• Nenhum resultado encontrado

Os limites da questão reflexiva, crítica ou teórica no processo de formação

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.4. Formação didático-pedagógica curricular: perspectivas para uma teoria da

3.4.3. Os limites da questão reflexiva, crítica ou teórica no processo de formação

Neste tópico, foram levantadas questões referentes às limitações da questão reflexiva encontradas pelos participantes do estudo no decorrer do processo de formação, apontando para questões ligadas à falta de reflexão na

estrutura curricular do curso, onde esta fosse abordada diretamente, e não dependesse do interesse dos professores em abordar o tema, o que, por diversas vezes, está intrinsecamente relacionado ao método de cada docente, por vezes, limitando a reflexão.

Outra limitação apontada foi a do próprio TCC (trabalho de conclusão de curso), onde destacam-se mais as citações do que a reflexão por parte dos discentes.

Para os participantes do estudo quatro, seis, e nove, a questão reflexiva não esteve presente na grade curricular do curso, dependendo dos docentes abordarem o tema no decorrer das disciplinas, como é observado a seguir:

Durante o curso não houve uma matéria que abordasse diretamente a temática da formação reflexiva. Embora nas disciplinas de prática de ensino tivéssemos a possibilidade de algumas associações com os estágios realizados e a fundamentação teórica em sala de aula, ocorrendo um diálogo entre a teoria e a prática, possibilitando que os alunos compartilhassem as sua experiências durante as discussões. (Entrevistado 4 – grifo nosso)

(...) no início do curso de pedagogia é muito fraco a parte reflexiva, a parte crítica, os professores utilizam sempre a mesma metodologia, eles passam o texto você lê em casa e eles complementam na aula, mas com o desenvolver do curso eu fui percebendo que foi diferente, a gente vai pegando o jeito dos professores, do texto e vai começando a entender o que eles querem que a gente aprenda, (...) (Entrevistado 6 – grifo nosso)

(...) assim, as disciplinas mais técnicas não tem reflexão mesmo, como, por exemplo, a disciplina de pesquisa, de estatística..., isso não tem como trazer reflexão, (...) mas depende do aluno também..., porque se o aluno não quiser refletir sobre aquilo não adianta, isso vai depender da pessoa mesmo não só das disciplinas. (...) (Entrevistado 6 – grifo nosso)

Fez falta a formação reflexiva estar inserida na grade curricular, embora eu tive muito apoio... porque os professores abordaram o tema, mas na grade não tem. (Entrevistado 9 – grifo nosso)

Embora para os entrevistados a questão reflexiva não estivesse inserida na estrutura curricular do curso, ao analisarmos a Projeto Pedagógico do curso de pedagogia, encontramos, dentre os objetivos da Prática de Ensino, a articulação do processo de reflexão teórica, a partir da discussão e compreensão da prática. (UNESP, 2000 p.18).

Na opinião de outros participantes da pesquisa, as limitações da reflexão estão relacionadas com os docentes do curso, que, talvez, por utilizarem métodos mais tradicionais em suas aulas, acabam limitando a reflexão dos alunos. Contudo, não podemos considerar essa característica como pertencente a todo o corpo docente.

Como eu falei na primeira pergunta foi mais através dos textos é cada um por si, eu acho que a maioria dos, e eu acho que professores falam uma coisa, por exemplo, (...) se diz da vertente construtivista, que prega isso, que tem que ser assim, e na própria aula dele, ele é extremamente tradicional, (Entrevistado 7 – grifo nosso)

A sistemática de avaliação é um pouco restrita. Alguns professores conseguem trabalhar com uma avaliação mais constante, assim..., uma avaliação no início, uma avaliação no final da disciplina. A maioria, ainda, tem um método. Não sei se a palavra tradicional seria correta. Eles avaliam por prova, avaliação de conteúdo mesmo, de produção de trabalho bem tradicional, onde isso limita colocarmos nossas reflexões, porque daí você vai estar... produzindo aquilo de acordo com tal autor, de acordo com alguém. Acho que a maioria avalia desse jeito. Existe alguns professores que conseguem trabalhar diferente, mas ainda são poucos. (Entrevistado 8 – grifo nosso)

Na visão de Ortiz (2002), o professor-formador traz suas teorias e práticas, visando construir uma cultura pedagógica com seus alunos, no que se refere ao ensino e à aprendizagem. Todavia, não podemos esquecer que os alunos também trazem consigo suas experiências, podendo ocasionar conflitos ou confrontação de “culturas”.

Um entrevistado, em seu depoimento, levantou como limitação a reflexão no processo de formação na etapa conclusiva do curso, o TCC (trabalho de conclusão de curso), onde muitas vezes as citações encontradas limitam a reflexão dos estudantes.

(...) o próprio TCC... se a gente pensar... é só citação em cima de citação. A gente acaba não refletindo muito em cima daquilo, acaba não pondo a nossa opinião, o nosso conhecimento, aquilo que a gente cria. Isso é uma revolta minha com relação à universidade, Acho que a gente deveria ter uma abertura maior para estar refletindo... (Entrevistado 10 – grifo nosso)

Em face desse contexto, as críticas de Schon (1992) ao modelo da racionalidade técnica ganham força nas descrições de alguns dos participantes, pois denunciam uma teoria da formação centrada numa orientação acadêmica (GARCIA, 1999) apensar de haver considerações significativas sobre a perspectiva de uma prática reflexiva.

3.4.4 POSSIBILIDADES PARA O DESENVOLVIMENTO DO PROCESSO REFLEXIVO NA FORMAÇÃO

Neste tópico, os diversos depoimentos apontaram para a questão da valorização da troca de experiências na formação docente, assim como para um

maior contato com a realidade das escolas, aumentando o número de horas em que os discentes entram em contato com as instituições de ensino, e contribuindo para a construção de um olhar diferenciado da educação.

Para os entrevistados três, cinco, e sete, evidenciou-se a questão da experiência, possibilitando a troca de vivências entre os alunos e futuros docentes, contribuindo para a construção de uma nova visão sobre a realidade escolar e o papel do professor:

Um pouco a maneira como as temáticas eram colocadas para nós, o quanto os textos abordavam isso e faziam com que a gente refletisse a cerca da prática, mas mesmo com os textos foi importante ver as experiências de outras pessoas e poder refletir sobre estas experiências na nossa prática. E o curso possibilitou essa abertura para a troca de experiências. (Entrevistado 3 – grifo nosso)

(...) pensando sobre essa prática, a questão da experiência é extremamente importante, mas não uma experiência de tempo, mas sim uma experiência de vivência. Então eu vivencio uma dada situação e isso gera uma reflexão e a partir disso ocorre uma mudança. (Entrevistado 3 – grifo nosso)

Essa abertura de experiências foi muito boa, pois como já sou professora faz com que a gente não fique presa a uma imagem da escola só nossa. No sentido de que a escola é assim e ponto..., para evitar endurecimento do olhar para a escola, a gente passa a olhar para a escola de outra forma principalmente já estando dentro dela. (Entrevistado 5 – grifo nosso)

(...) eu acho que volta um pouco para a experiência do professor, eu acho que ele tem aquela coisa que a gente estuda no texto do Larrosa, que tem que parar para sentir, escutar, perceber, (Entrevistado 7 – grifo nosso)

Essas considerações nos remetem aos pensamentos de Schon (1992), quando se valoriza a experiência e a reflexão na experiência, seguindo os pensamentos de Dewey (PIMENTA, 2002b).

Porém, na opinião de outros participantes da pesquisa, o desenvolvimento da reflexão ocorreria mais favoravelmente se os alunos tivessem a possibilidade de um maior contato com as instituições de ensino, com a escola onde lecionarão depois de formados, fato este que contribuiria ainda mais para a interação entre teoria e prática.

Melhoraria no curso de pedagogia essa parte dos estágios, essa turma nova que vai entrar com a reformulação, ampliou a carga horária, principalmente do estágio de regência, de permanência dentro da escola, dentro da sala de aula, as funções que você vai fazer lá sejam, suficientes para você poder agir depois de formada. (Entrevistado 6 – grifo nosso)

As saídas talvez contribuíssem para esse olhar diferenciado, que assim poderíamos sair desse ambiente e visitar outros lugares, outras escolas e daí contrapor com o que a gente vê nos textos, seria a contraposição da teoria com a prática, isso tem pouco. (Entrevistado 8 – grifo nosso)

Segundo Nóvoa (1992), a formação docente deixa de centrar-se exclusivamente nas dimensões acadêmicas, passando para uma perspectiva onde o foco encontra-se também no terreno profissional, caso haja uma valorização do desenvolvimento pessoal e do desenvolvimento profissional.

3.5 AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE FORMAÇÃO

O eixo “Avaliação do processo de formação” foi composto pelas categorias “O Processo de Formação: Questões”, “Avaliação da perspectiva reflexiva ou crítica na trajetória acadêmica”, e “Auto-avaliação do processo de formação na trajetória acadêmica”.

Documentos relacionados