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B RUSSELL: da filosofia do atomismo lógico à Teoria das

No documento Filosofia da linguagem : uma introdução (páginas 100-120)

Descrições Definidas (On

Denoting, 1905).

Tempos: 4 aulas / 8 horas OBJECTIVOS ESPECÍFICOS:

• Conhecer dados históricos básicos sobre a vida e a obra de Russell • Definir ‘análise lógica’ segundo Russell

• Explicar por que razão Russell considera necessária uma análise lógica da linguagem • Explicar a ideia de ‘forma lógica’ das asserções em linguagem natural

• Conhecer os princípios da filosofia do atomismo lógico

• Descrever a concepção de mundo de acordo com o atomismo lógico • Identificar átomos lógicos segundo Russell

• Enunciar e compreender o Princípio russelliano do Contacto

• Explicar como é possível, segundo Russell, conhecer por contacto não apenas sense data mas também universais

• Explicar em que consiste compreender o sentido de um termo simples da linguagem • Identificar a relação semântica entre um átomo lógico e um termo simples na linguagem e

aquilo que se lhe opõe

• Justificar a razão por que os Nomes Próprios aparentes (como ‘Aristóteles’) não referem, segundo Russell

• Explicar por que a referência não é uma condição necessária para uma expressão signifi- car

• Explicar e criticar a forma como Russell faz convergir questões semânticas com questões epistemológicas e ontológicas

• Conhecer a fórmula das descrições definidas, explicá-la e aplicá-la

• Comparar as posições defendidas por Russell acerca de linguagem e de análise (no con- texto da filosofia do atomismo lógico) com as posições de Frege anteriormente estudadas • Identificar Frege e Russell como proponentes de teorias descritivistas da referência • Identificar as teorias causais da referência como alternativa às teorias descritivistas • Conhecer alguns dos argumentos avançados contra as teorias descritivistas pelos proponen-

BIBLIOGRAFIA ESPECÍFICA:

GRAÇA, Adriana Silva, 1999, Referência e denotação – Um ensaio acerca do sentido e da referência de nomes

e de descrições, Dissertação de Doutoramento, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

(extracto – §2 Expressões Denotativas).

GRAÇA, Adriana Silva, «O atomismo lógico e a função referencial da linguagem», Intelectu 5, www. intelectu.com.

GRAÇA, Adriana Silva, 2002, «Referência e denotação: duas funções semânticas irredutíveis», dis-

putatio nº 12, pp. 3-21.

JALES RIBEIRO, Henrique, 1998, Bertrand Russell e as origens da filosofia analítica, O impacto do

Tractatus Logico-Philosophicus na filosofia de Russell, Universidade de Coimbra, Dissertação de

Doutoramento.

JALES RIBEIRO, Henrique, 2005, «Russell, Wittgenstein e a ideia de uma linguagem logicamente perfeita», Revista Filosófica de Coimbra, 27, 81-130.

LYCAN, William, 1999, Philosophy of Language, London, Routledge (Capítulo 2, Definite descrip- tions, Capítulo 3, Proper names; the description theory)

RUSSELL, Bertrand, «On Denoting» (1905) in Logic and Knowledge-Essays 1901-1950, London, Allen & Unwin, 1956.

SCHILPP, P., 1963, The Philosophy of Bertrand Russell, The Library of Living Philosophers, Chicago, Open Court.

Lição

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Bertrand Russell é um nome importante na história da fi losofi a da lin- guagem e a sua Teoria das Descrições Defi nidas pode ser considerada um paradigma da fi losofi a dita ‘analítica’. No entanto, a obra de Russell excedeu largamente a fi losofi a da linguagem, por razões que o próprio explica da seguinte forma, no Prólogo da sua Autobiografi a (What I have lived for): «três paixões simples mas terrivelmente fortes, governaram a minha vida: a busca do amor, a procura do conhecimento e uma enorme piedade pelo sofrimento da humanidade». A sua imensa obra refl ectiu todas essas paixões. No Guião abaixo é feita uma introdução à vida longa e à obra vasta de Bertrand Russell. Embora por razões independentes da fi losofi a da linguagem propriamente dita, aconselha-se que o estudo que se segue, centrado obviamente em ques- tões de fi losofi a da linguagem, seja companhado pela leitura da Autobiografi a de Russell, e também da biografi a em dois volumes de Ray Monk (cf. Biblio- grafi a Geral).

GUIÃO Nº 11

Bertrand Russell (1872-1970)

Vida de Russell

(a partir de: «Russell», em S. Blackburn 1998, Dicionário de Filosofi a, Lisboa, Gradiva, e B. Russell, Autobiography, 3 volumes, 1967-1969)

Filósofo inglês, nascido em 1872, numa família liberal e aristocrática. O seu avô, Lord Russell, foi Primeiro-Ministro nos anos 30-40 do século XIX. Estudou primeiro em casa. A partir de 1890 estudou matemática em Cambridge, no Trinity College. Interessou-se pela questão dos fundamen- tos da matemática desde muito cedo. Entre 1907 e 1910 trabalhou com A. N. Whitehead durante ’10 a 12 horas por dia, oito meses por ano’ nos três volumes dos Principia Mathematica. Os Principia Mathe-

matica são uma obra fundadora e fundamental na lógica matemática, publicada entre 1910 e

1913. Procura-se, nessa obra, oferecer uma tradução das verdades matemáticas em verdades lógicas, e reconfi gurar as demostrações matemáticas como demonstrações lógicas. A obra é um expoente do logicismo. O trabalho fi losófi co e matemático pelo qual Russell é sobretudo conhecido fê-lo nessa altura (nas suas palavras, ‘a partir desse momento, o meu pensamento concentrou-se no sofrimento, miséria e loucura humanos’). Ainda antes da Primeira Grande Guerra dá-se o seu encontro com Ludwig Wittgenstein, em Cambridge. Russell foi mestre e um

grande amigo de Wittgenstein; considerava-o um génio, no entanto acabou por cortar relações com ele. Ainda assim, apoiou-o no que pôde na sua carreira académica.

A veia política de Russell acompanhou-o toda a vida. No mesmo período em que trabalha nos Principia Mathematica, candidata-se pela primeira vez ao parlamento. Durante a 1ª Guerra Mundial, foi preso por seis meses por publicar uma declaração segundo a qual os soldados dos EUA seriam usados na Grã-Gretanha para combater os grevistas, coisa a que estariam habitua- dos no seu país. Em geral a sua vida foi truculenta e turbulenta. Foi uma vida cheia de viagens, com bastante sucesso literário e algum escândalo público. Russell não foi de forma alguma um académico fechado entre as paredes da academia (pelo contrário, incomodou muita gente no mundo académico), mas um intelectual público radical, com uma vida amorosa excêntrica, e desejo de intervir socialmente.

Depois da Primeira Guerra visitou a Rússia e viveu na China, onde deu aulas na Universidade de Pequim. Nos anos 20 as suas principais obras filosóficas foram The Analysis of Mind (1921) e The Analysis of Matter (1927). Publicou no entanto também um grande número de obras populares e semipopulares sobre temas morais e sociais. Fundou e dirigiu uma escola (1927), com Dora, a sua segunda mulher. Entre 1938 e 1944 viveu nos Estados Unidos. Ensinou em Chicago e na Califórnia (UCLA). Foi recusado pela CUNY (City University – New York), de Nova Iorque, com o pretexto de que a sua obra seria ‘devassa, libidinosa e erotomaníaca’. A sua célebre História da Filosofia Ocidental (1945) foi escrita durante a Segunda Guerra Mundial. Depois da Guerra regressa a Inglaterra e a Cambridge.

Russell ganhou um Prémio Nobel (Literatura, 1950) e chegou mesmo a ser nomeado para outro (Prémio Nobel da Paz, 1962), já que foi um pacifista conhecido, que fez campanha até ao fim da vida pelo desarmamento nuclear. Morreu em 1970, com 98 anos, quando era há muito ‘um patriarca incontestado do mundo académico progressista’ (S. Blackburn).

OBRA DE RUSSELL

Livros (uma selecção)

Russell, Bertrand, 1896, German Social Democracy. London, Longmans, Green.

Russell, Bertrand, 1897, An Essay on the Foundations of Geometry. Cambridge, At the University Press.

Russell, Bertrand, 1900, A Critical Exposition of the Philosophy of Leibniz. Cambridge, At the Uni- versity Press.

Russell, Bertrand, 1903, The Principles of Mathematics. Cambridge, At the University Press. Russell, Bertrand, 1910, 1912, 1913 (com Alfred North Whitehead), Principia Mathematica, 3

vols. Cambridge, Cambridge University Press. 2ª edição, 1925 (Vol. 1), 1927 (Vols 2, 3). Ver- são resumida Principia Mathematica to *56. Cambridge, Cambridge University Press, 1962. Russell, Bertrand, 1912, The Problems of Philosophy. London, Williams and Norgate; New York,

Henry Holt and Company.

Russell, Bertrand, 1914, Our Knowledge of the External World. Chicago and London, The Open Court Publishing Company.

Russell, Bertrand, 1916, Principles of Social Reconstruction. London, George Allen and Unwin. Publicado também como Why Men Fight, New York, The Century Company, 1917. Russell, Bertrand, 1917, Political Ideals. New York, The Century Company.

Russell, Bertrand, 1919, Introduction to Mathematical Philosophy. London, George Allen and Unwin, New York, The Macmillan Company.

Russell, Bertrand, 1921, The Analysis of Mind. London, George Allen and Unwin; New York, The Macmillan Company.

Russell, Bertrand, 1923, A Free Man’s Worship. Portland, Maine, Thomas Bird Mosher. Também publicado como What Can A Free Man Worship?, Girard, Kansas, Haldeman-Julius Publica- tions, 1927.

Russell, Bertrand, 1926, On Education, Especially in Early Childhood. London, George Allen and Unwin. Também publicado como Education and the Good Life, New York, Boni and Liveri- ght, 1926. Publicado em forma resumida como Education of Character, New York, Philoso- phical Library, 1961.

Russell, Bertrand, 1927, The Analysis of Matter. London, Kegan Paul, Trench, Trubner, New York, Harcourt Brace.

Russell, Bertrand, 1927, An Outline of Philosophy. London, George Allen and Unwin. Também publicado como Philosophy, New York, W.W. Norton, 1927.

Russell, Bertrand, 1927, Why I Am Not a Christian. London, Watts, New York, The Truth Seeker Company.

Russell, Bertrand, 1928, Sceptical Essays. New York, Norton.

Russell, Bertrand, 1929, Marriage and Morals. London, George Allen and Unwin; New York, Horace Liveright.

Russell, Bertrand, 1930, The Conquest of Happiness. London, George Allen and Unwin; New York, Horace Liveright.

Russell, Bertrand, 1931, The Scientific Outlook. London, George Allen and Unwin; New York, W.W. Norton.

Russell, Bertrand, 1938, Power: A New Social Analysis. London, George Allen and Unwin; New York: W.W. Norton.

Russell, Bertrand, 1940, An Inquiry into Meaning and Truth. London, George Allen and Unwin; New York, W.W. Norton.

Russell, Bertrand, 1945. A History of Western Philosophy. New York, Simon and Schuster; London, George Allen and Unwin, 1946.

Russell, Bertrand, 1948, Human Knowledge: Its Scope and Limits. London: George Allen and Unwin; New York, Simon and Schuster.

Russell, Bertrand, 1949, Authority and the Individual, London, George Allen and Unwin; New York, Simon and Schuster.

Russell, Bertrand, 1949, The Philosophy of Logical Atomism. Minneapolis, Minnesota, Department of Philosophy, University of Minnesota. Também publicado como Russell’s Logical Atomism, Oxford, Fontana/Collins, 1972.

Russell, Bertrand, 1954, Human Society in Ethics and Politics. London, George Allen and Unwin; New York, Simon and Schuster.

Russell, Bertrand, 1956, Logic and Knowledge. London, Allen and Unwin.

Russell, Bertrand, 1959, My Philosophical Development. London, George Allen and Unwin; New York, Simon and Schuster.

Russell, Bertrand, 1967, 1968, 1969. The Autobiography of Bertrand Russell, 3 vols. London, George Allen and Unwin; Boston and Toronto, Little Brown and Company (Vols 1 and 2); New York, Simon and Schuster (Vol. 3).

Artigos relevantes para Filosofia da Linguagem:

• Bertrand Russell, 1901, "Recent Work on the Principles of Mathematics", International

Monthly, 4, 83-101. Também publicado como “Mathematics and the Metaphysicians” em

Russell, Bertrand, Mysticism and Logic, London, Longmans Green, 1918, 74-96.

• Bertrand Russell, 1905 "On Denoting," Mind, 14, 479-493. Também em: Russell, Bertrand,

Essays in Analysis, London, Allen and Unwin, 1973, 103-119.

• Bertrand, Russell, 1908, "Mathematical Logic as Based on the Theory of Types," American

Journal of Mathematics, 30, 222-262. Também em: Russell, Bertrand, Logic and Knowledge,

London, Allen and Unwin, 1956, 59-102, e em van Heijenoort, Jean, From Frege to Gödel, Cambridge, Mass., Harvard University Press, 1967, 152-182.

• Bertrand, Russell, 1910 "Knowledge by Acquaintance and Knowledge by Description," Pro-

ceedings of the Aristotelian Society, 11, 108-128. Também em Russell, Bertrand, Mysticism and Logic, London: Allen and Unwin, 1963, 152-167.

• Bertrand, Russell, 1912, "On the Relations of Universals and Particulars," Proceedings of the

Aristotelian Society, 12, 1-24. Também em Russell, Bertrand, Logic and Knowledge, London,

Allen and Unwin, 1956, 105-124.

• Bertrand, Russell, 1918, 1919 "The Philosophy of Logical Atomism," Monist, 28, 495-527; 29, 32-63, 190-222, 345-380. Também em Russell, Bertrand, Logic and Knowledge, London: Allen and Unwin, 1956, 177-281.

• Bertrand Russell 1924 "Logical Atomism," em Muirhead, J.H., Contemporary British Philoso-

phers, London: Allen and Unwin, 1924, 356-383. Também em Russell, Bertrand, Logic and Knowledge, London: Allen and Unwin, 1956, 323-343.

Para os propósitos deste curso a leitura básica necessária é a leitura do artigo

On Denoting (publicado na revista Mind em 1905), se possível complementada

com a leitura de A Filosofia do Atomismo Lógico (1918). São ainda indicados no Guião acima artigos que podem apoiar a compreensão de On Denoting, bem como obras de Russell. Outras obras sobre Russell podem ser encontradas na Bibliografia Geral, para aqueles que tenham o desejo de conhecer melhor o autor e possivelmente realizar trabalhos de investigação.

É a forma como Russell concebe i) a análise da linguagem, e ii) a forma lógica que o torna tão paradigmático: Russell acredita que a análise lógica da linguagem é capaz de ´pôr a nu’ a forma lógica como esqueleto, correspon- dendo esta forma lógica, então, à estrutura da própria realidade. Por con- traste com Frege, considerações epistemológicas são, como se verá, essenciais ao pensamento de Russell sobre a natureza da linguagem. Compreender isto supõe compreender os conceitos principais da filosofia do atomismo lógico. Será este o objecto da próxima lição.

Lição

12

A filosofia do atomismo lógico é o sustentáculo da Teoria das Descrições Definidas. Recordemos a diferença, já antes introduzida, entre as concepções fregeana e russelliana de nomes próprios e descrições definidas.

ESQUEMA Nº 11

Termos singulares e a forma como estes se relacionam com a realidade extra-linguística

NOMES PRÓPRIOS DESCRIÇÕES DEFINIDAS

FREGE NP e DD são a mesma coisa

RUSSELL

NP e DD não são a mesma coisa: apenas termos logicamente simples são nomes próprios genuínos, muitos nomes próprios aparentes são descri- ções definidas disfarçadas

As doutrinas da filosofia do atomismo lógico de Russell devem ser compre- endidas a partir da tradição empirista em filosofia conjugada com as novas téc- nicas de análise lógica disponíveis. A ideia de análise lógica da linguagem cor- rente liga-se, para Russell, com a determinação de átomos linguísticos, sendo possível o estabelecimento de uma correspondência entre átomos linguísticos e átomos no mundo extra-linguístico.

Como será explicado em seguida, a correspondência entre estrutura lin- guística e estrutura ontológica dá-se basicamente de acordo com o seguinte esquema:

Estrutura linguística ! Sujeitos ! Predicados Estrutura ontológica ! Particulares ! Universais

As ideias de ‘análise da linguagem’ e de ‘forma lógica’ são certamente ful- crais nos primórdios da filosofia da linguagem contemporânea que tem vindo a ser considerada neste curso. Convem no entanto ter muito claro que Frege, Russell e Wittgenstein as concebem de forma muito diferente. Russell é o filó- sofo analítico prototípico, no sentido em que acredita que: i) uma análise da linguagem comum conduz à estrutura lógica, ii) essa estrutura lógica tem cor- respondência com a forma como o mundo é. Nada de tão simples pode ser dito acerca da forma como Frege e Wittgenstein concebem as relações entre

a linguagem, o pensamento e o mundo. Russell pensa de facto que a análise lógica da linguagem comum (cuja estrutura superficial pode ser enganadora) torna manifesta a real estrutura profunda da linguagem. É certo que esta ideia de uma identidade estrutural entre linguagem e realidade prefigura o isomor- fismo do Tractatus de Wittgenstein, mas este isomorfismo será acompanhado, como se verá, por uma teoria da linguagem como Bild, (modelo), a que muitos chamaram ‘transcendental’, e por uma concepção da natureza da lógica total- mente diferente da de Russell. Para além disso, Wittgenstein não contempla no Tractatus qualquer consideração epistemológica acerca da forma como as mentes individuais se relacionam com o mundo exterior, nomeadamente atra- vés de sensações – Wittgenstein não é um empirista. Pelo contrário para Rus- sell a correspondência entre aquilo que a análise lógica torna manifesto e a realidade é apoiado por uma concepção de mundo (uma ontologia de átomos lógicos, factos atómicos, factos compostos) e uma teoria epistemológica que explica o contacto das mentes que percebem o mundo com o mundo conce- bido de uma determinada maneira.

A primeira condição para compreender a teoria da linguagem de Russell é compreender os princípios da filosofia do atomismo lógico. Sugere-se que seja aqui utilizado o texto de Adriana Silva Graça O Atomismo Lógico e a função

referencial da linguagem, de acordo com o guião que se segue.

GUIÃO Nº 12

Da Filosofia do Atomismo Lógico à Teoria das Descrições Definidas

Guião para a leitura e discussão do texto de Adriana Silva Graça, O Atomismo Lógico e a função referencial da lin-

guagem

Questões:

• O que é ‘análise lógica’ segundo Russell? Por que razão é necessária? • Como é o mundo, de acordo com o atomismo lógico?

• O que são átomos lógicos? • O que é o Princípio do Contacto?

• Como é possível conhecer por contacto não apenas sense data mas também universais? • O que é compreender o sentido de um termo simples da linguagem?

• Como se chama a relação semântica entre um átomo lógico e um termo simples na linguagem? A que se opõe?

• Os Nomes Próprios aparentes (como ‘Aristóteles’) referem?

Partindo das questões acima procurar-se-á em seguida compreender a metafísica e a epistemologia que subjazem à teoria da linguagem de Russell. Como se verá, os interesses epistemológicos de Russell, a forma como epis- temologia e teoria da linguagem se relacionam na sua filosofia, contrastam vivamente com a ‘revolução semântica’ de Frege e também com a postura de Wittgenstein no Tractatus.

Considere-se então as ideias de Russell quanto a átomos lógicos, factos ató- micos e factos moleculares, bem como as suas ideias quanto àquilo em que consiste a análise completa de uma proposição.

A análise lógica é, de acordo com Russell, a operação pela qual é revelada a real estrutura da linguagem. Ela é necessária porque uma vez determinada essa estrutura real, os elementos já não mais analisáveis a que se chega (os ‘átomos linguísticos’) estarão em correspondência com a realidade extra-linguística. Subjacente à ideia russelliana de análise lógica está, assim, a ideia de uma iden- tidade estrutural entre a estrutura da nossa linguagem completamente anali- sada e a estrutura da realidade extralinguística que esta é suposta representar. A análise, que é afinal uma paráfrase da linguagem corrente numa linguagem logicamente perfeita, revela a estrutura real da linguagem corrente. Esta, a linguagem corrente, é portanto vista como superficial e potencialmente enga- nadora relativamente à verdadeira estrutura da linguagem. A análise lógica tem como intenção tornar manifesta a ‘verdadeira estrutura da linguagem’, que se supõe, obviamente, que existe.

O mundo ao qual a linguagem perfeitamente analisada vai corresponder é o mundo do ‘atomismo lógico’. A ideia fundamental de Russell é que aos termos simples na linguagem corresponderão átomos lógicos no mundo. ‘Fac- tos’ são compostos por átomos lógicos e expressos na linguagem por proposi- ções completamente analisadas, nas quais não existem conectivas lógicas. Fac- tos ditos moleculares são compostos por estes factos simples (como se verá à frente, esta é uma concepção muito semelhante àquela que encontraremos no

Tractatus de Wittgenstein).

Átomos lógicos são para Russell sense data. O mundo é composto por sense

data. Russell caracteriza os sense data como entidades físicas (não mentais),

privadas, pasageiras, momentâneas (‘pequenos pedaços de cor ou sons, coisas momentâneas... predicados ou relações e por aí em diante’, diz Russell). Nós podemos ter acesso directo, imediato, incorrigível a estes sense data; Russell con- sidera que se trata de um conhecimento por contacto (by acquaintance). Vemos, assim, considerações epistemológicas entrar em cena para fundamentar a teoria da relação linguagem / mundo, de uma forma que não veremos em Wittgens-

tein (recorde-se que Russell, ao contrário de Wittgenstein, é um empirista). Podemos ter conhecimento por contacto não apenas de sense data mas também de propriedades ou relações: sense data exemplificam propriedades e relações. O Princípio do Contacto (Principle of Acquaintance) é a máxima epistemológica central da filosofia russelliana. Ora, de acordo com o Princípio do Contacto, só podemos considerar que compreendemos uma proposição se ela for inteira- mente composta por constituintes com os quais estamos em contacto.

É importante, assim, que Russell explique como podemos conhecer por contacto universais, pois as proposições contêm termos gerais, que designam universais, e para se obedecer ao princípio do contacto, é necessário estar em contacto com todos os constituintes de uma proposição, e portanto também com universais. Russell defende que é possível conhecer universais por con- tacto, embora nunca independentemente dos objectos que os exemplificam. Aquilo que segundo Russell se conhece por contacto não é, por exemplo, o ‘ser vermelho’ em geral, mas, uma vez que sense data exemplificam proprieda- des, a propriedade de ser vermelho dos meus sense data. Assim, contam como átomos lógicos na filosofia do atomismo lógico entidades espacio-temporais identificáveis e concretas mas também propriedades ou relações.

Constitui obviamente uma questão importante aqui saber o que é verdei- ramente simples, quer ao nível da linguagem, quer ao nível do mundo (esta

No documento Filosofia da linguagem : uma introdução (páginas 100-120)