camundongos demonstrou uma indução dose dependente da migração subcutânea de neutrófilos pelo Ca(OH)2 a partir

de 48 h, bem como o acúmulo de células mononucleadas. A migração de neutrófilos pelo Ca(OH)2 pode envolver o TNF-α, produtos da COX, produtos

da lipogenase, citocinas e quimiocinas. Portanto, o Ca(OH)2 foi capaz de

induzir o aumento na produção de TNF-α, IL-1β, leucotrieno b4, KC e proteína inflamatória de macrófagos 2 (COSTA et al., 2008).

O presente estudo demonstrou que, frente a um estímulo bacteriano, o comportamento do Ca(OH)2 induziu uma resposta pró inflamatória pelas

com consequente dano tecidual, uma vez que o Ca(OH)2 só foi capaz de inibir

12% do crescimento de E. faecalis na concentração testada. Por fim, ainda que o Ca(OH)2 tenha induzido o aumento na produção de TNF-α e IL-6 na ausência

de estímulos, este apresentou uma atividade inibitória na osteoclastogênese. Estudo demonstrou que o LPS tratado com Ca(OH)2 reduziu a formação

de osteoclastos em 78% (JIANG et al., 2003). O estímulo para a osteoclastogênese a partir de LPS ocorre a partir da indução na produção de TNF-α, IL-1 e RANKL. Este também pode induzir diretamente a osteoclastogênese, mas ainda há controvérsias (ABU-AMER et al., 1997; SUDA et al., 2002). Por fim, o Ca(OH)2 e a indução do pH alcalino pode

neutralizar ácido lático produzido pelos osteoclastos, inibindo a destruição tecidual (MODENA et al., 2009). No presente estudo, também foi observada redução da osteoclastogênese mediada por rRANKL nas células expostas ao Ca(OH)2, apesar da produção das citocinas TNF-α, IL-12, IL-6, IL-1α, quando

as células foram estimuladas com antígenos microbianos mortos pelo calor com e sem IFN-γ. O presente estudo não analisa o processo de osteoclastogênese em sua complexidade, envolvendo outras células produtoras de outros mediadores inflamatórios que podem atuar em diferentes fases deste processo, culminando na inibição e/ou redução do mesmo. Portanto, a discussão da performance do Ca(OH)2 necessita de confirmação in

vivo.

7.5. Peptídeos antimicrobianos

Em sequência às demais observações dos bioensaios, dentre os peptídeos selecionados para este estudo, foi demonstrado performances distintas dos peptídeos frente à bactéria e ao fungo, de acordo com suas propriedades. No presente estudo, foram utilizados peptídeos sintéticos. Peptídeos nativos podem apresentar baixa estabilidade e meia vida curta, o que exalta o uso de peptídeos sintéticos para superar tais desvantagens (LEE

et al., 2013).

A maioria dos peptídeos antimicrobianos interage com a membrana podendo deslocar lipídios, alterar estrutura e/ou atravessá-la e atuar no interior da célula alvo (ZASLOFF, 2002). Os PAMs podem dissipar o gradiente

eletroquímico, atravessar e causar perturbação da membrana microbiana com formação de bolhas, vesículas, fragmentação, além de liberação de DNA, agregação celular e destruição da morfologia celular (WIMLEY, 2010). Ao se translocarem pela membrana, podem atuar na transcrição gênica, no DNA e nas chaperoninas (HONG et al., 2003). Dessa forma, as hipóteses do mecanismo de ação de peptídeos estão relacionadas à despolarização fatal da membrana (WESTERHOFF et al., 1989), formação de poros com extravasamento celular (YANG et al., 2000), ativação de processos de degradação da parede celular (BIERBAUM et al., 1985), perturbação da função da membrana (MATSUZAKI, 1999) e danos em componentes intracelulares vitais (KRAGOL et al., 2001). Os múltiplos mecanismos descritos podem motivar raridade de resistência e o amplo espectro de atividade destas biomoléculas (WIMLEY, 2010).

A atividade microbiana e a especificidade dos peptídeos pode estar envolvida com o tamanho, sequencia, carga, conformação, capacidade de agregação e estrutura, hidrofobicidade e anfipacidade de cada molécula. A ordem e a composição dos resíduos de aminoácidos dos peptídeos lhes conferem cada uma das características mencionadas. Tais características determinam a potência e o espectro da atividade antimicrobiana (TOSSI et al., 2000). Diversos peptídeos podem se relacionar com microrganismos por interações eletrostáticas. A maioria dos peptídeos são ricos em resíduos de aminoácidos hidrofóbicos e catiônicos e apresentam estrutura secundária anfipática em α-hélice ou folha-β (HONG et al., 2001). Os peptídeos catiônicos podem ser atraídos pela carga negativa de bactérias Gram-negativas à partir dos fosfolipídeos aniônicos e grupos fosfatos no lipopolissacarídeo (HANCOCK

et al., 1995). Em bactérias Gram-positivas, os peptídeos também podem ser

atraídos pelo ácido teicóico (TOSSI et al., 1997). Os peptídeos necessitam atravessar o LPS (bactérias Gram-negativas) para interagir com a membrana externa e com os ácidos teicóico e lipoteicóico (bactérias Gram-positivas) e com a membrana citoplasmática (BROGDEN, 2005). Os PAMs se orientam paralelamente à bicamada lipídica em baixas concentrações e, de acordo com o aumento da sua concentração, estes começam a se orientar de forma perpendicular para se inserir na membrana, formando poros (BROGDEN, 2005).

A atividade antifúngica de peptídeos pode estar relacionada a diversos mecanismos. Os peptídeos líticos podem ser anfipáticos, sendo capazes de romper a membrana sem atravessá-la, ou atravessando e interagindo com