• Nenhum resultado encontrado

3. O Desenvolvimento Moral

6.2. Público-alvo

Todos os estudantes do primeiro e do oitavo semestres de uma escola médica no Brasil, no primeiro semestre de 2011 e as turmas correspondentes da escola médica

67 portuguesa. Os critérios de inclusão foram pertencer às respectivas turmas. Os critérios de exclusão foram negar-se a participar da pesquisa ou preencher o questionário (MJT) incompletamente com relação aos argumentos a favor (item b do MJT) e contra (item c do MJT) a decisão tomada pelos personagens envolvidos nos dois dilemas.

6.3. Instrumento

Foi utilizado o MJT (Lind e Wakenhut 1985) traduzido e validado para a língua portuguesa do Brasil em 1998 (Bataglia 2001; Lind et al. 2005a; Bataglia 2010) e de Portugal (Lind et al. 2005b). O teste foi desenvolvido para medir simultaneamente a competência de juízo moral e atitudes morais (Lind 2008, 2010a, 2011). O instrumento criado por Lind deriva da sua teoria do duplo-aspecto do julgamento moral e tem por base abordagens cognitivo-estrutural e experimental de mensurações psicológicas (Schillinger 2006; Lind 2010a). A versão padrão do MJT contém duas histórias curtas: o dilema do operário (ou do trabalhador), que trata de uma violação da lei, no qual se devem reunir provas de escuta ilegal de conversações; o dilema do médico, no qual o médico está frente à decisão de tornar possível a morte de uma mulher que tem uma enfermidade terminal e deseja morrer (anexo 2). Depois que o participante toma uma decisão frente à solução do dilema descrito (“o comportamento do operário / médico foi correto ou incorreto?”), ele é confrontado com seis argumentos a favor da decisão e seis argumentos contrários à mesma. O participante deve valorar os argumentos segundo sua aceitabilidade, numa escala de “-4” (totalmente inaceitável) a “+4” (totalmente aceitável).

Todos os seis argumentos a favor e contra foram cuidadosamente elaborados para representar cada uma das seis orientações morais identificadas por Kohlberg (1984). Por conseguinte, os argumentos são classificados em três níveis e em cada nível há dois estágios: o “nível pré-convencional” compreende a orientação da decisão individual para o castigo e a obediência (estágio 1) e a orientação para o hedonismo instrumental relativista (estágio 2); o “nível convencional” compreende a orientação para a aprovação social e de pessoas de referência importantes, a moralidade do “bom garoto” (estágio 3) e a orientação para a lei e a ordem, o cumprimento do dever (estágio 4); o “nível pós-convencional” engloba a orientação para o contrato social, para o acordo social aprovado democraticamente (estágio 5) e a orientação para os princípios universais de consciência, ou para os princípios éticos válidos em nível geral, como o respeito pela dignidade humana (estágio 6). Os argumentos incluídos no MJT foram

68 extraídos parcialmente dos exemplos de entrevistas de Kohlberg e seu grupo (Colby e Kohlberg 1987, 2010), complementados com formulações próprias de Lind que foram testadas em investigações preliminares (Lind 2007, 2008, 2010a).

O MJT contrasta acentuadamente e em muitos aspectos com os instrumentos psicométricos tradicionais (Lind 2008). Com o MJT, a unidade de estudo é a estrutura individual do raciocínio moral e não a estrutura do indivíduo em relação a uma amostra. O índice principal, que é o escore C, tem por base a análise do padrão total de respostas, não sobre respostas particulares que, isoladamente, não têm maiores significados. Por outro lado, o MJT nos permite medir simultaneamente ambos os aspectos do comportamento democrático: a competência e a orientação. Como consequência, o teste proporciona várias medidas dos aspectos cognitivos e afetivos do comportamento de juízo moral, sendo o principal, como já foi dito, o escore C. Este escore reflete o grau no qual o participante pondera os 24 argumentos do instrumento segundo a sua qualidade, mais do que o fato de estarem em acordo ou em desacordo com a própria opinião expressada e outros aspectos da situação, como o contexto do dilema. A pontuação C varia desde zero, a indicar que o participante não é capaz de entender a qualidade moral dos argumentos, até 100, a indicar que o participante ponderou os argumentos exclusivamente segundo sua qualidade moral (Lind 2011).

Medida da competência de juízo moral: aspecto cognitivo (escore C)

Para obter um valor (ou índice) da capacidade de decisão moral de uma pessoa se analisa estruturalmente todo o seu “modelo de decisão” que se compõe de 24 decisões individuais. Depois se examina o modelo de decisão para saber em que medida a pessoa se orientou durante a preferência pela qualidade moral dos argumentos apresentados (ou seja, valorar os bons argumentos em detrimento dos maus argumentos) ou pelo fato de que os argumentos estavam de acordo ou contrários à sua própria opinião. O valor do teste, chamado “valor-C” (C de Competence) ou escore C (ou C-

Score), foi construído de tal forma que é nulo quando a pessoa entrevistada não faz

absolutamente nenhuma diferença entre os argumentos, senão pelo fato de aceitar todos sem distinção quando correspondem à sua própria opinião e os rechaçar sem distinção se vêm de um opositor (ou posição contrária à sua). O escore C alcança o seu mais alto valor (100) quando a pessoa, durante a valoração dos argumentos, se orienta exclusivamente por sua qualidade. O MJT é concebido como um experimento

69 multivariado, com desenho ortogonal dependente 6x2x2, no qual os três fatores do desenho são ortogonais ou não-correlacionados. O escore C é calculado analogicamente à análise multivariada de variância (MANOVA) (Lind 2010a).

Medida do aspecto afetivo: atitudes morais

Outro elemento que pode ser estabelecido pelo MJT é a mensuração do aspecto afetivo que reflete as atitudes do participante em relação a cada um dos seis estágios de raciocínio moral (Kohlberg 1984). A preferência pelos seis estágios é computada com o objetivo de testar o critério da ordenação hierárquica dos estágios e o paralelismo afetivo-cognitivo. O aspecto afetivo, portanto, não é refletido pelo escore C. Para o cálculo desta variável a partir do MJT, procedeu-se a soma das quatro respostas dos argumentos alocados em cada estágio de raciocínio moral de Kohlberg, ou seja, para cada um dos dois dilemas, somou-se a resposta a favor com a resposta contrária (item b + item c do MJT) no mesmo estágio de Kohlberg (Lind 2007). Como para cada resposta a favor ou contra há a possibilidade de variação de -4 a +4, a soma das quatro respostas está dentro de uma variação de -16 a +16. Na análise do desempenho por dilemas do MJT, somou-se a resposta a favor da ação com a resposta contrária, no mesmo estágio de raciocínio moral de Kohlberg, o que permite uma variação de -8 a +8.

Medida da opinião (item a do MJT)

Registrou-se a classe de opinião assinalada pelo pesquisado, numa escala de intensidade -3 a +3. Para análise desta variável, considerou-se forte discordância (- 3)/concordância (+3), discordância moderada (-2, -1)/concordância moderada (+1, +2), não concordância e nem discordância (0) (Schillinger 2006).

7.4. Procedimento

O MJT foi aplicado no primeiro mês do primeiro semestre e no último mês do oitavo semestre, em sala de aula. Foi feita uma breve apresentação para os participantes, sendo esclarecidos os objetivos da pesquisa e a orientações de como preencher o instrumento, bem como a coleta de outras informações em protocolo anexo ao MJT: idade, sexo e semestre (anexo 2). Não houve pressão quanto ao tempo de preenchimento do questionário, conforme recomenda Lind, ocorrendo o preenchimento num tempo que variou de 15 a 30minutos (Lind 2007). No Brasil, a aplicação foi feita pelo autor desta

70 pesquisa. Em Portugal, a aplicação ficou sob a responsabilidade do Orientador e da Coorientadora.