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Importância de um ensino orientado para o PC

2.1 Educação em Ciências

2.2.2 Importância de um ensino orientado para o PC

Segundo Bowell e Kemp (2002), quando questionamos porquê fazer isto ou acreditar

devo comer um determinado cereal ao pequeno-almoço?” estamos à procura de uma justificação para uma acção ou para acreditar em algo. Não apenas uma razão mas uma boa razão que nos leve a agir racionalmente. Valente refere que “o objectivo primeiro da escola e talvez o mais singular é o de promover o desenvolvimento intelectual dos alunos ensinando-os a pensar, crítica e criativamente, para que aprendam eficazmente a tomar decisões face a problemas que os confrontam” (1989, p. 41).

A importância crescente que se tem dado, na educação, ao desenvolvimento de capacidades de PC advém do facto de se considerar que o desenvolvimento destas capacidades é essencial na formação integral dos indivíduos. No sentido de “preparar os alunos para uma diversidade de funções e responsabilidades que a sociedade lhes exige” (Figueiredo e Palhares, s/d).

Tenreiro-Vieira (2000) aponta diferentes ordens de razões para o interesse pelo estudo do PC e necessidade do seu ensino explícito. Primeiro, diversos estudos têm vindo a revelar que este tipo de capacidades podem ser desenvolvidas. Segundo, esta autora refere que as “preocupações com insucessos, devidamente documentados do sistema corrente” (p. 18) conduzem a um aumento do interesse pelas vantagens que o promover destas capacidades poderá trazer. Terceiro, as rápidas mudanças que ocorrem na sociedade actual tornam impossível “dominar todo o conhecimento disponível” ou sequer “prever quais os conhecimentos úteis aos alunos, na sua vida futura”. Por este motivo, “a escola deve ser capaz de dotar os estudantes com ferramentas que lhe permitam lidar com qualquer conhecimento em qualquer contexto” (p. 18). Quarto, uma sociedade democrática exige dos seus cidadãos “julgamentos inteligentes sobre questões públicas”, ou seja, que sejam capazes de utilizar as capacidades de pensar “para resolver problemas sociais” (pp. 18- 19). Quinto, a tarefa da educação é formar indivíduos capazes de tomar decisões sobre a sua vida e actuar de forma a terem sucesso. O uso de capacidades de Pensamento Crítico ajuda o aluno a “resolver os problemas com que se defronta, dar resposta às exigências do mundo actual e participar plenamente numa sociedade democrática” (p. 19). Sexto, a própria natureza do Pensamento Crítico faz com que se inclua no processo educativo, uma vez que permite o desenvolvimento de capacidades de raciocínio e torna o aluno capaz de “analisar, decidir aquilo que é verdadeiro, dominar e controlar o seu próprio conhecimento e adquirir novo conhecimento” (p. 20).

Em Portugal, o desenvolvimento de capacidades de PC nos alunos, tem vindo a ser uma meta da educação, ao nível dos currículos formais, desde a Lei de Bases do Sistema Educativo (LBSE) de 1986. De facto, neste documento é expressa esta preocupação na utilização de expressões como “cidadãos capazes de julgarem com espírito crítico” ou quando se advoga a necessidade de desenvolvimento “da capacidade de raciocínio, do

espírito crítico”. Esta preocupação é também evidente nas alterações feitas à LBSE em

1997 e em 2005.

No documento “Organização Curricular e Programas do 1º Ciclo do Ensino Básico” (ME – DEB, 2006), no que concerne à área de Estudo do Meio, o ensino do PC é referido como um princípio orientador do processo de ensino aprendizagem: “pretende-se que todos se vão tornando observadores activos com capacidade para descobrir, investigar, experimentar e aprender”; “os alunos serão ajudados a aprender a organizar a informação e a estruturá-la” (p. 102). No que diz respeito ao PC, são também objectivos enunciados neste documento: “utilizar processos simples de conhecimento da realidade envolvente” tais como “observar, descrever, formular questões e problemas, avançar possíveis respostas, ensaiar, verificar”; “seleccionar diferentes fontes de informação… e utilizar diversas formas de recolha e de tratamento de dados simples” (ME – DEB, 2006, p. 103). No que diz respeito às sugestões metodológicas, é referido no mesmo documento que o professor deverá procurar “desenvolver nos alunos uma atitude de permanente experimentação” (p. 123), encorajando os alunos “a levantar questões e a procurar respostas” e a fazer “registos daquilo que observam” (p. 115).

No documento “Currículo Nacional do Ensino Básico – Competências Essenciais” (ME – DEB, 2004), o PC é também referido, nas áreas de Estudo do Meio e Ciências Físicas e Naturais. Segundo este documento, “os alunos problematizam e investigam, isto é, colocam hipóteses, pesquisam, recolhem e tratam informação, analisam dados… e encontram soluções”. Decorrente do processo de ensino e aprendizagem, os alunos deverão ter oportunidade de: realizar “pesquisa de informação”; fazer “levantamento de questões, definição de estratégias e actividades a desenvolver”; usar o “sentido crítico para análise e emissão de juízos acerca do trabalho e comportamento próprios e dos outros” (p. 77). No desenvolvimento de actividades investigativas, o CNEB preconiza que os alunos devem desenvolver atitudes científicas que integram “a necessidade de ser crítico em relação às suas ideias e forma de trabalhar” (p. 80). Na área relativa às Ciências Físicas e Naturais,

este documento refere, entre outras experiências de aprendizagem, que os alunos deverão ter oportunidade para “analisar, interpretar e avaliar evidência recolhida quer directamente, quer a partir de fontes secundárias” e “aprender a construir argumentos persuasivos a partir de evidências” (p. 130). No que diz respeito às competências específicas a desenvolver nos alunos com vista à literacia científica, este documento sugere que devem realizar-se “sempre que possível, situações de aprendizagem centradas na resolução de problemas”, tais como a “interpretação de dados”, a “formulação de problemas e de hipóteses”, o “planeamento de investigações” que integrem “previsão e avaliação dos resultados”, o “estabelecimento de comparações”, a “realização de inferências, generalização e dedução”. Estas situações de aprendizagem devem “promover o pensamento de forma criativa e crítica”. No campo das atitudes, este documento refere ainda que os alunos devem desenvolver atitudes de “reflexão crítica sobre o trabalho efectuado” (DEB – ME, 2004, p. 133).