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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.4. Formação didático-pedagógica curricular: perspectivas para uma teoria da

3.5.4. Avaliação diagnóstica do curso

Neste tópico, foram levantadas várias questões sobre o curso de Pedagogia, tais como, a discrepância entre a teoria estudada nas aulas e a prática encontrada no cotidiano escolar; também foi levantada a questão do comprometimento do aluno com o curso, ou seja, sua participação e envolvimento; outra questão presente, foi a concentração do curso dentro da universidade, não tendo a possibilidade de visitas de campo; também destacou-se a questão da mudança de professores na trajetória do curso, apontado como fator prejudicial a aprendizagem.

Para os entrevistados um e seis, houve maior foco na teoria, esta sobrepujando a prática, onde muitos teóricos estudados não presenciaram o cotidiano escolar, o que aumenta a discrepância entre a teoria e a prática, como pode ser observado a seguir:

(...) mas muita coisa vista na fundamentação teórica não condiz com a nossa realidade, exige muito de nós profissionais da educação, muito além do que a gente é capaz ou pode dar..., tem muitos teóricos que pesquisaram a vida toda e nunca estiveram em uma sala de aula cara a cara com o aluno, e isso influencia muito, você só estudar, só pesquisar só na universidade, fora da prática você fica alienado, a prática é necessária para sentir na pele como é, daí a importância dos estágios na minha formação. (Entrevistado 1 – grifo nosso)

Esse é o ponto da pedagogia que me deixou bastante entristecida, desiludida, porque eu acho que a gente sai da faculdade com uma grande visão crítica das coisas, do mundo, mas isso forma uma pessoa crítica, e não um professor crítico. (...)

Eu acho que teve muita teoria para pouca prática, de uma forma geral do curso, (Entrevistado 6 – grifo nosso)

Cabe novamente lembrar que, o “curso tem como um dos princípios norteadores da formação do aluno, (...), a consistente fundamentação teórica que visa assegurar, (...), um bom desempenho profissional para atuar no cotidiano escolar” (UNESP, 2001 p.12-13).

Um participante do estudo destacou a questão do comprometimento do aluno com o curso, com sua formação, deixando de concentrar a formação exclusivamente no curso, transferindo a responsabilidade ao aluno pela sua formação.

Houve fundamentação teórica por parte dos professores, mas o que acontece no curso de pedagogia, não é o problema da disciplina não dar o suporte é o aluno. Se ele quer acatar ou não tudo que os professores tem pra passar para gente, se eu estou disposta com a disciplina ai eu consigo ter esse olhar reflexivo, mas se eu não tenho as leituras, se eu não acompanho o cronograma, ou o que é proposto em sala de aula ai fica complicado. (Entrevistado 3 – grifo nosso)

Essas idéias nos remetem ao pensamento de Ribeiro (2007), quando afirma que:

“Outro ponto se refletia no fato do curso ser noturno, pois parecia interferir no seu perfil, uma vez que era comumente freqüentado por alunos que trabalhavam durante o dia. Isto, ao que parece, acarretava pouco envolvimento com atividades acadêmicas do campus (como assembléias, projetos de extensão e pesquisa). Outra provável conseqüência era o freqüente despreparo dos alunos nas aulas, que sob alegação de falta de tempo, não liam previamente o assunto a ser abordado, cuja indicação era feita pelo professor. Sabe-se da importância deste preparo para o enriquecimento das aulas, já que as tornaria um espaço de discussão, evitando a fatídica aula expositiva e pouco interativa.” (p.7)

Outro participante do estudo ressaltou a concentração do curso dentro da universidade, não havendo saídas de campo, resumindo-se unicamente aos estágios, o que dificulta uma reflexão coletiva, uma vez que os mesmos são realizados, em sua maioria, individualmente, ou em pequenos grupos.

Agora fora da sala de aula pouco. Eu acredito que o curso de pedagogia, aqui da UNESP de Rio Claro..., ele centra dentro da sala de aula, não temos visitas, não tem saídas de campo que possibilitem olhares diferentes com a turma da sala. Temos os estágios, mas são coisas individuais. (Entrevistado 8 – grifo nosso)

Embora o Projeto Pedagógico do curso aborde a temática dos estágios e da importância do contato dos discentes com o ambiente escolar, não há nada específico quanto as saídas de campo, ou mesmo visitas coletivas (UNESP, 2000).

Na opinião de outro participante do estudo, a mudança de professores no decorrer do curso prejudica a formação, pois cada docente possui métodos e pensamentos diferentes, o que acaba confundindo os alunos.

Alguns professores dentro da universidade.... eu percebo que eles, ainda, são muito conservadores, muito tradicionais. E... apesar da gente discutir muito certos aspectos da formação de professores, ainda tem muitos professores com uma linha... que parece que só o pensamento deles é o correto. (...) (Entrevistado 10 – grifo nosso)

A grade curricular em si eu achei ao mesmo tempo uma coisa muito pesada e muito básica, que acaba confundindo um pouco. (...) E essas mudanças de professores, é

professor contratado, é professor efetivo... eu acho que acaba atrapalhando um pouco, você perde um pouco com isso. Talvez se o professor pudesse te acompanhar todos os semestres seria muito melhor, pois você poderia acompanhar a linha de pensamento dele, mas daí você começa com um, depois vem o outro e expõem outra coisa, daí vem outro e você tem que ser um professor reflexivo, você tem que ser livre, você tem que ter suas próprias idéias não copiar dos outros, daí vem outro e fala que você tem que seguir os autores. (...) (Entrevistado 10 – grifo nosso)

Mas no geral eu me surpreendi bastante, apesar de todas essas críticas, minha cabeça mudou muito depois que eu entrei na universidade, em relação a formação docente. (Entrevistado 10 – grifo nosso)

No geral, o curso como um todo não deixa de refletir o desenho curricular do projeto pedagógico, com a ressalva de que há necessidade de uma maior mediação entre a teoria e a prática. Se observarmos a nova grade curricular, percebe-se a tentativa de um maior diálogo entre essas duas esferas, mas persiste-se o modelo dual de formação (BORGES, 2008) em que a teoria precede a prática (SCHON, 1992).

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