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Politicas públicas e a sustentabilidade do turismo

3. AS POLÍTICAS PÚBLICAS E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO

3.2. Politicas públicas e a sustentabilidade do turismo

Políticas públicas é o conjunto de ações executadas pelo Estado, enquanto sujeito, dirigidas a atender às necessidades de toda a sociedade, (DIAS 2003, p.2), ou seja, é como um conjunto de regras e ações que tem por intuito o beneficio da população, sendo estas executadas pelo governo.

A Organização Mundial do Turismo atribui a implementação das políticas públicas de turismo aos setores governamentais e privados. A iniciativa privada participa da infraestrutura por meio de organizações que compatibilizam e defendem seus interesses particulares. Cabe ao poder público: a política, o planejamento e a pesquisa do turismo.

[...] oferecendo a infra-estrutura básica, desenvolvendo alguns atrativos turísticos, fixando e administrando padrões para serviços e instalações, estabelecendo e administrando os regulamentos referentes ao uso da terra e à proteção ambiental, determinando padrões para a educação e o treinamento para o turismo, além de estimulá-los, mantendo a segurança e a saúde públicas e responsabilizando-se, ainda, por algumas funções de marketing (OMT, 2003, p. 85).

A atuação governamental é um dos mecanismos mais importantes para o desenvolvimento planejado do turismo, a participação deste setor vem com o passar dos anos se destacando no mundo inteiro, onde quanto maior é a importância do turismo para um país, maior é o envolvimento do governo na atividade. Isso tem ocorrido desde o final da Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945), quando o turismo se tornou um fenômeno de massa. A

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intervenção do Estado é muito importante para o próspero desenvolvimento do turismo (LICKORISH, 2000, p.20).

O setor público tem o poder de influenciar na direção do desenvolvimento turístico. Além de dar assistência ao setor privado e regulamentá-lo, os governos intervêm na atividade turística através da coordenação das ações, do planejamento, da legislação e regulamentação das atividades, de incentivo e de marketing, pois a iniciativa privada não é capaz de atender todos os objetivos da política de turismo de um país.

O papel do governo no planejamento do turismo de forma sustentável é de vital importância, pois este tem o papel de estabelece parâmetros de desenvolvimento para a atividade ressaltando as suas prioridades nos impactos sociais, ambientais e econômicos que afetam o bem estar da população. Beni (2001, p. 177) afirma que:

a política de turismo é a espinha dorsal do “formular” (planejamento), do “pensar” (plano), do “fazer” (projetos, programas), do “executar” (preservação), conservação, utilização e ressignificação dos patrimônios natural e cultural e sua sustentabilidade, do “reprogramar” (estratégia) e do “fomentar” (investimentos e vendas) o desenvolvimento turístico de um país ou de uma região e seus produtos finais.

A atuação do Estado no turismo pode variar em decorrência dos direcionamentos das políticas locais, mas em geral os fatores econômicos são os que mais influenciam nas decisões políticas, pois são os impactos mais destacados dentro desta atividade.

O uso do turismo como um instrumento que promova o desenvolvimento com qualidade, melhorando a condição de vida da população e respeitando o meio ambiente, deve se basear na inclusão deste tema em agendas governamentais nacionais. Segundo Ruschmann (2000, p. 157-158) dentro da formulação de politicas públicas sustentáveis do turismo deve incluir os seguintes temas:

Política do desenvolvimento físico - utilização do solo e zoneamento

territorial; controle dos estilos e das dimensões dos equipamentos, englobando também as políticas de proteção do ar, da qualidade da água e dos padrões necessários à saúde pública, dentre outras;

Política de acesso e de inacessibilidade - planejamento dos transportes para

determinados recursos com base nos padrões ideais de sua capacidade;

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desenvolvimentistas, dentre outras;

Políticas de conservação da natureza - visam à proteção e à administração do

patrimônio natural, a fim de manter suas características e sua qualidade;

Políticas culturais e educativas - interpretação, conhecimento e entendimento

dos meios urbano e natural, da herança cultural e de seus mecanismos de suporte (escolas, cursos, palestras etc).

Dentro da busca por elaborar politicas públicas na área do turismo sustentável, foi criado, a nível mundial o Global Partnership for Sustainable Tourism (Parceria Global para o Turismo Sustentável) durante reunião da Comissão para o Desenvolvimento Sustentável, em Nova York no ano de 2010. Esta parceria atualmente é liderada pelo governo francês e sediada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Composta por 18 governos nacionais, cinco organizações das Nações Unidas, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), 17 organizações internacionais do setor de negócios, assim como 16 organizações não governamentais tem por finalidade transformar o setor do turismo mundial ao adotar políticas bem sucedidas de sustentabilidade e investimentos (CARDOSO, 2009).

Entre as medidas iniciais o GPST tem a criação de uma força-tarefa para produzir um guia para o turismo sustentável, no qual estarão descritas 4,5 mil práticas bem sucedidas nesta área, que será entregue à indústria turística, este se concentra em sete áreas temáticas: 1) diretrizes políticas, 2) mudanças climáticas, 3) biodiversidade e meio ambiente, 4) alívio da pobreza, 5) patrimônio cultural e natural, 6) práticas de turismo sustentável para o setor privado e 7) finanças e investimentos. Vale ressaltar que este ainda está em fase de elaboração.

A Organização Mundial do Turismo (2012) nos últimos 20 anos elaborou três importantes documentos - Desenvolvimento do turismo sustentável: Guia para planejadores locais (1983), Agenda 21 para a “Indústria de Viagem e Turismo para o Desenvolvimento Sustentável” (1994) e o Guia de desenvolvimento do turismo sustentável (2003) - que tem por base definir a responsabilidades dos agentes do turismo e levantar propostas de direcionamento das ações para um desenvolvimento sustentável do setor.

Em âmbito nacional se destacar o Plano Nacional de Municipalização do Turismo (PNMT), que teve seu início nos anos 90. Apesar de não haver atingido todos os seus objetivos, este teve um papel crucial no que diz respeito à conscientização sobre o papel dos

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municípios no desenvolvimento da atividade turística. Tornando mais especificas as políticas do turismo, pois governos locais conseguiam identificar melhor quais as necessidades do setor (BRASIL, 2011).

No ano de 2003, o Brasil começou a conta com o Plano Nacional do Turismo (PNT), que tem como base promover, descentralizar e regionalizar o turismo, estimulando Estados, Distrito Federal e Municípios a planejar, em seus territórios, as atividades turísticas de forma sustentável e segura, inclusive entre si, com o envolvimento e a efetiva participação das comunidades receptoras nos benefícios advindos da atividade econômica. Atualmente a regionalização prevista no Plano ainda se encontra em desenvolvimento, as ações ainda estão concentradas as macrorregiões político-administrativas e ao objetivo de desenvolver o turismo em âmbito nacional.

Outro instrumento criado no Brasil para o auxilio na criação de politicas de desenvolvimento sustentável foi o Conselho Nacional de Turismo (CNT). Este é formado por 63 membros, representantes de todos os segmentos do setor, sendo 24 de instituições públicas e 39 do setor privado e sociedade civil organizada. Tem por objetivo coordenar, ordenar e estabelecer uma política de nível nacional representando cada área de atividade junto aos poderes políticos, econômicos e institucionais, com vistas à defesa e ao desenvolvimento ordenado e sustentável do conjunto ou de cada área representada, ressaltando-se que este conselho atualmente pouco funciona e quase não ver o trabalho deste em alguns estados (BRASIL, 2011).

Atualmente o CNT busca criar um manual ecológico, onde serão apresentadas questões pontuais para a construção e reforma de equipamentos, planos e insumos ecológicos, com enfoque em alimentos naturais e sazonais, e o controle do uso e manuseio de materiais biodegradáveis entre outros na área do desenvolvimento sustentável do turismo.

Com base no que foi apresentado, o Brasil e o mundo ainda estão dando os primeiros passos para a criação de políticas públicas para o turismo sustentável, pois os seus dois principais projetos ainda se encontram em fase inicial, não conseguindo até então chegar às comunidades locais. Segundo Ruschmann (2000, p. 11), ainda não se encontrou no Brasil nem em outros países uma política ambiental e turística adequada, capaz de promover o controle da atividade turística com equilíbrio entre os interesses econômicos e o seu desenvolvimento planejado.

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Apesar disto, deve-se ressaltar que já existem cidades que conseguiram adotar práticas sustentáveis em suas atividades ligadas o turismo, e um desses exemplos é a cidade de Bonito, situada no Mato Grosso do Sul, sendo um dos grandes destaques do turismo nacional, pois adotou uma política sustentável a partir dos anos 90, quando começou a ser mais visitado e sentiu a necessidade de colocar regras no turismo para que não destruísse seus bens naturais (ABREU, 2010).

O papel dos governos locais no desenvolvimento das politicas públicas do turismo é essencial, pois quando estas são direcionadas para as localidades menores, onde a população passa a fazer parte como agente auxiliador na criação de politicas direcionadas, o turismo devidamente responsável passa a ser mais fácil de ser obtido.

Na perspectiva da construção de politicas de desenvolvimento sustentável a questão da participação da população na criação desta é algo muito importante. Onde o poder público deve saber valorizar diferentes experiências de cada setor social e agregá-las ao processo de construção da democracia participativa, onde se devem criar conselhos para gerenciar as ações do setor turístico compostos por representantes do poder municipais, ONGs, empresários e outros setores.

A democracia participativa dentro do planejamento turístico é vista por Hall (2001, p. 57), como uma alternativa de “[...] ajudar residentes e visitantes no longo prazo, satisfazendo desejos locais de controlar o índice de mudança, se houver, e atendendo o interesse do visitante na manutenção dos atributos únicos do destino”.

No Estado do Ceará destaca-se como exemplo de turismo participativo a Prainha do Canto Verde, localizada esta a 126 km da capital, no litoral leste, cuja comunidade elaborou um Projeto de Turismo Comunitário no ano de 1997, que alcançou destaque dentro do cenário turístico estadual como um exemplo a ser seguido na sua forma de administrar os empreendimentos turísticos e na participação da população dentro das ações executadas. Os moradores participam da elaboração de politicas públicas, com a finalidade de evitar um turismo de massa que comprometeria a integridade ambiental e o respeito a sua cultura (MENDONÇA, 2004).

Com um turismo planejado e focado na busca pela sustentabilidade as regiões terão a possibilidade de construir uma nova forma de estrutura que relacione as potencialidades

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locais e a busca pela sustentabilidade. A integração entre os atores do turismo é algo indispensável para habilitação do processo de preparação para o desenvolvimento.

As aplicações das politicas terão por objetivos principais: o desenvolvimento da participação da população; levar a comunidade a conhecer a sua realidade e da região onde mora; fazer com que se identifiquem líderes que serão agentes locais de desenvolvimento, fazer com que o visitante entenda o seu papel como agente responsável, maximização dos impactos positivos da atividade e controle dos impactos negativos e por fim, que apontem as potencialidades da atividade turística na localidade ressaltando os seus diferenciais.

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