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5. EVIDÊNCIAS ENCONTRADAS NA PESQUISA

5.2. Avaliação dos dados

Na avaliação dos dados obtidos, em primeiro momento estão descritas quais as condições atuais da população local e qual o perfil dos turistas participantes da pesquisa. Logo após serão apresentados quais os aspectos positivos da atividade turística e da região destacadas pelos entrevistados e por fim quais os aspectos negativos e quais ações que foram sugeridas pelos entrevistados.

O questionário pré-codificado foi utilizado para levantar informações primárias junto à população de Cumbuco. Foram selecionadas cinquenta (50) pessoas residentes na praia do Cumbuco.

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Dentro das condições sociais da população entrevistada observa-se que 100% possuem residência própria com escritura formal, ressaltando que estas casas foram doadas por meio de escritura pública em uma ação do Sr. João Bosco, conforme foi descrito no histórico da vila do Cumbuco.

Com relação ao acesso a água potável para consumo, 100% dos entrevistados afirmou que o sistema de abastecimento de água é do tipo poço artesiano até o momento, mas com a finalização das obras do PRODETUR Nordeste II, a praia possuirá serviço de abastecimento de água encanada. A água para consumo na praia do Cumbuco é obtida através de equipamentos de bombeamento de água a superfície, que por muitas vezes são manuais. Sendo que a água que é bombeada destes poços é transferida diretamente para caixas de água construídas nas casas sem passar por nenhum tratamento.

A porcentagem de residências que são atendidas por ligações básicas de esgoto no Município de Caucaia e na praia do Cumbuco é mostrada na Tabela 1.

Tabela 1 Sistema de esgoto

Região Proporção de residências atendidas

Caucaia 48,94%

Cumbuco11 14,41%

Fonte: Cagece - 2005 e U.B.S.

Deve-se ressaltar que os dados referentes ao Município foram obtidos através da Cagece, o órgão responsável pela prestação de serviço de água e esgoto no Estado do Ceará. Na praia de Cumbuco esta empresa ainda não tem uma grande participação dentro das casas dos moradores locais, a inexistência da rede de esgotamento sanitário faz com que os moradores construam fossas sanitárias em suas casas, o que pode ocasionar a contaminação de águas subterrâneas, que é ainda a única fonte de água potável para muito dos moradores da região, ressaltando que com a finalização das obras de PRODETUR Nordeste II este problema estará resolvido.

A praia de Cumbuco possui uma escola de ensino fundamental onde se encontram cerca de 880 alunos e conta com aproximadamente 20 professores. Esta escola consegue abranger toda a população infantil de Cumbuco, mas estes após cursarem o ensino

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fundamental têm que se deslocarem para regiões próximas para cursarem o ensino médio, pois a região não possui nenhuma escola de nível médio.

Dos entrevistados 17 % possui acesso ao serviço de internet, onde se pode constatar que a maioria da sua população não possui serviço de internet em suas residências, sendo assim necessário que estas se locomovam para serviços de alugueis de computadores com internet na região, e 72% dos entrevistados não possuem linha telefônica própria, tendo assim que usar os telefones públicos existentes na região ou telefone celulares.

Um dado relevante que foi obtido durante a pesquisa é que dos 50 moradores entrevistados 92 % tem sua renda baseada no turismo, ou seja, 46 moradores do grupo de 50 entrevistados dependem de atividades ligadas ao turismo, como passeios de bugues, atividade em hotelaria, restaurantes, massagens, aluguel de quadriciclos, artesanato, dentre outros. Com relação à sazonalidade da atividade, os moradores fazem reservas para o período de baixa estação para que possam sobreviver, pois a região na baixa estação sofre com a falta de empregos.

Com relação aos turistas, foi pesquisado um grupo de 15 pessoas, sendo 73% de turistas nacionais e 27% de turistas estrangeiros. Dos turistas nacionais 10 pertenciam à região sudeste e um da região sul. Dos turistas internacionais todos pertenciam à Europa, sendo: 1 de Portugal, 2 da Alemanha e 1 da Finlândia. Do total de turistas entrevistados 60% eram homens com idade entre 36 a 64 anos. Destes 67% tiveram como meio de transporte até a praia de Cumbuco o transporte coletivo, como ônibus municipal e ônibus de empresas de turismo.

Na pesquisa aplicada tanto com os moradores como com os turistas foram colocados questionamentos sobre quais os impactos positivos e negativos mais relevantes na região. Foi realizada uma diferenciação nos questionários, onde se buscou destacar os impactos que são mais observados pela população (aumento da renda, melhora na infraestrutura, melhora nas condições de moradia e aumento do comércio) e os impactos mais observados pelos visitantes (valorização dos atrativos naturais, melhora na infraestrutura receptiva, criação de opções de lazer e aumento do artesanato).

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Gráfico 2. Ponto positivo do Cumbuco Gráfico 1. Aspectos positivos do turismo

Dos 50 moradores entrevistados, 47% destacaram que o aspecto positivo que mais se destacou com o advento do turismo na região foi o aumento da renda (ocasionado pelo aumento no número de empregos), sendo este seguido pelo aumento do comércio local e pela melhoria nas condições de moradia.

Fonte: Resultados da pesquisa de campo.

Junto aos turistas, ao questionarmos sobre qual o ponto positivo de maior destaque dentro na região, se destacaram os atrativos naturais, onde 80% dos entrevistados classificaram como a maior mudança ocorrida na região, logo após vem à infraestrutura receptiva, como hotéis e restaurantes e em terceiro lugar as opções de lazer. O artesanato não foi destacado por nenhum dos entrevistados.

Fonte: Resultados da pesquisa de campo.

Dos aspectos negativos destacados pelo turismo a população ressaltou que a prostituição é algo que obteve um grande crescimento com o advento do turismo, e meninas de outras regiões próximas passam a frequentar a região para sobreviver desta atividade. Logo

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Gráfico 3. Aspectos negativos do turismo

Gráfico 4. Ponto negativo do Cumbuco

após segue a aumento da poluição e a diminuição da cobertura vegetal, impactos ambientais importantes na região. Seguindo estes vem o aumento no uso de drogas e o aumento nos preços dos produtos essenciais. Deve-se destacar que 14% dos entrevistados ressaltam que não existem aspectos negativos ligados ao turismo na região, e ressaltam que o aspecto positivo do aumento da renda sobrepuja todos os efeitos negativos gerados.

Fonte: Resultados da pesquisa de campo.

Dos pontos negativos na visão dos visitantes, a maioria, 53%, ressaltou que não havia nenhum ponto negativo na praia. Logo após com 20% das escolhas tem a poluição das praias e a falta de fiscalização das opções de lazer, onde alguns turistas ressaltaram que cavalos e quadriciclos são utilizados no meio das praias, no local dos banhistas, algo que atualmente é proibido.

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Com relação à pesquisa de satisfação realizada com os turistas e a população local, foi encontrada certa similaridade. Pode-se destacar que algumas reclamações que são realizadas pelos moradores também são realizadas pelos visitantes da região.

Quadro 2. Níveis de Satisfação

POPULAÇÃO TURISTAS

Situações que afetam o

turismo Satisfação Situações que afetam o turismo Satisfação

Poluição das ruas e das

praias 74% não satisfeito Poluição das ruas e das praias 80% não satisfeito Acesso à saúde básica 84% satisfeito Preços dos serviços e

produtos

56% não satisfeito Poluição sonora 88% satisfeito Poluição sonora 87% satisfeito Infraestrutura básica 54% não satisfeito Infraestrutura básica 67% não satisfeito

Estradas de Acesso 86% satisfeito Estradas de Acesso 80% satisfeito Segurança Pública 70% não satisfeito Segurança Pública 60% satisfeito Atenção dada ao artesanato

local 88% não satisfeito

Atenção dada ao artesanato

local 56% satisfeito Programas de educação

ambiental 98% não satisfeito

Programas de conscientização ambiental

100% não satisfeito Programas de capacitação da

população 64% não satisfeito Sistema de Educação Pública 58% satisfeito Fonte: Resultados da pesquisa de campo.

Aspectos como limpeza das ruas e das praias, infraestrutura básica e programas de educação ambiental, os dois agentes estão insatisfeitos e cobram politicas direcionadas as estas áreas. Alguns afirmaram que a sujeira encontrada nas praias e a falta de programa de conscientização dos moradores e dos turistas na preservação da praia são fatores primordiais que devem ter atenção do setor público e privado na região. A falta atualmente de um sistema de esgotamento sanitário, de ruas bens preservadas, de iluminação em algumas ruas, de água encanada e de uma coleta seletiva de lixo também foi ressaltado na pesquisa.

No que se refere à segurança pública e atenção dada ao artesanato, os entrevistados apresentaram opiniões contrárias. Os turistas acham que a segurança pública ainda é

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satisfatória e que o artesanato ainda é bem preservado na comunidade. Já na opinião da população local o nível de insegurança vem aumentando a cada dia que passa, pois o número de usuários de drogas e de pessoas estranha à região aumentou com o advento do turismo. A região conta somente com um delegacia, 31° delegacia distrital do Cumbuco, que é composta por 1 delegado, 3 agentes e 1 escrivão. Com relação ao artesanato, os moradores lembram que o artesanato que é vendido na região por muitas vezes são comprados em outras regiões e são revendidos na feira.

A poluição sonora e as estradas de acesso foram avaliadas satisfatoriamente tanto pelos turistas como pelos moradores locais. As praias apesar de possuir muitos empreendimentos que funcionam na parte noturna estes ainda não atrapalham a comunidade. As estradas de acesso sofreram algumas modificações de melhoramento nos últimos anos através de programas de desenvolvimento do turismo na região.

Alguns itens que foram direcionados a população pode-se ver níveis diferentes de satisfação, 84% dos moradores se encontram satisfeitos com o acesso à saúde pública na região e 58% estão satisfeitos com o sistema de educação pública ofertado no local. Algumas pessoas reclamam da falta de opção para os jovens, já que os mesmos após a conclusão do ensino fundamental devem se deslocar para outras regiões com o intuito de terminar a sua formação escolar, estes cobram mais cursos profissionalizantes.

Deve-se destacar que 56% dos turistas entrevistados se mostraram insatisfeitos com os preços aplicados na região: estes colocaram que os preços por muitas vezes são abusivos e muitos mais caros que em outras praias do Estado e cobram uma politica de acompanhamento dos preços.

Em pesquisa feita junto a Associação Maroeste, associação das empresas de turismo de Caucaia que possui alguns empresários do setor que atuam no Cumbuco, as principais reivindicações são: falta de regras ou desrespeito das existentes em algumas atividades e serviços locais; indisciplina generalizada do uso da praia e sujeira nela existente; crescimento de usuários de drogas e prostituição; falta de infraestrutura de saneamento básico e de abastecimento de água; segurança problemática em certos períodos do ano; práticas de abuso de preços para tirar vantagem dos estrangeiros; falta de interesse dos locais em melhorar a limpeza, o seu calçamento, a sua rua, a sua casa e falta de atrativos para famílias com crianças em idade escolar.

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Estes colocam que alguns destes problemas podem ser resolvidos em pouco tempo pelos próprios interessados, outros, a maioria deles só poderão ter solução em médio prazo e com o apoio de todos envolvidos e das autoridades governamentais a vários níveis.

Com base no que foi apresentado no segunda seção desta pesquisa com relação aos impactos ocasionados pela atividade turística, pode-se destacar que a região apresentou alguns destes impactos e que estes foram observados tanto pela população como pelos visitantes.

Quadro 3. Impactos econômicos do turismo

Impactos Econômicos do Turismo Efeitos apresentados no Cumbuco

1. Aumento da renda 2. O efeito multiplicador do turismo

Da população entrevistada, 47% afirmaram na pesquisa que houve um aumento da renda local após o advento da atividade turística e 16% concorda que ocorreu um aumento no comércio local.

3. Aumento do número de empregos

De acordo com a população a atividade turística possibilitou a criação de novos postos de trabalho na região. Atualmente os empregos em sua maioria são informais e sazonais, como os massagistas, tatuadores, alugador de quadriciclos, rendeiras.

4. A pressão inflacionária

Na pesquisa de opinião, 8% dos moradores colocaram que o aumento dos preços dos produtos de primeira necessidade, como os alimentos, teve um grande aumento após o advento do turismo na região, sendo este uma dos aspectos negativos desta atividade na região.

5. Especulação imobiliária

Na aplicação da pesquisa pode-se constatar que na região algumas casas de nativos já foram vendidas para estrangeiros e algumas se encontram a venda por um preço bem acima do preço de mercado, que faz com que estrangeiros consigam compra-las em razão do meu maior poder de compra.

Fonte: Resultados da Pesquisa de campo.

Dos impactos de dimensão ambiental pode-se observar que dos quatro apresentados três conseguem ser observados na região de Cumbuco.

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Quadro 4. Impactos ambientais do turismo

Impactos Ambientais do Turismo Efeitos apresentados no Cumbuco

1. Valorização das paisagens

Com o advento do turismo na praia de Cumbuco, pode-se constatar que houve sim uma valorização da paisagem e partir desta a exploração da região. Apesar desta valorização por parte da população e dos órgãos governamentais, a paisagem da praia junto com as suas dunas, segundo a população, ainda não estão sendo devidamente protegidas, pois são utilizadas constantemente no uso dos passeios de bugues e com construções de grande porte em áreas que deveriam ser preservadas.

2. Destruição ecológica

Na pesquisa realizada um dos aspectos negativos é à diminuição da cobertura vegetal, onde estes ressaltaram que na região a cerca de 15 anos atrás, a vegetação era mais densa e os coqueiros na praia podiam ser vistos em toda a sua extensão.

Deve-se ressaltar que com o turismo a área da faixa da praia foi quase que totalmente invadida por barracas que dificultam a visão do mar, sendo assim necessária uma ação de retiradas dessas, projeto este que está em andamento junto a SECULT –CE.

3. Aumento da poluição

Na pesquisa de opinião junto a população, a poluição foi um dos aspectos negativos mais lembrados. A praia, conforme dados apresentados pela cagece, ainda não possui uma infraestrutura de esgoto que abrange toda a população, ocasionando assim uma descarga de poluente muito alta na região, esta pode ser vista nas ruas da praia com os esgotos a céu aberto. O turismo auxilia nesta poluição quando este traz uma grande demanda de pessoas que usam este mesmo serviço precário. A poluição na praia também pode ser observada através de latinhas de refrigerante, restos de comida e copos plásticos.

Fonte: Resultados da Pesquisa de campo.

Já com relação às aspectos sociais dos impactos turísticos pode-se constatar que dos oitos apresentados no segundo capítulo, cinco podem ser observados através dos dados obtidos.

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Quadro 5. Impactos sociais do turismo

Impactos Sociais do Turismo Efeitos apresentados no Cumbuco

1. Mudança de valores culturais, sociais e hábitos de consumo.

Antes do advento do turismo a população vivia basicamente da pesca e agricultura, atualmente a população do Cumbuco começou a obter novos valores e hábitos. Atualmente 17% dos entrevistados possuem internet e 28% da população possui linha telefônica em casa, ou seja, apesar de ser menos de 50% da população, pode-se considerado um alto valor para uma região tão pequena e que há pouco tempo atrás não possuía telefones.

2. As prioridades nos investimentos

Os investimentos aplicados na região com o intuito de auxiliar o turismo, em sua maioria, auxiliaram a população, como as construções das vias de acesso, a reforma da praça central, iluminação da praia e a criação do centro de turismo, mas a população ainda reclama o poder de expressar sua opinião, onde tenha o poder de veto na implantação de empreendimentos que traga malefícios a região.

3. A valorização da cultura

Festas que antes não tinha grande valorização passaram a serem valorizadas pela população após o advento do turismo como a regata de jangadas e a procissão de São Pedro, padroeiro da região.

4. A formação de novos recursos Humanos

Segundo os entrevistados com o turismo as mulheres da região que não possuíam vaga no mercado de trabalho passaram a ocupar colocações no mercado de trabalho principalmente na área de hotelaria, área que mais gera emprego na região da praia segundo os moradores.

5. O aumento da prostituição e da criminalidade

O aumento da prostituição e da criminalidade na região é um dos impactos mais observados pela população segundo a pesquisa.

Fonte: Resultados da Pesquisa de campo.

A partir dos impactos apresentados os entrevistados elaboraram as seguintes propostas de ações sugeridas ao governo: acompanhamento dos preços dos serviços de lazer e dos bens de consumo, maior fiscalização sobre o desmatamento e o avanço de obras particulares na região da praia, politicas de conscientização da população e dos visitantes quanto à preservação do meio ambiente, politicas de contenção da venda de terrenos e casas por parte dos nativos aos estrangeiros, cursos de profissionalização direcionados aos jovens para o setor turístico, combate ao turismo com fins sexuais, dentre outros.

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Caucaia o plano diretor de desenvolvimento urbano, PDDU, começou a ser elaborado no ano 1996. Este ainda se encontra em fase de execução, mas já possui código ambiental, leis de organização territorial e lei de diretrizes urbanas.

Deve-se ressaltar que o município de Caucaia obteve o maior índice de Sustentabilidade Ambiental do Estado, pelo segundo ano consecutivo, conforme a avaliação do Programa Selo Município Verde. Concedida pelo Conselho de Políticas e Gestão do Meio Ambiente (Conpam), do governo estadual. Este ressalta que realiza diversas ações de conservação e uso sustentável dos recursos naturais por meio do Instituto de Meio Ambiente do Município de Caucaia (IMAC), e que no mês de maio um projeto de esgotamento sanitário e abastecimento de água para a vila do Cumbuco, com inicio previsto para este ano.

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