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Das origens do Pensamento Crítico à actualidade

2.1 Educação em Ciências

2.2.1 Das origens do Pensamento Crítico à actualidade

Autores como Sternberg (1989) consideram que o Pensamento Crítico, enquanto objectivo de desenvolvimento integral dos indivíduos, surgiu com a própria necessidade de educar. Este autor considera que, na origem dos estudos sobre Pensamento Crítico, podemos encontrar três tradições diferentes: a filosófica, a psicológica e a educacional. Segundo Sternberg (1989), as três perspectivas de teorização e investigação sobre o PC têm vantagens e desvantagens e, como tal, traduzem elementos importantes na compreensão do PC e na forma como estas capacidades podem ser desenvolvidas na sala de aula.

Segundo Sternberg (1989), a tradição filosófica do Pensamento Critico remonta ao tempo da Grécia Antiga representada nas figuras de Aristóteles e Platão. Esta perspectiva que se dedica, principalmente, ao estudo das capacidades de pensamento em situações óptimas, ou seja, situações em que não existe qualquer limitação (tempo, motivação…) ao sistema de processamento da informação (Sternberg, 1989). Esta abordagem permite-nos conhecer os limites máximos das capacidades de pensamento mas não está adaptada à realidade das salas de aula, uma vez que não poderemos conceber uma sala de aula sem algumas destas limitações. Na actualidade, os estudos filosóficos sobre as capacidades de pensamento têm como base os escritos de Ennis, Lipman e Paul.

A tradição psicológica encontra-se representada por autores como Stein, Druner ou Feurstein. Estes autores interessam-se mais por caracterizar o Pensamento Crítico da generalidade dos indivíduos em relação a outros indivíduos com algumas limitações. Nesta óptica, são apontadas algumas desvantagens a esta perspectiva: as teorias são obtidas com

base em resultados de montagens laboratoriais que não espelham as situações do dia-a-dia; a tentativa de encontrar padrões dá origem, por vezes, a teorias demasiado simplificadas do pensamento no Ser Humano.

A tradição educacional tem sido mais orientada para a observação de como as crianças utilizam o PC na sala de aula e como as capacidades de PC podem ser desenvolvidas. Arends (2001) refere que os métodos activos ou indutivos têm a sua origem no método socrático que considerava o raciocínio e o diálogo peças fundamentais no processo de ensino. Na tradição educacional do Pensamento Crítico, Jonh Dewey é referenciado por vários autores como o principal propulsor do pensamento reflexivo no início do século XX. Este autor descreveu, também, estratégias que os professores deveriam utilizar na sala de aula para promover este tipo de capacidades de pensamento (Arends, 2001).

Ao longo do século XX, alguns autores abordaram as questões do PC e reforçaram a sua importância no contexto educacional, embora sem uma aplicação prática definida e consistente. Só a partir dos anos 80 é que o ensino do Pensamento Crítico começa a florescer enquanto movimento educacional (Vieira, 2003). Este autor, citando Hare (1999), refere os seguintes factores como responsáveis pela emergência do movimento educacional do Pensamento Crítico:

- “o facto de muitos relatórios publicados revelarem que persistem nas salas de aula as rotinas, nas quais os estudantes são incapazes de aplicar o que conhecem na solução de problemas e não são tratados com o respeito que merecem pessoas capazes de independência intelectual;”

- “o reconhecimento de que os enviesamentos, a inveja e a intolerância necessitam do pensamento crítico para uma educação moral das sociedades plurais que querem evitar a tradicional doutrinação;”

- “e uma crescente percepção de que os estudantes terão de enfrentar um futuro incerto com empregos em transformação rápida que exigem adaptação, recursos e autonomia.” (2003, p. 53).

A emergência do PC enquanto meta educacional deve-se também a novos conceitos gerais sobre a educação, que vieram modificar o modo como se encara a Educação em geral. Segundo Sternberg (1989) há três autores que se podem considerar como percursores destes novos conceitos. Em primeiro, a teoria da modificabilidade de Feuerstein. Em segundo, a teoria das Inteligências Múltiplas de Gardner. Terceiro, a ideia defendida por Whimbley de que a inteligência pode ser ensinada. Sternberg sustenta ainda a tese de que

os testes de QI têm pouca validade quando nos referimos ao sucesso para lidar com problemas do dia-a-dia.

Tenreiro-Vieira e Vieira (2000a), referem que, no início dos anos oitenta, diversas instituições começam a chamar a atenção para a necessidade do ensino do PC. Boisvert (1999), citado por Vieira (2003), considera que o ensino do PC atravessou três fases. Na primeira, até aos anos oitenta, o ensino do PC era um ”ensino centrado nas capacidades de PC que eram escolhidas como objectivos”. Na segunda, relativa à década de oitenta, o ensino era orientado para os processos de PC e Criativo ligados à resolução de problemas e à tomada de decisões. Na terceira fase, que corresponde aos anos noventa, deu-se uma maior ênfase à aplicação das capacidades e processos de PC a situações do mundo escolar e da vida pessoal dos alunos.

Com o objectivo de fundamentar as práticas e tornar explicito o ensino do PC, foram criados diversos programas de intervenção centrados no ensino de capacidades de PC citados por Vieira (2003), dos quais se destacam o “Philosophy for Children” de Lipman em 1982 e o “Biology Critical Thinking” de Zohar e Tamir em 1993.

Na actualidade, autores como Tenreiro-Vieira (2000) e Vieira (2003) referem que existe um movimento explícito do ensino do PC devido a diversos factores que se explicitarão de seguida. Primeiro, é evidente a incorporação, nos programas de várias disciplinas, de referências à necessidade de promover o desenvolvimento das capacidades de PC. Segundo, o número crescente de livros e artigos escritos sobre o PC integrado em diferentes disciplinas. Terceiro, o aumento do número de conferências sobre o PC das quais se destacam a “Annual International Conference on Critical Thinking at Sonoma State University”.

No entanto, apesar de ser considerado por muitos autores como um movimento emergente, diversos estudos sustentam que o desenvolvimento de capacidades de PC não é uma prática comum nas salas de aula.