• Nenhum resultado encontrado

2 O CIÊNCIA SEM FRONTEIRAS E AS POLÍTICAS DE MOBILIDADE

2.3 AVALIAÇÃO E CONTINUIDADE DO CIÊNCIA SEM FRONTEIRAS

2.3.2 Estudos avaliativos sobre o Ciência sem Fronteiras

2.3.2.1 Avaliação do CSF feita pelo Senado Federal

O relatório nº 21/2015 (BRASIL, Senado Federal, 2015b) foi o resultado de uma avaliação feita pelo Senado Federal sobre o Ciência sem Fronteiras em meio a discussões na CCT daquele órgão. Foi composto de 72 páginas e concluiu pela necessidade de continuação de um programa de mobilidade nos moldes do Ciência sem Fronteiras, mas apontou a necessidade de se fazer ajustes para garantir a qualidade da seleção, a equidade do fomento e um ganho coletivo e não apenas individual. O Projeto de Lei do Senado (PLS) nº 798/2015 (BRASIL, Senado Federal, 2015a) foi proposto a partir dos achados da avaliação e das audiências públicas realizadas na CCT sobre o assunto. Cabe destacar que, em abril de 2019, o referido projeto, que continua tramitando, recebeu parecer favorável do atual relator, senador Jorginho Mello. (PL/SC).

O relatório com a avaliação defende a priorização da concessão de bolsas no âmbito de projetos, para envolver e equipar as instituições de ensino superior brasileiras, ao invés de apenas conceder bolsas individuais. Também se sugere incentivar a vinda de professores e pesquisadores estrangeiros, buscando alcançar simetria entre as bolsas com destino ao exterior e as concedidas do exterior para o Brasil. Sobre a atração de pesquisadores do exterior, o relatório destaca a importância de se promover ações governamentais integradas, de modo a rever legislações relacionadas à entrada de estrangeiros convidados a participar de projetos de

pesquisa. É ressaltado que a “proporção de bolsistas nessas modalidades mostrou-se relativamente reduzida” (BRASIL, Senado Federal, 2015b, p. 50) e que os motivos deveriam ser melhor analisados de modo a verificar os gargalos e corrigi-los. De acordo com o texto do relatório, “não se pode admitir é que o País convide esses profissionais para atuar aqui e, ao chegarem ou durante o desenvolvimento de seus trabalhos, eles sejam submetidos a constrangimentos burocráticos despropositados” (BRASIL, Senado Federal, 2015b, p. 50).

A avaliação do Senado destacou, ainda, a dificuldade de se verificar os custos do Programa a partir das informações de orçamento divulgadas, mas chegou a números próximos dos apresentados pelas agências, cerca de R$ 10,4 bilhões, o que daria uma média de R$ 103 mil por bolsa, conforme citado no relatório. “O valor é alto, mas tendo em vista os fins buscados pelo CSF a situação deve ser relativizada. Afinal, investir em CT&I não sai barato” (BRASIL, Senado Federal, 2015b, p. 61), justificava o texto.

Entre os desafios mencionados para continuidade ou possível reformulação do Programa, estavam problemas de comunicação entre as agências e as instituições de ensino superior brasileiras; entre os bolsistas e as agências ou as instituições de origem; e de instituições de origem para com instituições de destino. A necessidade de se incluir mais as IES brasileiras no processo de tomada de decisões para programas que exijam esforços internos dessas instituições é uma das sugestões apontadas. Recomendou-se que as IES participassem da elaboração, seleção ou decisão sobre os projetos dos bolsistas individuais e que tivessem mais canais diretos de comunicação com as instituições de destino. Às agências, foi recomendado que introduzissem critérios de equidade, como o fomento parcial ou o “financiamento na modalidade de empréstimo” para bolsistas de melhor nível socioeconômico. A importância da avaliação dos resultados do CSF, seja ela realizada pelas agências ou resultantes de análises mais aprofundadas de pesquisadores, é citada no relatório do Senado como “questão primordial a ser considerada” (BRASIL, Senado Federal, 2015b, p. 57). No total, o Relatório nº 21/2015 da CCT relacionou 17 recomendações, além da sugestão de texto para o projeto de lei do Senado (PLS), que acabou se tornando o PLS nº 798/2015 (BRASIL, Senado Federal, 2015a). A recomendação de número 15 do Relatório (BRASIL, Senado Federal, 2015b, p. 64), que recebeu artigo semelhante no PLS (art. 8º), foi especificamente relacionada à necessidade de “criação de mecanismos de avaliação quantitativa e qualitativa do Programa, com abrangência nacional, destacando a trajetória acadêmica e profissional de seus beneficiários”.

Segundo informações da Capes e do CNPq, encontra-se em curso a proposição de uma sistemática de avaliação quantitativa e qualitativa dos resultados do Programa, com a inclusão, entre outros aspectos, dos temas da inovação, do desenvolvimento e da educação superior e da empregabilidade dos estudantes. Ademais, estão em andamento trabalhos de avaliação com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), para identificar os impactos do CSF nas áreas de saúde e ciências agrárias. (BRASIL, Senado Federal, 2015b, p. 59).

Destaca-se, ainda, que apesar de não terem sido feitas considerações acerca dos dados coletados pelas agências Capes e CNPq no relatório do Senado, verificou-se que os números utilizados para as análises são semelhantes aos apresentados na “avaliação preliminar do Ciência sem Fronteiras” divulgada pela Capes e citada no início da seção 2.3 deste estudo. Isso demonstra que os dados coletados e divulgados pelas agências Capes e CNPq foram, no mínimo, considerados durante a construção do estudo avaliativo do Senado Federal.

Quanto ao texto sugerido para o PLS nº 798/2015, resultante das discussões desenvolvidas na CCT, este repete artigos do Decreto nº 7.642/2011, que instituiu o CSF em dezembro de 2011. Em sua porção exclusiva, no entanto, remete à regulamentação atribuições que antes eram do Comitê Executivo e do Comitê de Acompanhamento e Assessoramento do Programa. De acordo com a proposta do PLS:

Art. 7º: Regulamento disporá sobre: I – áreas prioritárias de atuação do Programa; II – instituições brasileiras e estrangeiras participantes do Programa; III – benefícios auferidos em cada uma das modalidades de bolsas do Programa; IV – metas e indicadores de desempenho do Programa; e V – demais regras para a implementação do Programa. Art. 8º: O processo de avaliação do Programa contemplará aspectos quantitativos e qualitativos e incluirá o acompanhamento da trajetória acadêmica e profissional dos seus beneficiários. (BRASIL, Senado Federal, 2015a, p. 4).

Ao buscar informações sobre a “sistemática de avaliação quantitativa e qualitativa dos resultados do Programa” que estaria sendo proposta pelas agências Capes e CNPq, conforme citado no relatório do Senado, foi identificado contrato das agências com o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE). Esse teria o propósito de elaborar uma metodologia de avaliação do Ciência sem Fronteiras. Mais informações sobre a proposta do CGEE, que não chegou a ser implementada, serão descritas no capítulo 5. Não foram localizados resultados dos estudos com a Embrapa e a Fiocruz mencionados no relatório do Senado.