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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

6.2. AVALIAÇÃO DO TRABALHO E SUAS POSSÍVEIS CONTRIBUIÇÕES

Avaliar o próprio trabalho não é uma tarefa simples. Corremos o risco, tanto de supervalorizar nossa produção, quanto de subestimá-la. As contribuições de uma pesquisa como essa só serão conhecidas, de fato, com o tempo e desde que nos dediquemos a divulgá-la por meio de artigos e participação em eventos da área. Todavia, o diálogo com as inúmeras leituras que fizemos ao longo do processo de produção da pesquisa nos permite destacar algumas características do nosso trabalho que, a nosso ver, nos permitem vislumbrar várias de suas contribuições em potencial:

(i) a ênfase que atribuímos ao papel mediador do professor ao fazer uso de simulações e laboratórios virtuais pode colaborar para que professores em formação inicial e continuada compreendam que introduzir o uso de aplicativos em sala de aula vai muito além de sugerir um uso autônomo, não mediado e espontâneo dos mesmos pelos estudantes;

(ii) a opção que fizemos de investigar a prática de um professor experiente que atua em ambiente privilegiado, tanto em termos de recursos materiais,

quanto da participação e do interesse dos estudantes pela Física Escolar mostra como as potencialidades e limitações dos aplicativos não podem ser identificadas apenas a partir de suas características de design, mas também das características dos ambientes de ensino e aprendizagem nos quais esses recursos serão utilizados;

(iii) o esforço para dar visibilidade aos diferentes recursos mediacionais usados pelo professor para mediar a interação dos estudantes com as simulações e os laboratórios virtuais pode contribuir para uma caraterização do tipo de experiência que o professor adquiriu em relação ao uso desses recursos em sala de aula, experiência essa, provavelmente, decorrente de um uso reiterado dos recursos associado a uma avaliação de suas contribuições relativas para o ensino e a aprendizagem;

(iv) o uso de um esquema analítico com três níveis de análise nos permitiu preservar a relação entre alguns segmentos escolhidos para uma análise densa dos processos por meio dos quais o professor mediou a interação dos estudantes com os aplicativos e os outros episódios de ensino mediados pelo uso de outros aplicativos e de diversos outros recursos e estratégias de ensino aprendizagem mapeados por nossa macroanálise dos dados;

(v) a concepção de um padrão de transcrição multimodal que nos permitiu investigar o papel de múltiplos modos de comunicação usados pelo professor para que os estudantes compreendessem as inscrições didáticas que compunham os aplicativos e os fenômenos ondulatórios que essas inscrições representam.

Acreditamos que as principais contribuições da nossa pesquisa, tanto para o ensino de ciências, quanto para a pesquisa no campo da educação em ciências, emergem dos itens (i) a (v) acima mencionados. Nossa pesquisa se alinha com aquelas que entendem a comunicação humana como um fenômeno multimodal e, assim, tornam evidente que aprender ciências envolve aprender a utilizar os sistemas de signos constitutivos dos modos semióticos característicos dessa área do conhecimento. Assim, esperamos ter dado nossa contribuição no sentido de reforçar a importância de dispensarmos mais atenção à participação dos diversos modos de comunicação no compartilhamento de significados nas salas de aula de Ciências.

Em relação ao ensino de ciências, acreditamos que a maior contribuição desta pesquisa seja explicitar alguns fatores importantes ao uso de simulações e laboratórios virtuais como mediadores da Física Escolar. Em primeiro lugar, as potencialidades e limitações desses recursos, apontados em nossa pesquisa, servem de alerta para os professores ao planejarem atividades de ensino. Os aplicativos devem ser usados de forma crítica, levando-se em consideração os objetivos a serem alcançados nas diversas situações de uso. Em segundo lugar, a caracterização que fizemos do uso das simulações e laboratórios virtuais na sala de aula, com destaque para o papel mediador do professor, contribui para ampliar o repertório de exemplos de boas práticas docentes e constitui uma orientação importante, tanto para professores com pouca experiência no uso desses aplicativos, quanto para professores em formação.

Em relação às pesquisas sobre o uso de simulações e laboratórios virtuais no ensino de ciências, constatamos, em nossa revisão de literatura, uma carência de trabalhos que investigam o papel mediador do professor no uso de simulações e laboratórios virtuais. Assim, nosso trabalho contribui para suprir parte dessa carência.

Quanto aos aspectos metodológicos, nosso estudo procurou superar o desafio, apontado por Bezemer e Mavers (2011), de elaborar uma transcrição capaz de elucidar para leitor o uso coordenado dos múltiplos modos de comunicação pelo professor. O padrão de transcrição multimodal que concebemos, ao contrário daqueles presentes em outros trabalhos (por exemplo, KRESS et al., 2001, PICCININI & MARTINS, 2004; BEZEMER & MAVERS,2011, CAPPELLE, 2014), mostrou-se mais viável para a transcrição de episódios mais longos, como os segmentos que transcrevemos. Ele não exige o uso de softwares especiais e nem de habilidades específicos de desenho ou de computação gráfica para sua utilização.

Por fim, acreditamos que o esquema analítico com três níveis de análise, adotado em nossa pesquisa, também representa uma contribuição para as pesquisas no campo da educação em ciências, uma vez que ele nos possibilitou olhar em detalhes para as situações de uso das simulações e laboratórios virtuais, bem como ter uma visão geral de toda a sequência de ensino.