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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.3. Os professores e o processo de reflexão

Este eixo tratou dos depoimentos que, de alguma forma, buscaram apresentar uma compreensão sobre os “Professores como mediadores do processo de reflexão”, e do perfil do “Professor reflexivo / crítico: caracterização”.

3.3.1 OS PROFESSORES COMO MEDIADORES DO PROCESSO DE REFLEXÃO

Neste tópico, os depoimentos abordaram aspectos presentes no cotidiano das aulas na universidade, muitas vezes, evidenciando a importância da troca de experiências e discussões no processo de formação, outras vezes, ressaltando a relevância da teoria como fundamentação da prática.

Na opinião dos entrevistados um, cinco, seis, oito, nove e dez, percebemos um destaque para as questões relacionadas à troca de experiência e discussões em grupo, viabilizando a confrontação de idéias, e possibilitando o diálogo entre o que foi analisado na teoria com as experiências de quem já está na sala de aula e presencia o cotidiano escolar, constatando que a maioria dos docentes era favorável a essa confrontação de idéias, inclusive instigando os alunos.

Apontando como limitação o fato da reflexão depender dos professores, como poderá ser observado abaixo:

Por meio de muita discussão provocativa, crítica, que instigava a gente a falar a participar, os professores deram essa abertura para discussões, provocando bastante o tempo todo durante as discussões, embora não envolvesse todos os alunos porque nem todo mundo gosta de falar e participar de discussões, embora eu me sentisse a vontade para manifestar minha opiniões. (Entrevistado 1 – grifo nosso)

Para mim a reflexão vem atrelada a crítica, que confronta as idéias, inclusive alguns professores são bem abertos a esta reflexão; eles instigam esse comportamento de confrontação de idéias, com os próprios autores para ver o quanto a gente se apropria, e quem já está na prática quanto daquilo está presente ou não no cotidiano escolar. (Entrevistado 5 – grifo nosso)

Na maioria das vezes os professores eram totalmente livres deixavam a gente falar, colocar a nossa opinião, colocavam o ponto de vista deles, o ponto de vista dos autores, tinha um diálogo muito aberto, agora sempre tinha aquelas exceções que chegam e praticamente só lêem o texto para gente novamente, e não adianta nada. (Entrevistado 6 – grifo nosso)

Dentro da sala de aula eu acredito que pela leitura de textos, pelos materiais trazidos pelos professores e pelas atividades de discussões em grupo com troca de experiência. (Entrevistado 8 – grifo nosso)

As aulas em geral foram reflexivas no sentido dos professores trazerem textos pra gente ler e discutir, daí a classe dá opinião e você vai conseguindo construir a sua opinião reflexiva, sua reflexão como professora através destas discussões, mas as disciplinas em si, o programa das disciplinas não trazem reflexão são os professores que trazem isso pra gente, mas não todos os professores, (...).(Entrevistado 9 – grifo nosso)

As aulas ocorriam de forma reflexiva; os professores davam abertura, eram debates em sala de aula, eu acho que é pouco se a gente for pensar em toda a formação do professor, mas já é um caminho, um começo. (Entrevistado 10 – grifo nosso)

A importância da troca de experiência no processo de formação, e mesmo entre os profissionais já formados, é defendida por Nóvoa (1992b), pois a partilha dos saberes propicia uma formação mútua; a formação está diretamente relacionada às vivências do professor. Lüdke (1996) ressalta o envolvimento coletivo e o auxílio mútuo em uma formação integrada.

Para outros participantes do estudo, questionou-se a importância teórica no processo de reflexão, por diversas vezes relacionando-a com a prática e com a realidade encontrada no contexto em que estão inseridos, levantando-se também a questão da complexidade dos textos no auxílio à reflexão, sendo muito dependentes dos professores.

Os professores sempre tiveram o cuidado de não darem modelos prontos pra gente, você vai para uma sala de aula e vai encontrar tal coisa e vai atuar de tal forma que vai dar certo. Tem sempre aquela possibilidade que você vai atuar num contexto, e tem esses pressupostos teóricos para te fundamentar, mas você vai agir de acordo com a realidade que você encontra. (Entrevistado 2 – grifo nosso)

(...) eu acho que (...) dar textos mais pesados, mais complexos, eles ajudam você a desenvolver isso da reflexão, (Entrevistado 7 – grifo nosso)

Como eu já disse foi através dos textos, mas isso foi os professores e não o curso de graduação, foram os professores que contribuíram para isso e depende dos alunos quererem ou não trabalharem com a reflexão na prática pedagógica. (Entrevistado 9 – grifo nosso)

Ao falarmos da significância da na formação nos remetemos a Pimenta (2002b), quando está saliente que o saber docente não consiste apenas da prática, necessita também das teorias, uma vez que estas possibilitam pontos de vista diversificados, permitindo aos docentes uma compreensão do contexto em que está inserido.

3.3.2 PROFESSOR REFLEXIVO / CRÍTICO: CARACTERIZAÇÃO

Os diferentes depoimentos dos entrevistados, neste tópico, levantaram a questão da caracterização do professor reflexivo / crítico, evidenciando alguns aspectos diretamente relacionados com a prática, tendo, em alguns momentos, esta como a responsável pela sua transformação, cabendo a ele buscar subsídios para essa mudança, ou como um pesquisador da sua prática, sempre em busca de superação dos limites encontrados no cotidiano, muitas vezes refletindo sobre a sua formação.

Para o entrevistado um, destacou-se a questão do professor reflexivo como pesquisador de sua prática, relevando a realidade do aluno no seu processo de aprendizagem, e tendo o foco da avaliação como método de aprofundamento do seu trabalho, como segue:

O professor reflexivo é aquele pesquisador, aquele que pesquisa a sua prática, ele avalia para avaliar o seu trabalho como professor e não simplesmente para focar a sua avaliação no aluno, esse professor vai atrás de novos métodos para ensinar o que ele precisa e fazer com que o aluno aprenda. (Entrevistado 1 – o grifo é nosso)

Essa caracterização do professor como pesquisador da sua prática remete- nos a significância da pesquisa no processo de formação dos professores, onde Pimenta (2002a) ressalta a sua importância, assim como a importância da prática no processo de formação docente, tanto inicial quanto continuada, valorizando a produção de saberes provenientes da prática, e tendo a pesquisa como

instrumento da formação de professores, onde o ensino passa a ser o ponto de partida e de chegada da pesquisa.

Contudo, para os entrevistados dois, três, quatro, cinco, oito e nove, questionou-se o professor reflexivo como agente de transformação e construção da prática através da reflexão, estando sempre em busca de novas experiências para transformar a realidade, tendo uma postura de não conformação acerca do cotidiano, buscando uma constante melhoria profissional, e não restringindo seu trabalho unicamente no decorrer da sala de aula, mas que se prepara para as aulas e reflete sobre as mesmas no sentido de avançar, progredir, como pode ser observado a seguir:

O professor reflexivo é aquele que pensa sobre a sua prática, mas não só na prática pela prática, tenta transformá-la sempre consciente do papel de pra quem e o porquê ele faz. (Entrevistado 2 – grifo nosso)

O professor reflexivo é aquele que não se acomoda com a sua prática ou com aquilo que é passado na teoria, e aquilo é o certo; é o professor que mesmo nas suas práticas, independente se ele é docente ou não, independente se ele está cumprindo papel de educação básica ou infantil, em todo o seu trajeto tanto como graduando ou já como educador. Essa questão de não aceitar tudo pronto e não querer as respostas prontas, essa questão de refletir acerca do que está sendo passado e através disso construir a sua própria verdade, ou a sua prática. (Entrevistado 3 – grifo nosso)

Na minha opinião o professor reflexivo é aquele que está sempre buscando novas experiências, novas práticas para adequá-las ao seu cotidiano, a realidade em que ele está inserido. É um profissional não acomodado, que está sempre em busca de mudanças, para poder transformar a sua realidade, sendo fundamental a troca de experiências com outros professores que enfrente não apenas a mesma realidade, mas que possua outras experiências de vida. (Entrevistado 4 – grifo nosso)

Eu acredito que o professor reflexivo tenha que ter uma postura de não conformação, de estar sempre buscando algo para incrementar sua prática, (...) O professor reflexivo é aquele que se move, reflexão tem relação com ação, que age. (Entrevistado 5 – grifo nosso)

É aquele professor que tem a sua aula, que faz o exercício de programar antes o que vai trabalhar; que faz anotações e escreve aquilo que teve que ocorreu durante a aula e que possa fazer uma reflexão sobre isso no sentido de produzir algo, de avançar, que ele possa perceber coisas que ocorreram e dar um destaque para isso. Atos que ocorreram e que não ocorrem frequentemente e tentar buscar a origem disso e trabalhar uma possível intervenção depois. E esse exercício constante de trabalhar e educar ,de certa forma o olhar dele, para a prática que vai ser um exercício de reflexão constante, mas depois de um bom tempo. (Entrevistado 8 – grifo nosso)

O professor reflexivo é aquele que trabalha sempre pensando no que ele pode fazer para melhorar seu trabalho, sua prática pedagógica; É aquele que não fica pensando só na teoria, nem só na prática. É aquele que concorda que a teoria pode ajudar na prática e vice-versa. (Entrevistado 9 – grifo nosso)

Essas considerações remetem-nos ao pensamento de Schon (1992), quando ele refere-se à reflexão na ação, na reflexão sobre a ação, e a reflexão na

e sobre a ação, caracterizando-se por uma epistemologia da prática, o saber mediante a experiência, na perspectiva de melhorar a realidade, de progredir.

Essa reflexão sobre a prática é defendida pelo curso, quando, “Tomando como ponto de partida a realidade das escolas e a prática dos professores na sala de aula, o processo de reflexão sobre essa prática se constituirá no aprofundamento teórico-prático da realidade e no planejamento da intervenção, (...).” (UNESP, 2001 p.22.)

Outro participante do estudo apontou para a importância de um teórico, dentre outros estudados no curso sobre esta temática, podendo visualizá-lo na sua prática:

Sobre o professor reflexivo eu não diria que foi pleno, mas acho que foi bem visto, nós vimos varias teorias e o autor que mais me marcou realmente foi o Nóvoa, os textos dele, eu acho que é um autor que você até que consegue ver na prática, enquanto você ta preparando aquela aula você ta pensando, você consegue relacionar o que ele escreve com a sua prática, diferente de muitos outros, não que ele seja um exceção, existe outros. (Entrevistado 6 – grifo nosso)

Apenas um participante levantou a questão sobre a reflexão no que refere- se à formação, sobre esta estar pautada em bibliografias, visualizando possíveis falhas no cenário educacional:

A base é ele próprio. Claro que baseado em outras coisas, mas baseado e não uma cópia. Ele reflete e busca o que ele quer para sua formação, o que ele acha importante, o que ele acha ideal para estar trabalhando com a docência, o que ele vê de falhas na educação, o que ele vê de aspectos bons que ele possa estar aproveitando para inserir no seu trabalho, refletir, claro que, baseado em bibliografias, mas não copiar como a gente tem visto acontecer muito, (Entrevistado 10 – grifo nosso)

Quando apontada a questão do interesse do professor pela sua formação, Nóvoa defende uma formação onde uma perspectiva “crítico-reflexiva” fosse incentivada, assim como a auto-formação participada, visando à construção de uma identidade tanto profissional, quanto pessoal.

3.4 FORMAÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA CURRICULAR: PERSPECTIVAS

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