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Apesar de estudiosos considerarem importante equiparar os gêneros em decisões empresariais, é necessário fazer uso da equidade cidadã e debruçar-se com mais empenho sobre toda a progressão empreendedora desse gênero deveras reprimido em um universo laboral fundamentalmente patriarcal. Antes de tudo vale contemplar, segundo Machado (1999), que a gestão feminina converge – em sua maioria – para a objetividade, aliada a estruturas inovadoras e com ênfase na qualidade dos serviços e produtos prestados, características cruciais para prosperar nesse competitivo mercado empresarial.

No entanto, nem sempre essas qualidades foram levadas em consideração. Segundo Castells (1999), o modo de trabalho entre homem e mulher não se limita apenas em questões biológicas. Uma série de outras razões são levadas em consideração. Leite (1994) detalha muito bem tais fatores, como por exemplo, os aspectos sociais incrustados na sociedade que levam, dentre outras situações, à desigual faixa salarial e à não consideração da dupla jornada de trabalho vivida pelas mulheres.

A princípio, o avanço da mulher empreendedora caminhou em paralelo ao progresso feminino no mercado de trabalho. Até 1951, com a norma da Organização

Internacional do Trabalho - que em tese previa igualdade de gêneros e remuneração - era praticamente nula a participação empreendedora feminina no mundo. Trazendo para o âmbito nacional, só a partir da década de 1970, impulsionada pela primeira crise mundial do petróleo, surgiu a necessidade de se criar novos modelos gerenciais, visto as demissões em massa no setor industrial – grande absorvedor da mão de obra feminina, de menor custo quando comparada à masculina.

Com esse grande desemprego feminino, a mulher então, se via, por necessidade, na busca pelo mercado para atuar como empreendedora, segundo Gomes (2005). Passou a ser usuária da prática do auto emprego, ou seja, a criação de oportunidades próprias de trabalho a partir de pequenos negócios e a passagem da esfera de empregada para empregadora. Em síntese, a crise mundial do petróleo fomentou, no Brasil, o início do empreendedorismo feminino de forma mais aguçada.

A década de 1980, no Brasil, ainda apresentava fortes influências de uma cultura patriarcal de décadas anteriores. Tal fato, que apregoava a dificuldade de ascensão feminina em ambientes trabalhistas, foi o motivador principal, segundo aponta Wilkens (1989), para a exploração da prática do empreendedorismo por elas. A aceleração de abertura de empresas pelas mulheres foi cinco vezes maior do que a abertura de empresas lideradas por homens nessa década. Vale mencionar que tamanho descalabro social perdurou também na década de 1990, segundo Munhoz (2000).

Mesmo com a transcendência do tempo, ainda perdurava na sociedade um pensamento retrógrado cristalizado para com as mulheres e a ascensão laboral, fato que potencializou elas optarem por deixar seus atuais empregos e se lançarem por conta própria como empresárias, na expectativa de poder ter autonomia de pensamentos e decisões e alcançar o sucesso por meio de seu potencial. No entanto, é necessário citar, segundo Natividade (2009), que na maioria das vezes o motivador empreendedor feminino é criado em situações de necessidade ou sobrevivência.

No novo milênio, apesar do lento avanço na esfera social feminina como um todo, foi trazido para discussão, com mais fervor, os entraves que cerceiam o gênero feminino. Com isso, estudos foram levantados e movimentos em defesa a essa classe foram mais incidentes, motivando um pensamento menos preconceituoso e mais construtivista.

Ademais disso, segundo Carreira, Ajamil e Moreira (2001), dois fatores foram os motivadores para inserir as mulheres em condições de empresárias. O primeiro

refere-se ao crescimento do setor de serviços (motivados pela injeção de investimentos do capital chinês no Brasil), como lavanderias, serviços de comida congelada, escolas e cursos de recreação e diversos outros microempreendimentos. O segundo fator que motivou a entrada das mulheres no setor de pequenos empreendimentos foi a terceirização. Vale, no entanto, mencionar que muitas dessas mulheres estão inseridas no mercado informal e poucos dados numéricos são contabilizados para análise.

Além desse importante avanço, houve a criação de fundos para financiamento e crédito bancário para a criação de microempresas a partir do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), capacitando os empreendedores de forma inédita no país. Ademais, instruindo a classe feminina de forma diferenciada, surge, por exemplo, o Projeto Mulher de Negócios. Segundo Natividade (2009), antes da inclusão do SEBRAE em análises e financiamentos de gestão para o gênero feminino, essa classe só representava 29% dos gestores nacionais e, como antes citada, na maioria dos casos, motivadas por razões de necessidade ou sobrevivência. Soma-se como consequência desse projeto, de acordo com (Cramer et al. (2012), a ocupação de cargos que exigem menores qualificações e competências. Entretanto, muitas mulheres já estão alcançando postos mais elevados e importantes, como gerentes, diretoras, ou até mesmo empreendedoras de seus próprios negócios. Essas posições, por se constituírem em cargos originalmente masculinos, ainda impõem a elas algumas barreiras.

Segundo o GEM (2008) “em 2007, as mulheres representavam 52% dos empreendedores no Brasil, invertendo uma tendência histórica quando considerado o período 2001-2007. Pode-se observar com mais clareza essa inversão quando se destaca o ano de 2001, quando os homens empreendedores representavam 71% contra 29% das mulheres”.

Trazendo para âmbito estadual, o Rio Grande do Norte seguia o mesmo contexto nacional em relação ao empreendedorismo feminino. Assim como nacionalmente, o avanço do setor só veio acontecer a partir da década de 1990. O SEBRAE (2017) afirma que a quantidade de mulheres potiguares que decidiram empreender e abrir uma empresa cresceu 74,2% em uma década. Como exemplos notórios desse progresso, tem-se o caso do setor salineiro no município de Mossoró, no qual elas buscam a “independência e capacidade de avançar nas compensações corporativas”; o envolvimento direto nas atividades; são cuidadosas em relação ao

risco; houve uma tendência a não preocupação com símbolos de status tradicional; tentam evitar erros e surpresas; em relação às decisões geralmente concorda com os que tem cargo na administração superior; servem a si, aos clientes e aos patrocinadores; e vêem a hierarquia como relacionamento básico, segundo Neto, Siqueira e Binotto (2011).

Outro polo empreendedor feminino encontra-se na capital, mais especificamente no bairro do Alecrim, zona leste de Natal. Segundo Pessoa (2015), as empreendedoras entrevistadas têm características do comportamento empreendedor, comuns aos empreendedores de sucesso, tais como, no conjunto de realização: busca de oportunidade e iniciativa; persistência; correr riscos calculados; exigência de qualidade e eficiência; comprometimento. Já no conjunto de poder: independência e autoconfiança; persuasão e rede de contatos. E no conjunto de planejamento: busca de informações; estabelecimento de metas; planejamento e monitoramento sistemáticos.

2.8 FATORES QUE PODEM INFLUENCIAR NA INTENÇÃO DAS

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