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Avaliação da Estratégia Aprendizagem Baseada em Problemas Orientada para

Decorrente da finalidade do estudo, a estratégia ABP com uma orientação explícita para o desenvolvimento de capacidades de PC, foi avaliada em termos do seu impacte na promoção de capacidades de PC nos alunos. Além disso, procurou-se também averiguar qual o impacte desta estratégia na (re)construção do conhecimento dos alunos e na promoção de atitudes.

Para tal, durante a implementação da estratégia ABP, em contexto de sala de aula, foram recolhidos dados usando diferentes instrumentos no quadro de várias técnicas de recolha de dados, conforme se descreve no capítulo quatro.

CAPÍTULO 4 METODOLOGIA

O presente capítulo está dividido em quatro pontos. O primeiro diz respeito à natureza da investigação. O segundo centra-se nos casos estudados. O terceiro refere-se às técnicas e instrumentos utilizados na recolha de dados. O quarto explicita o tratamento dos dados.

4.1 Natureza da Investigação

Segundo Sousa (2005), a “Investigação em Pedagogia tem por objectivo promover a educação ajudando-a na realização do seu fim, que é o desenvolvimento holístico da pessoa” (p. 29). Este autor faz a distinção entre investigação didáctica e investigação pedagógica. De acordo com este autor, a primeira, investigação didáctica, centra-se mais no estudo das “melhores estratégias programáticas de uma dada disciplina”. A segunda, investigação pedagógica, é entendida como mais abrangente “contribuindo para o aumento dos conhecimentos científicos sobre a melhoria dos processos educacionais” (p. 29).

A presente investigação desenrolou-se em ambiente de sala de aula, onde o investigador foi também o professor da turma, tendo como objectivo fundamental avaliar o processo de implementação da estratégia Aprendizagem Baseada em Problemas orientada para o Pensamento Crítico e as aprendizagens dos alunos a nível do desenvolvimento de capacidades de Pensamento Crítico, da (re)construção de conhecimentos e da promoção de atitudes. Neste sentido, procurou-se focar o processo e não apenas os produtos/resultados. Na mesma linha de ideias, Delisle (2000) refere que na ABP, a avaliação dos alunos deve ser realizada ao longo de todo o processo.

Em função disso, em conjugação com características como as a seguir mencionadas, o estudo desenvolvido é de natureza qualitativa, segundo uma abordagem de estudo de caso. Bogdan e Biklen (1994) caracterizam uma investigação qualitativa segundo cinco ideias fundamentais. Primeiro, o ambiente natural é a principal fonte de dados, sendo o investigador o principal instrumento de recolha de dados. Segundo, tem um carácter eminentemente descritivo. Terceiro, o processo tende a ter uma maior importância do que

o(s) produto(s). Quarto, os dados são analisados de forma indutiva. Quinto, é dada grande importância ao significado. Para Bardin (2004), “incorporar a perspectiva qualitativa não significa mais do que tornar-se autoconsciente, pensar activamente” (p. 285). Este autor refere que a abordagem qualitativa “corresponde a um procedimento mais intuitivo, mas também mais maleável e mais adaptável a índices não previstos ou à evolução das hipóteses” (p. 107).

Segundo Bogdan e Biklen (1994), um estudo de caso “consiste na observação detalhada de um contexto, ou indivíduo, de uma única fonte de documentos ou de um acontecimento específico” (p. 89). Lessard-Hébert, Goyette e Boutin (2005) referem que um estudo de caso pressupõe uma participação activa no meio em que se inserem os sujeitos em estudo e uma análise pormenorizada dos elementos recolhidos. Tal como estes autores, também Carmo e Ferreira (1998), definem estudo de caso citando Yin (1988). Assim, um estudo de caso “investiga um fenómeno actual no seu contexto real quando os limites entre determinados fenómenos e o seu contexto não são claramente evidentes e no qual são utilizadas muitas fontes de dados” (p. 216).

Bogdan e Biklen (1994) consideram três tipos de estudos de caso: (i) estudos de caso de organizações numa perspectiva histórica; (ii) estudos de caso de observação; (iii) histórias de vida. Seguindo de perto esta classificação, a presente investigação enquadra-se num estudo de caso de observação, uma vez que é esta a principal técnica de recolha de dados utilizada.

Segundo autores como Sousa (2005), Lessard-Hébert, Goyette e Boutin (2005), o estudo de caso engloba três etapas. A primeira diz respeito à recolha dos dados. No contexto do presente estudo, esta etapa decorreu ao longo da implementação das Actividades de Aprendizagem em sala de aula, mediante: a videogravação das sessões com os alunos para subsequente transcrição e análise; a elaboração de um Diário de Investigação com registos de observações e reflexões do investigador/professor; a aplicação de questionários de auto- avaliação do desempenho dos alunos e compilação, para análise, de fichas e outros trabalhos realizados ou produzidos pelos alunos. Para organizar a informação recolhida nas transcrições das videogravações realizadas e catalogar os dados recolhidos mediante a análise das fichas de trabalho e documentos produzidos pelos alunos utilizaram-se instrumentos construídos para o efeito. Na análise dos dados recolhidos, foi utilizada a técnica de análise de conteúdo, uma vez que estes eram de natureza eminentemente

descritiva. A terceira etapa de um estudo de caso, referida pelos autores citados, é a interpretação dos dados e o tirar de conclusões mediante inferências feitas a partir da análise efectuada. Relativamente a esta última etapa, Bardin (2004) refere que “o que caracteriza a análise qualitativa é o facto de a «inferência – sempre que é realizada – ser fundada na presença do índice, e não sobre a frequência da sua aparição, em cada comunicação individual” (p. 107).

Pretendeu-se descrever o trabalho desenvolvido pelos alunos durante a implementação da estratégia ABP, tendo em atenção os episódios que evidenciam o uso de capacidades de PC, a (re)construção de conhecimento e as atitudes dos alunos, ao longo de todo o processo. Os dados recolhidos foram analisados no sentido de encontrar evidências do desenvolvimento dos aspectos mencionados anteriormente.

4.2 Os Casos Estudados

Nesta secção apresentam-se os casos estudados no âmbito do presente estudo. Em primeiro, faz-se uma breve descrição da turma à qual os sujeitos pertencem e, de seguida, focam-se os casos estudados: o caso da Ana (pseudónimo) e o caso da Bruna (pseudónimo).

4.2.1 A Escola e a Turma

Os casos estudados integram uma turma de uma escola do 1º CEB do ensino oficial público, situada na freguesia de Santo António dos Olivais, em Coimbra. Apesar de se encontrar muito próxima de zonas comerciais e residenciais da cidade de Coimbra, pode ser considerada já uma zona de periferia. Este facto faz com que o meio envolvente seja uma zona de transição entre o meio urbano e o meio rural.

O edifício da escola é de plano centenário tendo sido restaurado no ano lectivo de 2002/2003, pelo que se encontrava em boas condições no ano lectivo em que decorreu o estudo. Era constituído por duas salas de aula, dois halls (de acesso às salas) e quatro

casas-de-banho. Um dos halls de acesso às salas era utilizado como refeitório, tendo sido apetrechado com mesas e cadeiras e um lavatório.

O nível sócio-económico e cultural das famílias dos alunos pode ser considerado médio (de acordo com os dados recolhidos para o Projecto Curricular de Turma), verificando-se, no entanto, casos pontuais de elevadas carências económicas e afectivas.

Leccionavam nesta escola duas professoras titulares de turma e uma professora de apoio (2h – uma vez por semana). A partir do 2º Período foi colocado nesta escola um auxiliar de acção educativa a tempo inteiro.

No ano lectivo em que decorreu o estudo frequentavam a escola 23 alunos distribuídos por duas turmas. A turma A era constituída pelos alunos do 1º e 3º anos enquanto que a turma B era constituída pelos alunos do 2º e 4º anos. O gráfico seguinte mostra a distribuição da

população escolar por anos de escolaridade.

Gráfico 1 – Distribuição da população escolar por anos de escolaridade

População Escolar por Ano de

Escolaridade

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

1º Ano 2º Ano 3º Ano 4ºAno

Anos de Escolaridade

N.º

de

Alunos

A turma onde foi implementada a estratégia ABP era constituída pelos alunos do 1º e 3º anos de escolaridade. Frequentava ainda a turma um aluno do 2º ano com Necessidades Educativas Especiais (NEE) que acompanhava, ao nível das aprendizagens, o grupo do 1º ano. Assim, a turma em causa era constituída por 12 alunos, 3 do sexo masculino e 9 do

sexo feminino. As idades dos alunos, no início do ano lectivo, estavam compreendidas entre os 5 e os 8 anos de idade, como se pode verificar no gráfico seguinte:

Gráfico 2 – Distribuição dos alunos da turma por idades

Idades dos Alunos da Turma

4 5 1 2 0 1 2 3 4 5 6

5 anos 6 anos 7 anos 8 anos

Idades N. º d e Al u n o s

A sala 1, ocupada pela turma A, era partilhada com a instituição responsável pela gestão das Actividades de Tempos Livres que funcionava após o período lectivo. Por este motivo, o espaço estava organizado de forma a que ambas as actividades, lectivas e não lectivas, pudessem ocorrer. O esquema seguinte representa a organização da sala onde decorreu a implementação da maioria das actividades de aprendizagem desenvolvidas no âmbito da operacionalização da estratégia ABP com orientação para o PC.

Figura 9 – Esquema representativo da sala de aula

Todos os alunos se encontravam a frequentar pela primeira vez o ano de escolaridade em que estavam matriculados. O aluno com NEE, matriculado no 2º ano, acompanhava o grupo do 1º ano pela segunda vez.

Dos alunos a frequentar o primeiro ano, registou-se que havia dois subgrupos distintos. Um grupo de quatro alunos atingia com facilidade as competências definidas para o 1º ano de Escolaridade. Um segundo grupo de quatro alunos, revelava bastantes dificuldades em acompanhar o primeiro grupo. Para tal podiam contribuir duas ordens de razões. Primeiro, os alunos do segundo grupo não tinham frequentado o ensino pré-escolar, enquanto que todos os do primeiro grupo o tinham frequentado. Segundo, os alunos do segundo grupo tinham nascido no último trimestre do ano, pelo que apenas completaram seis anos de idade durante o 1º Período. Frequentava, ainda, a turma uma aluna, matriculada no 1º ano que, à data da entrada para a escola, já sabia ler e escrever. Este conhecimento foi valorizado e a aluna foi incumbida da tarefa de registar as observações realizadas em algumas das actividades desenvolvidas, a par com as alunas do 3º ano.

Embora se tenha tido em consideração a turma como um todo, os casos estudados foram as duas alunas do 3º ano. Podem apresentar-se duas ordens de razões para a selecção destes casos. Primeiro porque, como alunas do 3º ano, têm um domínio da escrita e da leitura que lhes permite uma maior autonomia nas tarefas propostas, incluindo a elaboração de

Mesa Armário Armário Armário Carpete com almofadas TV DVD Quadro negro

registos escritos, em relação aos alunos do 1º ano. Segundo, como a implementação deveria ocorrer num contexto de educação formal, foram analisados os programas do 1º e do 3º anos de escolaridade. Considerou-se que os conteúdos patentes no programa do 3º ano permitem realçar as interacções CTS de uma forma mais evidente.

4.2.2 O caso A1 (Ana)

A Ana era uma aluna oriunda de uma família de nível socio-económino médio. A mãe era professora do 3º Ciclo, com habilitações académicas de nível superior. O pai era projectista/desenhador com habilitações de nível superior técnico. A aluna residia no perímetro da escola, com os pais e um irmão mais novo. Ambos os pais eram participativos na vida escolar e apoiavam a aluna nos trabalhos de casa. A Ana era uma aluna interessada e muito motivada para as aprendizagens tendo feito um percurso escolar normal.

4.2.3 O caso A2 (Bruna)

A Bruna era uma aluna oriunda de uma família muito carenciada. Os pais divorciaram-se, tendo a Bruna ficado à guarda da mãe. No entanto, situações de maus-tratos e negligência levaram a que a guarda da criança passasse para o poder paternal. No ano lectivo em que decorreu o estudo, a Bruna vivia com o pai, a avó paterna e dois irmãos mais velhos numa habitação situada nas proximidades da escola. O pai não participou na vida escolar. Esta tarefa era incumbida à irmã da Bruna, com 17 anos de idade. Durante o 1º ano de escolaridade a aluna frequentou outra escola, onde não era muito assídua, pelo que, não atingiu as competências essenciais relativas ao 1º ano de escolaridade. No ano lectivo anterior àquele em que decorreu o estudo, a aluna acompanhou o 2º ano, embora, na área da Língua Portuguesa estivesse ainda ao nível do 1º ano. A aluna revelava ainda algumas dificuldades ao nível da Língua Portuguesa, nomeadamente na compreensão de enunciados.