• Nenhum resultado encontrado

Avaliação do desenvolvimento moral dos estudantes de Medicina com a utilização do MJI, SROM, DIT e DIT-

3. O Desenvolvimento Moral

3.4. O desenvolvimento moral dos estudantes de Medicina

3.4.1. Avaliação do desenvolvimento moral dos estudantes de Medicina com a utilização do MJI, SROM, DIT e DIT-

As publicações mais expressivas do século passado a abordar o desenvolvimento moral de estudantes de Medicina foram feitas por Donnie J. Self e seu grupo na instituição Texas A&M University Health Science Center. O primeiro estudo dos autores sobre desenvolvimento moral e educação médica, constitui-se em uma pesquisa com amostra pequena (n =20), na qual os autores aplicaram o MJI original (idealizado por Lawrence Kohlberg) como instrumento de avaliação das habilidades de raciocínio. Os autores não encontraram diferenças significantes entre o primeiro e o quarto ano para o grupo como um todo, ou por sexo (Self et al. 1991). No segundo estudo dos autores, utilizou-se o SROM, com amostra pouco maior de estudantes (n = 30). Verificou-se ligeiro acréscimo no escore, embora não significante, entre o primeiro e o quarto ano para o grupo como um todo e para ambos os sexos (Self et al. 1996).

51 Em uma terceira pesquisa do grupo, com a utilização do DIT, os autores avaliaram 95 estudantes no período de 1991-94, no início do primeiro semestre, ao final do mesmo semestre após um curso de ética médica e ao final do quarto semestre. Verificaram os seguintes escores P do DIT para os três grupos: 47,7, 53,7 e 56,5, respectivamente. O ganho de +6,0 pontos na média do escore entre o primeiro e o segundo teste foi significante (p<0,0001), bem como de +8,8 pontos entre o teste inicial e o final (p<0,0001). A diferença de +2,8 pontos entre o segundo teste e o final também foi significante, embora em menor nível (p<0,0302). No mesmo estudo, os autores não encontraram correlação significante entre os escores de raciocínio moral e a idade. Houve, entretanto, correlação significante entre os escores e o sexo, com as mulheres mostrando desempenho mais elevado do que os homens nos três testes realizados (Self

et al. 1998a).

Em outra pesquisa, os autores realizaram estudo de corte transversal em turmas que concluíram o primeiro (n = 129), o segundo (n = 106), o terceiro (n = 125) e o quarto ano (n = 128) do curso médico, com a aplicação do DIT. Houve diferenças significantes nos escores por sexo em cada um dos anos estudados, com as mulheres a apresentar escores mais elevados do que os seus colegas de classe, de maneira consistente. Por outro lado, não foram encontradas diferenças significantes dos escores do DIT, para os homens ou mulheres, isolados ou em combinação, entre os anos estudados. Verificou-se que também não houve diferenças significantes nos escores de raciocínio moral entre os estudantes dos anos pré-clínicos (primeiro e segundo ano) e dos anos clínicos (terceiro e quarto ano), na comparação entre qualquer combinação dos anos pré-clínicos versus anos clínicos, bem como no agrupamento dos anos pré-clínicos

versus anos clínicos. Não houve também diferenças nos escores por sexo entre os anos

pré-clínicos versus clínicos (Self e Baldwin Jr. 1998).

Com o objetivo de avaliar o impacto de medida de intervenção sobre o desenvolvimento moral dos estudantes de Medicina, o mesmo grupo de autores realizou estudo com 114 alunos do primeiro semestre do curso de Medicina, assim divididos: 1) 48 alunos (20 mulheres e 28 homens) que participaram durante o outono de um curso eletivo de temas sociais em Medicina, que consistiu de uma discussão semanal de uma hora sobre filmes curtos; 2) 37 (18 mulheres e 19 homens) que participaram do curso durante as estações de outono e inverno; 3) um grupo controle de 29 (8 mulheres e 21 homens) que não realizaram o curso e, portanto, não tiveram exposição às discussões

52 sobre os filmes. As habilidades de raciocínio moral dos estudantes foram testadas com a utilização do DIT aplicado pré-exposição e pós-exposição. Houve diferença significante do escore P entre o grupo exposto às duas estações e o grupo controle (56,40 versus 47,68, p<0,009). A diferença entre os estudantes que foram expostos em apenas uma estação e o grupo controle não foi significante (53,01 versus 47,68, p <0,89). Ao comparar o desempenho de cada participante pré-exposição e pós-exposição, observou- se que houve diferença significante, com média de ganho de escore de +6,23 (p<0,02) para os que foram expostos em uma estação e de +6,18 (p<0,007) para os que foram expostos nas duas estações. Os autores concluem que existem métodos adequados e disponíveis para avaliar objetivamente alterações nas habilidades de raciocínio moral dos estudantes de Medicina e que a discussão de filmes é um método apropriado para ensinar humanidades médicas se o aumento das habilidades de raciocínio moral dos estudantes for um dos maiores objetivos (Self et al. 1993).

Em outra pesquisa com a utilização do DIT, ocorrida no período de 1991 a 1998, os autores testaram os estudantes para habilidades de raciocínio moral antes e depois da participação em discussões em pequenos grupos de oito a 10 estudantes e dois membros docentes. As discussões giravam em torno da descrição resumida de casos clínicos contendo uma variedade de temas éticos. De um total de 960 estudantes, foram colhidos os dados completos de 729 (75,9%). A exposição dos estudantes às discussões de dilemas morais de casos clínicos em pequenos grupos variou de 0 a 44 horas: 480 estudantes foram expostos a menos de 10 horas de discussão de casos; 101 estudantes foram expostas a 10-19 horas; 76 estudantes expostos a 20-29 horas; 47 estudantes expostos a 30-39 horas; 25 estudantes expostos a 40 horas ou mais. Os grupos de estudantes expostos a 20 horas ou mais de discussão demonstraram aumento significante dos escores de raciocínio moral (escore P), o que não ocorreu com estudantes expostos a menos de 20 horas. Os autores concluem serem as habilidades de raciocínio moral mensuráveis e ensináveis, sendo a discussão em pequenos grupos associada a aumento significativo em tais habilidades (Self et al. 1998b).

Em uma pesquisa realizada na Finlândia, com a utilização do MJI de Kohlberg, comparou-se 68 estudantes calouros da Faculdade de Medicina da Universidade de Helsinki com 43 estudantes do terceiro ano (Helkama et al. 2003). Observou-se que 44,0% dos estudantes apresentaram pelo menos regressão de um terço em um estágio de Kohlberg e 12,0% regrediram um estágio inteiro. Por outro lado, a percentagem de

53 progressão foi de 19,0%, com apenas um estudante apresentando progressão de um estágio inteiro. Numa escala de 100 a 500, os escores médios ponderados (WAS:

weighted average scores) foram de 362 (DP = 55,4; p<0,01) para os alunos do primeiro

ano e de 342 (DP = 47,4) para os alunos do terceiro ano.

Em pesquisa realizada na Croácia, aplicou-se o DIT-2 em três coortes consecutivas de estudantes do segundo ano em 2002 (n = 207), 2003 (n = 192) e 2004 (n = 139), bem como em 707 estudantes de todos os seis anos do curso médico em 2004 (estudo de corte transversal) (Hren et al. 2011). No estudo longitudinal de três coortes, observou-se que os estudantes regrediram do esquema de “raciocínio pós-convencional” para o de “manutenção das normas” após iniciar a parte clínica do currículo. No estudo de corte transversal houve efeito significante do ano de estudo sobre o escore pós- convencional. Os estudantes do terceiro ano apresentaram escore mais elevado do esquema pós-convencional do que todos os outros anos de estudo (p <0,001). Os estudantes do terceiro e do quarto ano apresentaram escores do “interesse pessoal” mais baixos do que os estudantes do primeiro, segundo e sexto ano (p <0,001). Não houve efeito do ano de estudo sobre o escore de “manutenção das normas”.

3.4.2. Avaliação do desenvolvimento moral dos estudantes de Medicina com